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CAPÍTULO V Procedimentos Metodológicos

Eixo 4. Fiscalização/Impunidade e corrupção

Verificamos por meio das falas de nossos entrevistados que a lei seca esbarra num problema bastante comum no Brasil, a falta de fiscalização, a impunidade e a corrupção23.

Tomando por base nossas indagações sobre fiscalização, identificamos que os entrevistados vivenciaram experiências muito semelhantes no que tange à fiscalização dos policiais em relação à lei seca.

Todos os entrevistados disseram não haver fiscalização quanto à lei seca na região. Conforme já referido, a região, em nossa pesquisa, refere-se ao trecho do extremo sul de Minas Gerais, principalmente às cidades de Cambuí, Córrego do Bom Jesus, e à rodovia Fernão Dias, no trecho que liga Pouso Alegre a São Paulo, cerca de duzentos quilômetros. A opinião dos entrevistados sobre a fiscalização é também semelhante. Ângelo, Ana e Antonio nos revelaram nunca terem visto uma blitz usando bafômetro e que, quando há fiscalização, geralmente é para averiguar os documentos. Além disso, deram ênfase ao fato de os motoristas prevenirem os demais sobre o comando, para que aqueles que apresentam algum tipo de problema possam encontrar alternativas para burlar a fiscalização. Adão apresentou uma crítica em relação aos policiais que fazem o controle nas estradas: ... os policiais que

efetuam as blitz são, na maioria das vezes, despreparados e mal remunerados e agem como

se todos, inicialmente estivessem errados (...) no Brasil tem muitas leis e pouca fiscalização (...) aqui em Minas eu nunca fui parado...”

Com relação à atitude perante a fiscalização, Ângelo nos afirmou que ele faria o teste do bafômetro, caso lhe pedissem. O problema para Ângelo é o fato de achar que os policiais são corruptos e que podem provocar problemas, porque são “encrenqueiros”. Ou seja, mesmo estando com a documentação do automóvel em dia e não beber, Ângelo parece não gostar das

blitz. Ana nos revelou o pensamento que vem à cabeça quando as pessoas olham para uma

blitz: “... nossa, que chato, tem blitz...” de acordo com Ana, as pessoas não pensam na proteção que um comando policial pode oferecer, mas sim nos problemas que os motoristas poderão ter. Antonio revelou ter assoprado o bafômetro uma vez e disse ter achado interessante. Antonio nos relatou que foi parado uma única vez, na rodovia Fernão Dias, entre as cidades de Cambuí e Pouso Alegre, no único posto policial que há entre estas cidades. Ele nos disse que eram sete horas da manhã, num sábado. Achou estranho o policial lhe pedir para

Quadro 3: Fiscalização/ Impunidade e Corrupção

Entrevistado

(a) Atitude fiscalização em relação a Opinião em relação a fiscalização Impunidade/Corrupção

Ângelo ... eu faria o teste do bafômetro se me pedissem...o problema não é fazer ou não fazer (...) o problema é que esses caras (policiais) são encrenqueiros.

Aqui eu nunca vi blitz com bafômetro (...) ninguém está preocupado com motorista que bebe. ...quando tem blitz, os motoristas dão farol para avisar (...)

... agora todo mundo já se acostumou com a lei (...) sabe que não dá em nada mesmo (...) não dá em nada para os grandões, ricos, mas para o pobre acaba dando problema.

Ana ...o pensamento que vem à

cabeça é: “nossa, que chato, tem

blitz”, mas nunca: “nossa, que legal, tem uma blitz para nos proteger.”

Eu nunca vi blitz aqui na região. Só uma vez, parou a gente, pediu os documentos e liberou. Só isso. Blitz [usando] bafômetro eu nunca vi.

....o problema do trânsito, ou melhor do mau motorista já começa quando a gente tira a carteira, a gente já entra com a cabeça na corrupção, por exemplo comprar a CNH. Os próprios delegados, a polícia federal, todo mundo sabe que existe a corrupção...

... existe também a maneira como a polícia se posiciona: Corrupção, suborno. E a possibilidade da própria polícia colocar alguma coisa no carro para incriminar e assim conseguir dinheiro...

... a sensação é que todo mundo está ali (médicos e psicólogos do trânsito, donos de auto-escola) só para ganhar dinheiro. Quantas pessoas que não sabem dirigir e compram carteira?

... as ruas mal sinalizadas, para consertá-las é corrupção de novo. Psicólogo, médico, o sistema, parece que todo mundo está mal preparado. É uma indústria de ganhar dinheiro mesmo.

