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Figura 3 Pauta de Exportação Brasileira

2013 2008 2003

Figura 4 – Brasil, Exportação, Importação e Saldo Comercial de Bens Manufaturados

Essa regressão no comércio internacional é “coerente” com o ajuste recessivo dos anos 1980 e com a escancarada abertura dos 1990 num contexto de sobrevalorização cambial, na qual a indústria perde seu protagonismo na economia acarretando um retorno ao padrão comercial pré 30. O esforço desenvolvimentista entre 1930 e 1980 parece desmanchado no ar. A história é antiga129 mas é sempre bom relembrar as consequências do encolhimento industrial e da volta ao modelo primário-exportador: limitada capacidade de crescimento do produto, submissão no âmbito das relações econômicas internacionais, suscetibilidade à demanda externa, dependência tecnológica, necessidades de recursos externos, déficit em transações correntes, risco cambial e vulnerabilidade externa.

“A tendência para nós é a de ficarmos com os setores industriais de baixo conteúdo tecnológico: produzir, hoje, aço, alumínio ou papel não é muito diferente de fabricar tecidos, em 1930. Perderíamos, então, qualquer poder de crescimento autônomo, que deriva do investimento industrial em novos setores. O ritmo de nosso desenvolvimento voltaria a depender exclusivamente do comportamento das exportações” (Cardoso de Mello, 1992, p.60).

Parece que o acanhamento da política industrial e o não comprometimento de parte do empresariado nacional com os destinos da nação, aliado ao comportamento oposto dos países do leste asiático - destacadamente a China - acarretou no retrocesso da posição brasileira no

129 “A posição subordinada da economia brasileira na economia mundial capitalista está duplamente

determinada: pelo lado da realização do capital cafeeiro e pelo lado da acumulação do capital industrial... a fragilidade do capitalismo brasileiro transformou-nos em campo de exportação de capitais dos países maduros...” (Cardoso de Mello, 1998, p.115).

comércio mundial. O mundo agradece: o crescimento econômico pindorâmico gera riqueza e empregos qualificados alhures. A título de exemplo, ao analisarmos o comportamento do comércio chinês com a Argentina, historicamente a principal parceira comercial do Brasil, percebemos nossa perda de mercado externo: enquanto a participação dos produtos brasileiros na pauta de importações argentina caiu de 34,4% do total em 2004 para 22,6% em 2013, a dos produtos chineses subiu de 3,9% em 2004 para 15,4% em 2013130.

A queda nas exportações de produtos manufaturados é concomitante ao aumento das importações, que preenche o vácuo deixado pela produção doméstica.

Gráfico 4 – Brasil, Crescimento acumulado (variação trimestral), agregados selecionados

Fonte: Dados do Grupo de Estudos em Economia da Facamp, compilados pela professora Beatriz Bertasso.

O gráfico acima retrata o crescimento acumulado (evolução trimestral) entre 2003 e 2013 do PIB, do Consumo Total, dos Gastos do Governo, da Formação Bruta de Capital Fixo, das Exportações e das Importações. Percebe-se nitidamente o crescimento das importações a uma taxa muito maior que as demais variáveis. Apesar da FBKF caminhar na mesma trajetória das importações, revelando que parte do conteúdo importado é destinado à

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Dados disponíveis no jornal Folha de São Paulo, seção Mercado, publicado em 14 de setembro de 2014. 100 150 200 250 300 350 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2 0 0 3 : 1 0 0 PIB C G FBKF X M

ampliação do investimento, permanece ainda uma diferença importante entre ambas, indicando a ampliação dos produtos importados na economia brasileira. É importante destacar o fraco desempenho dos Gastos do Governo, abaixo das demais variáveis, demonstrando nosso compromisso com o tripé da política econômica - em sintonia com a valorização do capital na esfera financeira.

Figura 5 – Brasil, Superávit Primário e DSLP

A figura acima mostra o comportamento do resultado fiscal e da dívida líquida do setor público entre 2002 e meados de 2012.

