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O estudo da fisiologia pós-colheita de flores envolve os processos metabólicos e suas alterações nas diferentes partes das plantas, desde o momento em que são colhidas até a senescência completa. Os processos de deterioração ocorrem em consequência de mudanças fisiológicas complexas, como o esgotamento de reservas pela respiração, devido perda excessiva de água por transpiração e pela oclusão da haste após o corte que obstrui os vasos condutores, causando embolia pelo ar e deposição de substâncias químicas (FERRONATO, 2000).

O decréscimo na absorção de água pode, dependendo da espécie, pode ser devido a uma série de fatores, os quais são classificados como inerentes à haste, também chamados de bloqueio fisiológico, bloqueio devido ao crescimento microbiano e bloqueio ocasionado por formação de bolhas de ar (embolia) (VAN DOORN, 1999; HE et al., 2006). Com o bloqueio dos vasos condutores, há o desenvolvimento de um balanço hídrico negativo, pois a taxa de absorção de água é menor que a taxa de transpiração (VAN METEEREN et al., 2006).

O bloqueio fisiológico ocorre como resposta ao estresse imposta pela colheita, através da deposição de materiais da superfície do corte, que dependendo de sua composição, são chamados de látex, goma, mucilagem ou resina (GUIMARÃES et al., 2010). Outro tipo de bloqueio fisiológico pode ser ocasionado pela formação de tiloses, que é definida como o crescimento desordenado das células que se sobressaem dentro do lúmem dos vasos xilemáticos, cuja forma se assemelha à de um balão. Esses “balões” podem não ocorrer em adequado número para explicar o bloqueio, mas sua formação é acompanhada pela produção de substâncias de alto peso molecular, que pode ocasionar a falta de fluidez da água nas hastes (VAN DOORN, 1999).

O bloqueio fisiológico é encontrado em algumas espécies de flores, por exemplo, em crisântemos cv. Viking. Nessa cultivar, VAN DOORN e CRUZ (2000)

pesquisaram o envolvimento de bactérias, cavitação e resposta fisiológica ao corte, concluindo que o bloqueio não foi causado por bactérias devido estas se encontrarem, durante todo o armazenamento, em níveis abaixo do crítico, o mesmo ocorrendo em relação à embolia, uma vez o ar aspirado na superfície do corte cessou antes da redução da taxa de consumo de água.

Após a retirada da embolia, algumas espécies são capazes de restaurar o potencial hídrico normal, enquanto outras não. De modo geral, quando as flores são cortadas e colocadas em água, a causa mais comum do descarte é o murchamento, que seria um sinal de estresse hídrico e não de senescência natural (VAN DOORN et al., 1997). Em orquídeas do gênero Phalaenopsis, foram evidenciados problemas de relações hídricas, pois o murchamento rápido foi associado à oclusão da haste e a uma elevada taxa de transpiração (VAN DOORN, 1999).

Uma forma de reverter ou amenizar o estresse hídrico sofrido por muitas flores de corte é realizar o corte periódico da base da haste em água, favorecendo a taxa de absorção e evitando a cavitação (VAN DOORN, 1997; BLEEKSMA e VAN DOORN, 2003). Esse efeito foi observado em flores Zinnia elegans, ocorrendo um prolongamento da vida de vaso devido a maior hidratação (CARNEIRO et al., 2002). Por outro lado, segundo FARAGUER et al. (2002), a realização periódica do corte nem sempre é pratica e, além disso, em algumas espécies a realização do corte da base não manteve a qualidade e vida de vaso das flores, conforme foi observado em rosas por LEONARD et al. (2001). VAN MEETEREN et al. (2001) também observaram que após a retirada da embolia, algumas espécies não foram capazes de recuperar-se e restaurar seu potencial hídrico normal. Já MARQUES (2008) concluíram que o bloqueio em hastes de Strelitzia reginae foi de natureza fisiológica envolvendo a atividade das enzimas peroxidase e polifenoloxidase. Segundo BOERJAN et al. (2003) as enzimas peroxidase e polifenoloxidase estão envolvidas no bloqueio vascular de algumas espécies de flores, através da oxidação dos álcoois ρ-cumaril, coniferil e sinapil que são precursores da lignina; ou ainda por embolismo, quando após o corte, o ar fluido para dentro dos elementos condutores abertos (VAN DOORN et al., 1999). Uma vez que o vaso é bloqueado, a absorção de água é limitada devido à alta resistência hidráulica, porém o processo de transpiração continua, o que leva a um desequilíbrio hídrico, e o murchamento precoce ocorre como resultado da perda prematura do turgor das células (VAN MEETEREN et al., 2001).

VAN IEPEREN et al. (2002) afirmam que a formação do bloqueio xilemático depende de fatores como altura da água no vaso, diâmetro dos vasos xilemáticos, duração da exposição das hastes, situação de estresse (VAN DOORN e JONES, 1994) e altura do corte da base da haste (VAN DOORN, 1999), além de fatores genéticos (GUIMARÃES et al., 2010).

Outra causa do bloqueio dos vasos xilemáticos é devido à presença de bactérias na água, em decorrência da deposição de polissacarídeos extracelulares produzidos, bem como de produtos oriundos de bactérias mortas e macromoléculas que são formadas sobre a degradação dessas bactérias os quais podem cobrir a superfície cortada da haste. Analogamente, a superfície do corte pode conter substratos para crescimento da bactéria, como substâncias açucaradas que podem fluir por algum tempo para fora das células do floema aberto e embora a oclusão bacteriana ocorra em todas as flores, espécies e até mesmo cultivares podem responder diferentemente (VAN DOORN, 1999).

Um ou mais tipos de bloqueio pode existir em uma mesma espécie (VAN MEETEREN et al., 2006), onde a grande variabilidade entre espécies, e até mesmo cultivares, de flores ao bloqueio dos vasos xilemáticos não são completamente esclarecidas; contudo, podem estar relacionadas, a taxa transpiratória, superfície do produto e abertura estomatal. Outros fatores como anatômicos, condições na pré e pós-colheita podem também determinar se uma espécie ou mesmo uma cultivar pode ou não ser passível de bloqueio.

A conservação de flores de corte está diretamente relacionada com alguns tratamentos de pós-colheita, como aplicação de pulsing ou fortalecimento (BHATTACHARJEE, 1997).

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