• Nenhum resultado encontrado

O FMI NO SOCORRO AOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO, NA CRISE ECONÔMICA E

3. A DESREGULAMENTAÇÃO E A CRISE ECONÔMICA E FINANCEIRA MUNDIAL DE

3.3 O FMI NO SOCORRO AOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO, NA CRISE ECONÔMICA E

Os países desenvolvidos, naturalmente, têm recursos para estimular suas economias, mas isso não acontece nos países em desenvolvimento, especialmente, os mais pobres. Então entra em cena o já famoso FMI. Segundo Roubini e Mihm (2010), o FMI entra em cena, como emprestador de última instância, para ajudar diversos países. Esse apoio veio em duas linhas de crédito: a mais tradicional, Stand-Bay Arrangement (SBA), que foi concedido a catorze países, sendo os mais beneficiados a Hungria, a Ucrânia e o Paquistão, na forma dos apoios dados aos mercados emergentes, empréstimos condicionados a reformas econômicas. O México, a Polônia e a Colômbia, países estáveis e com um respeitável histórico de reformas financeiras, foram beneficiados com as linhas incondicionais de crédito, as chamadas Flexible Credit Lines (FCLs), que serviram como linhas de crédito preventivas ou profiláticas. Segundo Roubini e Mihm, a escala desses empréstimos foi extraordinária:

A escala de todos esses empréstimos foi extraordinária. Até o verão de 2009 o FMI autorizou mais de 50 bilhões de dólares de acordos standby e 78 bilhões de dólares de Flexible Credit Lines. Muitas dessas linhas de crédito ofuscaram os pacotes de salvamento organizados uma década antes. Em 1997, por exemplo, a Coréia do Sul recebeu um aporte de 10 bilhões de dólares para ajudá-la

durante a crise que varria a Ásia naquele momento. Já a Ucrânia, um país cuja economia corresponde a uma fração da Coréia do Sul, recebeu a colossal soma de 16,4 bilhões de dólares em 2008 (ROUBINI; MIHM, 2010, pág.167).

Reinhart e Rogoff (2011) ressaltam a velocidade com que a crise econômica e financeira de 2008-2009 se espalhou pelo mundo causando recessão, e a ação do FMI como emprestador de última instância:

[…] Of course, the crisis of the late 2000s is different in important ways from other post-World War II crises, particularly in the ferocity with which the recession spread globally, starting in the fourth quarter of 2008. The "sudden stop" in global financing rapidly extended to small- and medium-sized businesses around the world, with larger businesses able to obtain financing only at much dearer terms than before. The governments of emerging markets are similarly experiencing stress, although as of mid-2009 sovereign credit spreads had substantially narrowed in the wake of massive support by rich countries for the International Monetary Fund (IMF), which we alluded to in the previous chapter1

1. The IMF, of course, is effectively the global lender of last resort for emerging markets, which typically face severe strains in floating new debt during a crisis. Given the quadrupling of IMF resources agreed to at the April 2, 2009, London meeting of the Group of 20 heads of state (including those of the largest rich countries and the major emerging markets), world market panic about the risks of sovereign default have notably abated. The IMF guarantees apply only to government debt, however, and risk spreads on the corporate debt of emerging markets remain elevated as of mid-2009, with rates of corporate default continuing to rise. It remains to be seen to what extent, if any, these debt problems will spill over to governments through bailouts, as they often have in the past (REINHART; ROGOOF, 2011,pág. 240).

Stiglitz (2010) diz que os países do Leste Europeu tinham muitos problemas e os países do Oeste Europeu não sabiam muito bem como lidar com eles, então, delegam a questão ao FMI. Ele comenta que na reunião dos G-20, em Londres, em abril de 2009, foram providenciados fundos adicionais ao FMI, para socorrer os países em desenvolvimento, principalmente os pobres do Leste Europeu, e comenta:

The choice of the IMF as the institution to deliver the money was itself problematic. Not only had the IMF done very little to prevent

the crisis, but also it had pushed deregulatory policies, including capital and financial market liberalization, that contributed to the creation of the crisis and to its rapid spread around the world (STIGLITZ, 2011, pág.214, grifo nosso).

Segundo Stiglitz, as boas notícias foram que, com o apontamento de Dominique Strauss Kahn como diretor gerente e o fim da crise, o FMI começou a reformar a sua macropolítica de empréstimos. Por exemplo, quando a Islândia pediu assistência ao FMI, ela foi autorizada a fazer controle de capitais e a manter déficit orçamentário, pelo menos nos primeiros anos do programa. Ele diz que, finalmente, o FMI reconheceu a necessidade de macro políticas keynesianas. Diz que o diretor do FMI falava abertamente do risco de remoção prematura dos estímulos, e da necessidade de se focar na manutenção dos empregos (STIGLITZ, 2011, pág. 215).