Percebe-se que excetuado o ano de 2009, duramente atingido pela Crise Mundial de 2008, o superávit primário situou-se na média de 3,24% do PIB entre 2002 e 2012, com destaque para 2005 no qual atingiu o pico de 3,8%. Neste sentido, o esforço fiscal do governo sofreu poucas alterações no período, em que pese o fato de sua dívida líquida ter se reduzido substancialmente de 60,4% do PIB em 2002 para 35,1% em 2012. A trajetória destas contas públicas demonstra que, independente do nível da dívida, o governo mostra-se extremamente comprometido com o tripé da política econômica - consubstanciado no câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário. Conforme discutido anteriormente, essa tríade é extremamente prejudicial ao desenvolvimento das forças produtivas, especialmente num contexto de crise internacional no qual desajustes cambiais podem acarretar oscilações dos preços internos ao passo que a austeridade estatal impossibilita o comportamento anticíclico do setor público.

No tocante aos condicionantes internos do crescimento entre 2004 e 2013, há motivos para otimismo e preocupações.

A expansão dos investimentos produtivos, em grande medida puxados pelo setor público, é de extrema relevância. Menos pela mudança de patamar – a FBKF ainda situa-se em torno de 18% PIB - e mais pelo simbolismo, os Programas de Aceleração do Crescimento e Minha Casa Minha Vida e os projetos de investimento relacionados à cadeia de O&G (destacadamente os conectados ao Pré-Sal) bem como à infraestrutura e energia (Belo Monte etc.) sinalizam a retomada do protagonismo estatal nas principais decisões econômicas, ampliando o horizonte de confiança e planejamento do setor privado.

Tabela 22 – Brasil, FBKF/PIB, anos selecionados

Ano

FBKF/PIB FBKF/PIB FBKF/PIB Setor Público

Setor Público (%) Setor Privado (%) (%) (%) 2000 2,7 14,1 16,8 16,1 2005 2,6 13,4 16 16,3 2006 3 13,4 16,4 18,3 2007 2,9 14,5 17,4 16,7 2008 3,7 15,4 19,1 19,4 2009 4,2 13,9 18,1 23,2 2010 4,7 14,8 19,5 24,1 2011 4 15,3 19,3 20,7 2012 4,5 13,6 18,1 24,9

Fonte: Belluzzo & Almeida (2013)

A tabela acima mostra um aumento do investimento do setor público entre 2000 e 2012, saltando de 2,7% do PIB para 4,5%, ampliando sua participação de 16,1% para 24,9% sobre o investimento total na economia. Ainda que a reação do setor privado frente ao incremento das inversões públicas tenha sido tímida – mas é importante ressaltar o aumento em 2008 antes do estouro da Crise bem como em 2010 e 2011 frente aos estímulos fiscais e creditícios executados pela política anticíclica de combate à Crise -, a expansão do investimento público tem, além de seu efeito multiplicador positivo pelo conjunto da economia, a possibilidade de diminuir as incertezas e ampliar o animal spirit do setor privado no longo prazo. Tal papel desempenhado pelo Estado é uma lembrança remota no país, sendo o último grande projeto de desenvolvimento consubstanciado no II PND entre 1974 e 1979. A

“reintrodução” do planejamento estatal, ainda incipiente, aumenta a capacidade de execução de projetos de maior monta, principalmente num ambiente de crise internacional no qual, geralmente, as restrições internas e externas à maior intervenção estatal são debilitadas – conforme demonstraram as ações de Getúlio Vargas frente à Crise de 29131. Sendo assim, o momento é de otimismo. No entanto, há ainda um extenso caminho a percorrer, como afirmam Belluzzo & Almeida132:

“No Brasil, certas iniciativas nos últimos anos procuraram reconstituir a capacidade financeira e de execução de projetos por parte do Estado. A definição de programas de inversão em infraestrutura com recursos do Orçamento federal, o PAC, a destinação de recursos do Tesouro para o financiamento de longo prazo por meio do BNDES e as medidas de incentivo e aperfeiçoamento da regulação e do crédito para a construção habitacional são exemplos. Elas tiveram efeito relevante, mas em termos da taxa de investimento do setor público, assim como da taxa de investimento global da economia, seu significado é ainda muito limitado. Assim, o investimento do setor público (incluídos os governos federal, estadual e municipal, além de empresas estatais federais) de 4,5% do PIB em 2012 na prática tão somente repôs o padrão anterior à onda neoliberal dos anos 1990. O mesmo ocorreu com a inversão global, que em um e outro período se situou no modesto nível de 18% do PIB”.