... as pessoas que estão no meio não estão interessadas em segurança no trânsito. Todo mundo está pensando em dinheiro.

Antonio ... a polícia me parou e pediu que eu assoprasse o bafômetro. Eu assoprei sem problemas e achei interessante a fiscalização.

... não adianta o bafômetro porque a pessoa não é

obrigada a assoprar... ... eu acho que a polícia sabe dos problemas, as autoridades sabem, mas não fazem nada... .... o cara vai lá, dirige alcoolizado, mata, atropela e depois paga uma fiança e pronto, tá na rua de novo e vai voltar a dirigir... ... acho que o problema está nas autoridades mesmo que não fiscalizam e quando fiscalizam não punem como deveriam punir.

Adão ... eu tento manter o mais calmo

possível mostrando sempre onde coloco minhas mãos...

... se me pedissem para fazer o teste do bafômetro eu teria feito...

...os policiais que efetuam a blitz são, na maioria das vezes, despreparados e mal remunerados e agem como se todos, inicialmente, estivessem errados. Uma blitz educativa pode ter muito melhor resultado do que uma blitz punitiva... ... no Brasil há muitas leis e pouca fiscalização (...) aqui em Minas eu nunca fui parado...

... pensamos sempre que não haverá punição e que o nosso nível alcoólico não é suficiente para causar qualquer tipo de acidente,

assoprar o bafômetro àquela hora, porém assoprou sem restrições. E perguntou ao policial por que a fiscalização usando bafômetro naquele horário. O policial lhe respondeu que era o horário que mais conseguiam “pegar” os infratores porque era a hora que estavam voltando das festas para casa. Antonio, embora tenha achado interessante, advertiu que os testes teriam que ser aplicados em outros horários também. Adão, assim como Ângelo confessou que fica apreensivo quando blitz e que toma muito cuidado com o lugar em que coloca as mãos e tenta permanecer o mais calmo possível. Deu-nos a impressão de que ele teme a reação dos policiais, pois os considera “mal preparados”. E afirmou que não via problema em fazer o teste do bafômetro caso lhe pedissem, mas que nunca passara por tal constrangimento.

O tema da impunidade e corrupção aparece muito claro nas respostas dos entrevistados. A fala de Ângelo nos direcionou para um comodismo em relação à lei seca:

“... agora todo mundo já se acostumou com a lei (...) sabe que não dá em nada mesmo (...) não dá em nada para os grandões, ricos, mas para o pobre acaba dando problema...”

Ana foi bastante reflexiva e apontou vários problemas em relação ao Sistema de Trânsito Brasileiro: “... o problema do trânsito, ou melhor, do mau motorista já começa

quando a gente tira a carteira, a gente já entra com a cabeça na corrupção, por exemplo, comprar a CNH (...) os próprios delegados, a polícia federal, todo mundo sabe que existe a corrupção (...) existe também a maneira como a polícia se posiciona: Corrupção, suborno (...) E a possibilidade da própria polícia colocar alguma coisa no carro para incriminar e assim conseguir dinheiro (...) a sensação é que todo mundo está ali (médicos e psicólogos do trânsito, donos de auto-escola) só para ganhar dinheiro (...) as ruas mal sinalizadas, para consertá-las, é corrupção de novo. Psicólogo, médico, o sistema, parece que todo mundo está mal preparado. É uma indústria de ganhar dinheiro mesmo (...) as pessoas que estão no meio não estão interessadas em segurança no trânsito (...) todo mundo está pensando em dinheiro.

Antonio, por meio de suas falas deixou entrever que acredita que a polícia saiba dos problemas, ou seja, as autoridades sabem que na cidade os jovens bebem e dirigem, e que dirigem em alta velocidade, porém não tomam atitude, e ainda reforçou dizendo que, quando as autoridades tomam providências, não resolvem o problema, em virtude da impunidade que existe no país: “... o cara vai lá, dirige alcoolizado, mata, atropela e depois paga uma fiança

e pronto, tá na rua de novo e vai voltar a dirigir(...) acho que o problema está nas autoridades mesmo que não fiscalizam e quando fiscalizam não punem como deveriam punir.

Adão justificou o comportamento do motorista infrator ao dizer que eles pensam não haver punição e que a quantidade que bebem não é suficiente para causar acidente.

Observamos que o tema da corrupção está evidente nos discursos dos entrevistados de forma relevante. Do mesmo modo, será um assunto de destaque em nosso trabalho.