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POSIÇÃO SISTEMÁTICA E RELAÇÕES INTERGENÉRICAS

PAUCIFLORO DICASIO

5.2. POSIÇÃO SISTEMÁTICA E RELAÇÕES INTERGENÉRICAS

Ossaea e gêneros afins integram a tribo Miconieae, a maior dentro das Melastomataceae, com cerca de 30 gêneros e aproximadamente 2000 espécies nos Neotrópicos (Judd 1989, Renner 1993). A tribo tem sido circunscrita pelos frutos do tipo baga e sementes freqüentemente piramidais ou com formas semelhantes a esta.

Desde o século passado e principalmente após a classificação apresentada para as Melastomataceae por Triana (1865, 1871), os gêneros ou grupos de gêneros em Miconieae têm sido separados principalmente pela posição das inflorescências (axilares x terminais), juntamente com a forma e ápice das pétalas. Tais caracteres podem ser vistos em praticamente todas as chaves analíticas presentes nos trabalhos taxonômicos mais abrangentes sobre a família - Hooker (1867), Cogniaux (1888, 1891), Taubert (1892), Krasser (1893), Lõfgren (1917), Gleason (1925, 1932, 1958), Standley & Record (1936), Macbride (1941), Alain (1957), Pereira (1959-1961, 1966), Standley (1961), Wurdack (1962, 1973a, 1980a, 1993), Standley & Williams (1963), Soukup (1971), Uribe & Uribe (1972), Barroso et al. (1984), Judd (1989), Chiea (1991), Ulloa Ulloa & J0 rgensen (1993), Romero (1993) e Munhoz (1996), entre outros.

Através de uma hipótese preliminar de monofilia, Judd (1989) em um estudo cladístico, infere que em Miconieae o agrupamento formado por gêneros com inflorescências axilares é monofilético, sendo justamente neste agrupamento que se encontram Ossaea e seus gêneros mais afins - Bellucia, Clidemia, Henriettea, Henriettella, Huillaea Wurdack, Killipia Gleason,

Kirkbridea Wurdack, Llewelynia Pittier, Loreya, Maieta, Mecranium, Myriaspora DC. e Necramium Britton. Porém, é possível observar afinidades morfológicas entre Ossaea e

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gêneros com inflorescências terminais e posicionados nesta mesma tribo, como por exemplo

Leandra, devido às semelhanças vegetativas e de estruturas florais, destacando-se a forma

do ápice das pétalas - que em ambos os gêneros apresenta-se de aguda a acuminada. A aparente semelhança entre estes dois gêneros torna-se mais acentuada quando, em algumas espécies de Leandra, observa-se que a inflorescência que é inicialmente terminal, sofre um deslocamento, devido ao crescimento de uma gema axilar vegetativa, assumindo assim uma posição lateral nos ramos, adjacente às axilas foliares, conforme já detalhado no capítulo sobre inflorescências (4.4). Portanto, depreende-se que é pela incorreta interpretação da posição dessas estruturas de floração que vários autores têm incluído muitas espécies de

Leandra, principalmente as pertencentes à seção Chaetodon, em Ossaea, (Cogniaux 1888;

Gleason 1931; Alain 1955, 1957; Brade 1957; Borhidi 1976; Wurdack 1973b, 1980a).

De acordo com Judd (1989), Bellucia, Henriettea, Henriettella, Kirkbridea, Uewelynia,

Loreya e Myriaspora, por apresentarem megaestilóides, estão taxonomicamente mais

afastados dos gêneros como Ossaea, no qual ocorreriam apenas drusas. Entretanto, no presente trabalho, foi possível evidenciar que estilóides ocorrem também em Ossaea, embora de forma muito restrita, sendo observados somente em O. mavacana.

Considerando os gêneros citados e com estilóides, Ossaea tem sido citado como afim daqueles que também possuem pétalas agudas, como Henriettella e Myriaspora. Do primeiro gênero, Ossaea difere basicamente por não apresentar tendência de ocorrência das seguintes características: hábito arbóreo; origem das inflorescências predominantemente em nós já desnudos; pétalas pubescentes; tricomas multicelulares alongados, com a porção basal radiada ou estrelada ou de tipos derivados destes (de acordo com Judd 1989); flores longo- pediceladas; e lobos externos do cálice inconspícuos ou ausentes. De Myriaspora, diferencia- se pela ausência das seguintes características: estigma lobado, placentas dos ovários nitidamente divididas e cálice caliptriforme. Por esta última característica, Ossaea também distingue-se de Uewelynia, gênero monotípico da Venezuela. Dos gêneros com pétalas de ápice obtuso, Ossaea separa-se de Loreya e Bellucia também pelas ausências de anteras robustas, conectivos carnosos e estigma lobulado. Distingue-se de Henriettea pelas mesmas características já detalhadas para Henriettella, além do ápice agudo das pétalas.

