• Nenhum resultado encontrado

Região Florística Amazônica (Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Estacional Sempre-Verde e Campinarana)

No documento Manual técnico da vegetação brasileira (páginas 55-57)

Esta grande região é caracterizada, principalmente, por apresentar uma vege- tação com famílias de dispersão pantropical. Entre elas estão as famílias Sapotaceae e Malvaceae, além da Fabaceae, com inúmeros fósseis encontrados nos depósitos do Cretáceo e Terciário, providas de frutos e/ou sementes aladas, que se distribuem por toda a Zona Neotropical. As famílias de origem afro-amazônica Caricaceae, Humiriaceae, Vochysiaceae e Lecythidaceae, esta última com apenas um gênero na África, encontram-se bem-distribuídas na plataforma brasileira. Como exemplo, tomar- se-ão duas famílias: Lecythidaceae e Vochysiaceae, que são consideradas típicas e apresentam fisionomias marcantes nas áreas que dominam.

A família Lecythidaceae, com o gênero africano Napoleona (considerado por alguns botânicos como pertencente à família Napoleonaceae), apresenta fósseis nos arenitos do Cretáceo situados nos Estados do Piauí e do Acre, o que sugere a sua preexistência nas plataformas afro-brasileiras ainda juntas ou ainda bem próximas. Nessa família, o gênero monotípico Bertholletia com a espécie Bertholletia excelsa Bonpl. (castanheira) caracteriza grandes espaços da Floresta Ombrófila Densa (Flo- resta Tropical Pluvial), constituindo, às vezes, associações homogêneas, o que facilita o seu extrativismo comercial.

A família Vochysiaceae – com o gênero Erismadelphus na África – apresenta o gênero Erisma, com provável origem no Cráton Guianês, dominando nas montanhas da parte norte da Bacia Amazônica. O gênero Vochysia compõe a fisionomia das for- mações Montanas e o gênero Qualea caracteriza as formações das Terras Baixas e Sub- montanas. Ambos ocorrem por toda a Hileia e possuem provável origem amazônica. Estes dois últimos gêneros ocorrem com frequência, fora do espaço amazônico, com posicionamento topográfico, obedecendo a gradientes climáticos latitudinais cres- centes: Qualea é um gênero predominantemente submontano e distribui-se somente até o extremo sul da Savana (Cerrado). Vochysia varia de montano até submontano, ocorre na Amazônia, passa pelo Brasil Central, alcança as Serras da Mantiqueira e dos Órgãos, chegando às Terras Baixas do Estado do Paraná.

Modificações ecológicas importantes ocorrem com estes gêneros ao longo de sua área de ocorrência. Qualea, que apresenta forma de vida macrofanerófita/ xeromorfa na Amazônia, torna-se microfanerófita/xeromorfa na Savana (Cerrado).

Vochysia, que na Amazônia apresenta-se como macrofanerófita/xeromorfa, modifica-

se para microfanerófita/xeromorfa na Savana, retornando à forma de vida anterior de macrofanerófita/xeromorfa na Floresta Ombrófila Densa nas Serras da Mantiqueira, dos Órgãos e do Mar. Estas modificações ecológico-evolutivas sugerem que as va- riações fenotípicas das formas de vida refletem-se, possivelmente, nos ecótipos que, por sua vez, estão sempre contidos nos genótipos dos gêneros. Um exemplo pode ser considerado como clássico: o da Vochysia tucanorum, que é uma ochlospecie no dizer de White (1962), mas considerada aqui como uma espécie que se modifica fenotipicamente, de acordo com os ambientes onde ocorre, da Amazônia à área cos- teira atlântica.

Fazendo parte da família Meliaceae, de dispersão pantropical, com maior frequên- cia na Australásia, de onde provavelmente se originou, o gênero Sweitenia, endêmico hileiano que se estende até o Caribe (PENNINGTON, 1981), caracteriza muito bem as áreas eruptivas que circundam a Bacia Amazônica. Ocorre desde o Estado do Amapá

passando pelo Suriname, República da Guiana, norte dos Estados do Pará, Roraima e Amazonas, Venezuela, continuando pelas áreas pré-andinas da Colômbia, Peru, Equador e Bolívia, adentrando novamente em território brasileiro através dos Estados do Acre e de Rondônia, chegando até a área pré-amazônica maranhense, passando pelos Estados de Mato Grosso, Tocantins e o sul dos Estados do Amazonas e Pará.

