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8. Caraterização da aptidão funcional dos utentes do progrma “Celorico a Mexer” do concelho de

8.2. Revisão da literatura

8.2.4. Flexibilidade

A flexibilidade é uma capacidade que assume particular importância quando se trabalha com idosos. Ela é das principais responsáveis pela capacidade de realizar movimentos diários com maior ou menor desembaraço, por exemplo, secar as costas, calçar as meias, pentear o cabelo, apertar o sutiã, etc. Pode-se afirmar que a flexibilidade traduz uma relação forte com a qualidade de vida do idoso (LLano, Manz e Oliveira, 2002). Os mesmos autores referem que, á medida que se envelhece, os tecidos que envolvem as articulações tendem a tornar-se mais rijos e a perderem a plasticidade. Os músculos sofrem encurtamento e a amplitude do movimento diminui. Se não houver intervenção para reduzir esta tendência natural, os níveis de flexibilidade de um idoso podem ser mínimos, comprometendo a sua autonomia e, por conseguinte, a qualidade de vida.

Segundo Spirduso (1995), a perda de flexibilidade, não só reduz o número como a natureza do movimento, produzido por uma articulação, aumentando a possibilidade de lesões nas articulações, músculos e ligamentos que as compõem.

O decréscimo de colagénio nos tendões, as modificações no tecido conjuntivo da cápsula articular, a perda de elasticidade muscular, o incremento do armazenamento de gordura no tecido muscular, parecem ser as causas da diminuição desta capacidade no idoso (Shephard, 1994).

A diminuição da flexibilidade com o envelhecimento está sujeita a alterações da capacidade de alongamento dos tecidos moles que envolvem a articulação e a diminuição dos níveis da atividade

37 física (Heyward, 1991). O mesmo autor refere, que a amplitude de movimento, reflete mais o nível de atividade física, que propriamente a idade. Em síntese, a redução da flexibilidade que sucede com a idade, pode ser diminuída com o aumento dos níveis de atividade física habitual e com prática regular e sistemática de exercício físico adequado.

8.2.5. Mobilidade Física

Mazo e colegas (2001) definem a mobilidade física (agilidade, velocidade e equilíbrio), como um conjunto de capacidades motoras, que possibilitam ao indivíduo mudar a posição do corpo ou a direção de um movimento, no mínimo tempo possível.

A lentidão na execução de ações motoras, em idosos, são provocadas pelas alterações nas componentes neurológicas e musculares. Acontecimento observável em tarefas que requerem para a sua execução tempos de reação e de movimento muito rápidos e precisos (Gabbard, 1996; Ilkiv, 2005). Quanto maior for o tempo de reação e menor a velocidade de movimento, maior será a lentidão (Eckert, 1993).

Segundo vários autores, com o envelhecimento, surgem alterações associadas a mudanças no sistema nervoso central e periférico, entre elas, diminuição do número de neurónios, diminuição da interação sináptica, diminuição da produção e captação de neurotransmissores e consequentemente redução da capacidade de processar informação (Perlmutter, Hall, 1985; Zilenovsk, 1989; Goldman, Côte, 1991; Mattos, 1993; Mazo, et al., 2001; Ilkiv, 2005). O declínio da qualidade e eficácia de desempenho neuromuscular (frequência da descarga dos estímulos nervosos, reajustamentos propriocetivos, aferências sensoriais, diminuição dos mecanismos coordenativos, etc.) tem sido referida como a causa para o aumento do risco de quedas no idoso (Ramilo, 1994; Rogers e Evans, 1993).

O equilíbrio estático começa a estar comprometido com a idade, essencialmente por mudanças degenerativas da coluna vertebral, diminuição da força dos membros inferiores e problemas de visão (Spirduso, 1995). Com uma mobilidade física diminuída ou limitada, as tarefas diárias do idoso podem tornar-se problemáticas, (Botelho,2002). A diminuição de equilíbrio e o enfraquecimento muscular, são consideradas, em diversa literatura, como as principais causas de risco de mobilidade limitada e quedas, cuja incidência poderá ser reduzida com uma intervenção adequada e regular de exercícios físicos específicos.

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8.2.6. Componente Cardio-Respiratória

A aptidão cardio-respiratória é a capacidade que proporciona suportar ou prolongar a concretização de uma tarefa, por tempo continuado, sem o surgimento da exaustão (Nieman, 1999).

Segundo LLano, Manz e Oliveira (2002), a capacidade aeróbica é a capacidade que o sistema cardiovascular possui para distribuir o sangue, o oxigénio e os nutrientes aos músculos e destes usarem os mesmos para realizarem trabalho durante o stress físico. Como efeitos do envelhecimento, entre outras mudanças fisiológicas, verifica-se o decréscimo da capacidade de realizar esforços máximos (LLano, Manz e Oliveira, 2002).

Um conjunto de pesquisas, efetuadas neste domínio, relatam que o VO2 max.(Consumo máximo de

oxigénio) decresce cerca 10% por década (Heath, Hagberg, Ehsani e Holloszy, 1981; Rogers et al., 1990; Falconio et al., 1995; Wilmore, Costill, 1999; Robergs e Roberts, 2002; Carvalho, 2003 e WHO, 2005). Este decréscimo deve-se à diminuição da frequência cardíaca máxima, alterações que ocorrem ao nível da massa muscular, na capacidade de redirecionar o fluxo sanguíneo dos órgãos para os músculos e na capacidade do complexo músculo-tendinoso utilizar o oxigénio (Spirduso, 1995). De acordo com Mazo e colegas (2001), as principais alterações que ocorrem com o envelhecimento, a nível cardiovascular, são: (i) aumento do colagénio, no pericárdio e endocárdio; (ii) degeneração das fibras musculares, por atrofia e hipertrofia das fibras remanescentes, no miocárdio; (iii) depósito de gorduras e substâncias amiloides; (iv) espessamento e calcificação, principalmente na válvula mitral e aorta; (v) incidência, acrescida, de aterosclerose, devido a fatores genéticos, ambientais e idade; (vi) diminuição do diâmetro das artérias, aumentando a sua rigidez. Todas estas alterações impõem um aumento da fração de ejeção de sangue; redução do VO2 máx.; diminuição do débito cardíaco; decréscimo da

