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AS COMISSÕES DE PLANOS : NOVAS INSTITUICÕES DE URBANISMO E NOVA CONCEPÇÃO DE PLANO

FIGURA 29 CONVITE PARA AS SEMANAS DE URBANISMO E DOS

CLUBS AGRICOLAS

FONTE: Comissão do Plano da Cidade de Salvador(1937) Conferências. Cia. Editora e Graphica da Bahia: V

Prefeitura Municipal, conselheiro da City Improvements, presidente da Cia de Pavimentação e Obras públicas, da Cia Anglo- Brasileira, Professor da Escola Politécnica, participa da primeira diretoria do Clube no Estado de São Paulo, o que, segundo a autora, ilustra a importância que foi dada às questões urbanas Além desses grupos presentes na maioria das comissões, outras representações foram incorporadas, em função das características locais. Os registros da Semana de Urbanismo , realizada de 20 a 27 de outubro de 1935, em Salvador, traz elementos interessantes para entender os setores envolvidos na mobilização e nos debates visando um plano para cidade. Além disso, oferece um quadro abrangente do papel desempenhado pela Comissão, do envolvimento da sociedade almejado e como na organização das discussões , na organização da Comissão do Plano, na pauta das discussões e nas conclusões da semana de conferências e de debates, as questões políticas, administrativas e as novas articulações entre setores urbanos e agrícolas presentes na década de 1930 no Brasil se explicitam.

É notável que a Semana do Urbanismo tenha sido promovida pela “Comissão do Plano da Cidade de Salvador” e pelo “Núcleo da Bahia da Sociedade Amigos de Alberto Torres”. O

convite é realizado

conjuntamente para as

conferências e palestras a serem realizadas durante as Semanas de Urbanismo e dos Clubs Agrícolas (Comissão do Plano da Cidade de Salvador, 1937:IV). Esta promoção conjunta expressa de forma cristalina a associação simultânea do ciclo da Revolução de 1930 “ao ideário anti-urbano e à construção da identidade urbana do país” apontada por Melo(1993). A Sociedade Amigos de Alberto Torres é a associação cultural criada no Rio de Janeiro, em 1932, com o objetivo de resgatar as idéias sociais e políticas do sociólogo Alberto Torres, principal articulador ideológico da noção do Brasil como uma nação eminentemente agrária. È em sua obra que ocorre, segundo o autor, a fusão entre o país real – o mundo rural, onde está o cerne da brasilidade – e o país legal - a parcela urbana, cosmopolita e “ sibarita” que levaria , segundo Torres, à necessidade de um Estado forte e centralizado. Durante a década de 1930, as idéias agraristas de Torres são

retomadas por Oliveira Viana - um dos ideólogos do Estado Novo - e marcam o debate entre os críticos e defensores da industrialização .( Melo, op.cit.: 86-7) Esta associação expressa também a acomodação que ocorre com a Revolução de 1930 entre os setores das elites agrárias e urbanas, apontada por vários autores, como já mencionado.

Durante a Semana de Urbanismo de Salvador, o engenheiro Milton da Rocha, presidente da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres - Núcleo da Bahia e representante da Prefeitura na Comissão do Plano da Cidade, preside a Comissão Central e a VI Sub-comissão, que associa temas como parques, jardins, arquitetura urbana e paisagística, agricultura e cidades jardins. Coerente com o quadro de subordinação do município ao governo do Estado e com o discurso de despolitização da administração pública, a Comissão Organizadora do Plano da Cidade de Salvador é instituída sob os auspícios do governo do Estado e do Município e se coloca como uma agremiação sem caráter político:

“um grupo de cidadãos movidos pelo sincero desejo de collaborar com os poderes públicos para tornar a Bahia mais sadia, mais bela, mais confortável, mais econômica, enfim uma cidade perfeita” (Comissão do Plano da Cidade de Salvador , 1937:X)

Mais precisamente, se coloca como órgão de consulta ao povo, para avaliar o interesse coletivo de qualquer pretensão a ser apresentada ao poder público,. Na formulação do Plano serão consideradas “suggestões offerecidas por todos os cidadãos, quer individualmente, quer e mui principalmente, por intermédio de suas associações de classe”. ( idem, ibidem)

A Comissão Organizadora é composta por uma comissão central com representantes da Prefeitura, do Estado, da Cia de Energia Elétrica da Bahia, da Associação dos Engenheiros da Bahia, da Associação Bahiana da Imprensa, da Associação Comercial da Bahia e do Rotary Club da Bahia. A esta Comissão Central compete a elaboração e realização do plano de remodelação, embelezamento e expansão, organizar sub-comissões e indicar os presidentes; promover a propaganda do Plano e os meios de obtenção de recursos para sua elaboração e realização.A Comissão tem , também, a incumbência de providenciar a adoção pelo Estado e Município do Plano elaborado como definitivo, garantir que as leis competentes sejam aprovadas para que “ as futuras expansões só sejam possíveis dentro do seu escopo” , e que auxiliares ou técnicos especializados em Urbanismo necessários aos estudo dos detalhes sejam incorporados à administração (Comissão do Plano da Cidade de Salvador , 1937:149)

Nesse amplo espectro de atribuições, fica evidente a assimilação da retórica das comissões de planos americanas. A esse respeito, o engenheiro Milton da Rocha, presidente da Comissão Central, em conferência realizada no primeiro dia da Semana refere-se à fundação da “ Sociedade Amigos da Cidade”, em São Paulo, de cuja criação é informado através de um texto de Anhaia Mello, a quem se refere como “ um dos príncipes do urbanismo” . Qualifica a Sociedade paulistana como congênere das americanas “Civic Associations” , Civic Improvement Leagues”, “City Planning Associations” e “Chambers of Civic affairs” e como estas formada por “ cidadãos dignos, desinteressados e dispostos a collaborarem com os poderes publicos em beneficio do collectivo,

FIGURA 30. ORGANIZAÇÃO DA COMISSÃO DO PLANO DA CIDADE DE