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Figura 41: Distribuição geográfica de Ossaea coriacea, no sul da Cadeia Espinhaço, no estado de Minas Gerais.

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3. Ossaea mavacana Wurdack, Phytologia 21(2): 127-128. 1971.

Tipo: Venezuela, Terr. Fed. Amazonas, Rio Mavaca, Alto Orinoco, XII. 1969 (fl, fi), J. Lizot 166 (Holótipo: US! - foto FLOR!. Isótipo: VEN)

Wurdack, Fl. Venezuela 8, pt. 2: 718. 1973.

(Figs. 42-43)

Arvoreta ca. 3 m alt.; indumento em partes vegetativas e florais constituído de tricomas simples; ramos e pecíolos densa a moderadamente adpresso-glandular-setulosos, com tricomas 1,0-2,2 mm compr., alvacentos, cabeça glandular vinosa, caduca. Ramos castanhos com as porções apicais obscuramente angulosas, as basais cilíndricas. Folhas do mesmo nó isófilas ou nitidamente anisófilas com até 7 cm de diferença nos comprimentos; pecíolo 0,5-1,9 cm compr., com um nítido sulco mediano ventral, lâmina 8-21 x 3,5-7,5 cm, subcartácea, elíptica, base aguda, ápice longamente acuminado, margem nitidamente denticulada, principalmente a partir da metade superior, ciliolada, nervuras principais 5, as laterais-marginais ca. 1 mm suprabasais, as laterais-internas 10-25 mm suprabasais, estas últimas às vezes alternas, face ventral verde-clara, esparsamente adpresso-glandular- setulosa, com tricomas 0,3-2,0 mm compr., face dorsal verde-acinzentada, sedosa, moderadamente adpresso-glandular-setulosa, ambas as faces com tricomas adensados ao longo das nervuras principais, cabeça glandular caduca; com estilóides. Inflorescências axilares e também em nós desnudos, solitárias a agrupadas de duas, cimóides glomeriformes, 0,5-1,0 cm compr., unifloras, às vezes bifloras; pedúnculo inconspícuo; brácteas 2-6 x ca. 2 mm, profilos 5-6 x ca. 2 mm, ambos triangulares, ápice agudo-atenuado, apiculado, margem denticulada-ciliada, faces ventrais glabras, faces dorsais densamente adpresso-glandular- setulosas, com tricomas 0,5-1,4 mm compr., cabeça caduca, nervação reticulada. Flores 6- meras; faces dorsais do hipanto, do tubo e lobos externos do cálice densamente adpresso- glandular-setosas, com tricomas 1,5-3,0 mm compr., cabeça caduca; pedicelo ausente; hipanto 3,5-4,0 x 3,0-3,5 mm, campanulado; zona do disco glabra. Cálice com tubo 0,8-1,0 mm compr., face ventral apenas com esparsos e diminutos tricomas glandulares; lobos externos 3,0-3,3 x 0,1-0,2 mm, eretos pós-antese, estreitamente triangulares, ápice longo- apiculado; lobos internos inconspícuos, glabros. Pétalas 3-4 x 1,0-1,2 mm, eretas pós- antese, triangulares, ápice agudo-atenuado, com apículo dorsal ca. 0,2 mm compr., exserto, margem inteira, glabras. Estames de 2 tamanhos; filetes maiores ca. 2,4 mm e menores 1,8- 2,0 mm compr.; anteras maiores ca. 2,3 x 0,8 mm e menores 2,0-2,2 x ca. 0,6 mm, ovadas,

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ápice inconspicuamente atenuado, levemente extrosarmente falciformes, biloculares pós- antese, com dois poros terminais-ventrais; feixe vascular vestigial presente; conectivos prolongados 0,2-0,4 mm compr. abaixo das tecas, dorsalmente truncados a emarginados na base, inapendiculados. Ovário ca. 2 x 3 mm, 5/6-ínfero, 6-locular, costado, glabro; estilete ca. 6 mm compr. Frutos maduros não vistos.

MATERIAL EXAMINADO

BRASIL, RORAIMA, Vicinity of Maitá Indian village, 3°20' N, 63°24' W, 15.11.1971 (fl, fi), *G:T. Prance et al. 10544 (INPA, K, M, NY, P, US).

DADOS FENOLÓGICOS

Dado ao ínfimo número de exsicatas disponíveis para análise de O. mavacana, os respectivos períodos de floração e frutificação não podem ser adequadamente assinalados no presente trabalho.

