• Nenhum resultado encontrado

INTRODUÇÃO

O Código Florestal Brasileiro e a lei nº 9.985/00 instituíram alguns dos denominados Espaços Territoriais Especialmente Protegidos, que consistem em áreas de grande relevância ecológica sobre as quais recai um regime jurídico especial. Nesses espaços, há uma série de restrições ao seu uso e exploração, que podem variar conforme a espécie. De início, analisaremos os dois mais relevantes espaços previstos no Código Florestal (Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal). Depois, as Unidades de Conservação, previstas na lei nº 9.985/00.

Frise-se que, no Código Florestal, também existem outros espaços previstos, tais como os Apicuns, Salgados e Áreas de Uso Restrito.

Numa primeira análise, é relevante ressaltar que a criação de Espaços Territoriais Especialmente Protegidos pode ser feita por lei ou medida provisória, mas a sua supressão ou extinção somente pode ser feita por lei em sentido estrito. Revela-se, pois, uma exceção ao princípio do paralelismo das formas.

Como forma de concretizar o princípio do Preservador-recebedor e a tributação ecológica, há previsão legal para que, nesses espaços, haja isenção do Imposto Territorial

APOSTILA    Direito Ambiental | 5ª ed.

Rural (ITR). Frise-se, porém, que a lei não confere a mesma isenção em relação ao Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU).

ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP)

As Áreas de Preservação Permanente são espaços caracterizados por:

Cobertura Nativa ou não

Localização Área urbana ou rural

Funções - Recursos hídricos - Preservação da paisagem

- Estabilidade ecológica - Biodiversidade - Fluxo gênico - Preservação do solo - Bem-estar da população

A natureza jurídica da APP é de limitação administrativa. Nesse sentido, o particular é obrigado a respeitar a APP identificada em sua propriedade, não lhe sendo devida qualquer indenização por esse motivo.

Muitas das APP podem ser identificadas pela simples aplicação do Código Florestal. Outras, porém, exigem normas infralegais para que sejam delimitadas.

São exemplos de APPs: a) Mata Ciliar;

b) Entornos de lagos e lagoas;

c) Entornos de Reservatório d’água artificiais ou naturais; d) Entornos de nascentes e olhos d’água;

APOSTILA    Direito Ambiental | 5ª ed.

g) Manguezais;

h) Borda de tabuleiros e chapadas;

i) Topo de morros, montes e montanhas; j) Áreas em altitude superior a 1.800m; k) Veredas;

l) As que forem declaradas de interesse social pelo CONAMA.

No que toca ao regime de proteção de APP, a regra geral é a impossibilidade de supressão vegetal. Permite-se, porém, o acesso de pessoas e animais para captação de água e atividades de baixo impacto. A obrigação de preservar a APP é de natureza ​propter

rem​.

A exploração em APP pode ser licenciada, porém, em casos de utilidade pública, interesse social e para atividades de baixo impacto.

UTILIDADE PÚBLICA INTERESSE SOCIAL BAIXO IMPACTO

APOSTILA    Direito Ambiental | 5ª ed.

- Infraestrutura; -Segurança Nacional; -Parcelamento do solo urbano; - Defesa Civil; - Outras intervenções Definidas em ato do Poder Executivo. - As atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas;

- A exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena propriedade ou posse rural familiar ou por povos e comunidades tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura vegetal existente e não prejudique a função ambiental da área;

- A implantação de

infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre em áreas

urbanas e rurais consolidadas, observadas as condições estabelecidas nesta lei; - A regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados predominantemente por população de baixa renda em áreas urbanas consolidadas, observadas as condições estabelecidas na lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009; - A implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados para projetos cujos recursos

- Produtos não madeireiros para subsistência;

- Pequena via de acesso interno; - Pontilhões; - Plantio de espécies nativas; - Captação de água; - Manejo sustentável; - Ecoturismo; - Rampa de lançamento de barcos; - Moradia de agricultores e quilombolas; - Cercas; - Pesquisa.

APOSTILA    Direito Ambiental | 5ª ed.

integrantes e essenciais da atividade;

- As atividades de pesquisa e extração de areia, argila,

saibro e cascalho,

outorgadas pela autoridade competente;

- Outras atividades similares devidamente caracterizadas

e motivadas em

procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional à atividade proposta, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal.