Antes da caracterização das outras regiões florísticas brasileiras, necessário se torna esclarecer que, além da Floresta Ombrófila Densa (Amazônica), existem três outros tipos de vegetação dentro da região florística hileiana: a Floresta Ombrófila Aberta, a Floresta Estacional Sempre-Verde e a Campinarana.

A Floresta Ombrófila Aberta, que circunda a parte sul da Bacia Amazônica e ocorre em inúmeros agrupamentos disjuntos nas partes norte e leste da Hileia, é ca- racterizada por três fácies dominadas por gêneros típicos, localizados sugestivamen- te nas áreas menos úmidas. São eles: Attalea speciosa Mart. Ex Spreng. (babaçu) e

Attalea maripa (Aubl.) Mart (inajá), que compõem a “floresta-de-palmeiras”; Guadua superba (taquara), que forma a “floresta-de-bambu”; e Phenakospermum guianensis

(A. Rich.) Endl. Ex Miq.) (sororoca), que, quando gregário, constitui pequenas disjunções por toda Amazônia, integrando a “floresta-de-sororoca”. Além destas fácies típicas, ob- serva-se mais uma, situada predominantemente nas depressões rasas e mais ou menos circulares dos terrenos pré-cambrianos arrasados, geralmente encharcados na época das grandes chuvas. Trata-se de uma fácies densamente povoada por lianas lenhosas que en- volvem uns poucos macrofanerófitos sobreviventes, imprimindo-lhes o aspecto de torres folhosas desde a base. Estas disjunções da Floresta Ombrófila Aberta, mais frequentes no sul do Estado do Pará, são conhecidas como “mata-de-cipó”, existindo também nas encostas de relevo dissecado ocorrentes na Amazônia, mas aí com o aspecto de “floresta- com-cipó”. Essas lianas lenhosas, com predominância de gêneros das famílias Fabaceae e Bignoniaceae, têm larga dispersão dentro das florestas, mas às vezes são encontradas em maior número nos ambientes abertos e bem-iluminados da luxuriante floresta hileiana.

A Floresta Estacional Sempre-Verde que tem como área core o extenso Planalto dos Parecis, constituído por sedimentos cretácicos e terciário-quaternários, se estende, de forma disjunta, até as Depressões dos Rios Paraguai, Guaporé e Araguaia, sobre terrenos sedimentares quaternários e em algumas superfícies periféricas aplanadas. Apresenta uma baixa riqueza de espécies quando comparada às florestas do entorno, sejam as Ombrófilas (Densa e Aberta) ao norte ou a Estacional Semidecidual ao sul.

A fisionomia e a estrutura da floresta apresentam variações em função do am- biente em que ela se encontra. É mais exuberante nas áreas de baixadas com relevo ondulado e/ou rampas, mais próximas das drenagens onde, geralmente, mostra uma altura entre 30 a 40 m, árvores relativamente grossas e dossel emergente. Nas áreas de interflúvios de relevo plano, exibe uma altura entre 18 a 25 m, árvores bem mais finas e dossel unifome, com concentração de determinadas espécies. Destacam-se, na sua composição florística, os gêneros: Xylopia; Guatteria e Bocageopsis (Annonaceae);

Protium e Trattinnickia (Burseraceae); Saccoglotis e Humiria (Humiriaceae); Maprounea

(Euphorbiaceae); Myrcia (Myrtaceae); Miconia e Mouriri (Melastomataceae); Hymatan-

thus e Aspidosperma (Apocynaceae); e Qualea e Vochysia (Vochysiaceae), entre outros.

Nos terrenos com solos arenosos muito lixiviados, situados no norte da Ama- zônia, dentro das Bacias dos Rios Negro, Orinoco e Branco, ocorre a Campinarana (Campinas). É uma formação vegetal de clímax edáfico, com ambientes capeados por

Espodossolos que condicionam uma vegetação oligotrófica raquítica. Estas áreas são caracterizadas por endemismos de gêneros e espécies, como, por exemplo, a Areca- ceae (Palmae) monotípica Barcella odora. Além disso, ocorre uma outra fisionomia pantanosa, dominada por microfanerófitos finos do tipo “ripário”, caracterizada por espécies do gênero Clusia, da família Clusiaceae.

Região Florística do Brasil Central (Savana, Floresta Estacional

No documento Manual técnico da vegetação brasileira (páginas 55-57)

Documentos relacionados