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Espaço, Estrutura e Organização do Orfanológico

Fonte: Álbum do Pará (1908)

O espaço do recreio também era composto por uma extensa área em formato circular e de chão batido, destinada às atividades dos alunos ao ar livre, que poderiam transitar, dentro destes limites no momento de recreação. Tudo isso, mediante a supervisão dos inspetores. Na figura 33, ao fundo, verifica-se um grupo de educandos dispersos neste terreno. Neste mesmo ambiente, ainda, “[...] acham-se installados os diversos apparelhos para recreio dos alumnos, como sejam trapézios, barras, parallelas, etc. (BOLETIM OFFICIAL DA INSTRUÇÃO, 1907, p. 422), já que, ali, realizavam-se as aulas de ginástica sueca.

Figura 33 -Área de recreação do Instituto Orfanológico

Fonte: Álbum do Pará (1908)

O espaço contribuía para “educação dos corpos” dos meninos, já que era onde se praticava jogos e ginástica, que buscavam contribuir para disciplinar e moldar o físico dos educandos, de modo a “cultivar um corpo belo, forte, saudável, higiênico, ativo, ordeiro, racional, em contraposição àquele considerado feio, fraco, doente, sujo e preguiçoso” (VAGO, 1999, p. 2). Modelo este almejado pelo discurso ideológico republicano, o qual via na infância a categoria social a ser transformada em cidadão desse regime.

O instituto possuía, ainda, um parque, espaço que servia para a realização dos passeios dos educandos. Consista em uma área, como retrata a figura 34, de terra, repleta de árvores e vegetação ao seu entorno e ficava as margens do Rio Maguari, cuja brisa fresca caracterizava- se como um relevante aspecto climático do terreno, no qual a instituição foi construída. Logo, respirar o ar e ter contato com a ventilação era uma prática indicada também para a saúde dos meninos.

Figura 34 - Parque do Instituto Orfanológico

Fonte: Álbum do Pará (1908)

Os espaços que compunham o recreio dos educandos pelas descrições realizadas, caracterizavam-se como ambientes recomendados para um bom internato. De acordo com Conceição (2008), em virtude de serem amplos, estarem cercados de ar puro, por apresentar terrenos extensos para exercícios ginásticos e brincadeiras, envolto de exuberante vegetação e afastados das grandes povoações, o que contribuía para os meninos terem ali vida calma, estudiosa, higiene física e moral, que eram aspectos considerados fundamentais para o bom desenvolvimento dos educandos.

Na instituição, fazia-se presente também um local religioso, a Capela São José, situada à direita do Instituto, que servia para as missas e demais cerimônias solenes-religiosas, como as missas de dias considerados santos. Este local educava os meninos com ensinamentos cristãos- católicos. Por ocasião da inauguração do Instituto Orfanológico do Outeiro, a capela foi assim descrita pelo jornal “A Província do Pará”, de 01 de agosto de 1906:

Construida de madeira e coberta de zinco apresenta um estylo original e uma architectura bellíssima.As suas paredes são duplas, sendo as externas de acapú e separada 1 m e 50 do solo, repoisando sobre uma base de alvenaria e tijolo.

Na frente a uma escada principal com 7 degraus e aos lados duas outras que dão accesso às sachristias. Seis janelas com vidraças multicores ladeiam o pequenino templo, em cujo centro ergue artística torre. Ao fundo da capella realça n’um elegante altar a imagem de São José de Riba-Mar do Outeiro, patrono do instituto, collocada n’um nincho singellamente ornamentado com palmas de flores artificiaes de apurado gosto.Sobre o altar, coberto com rica toalha,tendo bordada a inscripção – São José, um crucifixo de prata se ostenta cercado de 6 castiças do mesmo metal (A PROVÍNCIA DO PARÁ, 01.08.1906, p. 1).

Neste espaço, também aconteciam batismos, tanto dos educandos que ainda não haviam sido batizados quanto de crianças filhas de empregados e/ou de pessoas residentes no entorno do Orfanológico. Um exemplo de uso para esta finalidade ocorreu no dia 25 de dezembro de 1906, em que logo após a celebração da missa de Natal, algumas crianças foram batizadas, tendo como padrinhos, o diretor do instituto, Dr. Manoel Manços da Silva Villaça e sua esposa D. Rufina da Cunha Frazão Villaça, que também era professora. Dentre as crianças batizadas estavam:

Linesio – Filho legítimo de Linesio Lustosa Cabral e D. Firmina Maria de Paiva, nasceu no dia 06 de janeiro de 1906, no Rio Juruá, estado do Amazonas.José – Filho legítimo de Vicente Ferreira Franco e D. Maria Magdalena de Jesus, nasceu no dia 06 de maio de 1906, no Outeiro. Raymundo – Filho legítimo de Francisco Leal Uchôa Viégas e D. Rosa Freire de Oliveira Viégas, nasceu no dia 02 de março de 1906, no Outeiro (no Instituto Orfhanológico do Estado, e Leonor – Filha legítima de Gregório Pereira de Andrade e D. Maria Pereira de Paiva, nasceu no dia 24 de dezembro de 1906, no Outeiro (INSTITUTO ORFANOLÓGICO. LISTA. 27.12.1906). No relatório apresentado à Secretária do Interior, da Justiça e da Instrução Pública, no ano de 1913, o diretor do Orfanológico Carlos Dias Augusto Vieira, relatou que apesar dos seus esforços, no sentido de conservar a capelinha do instituto, esta corria o sério risco de desabar, em virtude dos reparos para sua conservação serem diminutos, segundo afirmativa do senhor Secretário do Estado de Obras públicas, quando fez visita para inspecionar as dependências da instituição.

Ainda, na parte externa, o instituto possuía um chalet para abrigo do gazometro de acetyleno, sistema adotado para a iluminação do edifício e de suas dependências, cuja cobertura era de fibro-cimento e o solo mosaicado, dividia-se em dois compartimentos: um para os aparelhos e outro para o depósito de carbureto de cálcio. Além disso, em outro espaço ficavam as torres que armazenavam água para utilização do estabelecimento, por meio de um sistema de bombas movidas a querosene, vindo dos Estados Unidos (PARÁ, MENSAGEM, 1906).

O conjunto arquitetônico pertencente ao Instituto Orfanológico do Outeiro foi construído com materiais considerados como da maior qualidade, alguns inclusive, sendo importados de países como França, Itália e Estados Unidos. Todo esse investimento para compor as dependências do internato, que abrigaria meninos órfãos e desvalidos, foi reflexo do próprio contexto do estado do Pará, nos primeiros anos dos 1900, que, economicamente, vivia com os lucros dos tempos áureos da chamada Belle Époque, em que a exportação da borracha trouxe recursos para a construção de muitas obras públicas, a exemplo das várias instituições criadas nos finais do século XIX e início do XX.

4.2. Empregados superiores e inferiores: do pessoal do Instituto Orfanológico

Para manter o funcionamento em prol da formação dos educandos que ali estavam internados, o Instituto Orfanológico possuía um corpo de funcionários, classificados em superiores e inferiores, organizados visando atender às necessidades, tanto da dinâmica do espaço físico da instituição quanto da saúde e do ensino dos meninos, cada qual com sua função específica para andamento do estabelecimento. Dentre os superiores, destacavam-se, os permanentes: o diretor, os professores, o tesoureiro, a economa e o farmacêutico, e os visitantes - o médico e o dentista; já em relação aos inferiores encontravam-se os inspetores, o copeiro, o cozinheiro, o servente da copa e o ajudante de cozinha. Existiam, ainda, os prestadores de serviços para o instituto, como a lavadeira, engomadeira, barbeiro, costureira, entre outros, mas não serão enfatizados por não pertencerem diretamente ao quadro de empregados do estabelecimento. A organização hierárquica dos funcionários, superiores e inferiores, está ilustrada na figura 35:

Visitantes Figura 35 - Organização do corpo administrativo operacional

Fonte: Elaborado pelo autor (2017)

O diretor era a autoridade máxima da instituição, sendo o responsável por fazer a mediação entre o instituto e a Secretaria de Estado de Instrução Pública, cabia a este: dirigir o instituto, fazendo executar e cumprir as leis, regulamentos e deliberações do Governo; se responsabilizar e assinar os documentos relativos ao funcionamento da instituição; admitir, suspender e dispensar os empregados que tiver nomeado; propor ao Secretário de Estado de Instrução Pública a demissão de empregados, bem como o desligamento de educandos; dar posse ou suspensão de funcionários que merecer; propor ao Secretário tudo o que julgar tendente a melhorar no instituto; fixar o horário do estabelecimento; fazer conferir e rubricar as contas, entre outras (ESTATUTO DO INSTITUTO ORFANOLÓGICO DO OUTEIRO, 1904).

Funcionários Superiores

Funcionários Inferiores

DIRETOR

OFICIAL TESOUREIRO

PROFESSORES

ECONOMO FARMECÊUTICO DENTISTA

MÉDICO

INSPETORES COPEIRO COZINHEIRO

SERVENTE