Outra questão que merece destaque, no âmbito da ação do setor público, é o esforço recente que o mesmo vem fazendo para ampliar parcerias e concessões junto ao setor privado, aumentando a sinergia e confiança entre ambos, como é o caso dos aeroportos e ferrovias.

Com relação à expansão do crédito - outro fator crucial ao crescimento econômico recente - o movimento é benvindo mas poderia ser melhor. Sendo o capitalismo uma economia do endividamento na qual os agentes econômicos têm que recorrer ao sistema de crédito para executar seus investimentos, não resta dúvida da supremacia dos mecanismos de financiamento como dinamizadores do mercado. No capitalismo, o crédito produtivo é a mola propulsora da economia.

Conforme discutido anteriormente, há uma deficiência histórica nos instrumentos de financiamento de longo-prazo no Brasil. Neste sentido, incrementar os recursos creditícios é

131 “... quanto mais profunda for a crise, menores restrições internas (dos setores liberais e reacionários à

industrialização) surgirão, fortalecendo o apoio político necessário para esse processo; quanto mais profunda e longa for a crise externa, tanto melhor para essa primeira etapa do processo, dado que a soberania nacional poderá ser melhor exercida, haja vista que os imperialismos estarão muito ocupados com suas próprias economias, dando-nos maior grau de liberdade” (Cano, 2002, p. 79).

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condição sine qua non ao desenvolvimento econômico. Entretanto, em que pese a enorme ampliação dos recursos disponibilizados pelo BNDES - um dos maiores bancos de investimento do mundo, cujos financiamentos saltaram de R$ 35,2 bilhões em 2003 para R$ 190,4 bilhões em 2013133 – a modalidade de crédito que mais se expandiu no Brasil foi a destinada à pessoa física e não ao investimento produtivo, variável chave ao crescimento e desenvolvimento econômico e social. É o que demonstra o gráfico abaixo, extraído da Nota Técnica nº 135, de maio de 2014, do DIEESE134, que apresenta a taxa de crescimento real acumulado em 12 meses do saldo das operações de crédito no Brasil entre janeiro de 2009 e dezembro de 2013.

Fonte: DIEESE (maio de 2014)

Pode-se observar que, apesar da diligente ação das autoridades econômicas no enfrentamento da Crise de 2008 - incrementando consideravelmente o crédito à pessoa física mas principalmente à jurídica em 2009 - em geral a expansão do primeiro situa-se acima do segundo. Os dados do Banco Central do Brasil também confirmam essa tendência: enquanto a expansão do crédito total sobre o PIB, entre 2003 e 2013, variou de 24% para 56% -

133 Fonte: www.bndes.gov.br 134

crescendo 133,3% em termos relativos, o crédito à pessoa física foi de 5,7% para 25,8% do PIB, expandindo 352,6%. No mesmo período, o crédito à pessoa jurídica foi de 17,4% para 30,2%, variando 73,6%.

Fonte: BCB. Elaboração Própria.

Esse movimento não é necessariamente ruim numa economia já desenvolvida, detentora de uma estrutura produtiva industrial avançada que muitas vezes precisa de um “viés consumista” para se dinamizar. Por outro lado, a elevação do crédito ao consumo numa economia aberta e com câmbio valorizado, cuja indústria foi dilacerada por mais de duas décadas, é fonte de preocupação. No curto-prazo, amplia a base material e a qualidade de vida das pessoas. No longo, destrói empregos e aniquila o principal setor da economia. O crescimento econômico pelo incremento do consumo tem vida curta; somente a elevação equilibrada do investimento é capaz de propiciar um desenvolvimento sustentado.

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P Física P Jurídica Total