Flores e frutos imaturos são observados em exemplares coletados nos meses de fevereiro e dezembro.

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA E ASPECTOS ECOLÓGICOS

Ossaea mavacana ocorre somente na floresta amazônica, em terras baixas, e tem

sido coletada na Venezuela e no Brasil, sendo, nesse trabalho, assinalada pela primeira vez a sua ocorrência em território brasileiro. Pelo baixo número de espécimes depositados nos herbários, parece tratar-se de uma espécie de rara ocorrência.

COMENTÁRIOS

O epíteto mavacana faz referência ao local onde o exemplar correspondente ao holótipo foi coletado - Rio Mavaca, na Venezuela.

Ao mesmo tempo em que Wurdack (1971) comenta a existência de afinidades entre O.

mavacana e O. angustifolia, considera O. mavacana uma espécie anômala dentro de Ossaea.

De fato, ao se considerar em Ossaea a característica consistente da presença de cristais do tipo drusa, O. mavacana fica nitidamente destacada das demais espécies, uma vez que possui apenas cristais do tipo estilóide (Fig. 16b-c). Estes cristais, com 100-150 de comprimento, não se enquadram na categoria de megaestilóides, que segundo Welle & Koek- Noorman (1981) devem atingir no mínimo 200 de comprimento.

Estilóides estão restritamente distribuídos em Melastomataceae e para a tribo Miconieae têm sido referidos para gêneros com inflorescências axilares (Baas 1981; Mentink & Baas 1992; Renner 1989; Judd 1989). Judd (1989) considera os megaestilóides como uma

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importante característica na distinção de táxons com inflorescências axilares dentro dessa tribo. Com base em um estudo de análise cladística, esse autor separa, em uma chave analítica, os gêneros que possuem megaestilóides - Henriettea (incluindo Henriettella e

Llewwelynia), Loreya (incluindo Bellucia) e Kirkbridea - dos destituídos deste tipo de cristal,

como Pentossaea (incluindo parte das Ossaea). Deste modo, de acordo com essa proposição, O. mavacana provavelmente deveria enquadrar-se junto aos táxons do primeiro grupo.

Considerando-se as características taxonômicas diagnosticas descritas por Cogniaux (1888, 1891), Gleason (1958, 1966), Standley (1938, 1963), Wurdack (1980a, 1993) e Renner (1989a), entre outros, para esses gêneros que possuem megaestilóides, O. mavacana não se ajusta adequadamente a qualquer um destes. Na chave apresentada por Judd (1989), esta espécie aproxima-se um pouco mais de Henriettea, mas distingue-se principalmente por não apresentar qualquer das características diagnosticas deste gênero destacadas por este autor, como os tricomas multicelulares alongados com a porção basal radiada a estrelada ou tipos derivados destes, inflorescências em fascículos, flores longamente pediceladas, lobos externos do cálice inconspícuos ou ausentes e pétalas pubescentes, além da ausência de bractéolas tipicamente diminutas.

Por outro lado, O. mavacana apresenta o mesmo conjunto básico de características morfológicas que circunscrevem as espécies de Ossaea ocorrentes no Brasil com inflorescências glomeriformes, como a ausência de tricomas estrelados, brácteas e profilos de dimensões conspícuas, com nervação reticulada, e os evidentes lobos externos do cálice e pétalas eretos no pós-antese, além, obviamente, das próprias inflorescências glomeriformes. Deste modo, apesar da presença dos estilóides, O. mavacana mostra-se taxonomicamente bem posicionada no gênero Ossaea.

Esta espécie separa-se nitidamente das demais Ossaea estudadas com inflorescências glomeriformes, por apresentar tricomas glandulares, com cabeça caduca, lobos internos do cálice inconspícuos, anteras com dois poros terminais-ventrais e ovário 6- locular, além dos estilóides. Ossaea angustifolia, pelo porte mais elevado e aspecto geral das folhas, em muito se assemelha a O. mavacana e esta, juntamente com O. angustifolia var.

Figura 42: O s s a e a m a v a c a n a Wurdack: a - detalhe do ramo; b - bráctea; c - lobos do cálice; d - pétala; e - estame maior; f - estame menor; g - detalhe dos poros da antera. (Escalas: a = 3 cm; b, d-f = 1 mm; c, g = 0,5 mm)