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CAPÍTULO III

APRESENTANDO A TRAJETÓRIA

Neste momento, apresento o caminho metodológico utilizado durante o trabalho, seguindo referencial materialista dialético e “apostando” numa construção de conhecimento produzida de forma qualitativa e num processo participativo.

O método é um rol de procedimentos, fundamentados em uma teoria de análise da realidade, que permite um aprofundamento da pesquisa e da ação profissional. Este processo não acontece separadamente, em momentos estanques, mas respeita uma dialética interna.

ABRAMIDES (1984, p.23), nos coloca que:

A escolha do método está condicionada a realidade social e aos objetivos, por isso mesmo um método por sua vez não pode ser escolhido sem a vinculação com a realidade histórica que o fundamenta.

Optei, então, pela pesquisa-ação por considerar que este referencial permite desenvolver um trabalho comprometido com os sujeitos envolvidos no processo, possibilitando a apreensão da informação e admitindo a construção de conhecimentos que apontem para a transformação de seus espaços de inserção.

Um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

Desta forma, a pesquisa acontece a partir da realidade, necessidade e interesse dos sujeitos com os quais estamos trabalhando.

Os sujeitos da pesquisa são co-responsáveis, não só pelo andamento da pesquisa, mas principalmente pela ação desencadeada a partir da investigação. Sendo assim, o trabalho se desenvolveu num processo constante de trocas de saberes entre os sujeitos, já que a pesquisa-ação possibilita, senão suscita, a ampla participação dos sujeitos, uma vez que acontece a partir da experiência concreta, associada a uma ação, buscando elementos que possibilitem superar a situação da realidade investigada.

Por outro lado, acredito ainda que a pesquisa-ação precisa ser acompanhada de um processo educativo, por isso o uso simultâneo da educação popular e pesquisa-ação.

Educação popular é um modo de participação de agentes eruditos (professores, padres, cientistas sociais, profissionais de saúde e outros) neste trabalho político. Ela busca trabalhar pedagogicamente o homem e os grupos envolvidos no processo de participação popular, fomentando formas coletivas de aprendizado e investigação de modo que promova o crescimento da capacidade de análise crítica sobre a realidade e o aperfeiçoamento das estratégias de luta e enfrentamento.[...]. No trabalho, na vida social e na luta pela sobrevivência e pela transformação da realidade, as pessoas vão adquirindo um entendimento sobre a sua inserção na sociedade e na natureza. Este conhecimento fragmentado e pouco elaborado é a matéria prima da Educação Popular. (VASCONCELOS, 2001, P. 15)

A partir dos conceitos de educação popular e pesquisa-ação fica evidente o porque desta escolha, que privilegia a realidade de cada grupo como ponto de partida para o estabelecimento de estratégias no desenvolvimento do trabalho.

O momento político26 que o país atravessava poderia se transformar

em uma limitação para o trabalho; por isto, alguns contatos prévios e algumas esperas se fizeram necessárias para que o estudo se concretizasse.

Um primeiro contato foi realizado junto a Secretaria Municipal de Saúde, a fim de verificarmos se existia alguma ação para estimular a implementação de Conselhos Locais de Saúde. Foi constatado, então, que após o ano de 1997 - momento que a esquerda assume a administração municipal – começaram as primeiras discussões, a partir do gestor e técnicos da Secretaria Municipal de Saúde, para implantação dos conselhos.

Então, solicitei à pessoa nomeada em 1998 para assessorar os conselhos locais, e que havia trabalhado com os mesmos entre 1998 e 2000, que me indicasse um conselho para a realização da atividade, cujo bairro tivesse em sua história intensa migração rural. Ela indicou-me o Conselho Local da Policlínica Cristo Rei.

Escolhi intencionalmente um Conselho Local para estabelecer uma ação de qualidade que permitisse um vínculo efetivo e enriquecesse as trocas nesse espaço.

MARTINELLI (1994) enfatiza a importância da intencionalidade da amostra: “como não estamos procurando medidas estatísticas, mas sim tratando de nos aproximarmos de significados de vivências, não trabalhamos com amostras aleatórias, ao contrário, temos a possibilidade de compor intencionalmente o grupo de sujeitos [...]” (MARTINELLI, 1994, p.15).

Assim, realizei contatos na Secretaria de Saúde e com o diretor da Policlínica cujo conselho indicado está vinculado, para expor o objetivo do projeto.

O primeiro contato com o Conselho Local da policlínica Cristo Rei foi intermediado pela Secretaria de Saúde, na pessoa do diretor da policlínica onde o trabalho foi realizado.

Dessa forma, contando com o interesse da Secretaria Municipal de Saúde de Chapecó e do Conselho Local da Policlínica Cristo Rei, iniciei o trabalho. Para tanto, participei de uma primeira reunião com os conselheiros locais, apresentando uma proposta de trabalho e já negociando as ações, quais sejam:

PRIMEIRO ENCONTRO

- Planejamento de como seriam as atividades, a partir de uma proposta inicial apresentada pela pesquisadora. Discutimos assuntos como globalização, saúde, questões internacionais, nacionais, regionais e municipais.

SEGUNDO ENCONTRO

- Discussão sobre os movimentos sociais na luta por uma saúde de qualidade, dever do Estado e direito dos povos. A história dos movimentos sociais na região e em Chapecó e a interferência disto na construção do SUS.

TERCEIRO ENCONTRO

- A partir de textos sobre controle social e participação popular, problematização sobre as ações do Conselho Local de Saúde e que tipo de deliberações tem conseguido negociar com o Conselho Municipal de Saúde e Secretaria Municipal de Saúde.

QUARTO ENCONTRO

- Problematização sobre a relação do Conselho Local de Saúde e Conselho Municipal de Saúde. Estabelecer quais as sugestões o grupo do Conselho Local de Saúde tem para o encontro com o Conselho Municipal de Saúde e quais as discussões que surgiram aqui e que eles gostariam que fossem levadas ao CLS. Avaliação da atividade realizada.