O STF analisou a constitucionalidade do Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) e decidiu:

1) declarar a inconstitucionalidade das expressões “gestão de resíduos” e “instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais”, contidas no art. 3º, VIII, b, da Lei nº 12.651/2012;

2) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, VIII e IX, da Lei, de modo a se condicionar a intervenção excepcional em APP, por interesse social ou utilidade pública, à inexistência de alternativa técnica e/ou locacional à atividade proposta; 3) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, XVII e ao art. 4º, IV, para fixar a interpretação de que os entornos das nascentes e dos olhos d’água intermitentes configuram área de preservação permanente;

4) declarar a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e “tituladas”, contidas no art. 3º, parágrafo único;

5) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 48, §2º, para permitir compensação apenas entre áreas com identidade ecológica;

6) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §§4º e 5º, de modo a afastar, no decurso da execução dos termos de compromissos subscritos nos

APOSTILA    Direito Ambiental | 5ª ed.

programas de regularização ambiental, o risco de decadência ou prescrição, seja dos ilícitos ambientais praticados antes de 22.7.2008, seja das sanções deles decorrentes, aplicando-se extensivamente o disposto no §1º do art. 60 da Lei 12.651/2012, segundo o qual “a prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão punitiva”.

Todos os demais dispositivos da Lei foram considerados constitucionais (fonte: https://www.dizerodireito.com.br/).

Em casos de urgência, assim caracterizados pelo iminente risco de acidentes urbanos, ou em nome da defesa civil e da segurança nacional, é possível que intervenções de grande porte sejam feitas sem o prévio licenciamento ambiental. Trata-se de uma exceção à regra geral, fundamentada na ponderação de interesses em conflito. Nessa circunstância, privilegia-se a rápida proteção contra algum tipo de desastre, que poderia vir a acontecer se a providência não fosse tomada de imediato. Diante de casos tais, esperar pelo longo procedimento do licenciamento ambiental poderia gerar danos à população maiores do que os que a obra causaria ao meio ambiente.

RESERVA LEGAL

A Reserva Legal é uma área caracterizada por: - Preservar vegetação NATIVA;

- Estar localizada em área RURAL;

- Com vistas a assegurar o uso sustentável de recursos naturais, a conservação e a reabilitação de processos ecológicos e abrigo e proteção da fauna silvestre.

A natureza jurídica da reserva legal é de limitação de uso da propriedade, motivo pelo qual não é, em regra, devida indenização pelo poder público em favor do proprietário.

É importante que o aluno saiba os percentuais que representam as frações da propriedade a serem destinadas à reserva legal:

Região da Amazônia Legal 80%

APOSTILA    Direito Ambiental | 5ª ed.

Campos gerais 20%

As áreas que excederem esses percentuais podem ser utilizadas para fins de servidão ambiental e Cota de Reserva Ambiental. É válido ressaltar que a Cota de Reserva Ambiental consiste em um título nominativo representativo de área com vegetação nativa, expedido quando a área preservada supera o mínimo exigido conforme os percentuais acima. Esse título pode ser negociado com proprietários que não tenham mantido a reserva mínima legal a fim de que possam compensar essa falta. Para tanto, faz-se necessário que os imóveis estejam inscritos no Cadastro Ambiental Rural. O negócio jurídico de aquisição de Cotas de Reserva Ambiental pode ser oneroso ou gratuito.

Em alguns casos, é possível que a área de reserva legal seja compensada com as áreas de APP eventualmente identificadas na propriedade. Para isso, devem ser observados os seguintes requisitos:

a) Propriedade deve ser registrada no Cadastro Ambiental Rural; b) Não implique conversão de novas áreas para desmatamentos; c) Áreas computadas estejam conservadas ou em recuperação.

Existem casos, também, em que a reserva legal pode ser dispensada. São eles: a) Obras para abastecimento de água e tratamento de esgoto;

b) Áreas para a instalação de usinas hidrelétricas; c) Áreas para a implantação de rodovias e ferrovias.

O regime de proteção da Reserva Legal permite o manejo sustentável, embora vede rigorosamente o corte raso da vegetação. Essas restrições atingem tanto propriedades públicas como particulares. Em caso de pequena propriedade, é possível computar o plantio de árvores frutíferas, ornamentais, exóticas e industriais.

Embora se permita o manejo sustentável, exige-se, em regra, licenciamento para a sua consecução, salvo nos seguintes casos de diminuto impacto, previstos no próprio Código Florestal.

Caso a área venha a ser desapropriada, deve haver indenização, visto que, sendo possível o manejo sustentável, a área de reserva legal é economicamente explorável. Evidente que, nesse caso, o valor de indenização deve ser diminuído na proporção da menor

APOSTILA    Direito Ambiental | 5ª ed.

capacidade produtiva e é condicionado à existência de plano manejo sustentável devidamente aprovado.

