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Economicamente, o Estado de Bem-Estar Social casava-se com a política Keynesiana mais geral, supondo um mecanismo de ajuste entre oferta e demanda através do pleno emprego e das medidas assistenciais. Supunha-se que esta adequação se daria na medida em que a política econômica ativa estimularia o crescimento econômico, donde resultaria maior volume de impostos, o que permitiria a ampliação controlada dos programas sociais, o que estimularia o consumo, etc., fechando o ciclo.

Os princípios da perspectiva de Keynes têm por base o pleno emprego, os serviços sociais universais e a assistência social, sendo o Estado o responsável por um padrão mínimo de vida para todos os cidadãos, enquanto direito social.

Os anos 1980 foram mais avassaladores para a economia na perspectiva do Estado Keynesiano. Com os conservadores, Thatcher na Inglaterra e Reagan nos EUA, as proposições neoliberais se fortaleceram ainda mais. A indicação era que o modelo econômico mundial deveria se reorganizar. Isso levou a inúmeras privatizações de empresas estatais, ampliando o mercado para empresas privadas, nacionais e transnacionais e levando à subordinação de produtos e serviços, antes considerados estratégicos para a soberania nacional. O Estado mínimo deveria reduzir os gastos públicos com saúde, educação, previdência e assistência social, entre outras políticas sociais. Para os paises “em desenvolvimento”, essa opção levou a ampliar o abismo que separa pobres de ricos e a acirrar a já complexa questão social.

Observando as orientações repassadas pelo Banco Mundial, tem-se a clara compreensão do interesse pela implementação do chamado

14 John Maynard Keynes (1883-1946), economista britânico defendia a tese de

que a crise do capitalismo não seria resolvida a partir do mercado, que o Estado precisaria desenvolver mecanismos sociais de intervenção, possibilitando o reaquecimento da economia a partir da ampliação do número de consumidores, acreditava que sem a intervenção estatal o capitalismo não se manteria.

consenso de Washington, que “enfatiza a necessidade de desregulamentação e privatização dos mercados e privatização e desregulamentação do Estado”. (LOPES, 1994 p.32).

As normas internacionais devem ser seguidas pelo país para manter/satisfazer os aliados estrangeiros. Os cortes na área social crescem anualmente e com eles a precariedade das políticas públicas. Assim, apesar dos avanços conquistados com a constituição de 1988 e com a aprovação de leis complementares para a efetivação da Seguridade Social Brasileira, que inclui as políticas de saúde, previdência e assistência social, não podemos comemorar com muito vigor, uma vez que o Estado Brasileiro, seguindo a lógica da globalização, especialmente a partir da década de 1990, aprofunda os cortes na área social e se exime cada vez mais de sua responsabilidade de prover bens e serviços públicos. Dessa forma, a Seguridade Social brasileira rapidamente deixa de ser um projeto de proteção social coletivo, pois paralelamente a sua “desregulamentação” ocorre também o desmonte dos movimentos sociais e “das instâncias organizativas das categorias profissionais e a paulatina transformação do estatuto de cidadão em cidadão-consumidor” (NOGUEIRA, 2001, p. 99).

Sua trajetória não se desvincula – e nem poderia ser diferente – do percurso feito pelo país. Seguindo a cartilha neoliberal, no que diz respeito à previdência social, esta passa a ser responsabilizada “pelo agravamento da crise fiscal do Estado” (Idem, p. 106).

Apesar disso, não se pode negar o avanço, ainda que tímido, da seguridade social brasileira que, segundo NOGUEIRA (2001, p. 97), incluiu:

“[...] um padrão de proteção social que pretendia garantir direitos que superavam a perspectiva dos seguros sociais. Ou seja, uma proteção garantida ao indivíduo, por toda a sociedade, contra os riscos do mercado”.

A saúde não está livre dos ataques neoliberais. Apesar de, especialmente a partir da constituição de 1988, seu reconhecido avanço,

se comparado às demais políticas, vem sofrendo deformações que põem em risco o caráter de universalização.

