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Segundo Noé (2006), os harmônicos carregam características específicas da vogal e/ou consoante emitida e projetada por meio das regiões que atravessa. Define o autor que o que realmente ressoa não é a cavidade e, sim, o ar contido nela. Afirma que quando o ar expirado sai dos pulmões em direção às pregas vocais, não há som, porque as vias aéreas, pulmões, brônquios e traqueia não são núcleos de ressonância.

Não obstante, existem sensações na região do peito quando as notas graves são cantadas. Isso não é devido ao fenômeno da ressonância, mas ao fenômeno vibratório músculoesquelético (NOÉ, 2006).

A ressonância nasal é um conceito desejável para a voz de tenor, que não deve ser confundida com a nasalidade. A ressonância nasal acontece quando há uma faringe ampla e relaxada, capaz de funcionar como cavidade de ressonância na formação das vogais. Um dos maiores benefícios de uma saudável ressoância nasal é a liberação da base da língua, permitindo um fechamento (adução) benéfico das pregas vocais (JONES, 2006).

A língua e o palato mole devem estar fora do caminho da voz, isto é, o palato deve permanecer elevado, a faringe ampla, e a língua ligeiramente arqueada na posição da consoante “ng” (como na palavra sing). Dessa forma será possível adquir a ressonância nasal, que os italianos chamam de squillo ou som brilhante. Uma porção mínima de ar deve ser direcionada à região interna da face, a saber, à nasofaringe, à orofaringe e à laringofaringe, mantendo um apoio constante da musculatura abdominal inferior (região da pelvis). Quando a verdadeira ressonância nasal é atingida, sem contaminação com a nasalidade, o tenor consegue um excelente fraseado em legato (JONES, 2006).

Faz-se necessário entender que tanto a voz de peito, a voz de cabeça, a voz na máscara, assim como outros termos usados na pedagogia vocal, devem limitar-se a sugestões relativas às sensações de consonância que têm lugar nos diferentes pontos do esqueleto facial, craniano ou toráxico. Não há nenhuma relação com a ressonância (JONES, 2003).

Segundo Miller (2000), não existe comprovação específica de que o peito, incluindo a traqueia e a bifurcação bronquial, possam contribuir plenamente para a ressonância da voz cantada.

Vale destacar que todas as mudanças de registro vocal, ou seja, as regiões onde determinado grupo de notas é emitido com um mesmo mecanismo muscular e que diferem de outro grupo de notas produzidas com um mecanismo similar entre si acontecem no nível da laringe (GARCÍA, 1854). Mesmo se não houver uma verdadeira ressonância nesses pontos, a sugestão de posicionar a voz em algum local frontal da face continua a ser um recurso pedagógico de comprovados resultados (SHIGO, 2014).

Somente por meio de um perfeito equilíbrio muscular e pneumo- fonoarticulatório, será possível cantar mantendo uma sensação de conforto e sem tensões na garganta.

Klein (1909 apud SHIGO, 2013), observa que acima do “teto” da boca, atrás do nariz, na região da testa, e em geral em toda a área da masque, existem cavidades pequenas e amplas, que servem para refletir os tons que chegam da garganta. Esses espaços de ressonância são uma extensão da cavidade oral e faríngea, que permitem a riqueza eco - sonora da voz.

É fundamental que o aluno tenor entenda que o objetivo é manter o conforto laríngeo e, para isso, é necessário conhecer o mecanismo muscular que tem lugar dentro de si mesmo. Para compreender a relação da emissão vocal com o resultado da ressonância, autores como Doscher (1987) e Miller (2004) afirmam que não há uma posição fixa, perfeita para a língua, o palato mole, os lábios e a mandíbula.

De acordo com Doscher (1987), o que interessa é que cada uma dessas estruturas consiga se ajustar ao trato vocal, facilitando a vibração simpática com o som vindo das pregas vocais.

Resulta indispensável que as manobras de ajuste sejam feitas com o mínimo de esforço e o máximo de eficiência, para evitar tensões. Por isso deve existir uma interdependência entre os articuladores da ressonância, os órgãos da fonação e o mecanismo respiratório.

Linquest (1971 apud JONES, 2001) oferece uma interessante definição sobre a técnica vocal, ao afirmar que o canto é basicamente um delicado exercício atlético, combinado a um estado emocional e a um sentimento de exaltação provocado por uma necessidade intensa de expressar-se.

Linquest (1971), Jones (2001) e Mathis et al. (2006) afirmam que os melhores resultados acontecem quando o trabalho do aluno de canto é direcionado à busca da liberdade funcional do instrumento vocal como um todo.

Os elementos que determinam essa liberdade funcional estão baseados na correta postura, na flexibilidade respiratória, na liberdade vibratória das pregas vocais e na ausência de tensão no nível da base da musculatura lingual.

Os autores concordam sobre a importância da flexibilidade na articulação da mandíbula e na elasticidade dos lábios, o que facilita uma correta articulação. Esses elementos juntos permitem uma unidade funcional, que condiz com uma técnica eficiente e uma liberdade vocal desejável.

Segundo Jones (2001), o formato dos lábios tem influência na qualidade sonora do timbre e na projeção vocal do tenor. Para o autor, as comissuras dos lábios devem manter uma forma oval, evitando a posição horizontal. Observa que muitos grandes cantores usam esse formato mais arredondado, facilitando mais espaço acústico na faringe, e cita como exemplo, os vídeos do tenor Jussi Bjorling, que só abria mais a boca quando entrava na região aguda, porém mantendo um formato mais vertical. Conclui, dizendo que o tenor deve focar mais na sensação interna do som e menos no que escuta dentro dele.

De acordo com Shigo (2014), o tenor não deve posicionar a boca num formato específico para produzir um som belo. O melhor seria observar o formato que a

boca faz quando o som está correto e belo. Esses são elementos semelhantes, mas com significados muito diferentes. Para conseguir o resultado adequado, a imagem do som deve surgir necessariamente na mente e dentro do ouvido do cantor.

FIGURA 36: TENOR ENRICO CARUSO (1873-1921) CANTANDO AS VOGAIS A/ E/ I / O / U / REGISTRO MÉDIO

VOGAL: A VOGAL: E VOGAL : I VOGAL: O VOGAL: U

Fonte: Livro “Caruso’s method of voice production”. Mariafioti,192234

Caruso (1909 apud LAVIGNI, 2011) menciona que para conseguir um tom firme e sem contração, o tenor deve concientemente abrir a garganta, pois ela é a cavidade que permite a entrada da voz. Se não fosse assim, seria inútil tentar um som completo e com brilho. Nesse sentido, o ar que se transforma em voz deve ocupar a faringe e se projetar nas cavidades de ressonância; caso contrário, ficará preso na laringe ou irá para o nariz. Afirma ainda que é possível e desejável que o tenor mantenha uma amplitude posterior e uma abertura menor na mandíbula.

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