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Finalidade de aplicação da Suspensão Provisória do Processo

CAPITULO I A Suspensão Provisória do Processo no Processo Penal

1.5 Finalidade de aplicação da Suspensão Provisória do Processo

“O Ministério Público, na construção das condições a que em cada caso fica sujeita a suspensão provisória do processo, terá de ter uma atitude de abertura à análise de propostas que lhe sejam apresentadas pelos sujeitos processuais e de diálogo tendo em vista potenciar a obtenção de um acordo, respeitados os princípios da adequação, proporcionalidade e suficiência

As decisões proferidas respeitarão os princípios da certeza e da determinação. As injunções e regras de conduta terão de ser fixadas com precisão e objetividade, pois a vagueza e ambiguidade na sua concretização perturbam o acompanhamento e fiscalização do plano de conduta, dificultam a avaliação e decisão sobre o seu cumprimento e enfraquecem as finalidades do instituto. Não deve descurar-se, na suspensão provisória do processo, a recuperação de ativos, levando à prática o princípio de que o crime não compensa. Com esse desiderato, comprovando-se a obtenção de vantagem patrimonial pelo arguido, deve este repô -la a título de injunção.

A imposição ao arguido de uma determinada injunção pressupõe a avaliação da sua exequibilidade no período fixado para a suspensão. Se esta depender da colaboração de entidade externa ou da disponibilidade de meios cuja mobilização seja da responsabilidade da autoridade judiciária, o despacho a determinar a suspensão provisória do processo só deverá ser proferido após se encontrarem reunidas essas condições.

Recolhidos indícios suficientes da prática do crime e do seu autor e obtida a concordância expressa do arguido e do assistente, (…), quanto às injunções e regras de conduta e à duração da suspensão provisória do processo, é proferido o despacho do Ministério Público que a determina, cujo eficácia depende da manifestação de concordância do juiz de instrução. No caso de crimes cujo procedimento criminal depende de acusação particular, a legitimidade do Ministério Público para tomar a iniciativa de suspender provisoriamente o processo, ou do arguido e do assistente para a requererem, não depende da formulação daquela. Tendo -se diligenciado no sentido da possível aplicação do instituto, só verificado o seu insucesso (ou posteriormente em caso de incumprimento) se cumprirá a notificação do assistente nos termos do n.º 1 do artigo 285º81 CPP. A concordância do assistente é dispensada quando estiver em causa a prática de um crime de furto (artigo 203º82

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“Artigo 285º -Acusação particular

CP) cujo

1 - Findo o inquérito, quando o procedimento depender de acusação particular, o Ministério Público notifica o assistente para que este deduza em 10 dias, querendo, acusação particular. 2 - O Ministério Público indica, na notificação prevista no número anterior, se foram recolhidos indícios suficientes da verificação do crime e de quem foram os seus agentes. 3 - É correspondentemente aplicável à acusação particular o disposto nos n.os 3, 7 e 8 do artigo 283.º 4 - O Ministério Público pode, nos cinco dias posteriores à apresentação da acusação particular, acusar pelos mesmos factos, por parte deles ou por outros que não importem uma alteração substancial daqueles.” – Código de Processo Penal disponível in: http://www.pgdlisboa.pt/

procedimento criminal dependa de acusação particular e se enquadre na previsão do n.º 9 do artigo 281º83 CPP (cf. n.º 2 do artigo 207º84

Na alínea b) do n.º 4 do artigo 282º

CP). O despacho do Ministério Público deverá conter todos os elementos necessários para que possa ser por si compreensível, apresentando, de forma sintética e em linguagem clara, a narração dos factos e sua qualificação jurídico-penal, a justificação da verificação no caso concreto dos pressupostos de aplicação da suspensão provisória do processo, as obrigações impostas ao arguido e respectiva duração.