O incremento do “mercado”15 na área da saúde, que a cada dia

oferece mais “serviços de qualidade16”, tentando convencer que o acesso a

determinados equipamentos ou tecnologias garante a qualidade, se comparado com os “ineficientes e incompletos serviços públicos17”. Essa

construção de que os serviços públicos são ineficientes, com a qual não concordo, acaba reforçando que estes são organizados para atender à camada mais pobre da população brasileira, afastando assim os setores mais abastados da sociedade das unidades públicas e tentando transformá-la em saúde pobre para população pobre. É preciso entender que o SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE é um direito de todo o cidadão brasileiro e que todos somos usuários potenciais do mesmo e isto é garantido na Constituição Federal.

Apesar das conquistas computadas, não se pode esquecer as fragilidades na condução das políticas, especialmente pela maneira como estes espaços têm sido utilizados pelos governos.

Concordando com AMORIM (2003), considero que ainda nos falta, enquanto nação, “maturidade política” para esse tipo de enfrentamento que, sem dúvida, precisa ser realizado. Em minha avaliação, ainda precisamos garantir direitos humanos e sociais básicos18 e não mínimos,

15 Mercado enquanto mercadoria, passível de lucro, compra e venda.

16 Trabalhando qualidade como acesso aos mais avançados equipamentos e

tecnologias, não incluindo aí uma boa assistência à saúde na atenção básica.

17 Construindo a idéia de que serviço público é ineficiente por não disponibilizar

em seus serviços equipamento de ponta. Esta cobrança é advinda da mercantilização na tentativa de tratar a saúde como uma mercadoria passível de ser negociada.

18 A Revolução Francesa desencadeou a aprovação da Declaração Universal de

Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789, que inaugurou uma nova perspectiva na compreensão dos direitos do homem. A partir dela inverte-se a ordem tradicionalmente constituída de que os indivíduos deviam obrigações ao soberano, dando origem a uma nova era na história da humanidade. Entretanto, é apenas em 10 de dezembro de 1948 que é aprovada a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Com a Declaração de 1948, pela primeira vez, trabalha- se com um sistema de valores universal, que é algo acolhido pelo universo dos homens. A afirmação dos Direitos é ao mesmo tempo universal e positiva. “Universal no sentido de que os destinatários dos princípios contidos não são mais apenas os cidadãos deste ou daquele Estado, mas todos os homens;

para então fortalecermos a busca pela garantia de direitos políticos, econômicos e culturais. “Sem dúvida há muito que precisa ser feito. Aos trabalhadores cabe o compromisso ético político de lutar contra toda forma de arbítrio e autoritarismo, de defender a democracia, a igualdade, a justiça social” (AMORIM, 2003 p. 66).

É preciso não perder de vista que as políticas sociais se apresentam como uma necessidade posta dentro de uma realidade especifica, ou seja, são uma exigência do modo de produção capitalista, haja vista sua forma de organizar-se e sedimentar-se, baseada no lucro e na exploração de uns sobre os outros, o que gera inúmeras necessidades, essas vivenciadas em especial pela classe trabalhadora.

Além desses elementos ainda é preciso estabelecer a participação da população, “fortalecendo a democracia e o pluralismo”. Assim, o Estado fica com o compromisso de realizar a “coordenação de concertações amplas, envolvendo os grupos organizados da sociedade como responsáveis pela coordenação de políticas no tempo” (LOPES, 1994 p. 42).

Na sociedade brasileira contemporânea, segundo YAZBECK, (1993), os movimentos sociais em geral e o movimento sindical, em particular, polarizam as lutas, para o enfrentamento das expressões da questão social, articulando suas demandas perante o Estado e o patronato que constituem políticas no campo social. “[...] a política social como estratégia do Estado começa a ser implementada no contexto da emergência do capitalismo monopolista como mecanismo de enfrentamento das seqüelas da questão social” (RAICHELIS, 2000, p.33-34).