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Suspensão da Execução da Pena – Artigo 14º do RGIT

CAPITULO II A Suspensão Provisória do Processo no Direito Penal Tribuário

2.6 Suspensão da Execução da Pena – Artigo 14º do RGIT

A Suspensão da Execução da Pena está previsto no artigo 14º196

Esta “é a possibilidade concedida ao arguido, preenchendo os requisitos deste instituto, de cumprir uma alternativa à medida preventiva de liberdade que lhe foi sentenciada,”

do RGIT. Este tem um regime especial e por isso mesmo tem suscitado muitas divergências na sua interpretação pelos nossos tribunais, dando azo a criação de diversa jurisprudência.

197 Quanto aos pressupostos da suspensão da execução da pena de prisão, nada é dito neste artigo do RGIT, aplicando-se, portanto, subsidiariamente o artº 50º198

Mas o artigo 14º

do Código Penal, ou seja, o arguido terá de ser condenado a uma pena de prisão inferior a cincos, e só será decretada tendo em conta a personalidade do arguido, as condições da sua vida e um juizo de prognose social favorável ao arguido, em que a censura do facto e a ameaça da prisão seja suficiente para que este não cometa outro crime futuramente, realizando assim as finalidades da pena, que é a ressocialização.

199

196

Vide Anotação 186.

do RGIT tem uma especificação, pois dispõe, no seu nº 1, que “a suspensão da execução da pena de prisão aplicada é sempre condicionada ao pagamento, em prazo a fixar até ao limite de cinco anos subsequentes à condenação, da prestação tributária e acréscimos legais, do montante dos benefícios indevidamente obtidos e, caso o juiz o entenda,

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PEREIRA, Ana Luisa dos Santos Furtado – Extinção da Responsabilidade Penal Tributária [Em linha]

Escola de Direito do Porto da Universidade de Católica Portuguesa. Porto, 2012. Dissertação de Mestrado em Direito Fiscal [Consult. ago. 2017]. Disponível in:

https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/13224/1/Extin%C3%A7%C3%A3o%20da%20Responsabilidade% 20Penal%20Tribut%C3%A1ria.pdf, p. 30.

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“Artigo 50º - Pressupostos e duração

1 - O tribunal suspende a execução da pena de prisão aplicada em medida não superior a cinco anos se, atendendo à personalidade do agente, às condições da sua vida, à sua conduta anterior e posterior ao crime e às circunstâncias deste, concluir que a simples censura do facto e a ameaça da prisão realizam de forma adequada e suficiente as finalidades da punição. 2 - O tribunal, se o julgar conveniente e adequado à realização das finalidades da punição, subordina a suspensão da execução da pena de prisão, nos termos dos artigos seguintes, ao cumprimento de deveres ou à observância de regras de conduta, ou determina que a suspensão seja acompanhada de regime de prova. 3 - Os deveres e as regras de conduta podem ser impostos cumulativamente. 4 - A decisão condenatória especifica sempre os fundamentos da suspensão e das suas condições. 5 - O período de suspensão é fixado entre um e cinco anos.” – Código Penal, disponível in: http://www.pgdlisboa.pt

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ao pagamento de quantia até ao limite máximo estabelecido para a pena de multa.”, ou seja, caso o arguido não pague a prestação tributária, os juros e o montante dos valores que beneficiou, a pena não poderá ser suspensa.

Este prazo dos 5 anos para o pagamento foi alargado pelo RGIT, pois antes era de 2 ano e coincidente com o que era estabelecido pelo nº 5 do artigo 50º200

“Sucedeu, porém, que com as alterações ao art. 50º

do CP.

201

e seguintes do Código Penal pela Lei nº 59/2007, de 4 de Setembro, o prazo de suspensão da execução tem agora duração igual à da pena de prisão determinada na sentença, mas nunca inferior a um ano, não admitindo prorrogação, suscitendo- se a questão de saber se as alterações do Código Penal têm reflexo no art. 14º202 do RGIT, no que respeita à sua duração e prorrogação.”203

Analizando o referido artigo verificamos que a imposição do dever de pagamento da prestação tributária para a suspensão da execução da pena é o único ponto de especialidade perante a norma do artigo 50º204 do Código Penal, portanto é de nosso entender, seguindo também a posição do Professor Germano Marques da Silva, que o artigo 14º205

Mas esta “imposição de pagamento da prestação tributária em dívida não é exclusiva dos crimes tributários. Também o art. 51º

do RGIT deverá ser interpretado “no sentido de que o período de suspensão é igual ao tempo de prisão determinado na sentença não havendo lugar à prorrogação em caso de falta de pagamento dentro do prazo inicialmente fixado”.