frequência cardíaca máxima e aumento da pressão arterial sistólica. Outros autores referem ainda, que o declínio do sistema cardio-respiratório está associado ao decréscimo progressivo, da capacidade de captar, transportar e consumir oxigénio (McArdle, Katch, 1998; Eckert, 1993; Shephard, 1994; Ilkiv, 2005).

Os exercícios aeróbios estimulam o sistema cardio-respiratório produzindo melhorias notáveis ao nível da capacidade metabólica, reduzir o nível de colesterol, a pressão arterial, aumentando o consumo máximo de oxigénio (LLano, Manz e Oliveira, 2002).

A prática regular de atividade física pode acarretar benefícios para a saúde do idoso, em diversos níveis, nomeadamente na melhoria da aptidão física (Puggaard, et al., 1994; Lord e Castell, 1994), promovendo o desenvolvimento da força muscular Fiatarone et al., 1990; Charette et al., 1991; Carvalho, 2002), flexibilidade (Farinatti et al., 1995), coordenação (Williams et al., 1998), equilíbrio (Li et al., 2001), resistência (Falconio et al., 1994), aumento da densidade óssea (Nelson et al., 1994) e diminuição da percentagem de gordura (Puggaard et al., 1999). Segundo Bouchard e Shephard (1994),

39 existe relação de causa e efeito entre a aptidão física, atividade física e a saúde. A atividade física regular pode afetar os níveis de aptidão física os quais, por sua vez, poderão influenciar a independência funcional, melhorando a qualidade de vida e saúde dos idosos (Gobbi, 1997; Hurley e Hagberg, 1998). Assim, este estudo tem como objetivo caraterizar a aptidão funcional dos utentes do programa Celorico a Mexer, de ambos os sexos e residentes no Concelho de Celorico de Basto. Pretende-se ainda analisar de que forma o nível de aptidão física esta associado à perceção de saúde desses utentes e se há diferenças entre os sexos nesta associação.

8.3. Metodologia

8.3.1. Amostra

O presente estudo é constituído por uma amostra de 279 indivíduos de ambos os sexos (237 do sexo feminino e 42 do sexo masculino), com idades compreendidas entre os 60 e os 92 anos (média=72 ± 7,6 anos). A totalidade da amostra reside no concelho de Celorico de Basto, sendo utentes do programa “Celorico Amigo”, em funcionamento na área pertencente ao Município de Celorico de Basto (23 grupos/22 freguesias). Participam neste programa, na valência Celorico a Mexer, área de intervenção de exercício físico para idosos, com uma frequência semanal de 90 minutos (45 minutos de hidroginástica e 45 de exercício físico orientado. Os critérios estabelecidos para a exclusão na participação do estudo foram: indivíduos com menos 60 anos, institucionalizados, ou com uso de cadeira de rodas.

8.3.2. Procedimentos

Tendo em consideração os objetivos do estudo, a metodologia utilizada procura satisfazer as exigências da sistematização, objetividade e precisão, com o princípio de potenciar a fiabilidade e a qualidade na recolha dos dados.

Para oferecermos conjunturas experimentais idênticas a todos os participantes, no concebimento do nosso estudo, os sujeitos foram anteriormente familiarizados com a correta execução técnica dos testes da bateria de Rikli & Jones (Rikli e Jones, 1999; 2001) e preconizamos os seguintes requisitos essenciais:

(I) Os indivíduos sujeitos aos testes foram devidamente informados dos objetivos, metodologias e implicações na participação num estudo deste carater. Tendo sido a

40 todos participantes solicitado um consentimento informado (anexo II). No caso dos indivíduos analfabetos os questionários foram aplicados com ajuda;

(II) A recolha de dados realizou-se por um avaliador informado e treinado em cada um dos testes;

(III) A aplicação dos testes foi realizada sob a coordenação do investigador, auxiliado pelo grupo de Educação Física e colaboradores/animadores do programa Celorico a Mexer; (IV) Foi aplicado um questionário de anamnese (anexo III), pelos

colaboradores/animadores do programa Celorico a Mexer;

(V) A recolha dos dados hemodinâmicos e antropométricos foi realizada pela equipa de enfermagem do programa Celorico a Mexer, num dia diferente ao da aplicação dos teste e da atividade física regular orientada;

(VI) Os avaliadores foram preparados previamente através de uma sessão teórico-prática, onde foi distribuído o protocolo Rikli e Jones (anexo IV) e ainda foi exposto e explicado de forma detalhada todos os procedimentos protocolares; certificou-se que o protocolo de cada bateria de testes fosse cumprida a nível material e de recursos humanos;

(VII) A totalidade dos participantes executaram todos os testes calçados, com roupa apropriada, que não impedisse os movimentos;

(VIII) A bateria de testes Rikli e Jones foi aplicada nos diferentes grupos, em conjunto de 2 testes por sessão; entre cada teste, os indivíduos gozaram de um período de repouso; (IX) Todos os participantes realizavam um período de ativação geral de 8 a 10 minutos,

antes da realização dos testes;

(X) Com o intuito de minorar os efeitos da fadiga, a avaliação dos parâmetros da aptidão física foi executada seguindo as normas de Rikli e Jones (1999;2001);

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