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Figura 6 Brasil, evolução do Crédito/PIB

2013 2008 2003

Gráfico 6 – Brasil, crescimento acumulado (var. trimestral) de setores selecionados

Fonte: Dados do Grupo de Estudos em Economia da Facamp, compilados pela professora Beatriz Bertasso.

O gráfico acima mostra o crescimento acumulado entre 2003 e 2013 da indústria e seus variados “subsetores”.

Salta aos olhos o baixo desempenho da indústria de transformação, que cresceu abaixo dos demais a partir de meados de 2005. É um fato deveras preocupante, visto ser a indústria de transformação o setor mais diversificado e que mais agrega valor na economia, gerando empregos mais qualificados com maiores salários e direitos trabalhistas. O setor transforma matérias-primas em bens, incluídos os bens de consumo duráveis e não duráveis e o setor de bens de capital. Tal constatação piora ainda mais a situação na medida em que o decênio traduziu-se na expansão significativa dos bens de consumo duráveis domésticos, destacadamente a indústria automobilística e a linha branca, o que demonstra que o baixo incremento da indústria de transformação decorre da importação de bens de consumo não duráveis, de bens intermediários (peças e componentes) e principalmente de bens de capital, o mais importante dentre os industriais, acarretando não só maior dependência externa como diminuta capacidade endógena de reprodução/ampliação industrial, perpetuando assim um dos principais problemas da economia brasileira. De fato, de acordo com o relatório de março de 2014 da ABIMAQ: “A média anual da participação da importação no consumo brasileiro de máquinas e equipamentos saltou de 48% em 2008 para 76% em 2014. A produção

100 110 120 130 140 150 160 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2 0 0 3 : 1 0 0

PIB Indústria Prod. e distrib. de eletricidade, gás e água

Construção civil I. Transformação

nacional continua o processo de perda de seu ‘market share’, no consumo brasileiro. Mesmo com a melhora registrada em março/14 o nível de participação continua sendo um dos menores da série histórica”. É importante ressaltar que o relatório destaca que o país que mais ampliou as exportações de máquinas e equipamentos para o Brasil foi a China. Enquanto que em 2007 as exportações chinesas perfaziam 8,2% do total de máquinas e equipamentos importados pelo Brasil, em março de 2014 elas atingiram 21,2% do total.

A piora no desempenho industrial decorre de uma combinação perversa entre juros elevados, abertura comercial e financeira, sobrevalorização cambial e ainda limitado investimento público e privado. Por outro lado, a elevação dos spreads bancários proporcionaram ganhos enormes às instituições financeiras em solo doméstico, aumentando muito a rentabilidade dos serviços de intermediação financeira.

Gráfico 7 – Brasil, PIB acumulado, setores selecionados

Fonte: Dados do Grupo de Estudos em Economia da Facamp, compilados pela professora Beatriz Bertasso.

O gráfico acima retrata o PIB acumulado entre 2003 e 2013 do setor de serviços e de seus “subsetores”. Três constatações são importantes.

100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2 0 0 3 : 1 0 0

PIB Serviços Outros serviços

Intermed. Financeira ... Transporte, armazenagem e correio

Serviços de informação Comércio

Em primeiro lugar, destaca-se o elevado crescimento da Intermediação Financeira, refletindo os vultosos ganhos135 dos bancos e demais instituições financeiras com a política de juros altos - utilizados à exaustão como único instrumento para combater a inflação. Em segundo, o bom desempenho do comércio revela a expansão do crédito ao consumo e a insistência do governo em utilizar o mesmo como variável chave ao crescimento econômico, relegando ao investimento papel secundário. Por último, o baixo crescimento da Administração, Saúde e Educação Públicas, revelando o relativo diminuto gasto público em áreas essenciais – fruto da manutenção de elevados superávits primários.

Por fim, o aumento do salário mínimo e a expansão dos programas de transferência de renda, além de muito importantes ao crescimento econômico recente, são uma questão moral frente à heterogeneidade social intrínseca à sociedade brasileira. Sejam pelos baixos rendimentos da maioria das ocupações ou pelo apartamento de milhões de cidadãos do mercado de trabalho, a elevação do salário mínimo e a disseminação dos programas de transferência de renda são, antes de tudo, uma questão de justiça social. Era inconcebível que o mínimo garantido por Lei fosse menor do que o preço de um par de tênis ou incompatível com as três refeições diárias de uma família padrão, ou ainda que milhares de pessoas não tivessem a “liberdade” de escolha oferecida pelo dinheiro. Hoje o salário mínimo, ainda abaixo dos padrões dos países desenvolvidos, propicia relativa dignidade à parcela considerável dos lares brasileiros num contexto de baixo desemprego no qual mais de um membro da família consegue trabalhar. E os programas de transferência de renda, destacadamente o Bolsa Família, inibem a sujeição aos trabalhos degradantes, movimenta o comércio local de centenas de cidades pouco prósperas e confere aos beneficiados a possibilidade de arbitrar sobre o uso do dinheiro, liberdade desconhecida por milhares de pessoas até então136. A crítica que se faz aqui à expansão do salário mínimo e dos programas de transferência de renda é à sua realização tardia.

135 “Em 2013, os seis maiores bancos apresentaram lucro líquido total de R$ 56,7 bilhões, com variação média

de 11,2% em relação a 2012”. Disponível em:

http://www.dieese.org.br/desempenhodosbancos/2013/desempenhoDosBancos2013.pdf

136

“(...) não existe no mundo um programa mais eficiente de redução da pobreza do que o brasileiro e a prova disso é que está sendo imitado em vários países (...) O Bolsa Família é um sistema que dá liberdade à mulher, ajuda a mãe de família, mas cobra a obrigatoriedade de que ela cuide da educação e mantenha o filho na escola.” (Delfim Netto, em artigo intitulado A arte de cultivar incertezas, publicado na Carta Capital, Ano XX, nº 799, 14 de maio de 2014).