Rogoff (2010) também chama atenção para o encontro dos presidentes dos G- 20, em Londres, em abril de 2009, quando foram quadruplicados os fundos do FMI, para instar a Instituição a prevenir o contágio da crise para as economias emergentes:

[…] The historic April 2009 meeting of the G-20 leaders in London assigned the IMF a pivotal role in stemming the global financial crisis and pledged a massive quadrupling of its resources. G-20

presidents urged the IMF to prevent the crisis from infecting developing countries and emerging markets. A clear subtext to their message was that world leaders wanted the IMF to be generous and forthcoming with its resources, lending now and asking questions later. At the same time, the IMF was charged with

taking a more forceful role in global macroeconomic surveillance, and a supporting (albeit ill-defined) role in financial market regulation. Now, with the IMF returning to Europe after a nearly three-decade hiatus (Portugal had a program in the early 1980s), an institution that had so recently been dormant has come to take perhaps the largest role on the world stage it has ever had (ROGOFF, 2010, griffo nosso)

Esse foi um período relativamente tranquilo de atuação do FMI, sem gerar os protestos costumeiros, como também as condicionalidades foram abrandadas devido à urgência de atendimento a esses países pela caótica situação financeira internacional gerada na crise econômica e financeira de 2008-2009. Nesse contexto, Rogoff (2010), destaque na citação acima, diz que a mensagem subliminar dos líderes do mundo era para que o FMI fosse generoso e aberto com seus recursos, emprestar agora, e deixar as perguntas depois.

O FMI introduziu mudanças em suas políticas de empréstimo que facilitaram a ajuda aos países em desenvolvimento, como já foi realçado acima, por Roubini e Mihm (2010), que transformou o FMI, definitivamente, em emprestador de

última instância. Em 13 de março de 2009, foi apresentado o “GRA Lending Toolkit and Conditionality: Reform Proposals” (ver anexo 03). Em quatro de março o Conselho Executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) aprova as reformas propostas para reforçar a capacidade do FMI de prevenir e resolver crises (ver anexo 04).

Segundo o que foi publicado no “Review of Recente Crisis Programs” de setembro de 2009, no período entre setembro de 2008 e julho de 2009, 15 países receberam ajuda pelo Stand-by Arrangments (SBAs) e três foram beneficiados pela Linha de Crédito Flexível (FCL):

Scope. This paper reviews the emerging market programs put in

place in response to the current financial crisis. (A forthcoming paper will review the recent experience in low-income countries.) The report covers 15 Stand-By Arrangements (SBAs) approved by the IMF between September 2008 and early July 2009. The programs are concentrated in Europe and the CIS region (Armenia, Belarus, Bosnia & Herzegovina, Georgia, Hungary, Iceland, Latvia, Romania, Serbia, and Ukraine). Other cases covered are Pakistan, Mongolia, and the precautionary (i.e., nondisbursing) SBAs with Costa Rica, El Salvador, and Guatemala. Because the focus here is on the policies pursued under Fund-supported programs, the three countries (Mexico, Poland, and Colombia) that have access to Fund resources under the new Flexible Credit Line (FCL), which does not involve an economic program monitored by the Fund, are not the focus of this paper (IMF, 2009).

E muitos desses programas de ajuda já foram beneficiados pelas reformas aproadas em 24 e março pelo Conselho Executivo, conforme fica claro na transcrição do Review of Recent Crisis Programs do FMI reproduzido abaixo.

Box 1. Role of the Fund in Emerging Markets during the crisis

The Fund has increased its resources and overhauled its lending framework to assist countries facing external financing pressures in the current crisis.

Resources. Borrowed resources are to be increased by up to $500 billion, initially via bilateral borrowing agreements and note issuances, and eventually through the expansion of the New Arrangements to Borrow. A large allocation of Special Drawing Rights (SDRs) has also been implemented, injecting $250 billion of liquidity into the global

economy, of which some $100 billion is available to developing and middle-income countries.

Lending framework. On March 24, 2009, the Fund established the FCL—a flexible credit line of 6 to 12 months’ duration, with unlimited renewability and uncapped access—for countries with very strong fundamentals, policies, and track record of policy implementation, and not entailing traditional policy conditionality. The conditionality framework was modernized to ensure better tailoring of policy conditions to country circumstances (structural performance criteria were discontinued and structural policies are to be monitored in a holistic fashion in the context of program reviews). The SBA was made more flexible to provide countries with a high- and frontloaded- access precautionary instrument, and greater flexibility in the frequency of purchases was introduced. Moreover, access limits were doubled and the criteria for approving exceptional access arrangements were simplified and clarified (IMI, 2009b).

Como já se comentou acima, a atuação do FMI, durante a crise financeira mundial 2008-2009, se caracterizou pelo fornecimento de recursos aos países em dificuldades financeiras, assemelhando-se bastante à sua atuação durante a vigência do Sistema Breton Woods e da crise do petróleo dos anos 1970, quando o FMI atuou como emprestador de última instância, fornecendo liquidez aos países necessitados de recursos. No entanto, no caso específico da Grécia, país periférico da zona do euro, em crise financeira, o FMI voltou à prática de sua macropolítica contracionista, que lhe gerou tantas críticas nas décadas anteriores e inicio desta década, como se verá no capítulo seguinte.

4. A ATUAÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA E DO FMI NA CRISE DA