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

As unidades de conservação são espaços dotados de características naturais relevantes instituídas pelo Poder Público com o objetivo de conservação e submetidas a regime especial administrativo. Podem ser criadas por lei ou outros atos normativos, nas esferas federal, estadual e municipal. A sua supressão somente pode ser feita por lei em sentido formal. No caso específico da RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), a criação também pode ser feita por portaria do IBAMA.

Para instituir uma unidade de conservação, não necessariamente é devida a desapropriação. Sempre que possível alcançar os objetivos através de limitações administrativas não supressivas de propriedade, merece ser essa a conduta adotada pela administração pública.

Para melhor gerenciar todas as unidades de conservação do Brasil, foi criado, pela lei nº 9.985/00, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. São órgãos desse sistema o CONAMA (consultivo e deliberativo), o Ministério do Meio Ambiente (órgão central), o IBAMA e o ICMBIO. Em se tratando de unidades de conservação, o ICMBio assume um papel deveras especial, na medida em que lhe incumbe com preponderância a execução da política de unidades de conservação, cabendo ao IBAMA atuação apenas subsidiária.

As unidades de conservação federais dividem-se em dois grandes grupos: as de proteção integral e as de uso sustentável.

APOSTILA    Direito Ambiental | 5ª ed.

PROTEÇÃO INTEGRAL USO SUSTENTÁVEL

I - Estação Ecológica; II - Reserva Biológica; III - Parque Nacional; IV - Monumento Natural; V - Refúgio de Vida Silvestre.

I - Área de Proteção Ambiental;

II - Área de Relevante Interesse Ecológico; III - Floresta Nacional;

IV - Reserva Extrativista; V - Reserva de Fauna;

VI – Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e

VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Interessante notar que as unidades de conservação de proteção integral admitem o uso apenas INDIRETO dos seus recursos naturais, sendo vedado o uso direto. Já nas de uso sustentável, admite-se a exploração dos recursos, condicionada à garantia de perenidade.

É fundamental que o aluno conheça os conceitos de cada uma das unidades de conservação, a seguir sintetizados com seus nomes, conceitos e uma abreviatura que desenvolvemos para facilitar a didática e a memorização.

PROTEÇÃO INTEGRAL:

Estação Ecológica (EE): são unidades de posse e domínio público que servem à

preservação da natureza e à realização de pesquisas científicas. A visitação pública é proibida, exceto com objetivo educacional. Já as pesquisas científicas dependem de autorização prévia do órgão responsável;

Reserva Biológica (ReBi): seu objetivo maior é a preservação da sua biota e demais

atributos naturais, sem interferência humana direta ou modificações. Admitem-se medidas de recuperação de seus ecossistemas e ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos;

Parque Nacional (PaNa): tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas

naturais de relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico;

APOSTILA    Direito Ambiental | 5ª ed.

Monumento Natural (MoNa): objetivam a preservação de sítios naturais raros,

singulares ou de GRANDE beleza cênica;

Refúgio de vida silvestre (ReVis): sua finalidade é a proteção de ambientes naturais

que asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória;

GRUPO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:

Área de Relevante Interesse Ecológico(ARIE): geralmente de pequena extensão, são

áreas com pouca ou nenhuma ocupação humana, exibindo características naturais extraordinárias ou que abrigam exemplares raros da biota regional, tendo como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza;

Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN): de posse privada, gravada com

perpetuidade, objetivando conservar a diversidade biológica;

Área de Proteção Ambiental (APA): são áreas geralmente extensas, com um certo

grau de ocupação humana, dotadas de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e têm como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais;

Floresta Nacional (FloNa): é uma área com cobertura florestal de espécies

predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para a exploração sustentável de florestas nativas;

Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RedSus): são áreas naturais que abrigam

populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações, adaptados às condições ecológicas locais, que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica;

Reserva de Fauna (ReFau): é uma área natural com populações animais de espécies

nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos;

APOSTILA    Direito Ambiental | 5ª ed.

Reserva Extrativista (RExtr): utilizadas por populações locais, cuja subsistência

baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, assegurado o uso sustentável.

Algumas observações finais sobre as unidades de conservação:

1 – Quais delas podem ser instituídas tanto em propriedades públicas quanto em privadas? MoNa, ReVis e APA.

2 – Quais delas só podem existir em áreas privadas? RPPN.

3 – Quais delas exigem autorização do órgão gestor para que se promova pesquisa? APA e RPPN.

4 – Quais podem ser habitadas? APA, Arie, FloNa, RExtr e RDSus.

Documentos relacionados