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Fitoterapia Solidária

No documento MIGUEL RODRIGUES DA SILVA JÚNIOR (páginas 65-68)

4.4 Fitoterapia Solidária – uma ferramenta que favorece efetivamente o aumento do

4.4.2 Fitoterapia Solidária

Neste contexto, a fitoterapia solidária consiste em uma ferramenta voltada, a priori, para aumentar o acesso da população às plantas medicinais e aos medicamentos fitoterápicos em uma perspectiva de universalidade, integralidade e equidade, a partir da produção destas opções terapêuticas em empreendimentos privados que integram a economia solidária, tendo como pressuposto principal a tendência à prática de preços não abusivos por parte destes empreendimentos, face aos seus ideais norteadores convergentes para a primazia da valorização do ser humo. Paralelamente, objetiva-se através da fitoterapia solidária propiciar, também, a diversificação tanto da produção de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos (mediante o estudo e valorização dos perfis fitoterápicos dos respectivos municípios e/ou regiões), quanto dos empreendimentos que os produzem, de modo a diminuir a dependência dos governos em relação aos poucos grandes laboratórios que dominam o mercado nacional de produtos farmacêuticos e, através desse aumento dos empreendimentos produtores, elevar significativamente a geração de trabalho e melhorar a distribuição da renda gerada pelo segmento, neste caso, equitativamente e em favor de todos os cidadãos que integram os empreendimentos, enquanto produtores não apenas de matérias-primas, mas

também de produtos finais – de modo a impedir que a decisão final sobre os preços das plantas medicinais e dos medicamentos fitoterápicos seja efetuada apenas pelos atuais laboratórios privados produtores. Assim, valendo-se das palavras de Singer (2002), o desenvolvimento aqui almejado

é o da comunidade como um todo, não de alguns de seus membros apenas. Por isso, ele não pode ser alcançado pela atração de algum investimento externo à comunidade. O investimento necessário ao desenvolvimento tem que ser feito pela e para a comunidade toda, de modo que todos possam ser donos da nova riqueza produzida e beneficiar-se dela.

Em suma, a fitoterapia solidária busca engendrar, em simbiose com outros mecanismos, como a produção em laboratórios oficiais e farmácias-vivas (Figura 1), e a partir da perspectiva do desenvolvimento local, a despolarização do acesso, do parque

produtivo e dos empreendimentos produtores de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos, bem como a diversificação destas opções terapêuticas.

Figura 1 – Expõe três mecanismos que propiciam efetivamente o acesso universal, equânime e integral às plantas medicinais e aos medicamentos fitoterápicos, a partir da prática de preços acessíveis. Os laboratórios oficias e as farmácias-vivas, enquanto empreendimentos públicos, são os principais empreendimentos neste sentido. No que concerne a produção em empreendimentos privados, os empreendimentos solidários (menos que os laboratórios oficiais e as farmácias-vivas e mais que os empresas capitalistas) tendem a propiciar preços não abusivos. O controle de preços/custos deve estar no cerne e se estender para todos os empreendimentos, sobretudo aos empreendimentos capitalistas. Fonte: Elaboração própria.

Com essa ferramenta busca-se ir além da proposta da diretriz 13 da PNPMF, que deixa implícito que os atores locais, sobretudo os agricultores familiares, devem ser inseridos na cadeia e nos arranjos produtivos, a priori, apenas como fornecedores de matérias-primas para os laboratórios produtores de especialidades fitoterápicas. Aqui, advogamos que, além de produtores de matérias-primas, a partir de empreendimentos solidários apoiados por instituições técnicas e financeiras os atores locais podem, também, gerar produtos finais para o SUS a preços mais acessíveis e consonantes com as reais necessidades da atenção básica em saúde de um determinado município ou (micro)região.

Salienta-se, também, que a partir dos potenciais preços mais acessíveis a serem praticados pelos empreendimentos solidários (se comparado aos elevados preços geralmente efetuados pelos empreendimentos privados capitalistas), faz-se uma pressão análoga àquela exercida pelos genéricos no segmento de medicamentos sintéticos, que também contribui, neste caso indiretamente, para a diminuição dos preços das plantas medicinais e dos medicamentos fitoterápicos efetuados pelos demais empreendimentos privados atuantes no cenário nacional.

Todavia, é mister ressaltar que aumentar a produção de plantas medicinais e de medicamentos fitoterápicos e garantir que estes produtos sejam comercializados a preços justos pra quem produz e para quem necessita terapeuticamente dos mesmos, embora favoreça efetivamente o aumento do acesso, também não o garante necessariamente (Figura 2), sobretudo quando o desenvolvimento dos mesmos estiver assente em parcerias público-privadas, por exemplo, entre as secretarias de saúde e os empreendimentos solidários. Neste caso, para que a população acesse significativamente essas opções terapêuticas é necessário, obviamente, que os médicos os prescrevam e, em seguida, é necessário que os pacientes sigam a posologia recomendada (Figura 2). Logo, torna-se necessário efetuar uma intensa educação/sensibilização dos profissionais da saúde (em especial os médicos, enfermeiros e farmacêuticos) e da população, principalmente no que concerne a eficácia, a segurança e a qualidade das plantas medicinais e dos medicamentos fitoterápicos disponibilizados pelo sistema público de saúde local, bem como a sua importância econômica para o município e para os atores solidários que os produzem, destacando também, a sustentabilidade do processo produtivo efetuado pelos

empreendimentos solidários. De acordo com Bôas (2004) “o elevado número de médicos que prescrevem fitoterápicos na Alemanha deve-se muito ao fato de existir neste país uma formação universitária voltada, também, para este recurso terapêutico”. Considerando que os cursos da área de saúde ofertados pelas instituições de ensino superior brasileiras não capacitam os profissionais para o uso das plantas medicinais e dos medicamentos fitoterápicos como opções terapêuticas, a educação destes profissionais de saúde é uma condição ímpar no sentido de garantir que a população seja beneficiada com a fitoterapia.

5 FITOTERAPIA SOLIDÁRIA EM IGARAPÉ-MIRI: POTENCIALIDADES, ENTRAVES E POSSÍVEIS CAMINHOS PARA A INSERÇÃO DAS PLANTAS MEDICINAIS NA ATENÇÃO BÁSICA.

No documento MIGUEL RODRIGUES DA SILVA JÚNIOR (páginas 65-68)

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