206

200

Vide Anotação 198.

do Código Penal, na redacção vigente à data da

201 Ibidem 202

Vide Anotação 186. 203

SILVA, Germano Marques da - Direito Penal Tributário, sobre as responsabilidades das sociedades e dos

seus administradores conexas com o crime tributário. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2009. ISBN:

978-972-54-0253-5, p. 133-134. 204 Vide Anotação 198. 205 Vide Anotação 186. 206 “Artigo 51º - Deveres

1 - A suspensão da execução da pena de prisão pode ser subordinada ao cumprimento de deveres impostos ao condenado e destinados a reparar o mal do crime, nomeadamente: a) Pagar dentro de certo prazo, no todo ou na parte que o tribunal considerar possível, a indemnização devida ao lesado, ou garantir o seu pagamento por meio de caução idónea; b) Dar ao lesado satisfação moral adequada; c) Entregar a instituições, públicas ou privadas, de solidariedade social ou ao Estado, uma contribuição monetária ou prestação de valor equivalente. 2 - Os deveres impostos não podem em caso algum representar para o condenado obrigações cujo cumprimento não seja razoavelmente de lhe exigir. 3 - Os deveres impostos podem ser modificados até ao termo do período de suspensão sempre que ocorrerem circunstâncias relevantes supervenientes ou de que o tribunal só posteriormente

publicação do RGIT, dispunha que a suspensão da execução da pena de prisão podia ser subordinada ao pagamento dentro de certo prazo da indemnização devida ao lesado. A especialidade do art. 14º207

Não faz sentido a obrigatoriedade da imposição deste dever”

do RGIT consiste em que a imposição da condição é obrigatória. 208

“Em tudo o mais é aplicável no âmbito do RGIT o regime de suspensão da execução da pena de prisão estabelecido no Código Penal, desde pressupostos da sua aplicação, duração e condições a que fica sujeita a suspensão.

, pois logo no momento da sentença podem existir elementos no processo que indiquem que o arguido não poderá proceder ao seu pagamento, apenas adiando o cumprimento da pena de prisão. Mas na verdade também não faz sentido o arguido cumprir a pena de prisão, quando o incumprimento desta obrigação não lhe pode ser imputado culposamente. Pois caso contrário, a suspensão da execução da pena de prisão poderá ser revogada.

Tem sido frequentemente invocada nos tribunais a inconstitucionalidade da norma do art. 14º209 do RGIT por violadora do principio da igualdade constante do art. 13º210

No entendimento atrás defendido (…) de que só o não pagamento culposo da condição de suspensão pode determinar a revogação da suspensão da execução da pena de prisão não há qualquer inconstitucionalidade da norma. O principio da igualdade não impede que a lei possa estabelecer distinções de tratamnento, desde que material, objectivo e razoavelmente fundadas. Antes implica que se dê tratamento igual ao que for essencialmente igual e que se trate diversamente o que for diferente. O que o principio da igualdade impõe à lei ordinária é a proibição do arbitrio, as discriminações ou diferenciações fundadas em categorias ou situações meramente subjectivas, materialmente infundadas, isto é, sem um fundamento sério, sem um sentido legitimo, sem uma fundamentação razoável, segundo os critérios de valor objectivo constitucionalmente relevantes.”

da CRP, na medida em que importa a imposição de uma obrigação que pode ser impeditiva da efectividade da suspensão da execução da pena de prisão, apenas em razão da insuficiente situação económica do condenado para satisfazer essa obrigação.

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tiver tido conhecimento. 4 - O tribunal pode determinar que os serviços de reinserção social apoiem e fiscalizem o condenado no cumprimento dos deveres impostos.” – Código Penal, disponível in: http://www.pgdlisboa.pt 207

Vide Anotação 186. 208

SILVA, Germano Marques da - Direito Penal Tributário, sobre as responsabilidades das sociedades e dos

seus administradores conexas com o crime tributário. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2009. ISBN:

978-972-54-0253-5, p. 135-136 209 Vide Anotação 186. 210 Vide Anotação 21. 211

SILVA, Germano Marques da - Direito Penal Tributário, sobre as responsabilidades das sociedades e dos

seus administradores conexas com o crime tributário. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2009. ISBN:

“No que respeita à suspensão da execução da pena de prisão, a lei condiciona a substituição da pena à condição do pagamento da prestação tributária em dívida. É exigência discutivel e desconforme com o Código Penal que só subordina a suspensão ao dever de pagar a indemnização devida ao lesado se o tribunal o julgar possível. Não nos parece, porém, que a norma seja inconstitucional, mesmo se envolve um juízo legal sobre o condicionamento da suspensão da