Kirkibridea, gênero com duas espécies restritas à Colômbia, por apresentar pétalas

unguiculadas e conectivos ventralmente apendiculados (Wurdack 1976), afasta-se nitidamente de Ossaea.

Com relação aos gêneros com drusas (Clidemia, Huilaea, Killipia, Maieta, Mecranium e

Necramiurí), Ossaea distingue-se de Maieta por este apresentar formicárias na base das

lâminas foliares e folhas do mesmo nó nitidamente anisófilas, e de Clidemia (incluindo

Sagraea), principalmente por este possuir pétalas obovadas, com ápice evidentemente

obtuso. Separa-se de Huilaea pela presença neste gênero, de inflorescências pendentes e longamente pedunculadas e de Mecranium, pela ausência de lobos internos do cálice caliptriforme. Killipia mostra-se bem distinto de Ossaea, por apresentar, além das pétalas

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obtusas, lobos internos do cálice muito longos e anteras com dois nítidos apêndices dorso- basais. Já de Necramium, um gênero monotípico ocorrente na Venezuela e Trinidad, Ossaea não parece distinguir-se e, possivelmente, sejam sinônimos (Wurdack 1973a). Judd (1989) aparentemente sinonimiza estes dois gêneros com Sagraea, no entanto nenhuma referência sobre isto aparece no Index Kewensis (Davies 1991).

Apesar de se reconhecer a grande contribuição de Judd (1986) para o conhecimento das inflorescências em Ossaea e seus gêneros afins, discorda-se deste autor (1989) ao propor a separação de espécies de Ossaea em gêneros distintos, com base principalmente no merisma floral: com flores 4-meras, integrando Sagraea, cujos táxons podem ter tanto pétalas com ápice agudo ou obtuso; e espécies com flores 5-6-meras, constituindo um novo gênero -Pentossaea-, cujos táxons possuem ápice das pétalas agudo. Através do estudo das

Ossaea ocorrentes no Brasil é possível evidenciar que em algumas espécies como O. amygdaloides, O. coriacea, O. fragilis, O. marginata e O. sanguinea podem ocorrer

eventualmente flores 4-meras e em O. warmingiana é comum flores com este número de merisma. Também é importante ressaltar que na tribo Miconiae o número de peças florais não tem sido utilizado como um caráter de valor diagnóstico, ao contrário do que tem sido observado para a forma do ápice das pétalas. Judd (1989) também utilizou este caráter em sua chave analítica para distinguir Pentossaea, com pétalas estreitamente triangulares e de ápice agudo, de Killipia, com pétalas ovadas a elípticas, e ápice mais ou menos obtuso.

Considerando-se os dados obtidos no presente trabalho, Ossaea é um grupo bem delimitado dentro de Miconieae, caracterizado pelas pétalas estreitamente triangulares e de ápice agudo. Quanto ao caráter merisma floral, diagnosticado a nível genérico para Judd (1989), mostra-se mais variável dentro do grupo. Deste modo, Pentossaea é sinonimizado em Ossaea.

Com base em Cogniaux (1891), Ossaea está subdividido em cinco seções: Ossaea,

Glaziophytum, Diclemia, Bractearia e Octopleura, cujas características diferenciais são

apresentadas em uma tabela (Tabela 3). Na seção Glaziophytum este autor posiciona todas as espécies de Ossaea até então conhecidas para o Brasil, sendo que após as devidas modificações taxonômicas a mesma fica assim constituída: O. amygdaloides, O.

cinnamomifolia, O. confertiflora, O. congestiflora, O. coriacea, O. fragilis, O. marginata, O. meridionalis (identificada como O. amygdaloides pelo autor), O. sanguinea e O. warmingiana.

O posicionamento de novas espécies dentro das seções propostas por Cogniaux

(1891) não tem sido indicado, exceto por Wurdack (1980b) que inclui O. mavacana também na seção Glaziophytum. Wurdack (1993) amplia a ocorrência de seções no Brasil, com o estabelecimento de O. coarctiflora, posicionada na seção Diclemia, uma espécie amazônica, cujas inflorescências são secundifloras.

Uma discussão mais detalhada sobre as seções de Ossaea é abordada no capítulo 7 análise cladística.

Tabela 3. C aracterísticas diferenciais das seções de Ossaea, com base em Cogniaux (1891).