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4. ÁREA DE ESTUDO

6.1 Caracterização individual dos pesqueiros

6.1.1 Pesqueiro Coroa da Cavala

6.1.1.1 Fisiografia e Sedimento Superficial de Fundo

O pesqueiro Coroa da Cavala, está localizada a cerca de 15km da linha de costa. É uma área de pesca tradicional e segundo os dados de desembarques foi o pesqueiro mais visitado da área de estudo (20 visitas) (Figura 8).

Figura 9 – Pesqueiro Coroa da Cavala.

Os perfis batimétricos transversais 8 e 9 indicam que a plataforma interna é relativamente plana até as isóbatas de 25-30m, com poucas feições de relevo positivo (Figura 10). A declividade se acentua na transição entre a plataforma interna e externa a qual se inicia na profundidade de 45m. A plataforma externa é caracterizada por um terraço plano recoberto por sedimentos arenosos. Neste terraço ocorrem feições com relevo positivo denominada pelos pescadores de “coroas”. A grande quantidade de fragmentos de algas coralinas incrustantes presentes no sedimento sugere a existência de fundos consolidados, uma vez que estas algas precisam de um fundo duro para se fixar.

O perfil batimétrico longitudinal 09, identifica um canal submarino com cerca de 2.500m de largura e 160m de profundidade no seu eixo. Adjacente ao canal, observa-se o terraço plano de fundo consolidado que caracteriza a plataforma externa. Este terraço também fica evidenciado no perfil diagonal D03 (Figuras 11 e 12).

Figura 10- Perfis batimétricos transversais adjacentes Coroa da Cavala e Coroa do Peixe Porco (valores de profundidades e extensão dos perfis em m). As setas indicam as feições identificadas como “coroas”. Para localizar consultar figura 8.

E-W

Figura 11- Perfil batimétrico longitudinal adjacente aos pesqueiros Coroa da Cavala e Coroa do Peixe Porco. Valores de profundidades e extensão dos perfis em m. As setas indicam a feições identificadas como “coroas”. Para localizar consultar a figura 8.

N-S

Figura 12- Perfil batimétrico diagonal adjacente aos pesqueiros Coroa da Cavala e Coroa do Peixe Porco. Valores de profundidades e extensão dos perfis em m. A seta indica a feição identificada como “coroa”. Para localizar consultar a figura 8.

Devido ao grande número de desembarques oriundos deste pesqueiro, foi realizado um estudo mais detalhado da sua batimetria, visando uma melhor compreensão da paisagem submarina nesta área. Nesta batimetria ficou bem evidenciada a presença de três feições de relevo positivo (coroas) com alturas em torno de 5m, associados com sedimentos arenosos e cascalhosos de origem biodedrítica (Figura 13).

Figura 13 – Batimetria detalhada dos Pesqueiros Coroa da Cavala e Coroa do Peixe Porco. Fonte: Dominguez 2009

A textura do sedimento superficial é predominantemente arenosa. A fração areia apresenta teores superiores a 57%, nos cinco pontos amostrados neste pesqueiro (Tabela 2). A fração cascalho varia entre 6 e 29%, e a fração lama apresenta teores entre 6 e 21%.

Tabela 2 – Granulometria do sedimento no pesqueiro Coroa da Cavala.

Coroa da Cavala Amostra 38 Amostra 39 Amostra 40 Amostra 41 Amostra 42 CASCALHO 11,2 29,4 16,9 21,4 6,3

AREIA 74,6 64,3 72,2 57,2 80,2

LAMA 14,2 6,3 11,0 21,3 13,5

Observa-se ainda que em três pontos de coleta o teor de areia foi maior que 70%, com destaque para o ponto 42 com 80% do sedimento na fração areia. A fração cascalho apresentou o maior teor na amostra 39 (29%). A fração lama foi bem representativa na amostra 41, com 21% (Figura 14).

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Amostra 42 Amostra 41 Amostra 40 Amostra 39 Amostra 38 CASCALHO AREIA LAMA

Figura 14 – Principais tipos texturais do sedimento superficial no pesqueiro Coroa da Cavala.

Em relação à composição, os principais constituintes são de origem biogênica predominando fragmentos de algas coralinas incrustantes, carapaças de foraminíferos e restos de conchas de moluscos bivalves. Secundariamente destacaram-se os briozoários (Tabela 3, Figura 15).

Tabela 3 – Composição do sedimento na amostra total (frações areia + cascalho) no pesqueiro Coroa da Cavala.

Grão Amostra 38 Amostra 39 Amostra 40 Amostra 41 Amostra 42

Alga coralina incrustante 36.7 45.7 51.8 28.7 23.2

Molusco Bivalve 9.6 7.4 5.0 8.9 14.7 Foraminifero 15.2 22.1 17.2 21.7 20.2 Briozoario 6.8 7.4 4.9 4.8 9.7 Equinoderma 0.0 0.0 0.3 0.0 0.0 Tubo verme 0.7 0.6 0.0 0.0 0.0 Outros organismos 6.9 4.5 6.4 10.3 15.3

Grão não identificado 9.9 5.9 3.4 4.1 3.4

TOTAL 85.8 93.7 89.0 78.7 86.5 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Amostra 42 Amostra 41 Amostra 40 Amostra 39 Amostra 38

Alga coralina incrustante Molusco Bivalve Foraminifero Briozoario Equinoderma Tubo verme Outros organismos Grão não identificado

Figura 15 – Principais componentes do sedimento na amostra total (frações areia + cascalho) no pesqueiro Coroa da Cavala.

6.1.1.2 Macrozoobentos

Entre os três principais grupos de organismos nas cinco amostras coletadas no pesqueiro Coroa da Cavala, os poliquetas foram os mais abundantes representando 45% dos indivíduos capturados, seguidos pelos crustáceos (42%) e equinodermas (13%) (Figura 16).

Figura 16 – Composição em porcentagem dos quatro principais grupos de organismos capturados no pesqueiro Coroa da Cavala.

Também foi capturado neste pesqueiro um jovem recruta de peixe da família Labridae, em estágio juvenil de desenvolvimento, com cerca de 2cm de comprimento total.

a) Poliquetas

Foram coletados 75 exemplares de Poliquetas, distribuídos entre 22 famílias e 50 espécies/morfotipos. As famílias mais abundantes foram Nereididae, Eunicidae e Lumbrineridae. Em termos de espécie, destacam-se as famílias Lumbrineridae e Pilargidae com os morfotipos dos gêneros Lumbrineris sp.1 e Synelmis sp. como os mais abundantes (Apêndice 1).

A diversidade e a riqueza dos poliquetas variaram muito pouco entre as cinco amostras coletadas, indicando uma homogeneidade na ocorrência e abundância das espécies. A amostra 39 se destacou com o maior índice de diversidade (H’=2.69) e riqueza (d=5,04) e o terceiro maior índice de equitabilidade. A amostra 42 apresentou o menor índice de diversidade (H’=1.91), riqueza (d=2.82) e equitabilidade (J’=0.92). A comunidade de poliquetas do pesqueiro Coroa da Cavala apresentou um índice de diversidade de (H’=3.76), riqueza (d=11.35) e equitabilidade de (J’=0.96). (Tabela 4).

Tabela 4 - Índices de diversidade, riqueza e equitabilidade aplicados aos Poliquetas capturados na Coroa da Cavala. Amostra S4 N5 d6 J'7 H'8 Amostra 38 14 15 4.80 0.99 2.62 Amostra 39 17 24 5.04 0.95 2.69 Amostra 40 14 14 4.93 1.00 2.64 Amostra 41 10 10 3.91 1.00 2.30 Amostra 42 8 12 2.82 0.92 1.91 Coroa da Cavala 50 75 11.35 0.96 3.76 b)Crustáceos

Os crustáceos foram o segundo grupo mais abundante. Foram capturados 52 indivíduos distribuídos entre 13 famílias e 25 espécies/morfotipos. As famílias Apseudidae, Gammaridae (Anfípodas) e Alpheidae (Camarões), foram as mais abundantes. Entre os morfotipos mais abundantes destacaram-se as famílias Alpheidae (Anfípodas) do gênero

Alpheus sp.1, e Apseudidae (Camarões) com o gênero Apseudes sp.1 (Apêndice 2).

Os índices de riqueza, diversidade e equitabilidade aplicados aos crustáceos nas cinco amostras coletadas na Coroa da Cavala, mostraram uma maior variação na composição e abundância de crustáceos entre os pontos amostrais. A amostra 39 novamente se destacou com o maior índice de diversidade (H’=2.11) e riqueza (d=3.24). Já a amostra 41 apresentou um baixo índice de diversidade (H’=0.69) quando comparada às outras amostras. Os índices aplicados aos crustáceos amostrados no pesqueiro Coroa da Cavala mostraram uma diversidade de (H’= 2.85), riqueza (d=6.07) e equitabilidade (J’=0.89) (Tabela 5).

4S= Número de espécies

5N= Número de indivíduos capturados 6d= Índice de Riqueza de Margaleff 7J’=Índice de Equitabilidade de Pielou

Tabela 5 - Índices de diversidade, riqueza e equitabilidade aplicados às comunidades de Crustáceos da Coroa da Cavala. Amostra S N d J' H' Amostra 38 4 6 1.67 0.96 1.33 Amostra 39 11 22 3.24 0.88 2.11 Amostra 40 9 17 2.82 0.89 1.96 Amostra 41 2 2 1.44 1 0.69 Amostra 42 5 5 2.49 1 1.61 Coroa da Cavala 25 52 6.07 0.89 2.85 c) Equinodermas

Foram capturados 28 indivíduos, distribuídos entre 6 espécies/morfotipos e quatro famílias (Apêndice 3). A Família Ophiothricidae (Ofiuroidea) predominou neste pesqueiro com destaque para a espécie Ophiotrix angulata com 16 indivíduos capturados.

Os equinodermas ocorreram em apenas duas (38 e 41) das cinco amostras coletadas, e do total de 28 indivíduos capturados, 24 ocorreram na amostra 41 ressaltando a concentração destes organismos em apenas um ponto de amostragem. Os índices de diversidade, riqueza e equitabilidade não foram aplicados às comunidades de equinodermas para uma comparação entre as cinco amostras coletadas no pesqueiro Coroa da Cavala, pois os dados não possibilitam a realização desta análise.

Em relação às comunidades de equinodermas no pesqueiro, os índices mostraram uma baixa diversidade (H’=1.21), riqueza (d=1.50) e equitabilidade de (J’=0.68). (Tabela 6).

Tabela 6 - Índices de diversidade, riqueza e equitabilidade aplicados às comunidades de Equinodermas da Coroa da Cavala

Pesqueiro S N d J' H'

6.1.1.3 Peixes

Dados de amostragem de desembarques oriundos da Coroa da Cavala registraram a captura de 113 indivíduos, distribuídos entre 6 famílias e 28 espécies. Entre as mais capturadas destacaram-se os Coryphaenidae, Scombridae, e os Lutjanidae (Apêndice 4). A comunidade de peixes da Coroa da Cavala apresentou o índice de diversidade H’= 3.06 e de riqueza d=5.71, enquanto o índice de equitabilidade foi J’=0.92.

Das 28 espécies capturadas 54% possuem hábitos demersais, 31% são espécies estritamente pelágicas, que nunca vão ao fundo e 15% possuem hábitos pelágicos, mas se alimentam de invertebrados bentônicos, forrageando próximos ao substrato submarino (Figura 17). Demersal 54% Pelágico 31% Pelágico/Fundo 15% Figura 17 - Proporção de hábitos de vida entre as espécies de peixes capturados

no pesqueiro Coroa da Cavala.