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3 A CIDADE DO RECIFE

MAPA 2 PLANTA DA CIDADE DO RECIFE EM

Fonte: MELO, 2001, pág. 62, retirado do Annuario Pernambucano de 1933

Outros planos tiveram lugar em seguida, como o de Attilio Corrêa Lima (autor do projeto de Goiânia, em Goiás, citado anteriormente), que propôs uma remodelação para

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a cidade, em 1936 e a sugestão do Engenheiro Ulhôa Cintra, também de remodelação, em 1943. Intervenções e demolições foram então feitas no bairro de Santo Antônio, para a abertura da Avenida Guararapes (antiga Avenida Dez de Novembro), que já na década de 40, deram um novo perfil à cidade, com um conjunto Art Déco de edifícios públicos,

mistos e comerciais. Esta transformação foi colocada na poesia “Chopp”39: “Na

Avenida Guararapes, o Recife vai marchando...o bairro de Santo Antônio tanto foi se transformando, que agora, às cinco da tarde, mais se assemelha a um festim...” (PENA FILHO, 1999: 139).

Schlee & Fischer (2008) chamam a atenção para o fato de que estes planos, além de prepararem as cidades para os automóveis, criaram também um cenário para que esta nova arquitetura fosse implantada, quase como se fosse um modelo.

O intercâmbio com outros países se dava através da passagem do Zeppelin e navios que faziam escala aqui para chegar à capital, o Rio de Janeiro. Então, estava aberta a todos os tipos de influência que vinham do exterior. Era planejada a modernidade, vista como “a necessidade absoluta que se fazia de uma mudança, de uma renovação. Algo de novo era desejado como uma força destinada a sacudir do sono e da inércia a vida cultural provinciana” (AZEVÊDO, 1994: 32). Para Filgueiras (2003), as cidades são os grandes cenários da modernidade e neste sentido, a cidade do Recife fez uma remodelação da sua arquitetura, que a princípio, para o autor, era uma vantagem, mas que acabou por decepcionar, porque mudou tudo.

Os conceitos de Moderno, modernização e modernidade têm uma grande generalidade. Modernização é um termo cunhado por volta dos anos 50 do século XX:

O conceito de modernização refere-se a um feixe de processos cumulativos que se reforçam mutuamente: à formação de capital e mobilização de recursos; ao desenvolvimento das forças produtivas e ao aumento da produtividade do trabalho; ao estabelecimento de poderes políticos centralizados e à formação de identidades nacionais; à expansão de direitos de participação política de formas urbanas de vida e de formação escolar formal; refere-se à secularização de valores e forma (HABERMAS apud CEDRO, 2005: 03).

39 Poesia sobre o Bar Savoy, que funcionou no edifício do extinto Banco de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco (BANDEPE), conhecido como o edifício dos bancários. O bar era o reduto dos boêmios e intelectuais da cidade e iniciou suas atividades nos anos 40, indo até os anos 90, quando fechou. O edifício foi comprado pelo Grupo SER Educacional.

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Modernização é um conceito que surge quando as sociedades se tornam industrializadas. Quando existem inúmeras transformações no modo de vida, com a urbanização e no processo de produção. Modernidade é um discurso. O mesmo autor Habermas fala sobre a modernidade e recorre a vários autores. Não se refere à modernidade e sim às “modernidades”. Para Marx, capitalismo e modernidade caminhavam lado a lado. Já para Weber, era o Estado que conduzia ao moderno. O conceito de moderno tem o limite da atualidade, é contemporâneo. Não é só o novo, mas também aquilo que é atual, contemporâneo.

O que mudou deste Código de 1936 para o de 1946 foi o incentivo de se ocuparem os vazios do município. A cidade do Recife tinha então um formato tentacular, como o de um polvo e se transformou a partir daí em uma mancha (PONTUAL, 2001). O Código de Obras de 1946 já previa o gabarito de três a doze pavimentos para as áreas centrais da cidade, oito pavimentos para as Avenida Dantas Barreto e Dez de Novembro (atual Avenida Guararapes), Praça da Independência e Praça Joaquim Nabuco (PONTUAL, 2011). O Mapa a seguir mostra a configuração da cidade em 1943, já com a faixa de praia urbanizada e com os sítios e chácaras loteados de maneira irregular.

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MAPA 3 – CIDADE DO RECIFE EM 1943

Fonte: BALTAR, 2000, pág. 87

Em 1946, através do Decreto-Lei Nº. 9.388, de 20 de Junho, foi criada a Universidade do Recife, que incorporou a Escola de Belas Artes e que depois deu origem à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, que hoje faz parte da Universidade Federal de Pernambuco.

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A forte presença americana em todo o Nordeste durante a Segunda Guerra Mundial40

parece ter contribuído para a difusão do estilo Art Déco na cidade (BORGES, 2006). As vilas operárias, próximas das fábricas, também adotaram o modelo Art Déco. Aconteceu o mesmo com algumas vilas militares, implantadas perto das bases aéreas, em todo o

país.Nos anos 40, o Recife estava inserido dentro de um sistema que compreendia uma

série de bases aéreas e navais, estendidas ao longo da costa brasileira (DUARTE, 1971). A base de fuzileiros navais funcionava onde hoje está a sede da Capitania dos Portos, no Bairro do Recife; a base aérea funcionava no bairro do Ibura (Ibura Field, que deu origem ao atual Aeroporto Internacional Gilberto Freyre, conhecido como Aeroporto

dos Guararapes, de 1958) 41, projetado por Artur Mesquita (VASCONCELLOS, 2002).

O edifício original era da década de 40 e ainda existe dentro da base Aérea do Recife (VASCONCELOS, 1993). Havia instalações nos bairros do Pina, Boa Viagem e Santo Antônio. Na Rua do Sol, no prédio onde hoje está o Ministério Público de Pernambuco, funcionou um clube social frequentado pela elite das tropas americanas, United States Organization (USO). Era um grêmio recreativo, que permitia a entrada de mulheres. O Edifício do antigo Banco do Estado de Pernambuco (BANDEPE), onde funcionava o Bar Savoy, citado anteriormente, era o Quartel General (CAVALCANTI, 2013).

No Largo do Brum havia uma “Vila Naval de Diversões Americana”, segundo plantas existentes no AASB (2010), datadas de 1943. Constam edifícios como padaria, quartos para oficiais, “xadrez” (cadeia?) e oficina de torpedos. Outra denominação: Campo Ingram – Panair do Brasil. Existia desde 1941 e teve este nome por causa do seu comandante, o Almirante Ingram (Foto 192).

40 Diário de Pernambuco, 23 de Agosto de 2009: o Edifício SULACAP, na Avenida Guararapes, foi o quartel-general dos americanos no Recife, enquanto que o Cassino Americano, no Pina, serviu como hospital naval. A chamada 4ª. Frota tinha sua sede no Recife, mas havia também instalações em Fortaleza e Natal, como bases aéreas e vilas militares. Os americanos no Recife utilizaram parte do Porto, o Campo de Pouso do Ibura (antigo Aeroporto dos Guararapes) e a Estação de Rádio do Pina.

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Era originalmente um edifício Art Déco, que foi totalmente descaracterizado por reformas. O edifício ainda existe, ao lado do novo aeroporto, mas sem uso.

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