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, CPP sanciona-se com o prosseguimento do processo o arguido que, tendo beneficiado da aplicação da suspensão provisória do processo, não adequou o seu comportamento ao respeito pelo bem jurídico que já havia violado, demonstrando que o cumprimento das injunções e regras de conduta não se mostrou resposta suficiente às exigências de prevenção. Se no termo da duração da suspensão provisória se encontrar pendente processo por factos ocorridos nesse período em que se investiga crime da mesma natureza, aguardar-se-á pelo seu desfecho para então ser proferido despacho de arquivamento ou de prosseguimento dos autos, tendo em atenção o disposto no n.º 2 do artigo 282º86CPP quanto à prescrição do procedimento criminal.” 87

“Da decisão do Ministério Público de aplicação, ou não, de uma suspensão, não cabe recurso, isto porque se entende que o Ministério Público constituiu um órgão autónomo da administração da justiça, a quem incumbe exercer a acção penal orientada pelo princípio da legalidade – artigo 219º88

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“Artigo 203º – Furto

da CRP, dirigir o inquérito, o que implica, necessariamente, aplicar o direito e formular juízos de valor. A sua decisão de aplicar uma suspensão nesta fase, significa apenas, que está a optar por não

1 - Quem, com ilegítima intenção de apropriação para si ou para outra pessoa, subtrair coisa móvel ou animal alheios, é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa. 2 - A tentativa é punível. 3 - O procedimento criminal depende de queixa.” – Código Penal disponível in: http://www.pgdlisboa.pt/

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Vide Anotação 28

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“Artigo 207º - Acusação particular

1 - No caso do artigo 203.º e do n.º 1 do artigo 205.º, o procedimento criminal depende de acusação particular se: a) O agente for cônjuge, ascendente, descendente, adoptante, adoptado, parente ou afim até ao 2.º grau da vítima, ou com ela viver em condições análogas às dos cônjuges; ou b) A coisa ou o animal furtados ou ilegitimamente apropriados forem de valor diminuto e destinados a utilização imediata e indispensável à satisfação de uma necessidade do agente ou de outra pessoa mencionada na alínea a). 2 - No caso do artigo 203.º, o procedimento criminal depende de acusação particular quando a conduta ocorrer em estabelecimento comercial, durante o período de abertura ao público, relativamente à subtração de coisas móveis ou animais expostos de valor diminuto e desde que tenha havido recuperação imediata destas, salvo quando cometida por duas ou mais pessoas.” – Código Penal disponível in: http://www.pgdlisboa.pt/

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Vide Anotação 31. 86

Ibidem.

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DIRETIVA nº 1/2014 da Procuradoria-Geral da República [Em linha]. Lisboa: Procuradoria-Geral da República. [Consult. ago. 2017] Disponível in:

https://simp.pgr.pt/circulares/mount/anexos/1430757379_diretiva_1_2014_versao_atualizada.pdf 88

deduzir acusação, nem arquivar e fazer uso da oportunidade que o legislador lhe confere de lançar mão de institutos como a Suspensão Provisória do Processo. Não está no uso de um poder discricionário, nem colide com o monopólio da função jurisdicional pelos juízes. (…)

Conclui-se que o Ministério Público, estando, perante indícios suficientes da prática de um crime e da pessoa do seu agente, crime este, cuja medida abstracta da pena, seja igual ou inferior a cinco anos, é obrigado, com a concordância do arguido, assistente e Juiz de Instrução Criminal a promover o instituto, mediante a aplicação ao arguido de injunções e/ou regras de conduta, desde que não tenha o agente sido condenado, anteriormente, ou ter-lhe sido aplicada uma Suspensão Provisória do Processo por crime da mesma natureza, o grau de culpa não seja elevado, não seja de aplicar ao caso medida de internamento e seja de prever que a aplicação das injunções e/ou regras, sejam adequadas ao caso e que assegurem as exigências de prevenção.”89

Sintetizámos, assim, a aplicação da Suspensão Provisória do Processo no Direito Penal. Uma vez que o tema do nosso trabalho se baseia na aplicação da Suspensão Provisória do Processo nos Crimes Fiscais passaremos no próximo capítulo ao Direito Económico, o Direito Penal Tributário, ramo do direito penal secundário que regula estes crimes tão específicos assim como a todas as vicissitudes da aplicação do instituto em causa àqueles.

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BRANCO, Isabel Maria Fernandes – Considerações sobre a aplicação do Instituto da Suspensão

Provisória do Processo [Em linha] Universidade Portucalense – Departamento de Direito. Fevereiro. 2013.

Dissertação de Mestrado em Direito [Consult. ago. 2017] Disponível in: