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3. MÉTODO

3.1 Fonte de dados

Os dados que compõe o corpus26 desta pesquisa provém de matérias, fragmentos de matérias e comentários, publicados pela revista Veja27entre os anos de 1968 e 2010, e que tratem do assunto tráfico de drogas.

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Na seção 4.1 deste trabalho, apresentaremos a capa da edição 2193, de 01 de dezembro de 2010 (Rio de Janeiro: 25 de novembro de 2010. O dia em que o Brasil começou a vencer o crime), que apresenta as operações militares de combate ao tráfico de drogas no Rio de Janeiro/RJ, como momento em que o Brasil começou a

vencer a ―guerra‖ contra os bandidos.

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Do latim, corpo. Nas pesquisas históricas ou sociais trata-se da coleção homogenia de textos sobre determinado tema, utilizada quando o tema investigado possui grande variabilidade e inviabiliza os critérios de amostragem representativa (Bauer & Aarts, 2002).

A revista Veja é uma publicação semanal de circulação nacional no Brasil, tendo sua primeira edição datada de 11 de setembro de 1968. Seu projeto inicial surge como semanário de variedades, que teria estilo inspirado em revistas americanas, tais como, a Time e a Newsweek. Ao reunir repórteres e editores acostumados com o ritmo e a produção textual dos jornais diários, a revista demorou a encontrar seu espaço e seu formato final (França, 2011; Almeida, 2009). Nos quatro primeiros anos de existência as dificuldades técnicas da execução deste novo projeto editorial (mudanças de equipe de trabalho; cortes devido à condição financeira, que ainda não representava lucro; a censura imposta pela ditadura militar etc.), levaram a muitas adequações em seu formato.

Inicialmente, Veja tinha três sessões: ―Brasil‖, ―Geral‖ e ―Mundo‖. Cada uma destas sessões comportava temas que foram sendo incluídos ou suprimidos com o passar do tempo, fato que se exemplifica na sessão ―Geral‖, que em 1973 passou a comportar as editorias de Comportamento, Ciência, Esporte, Educação e Religião (Almeida, 2009). O tema investigado nesta oportunidade, o tráfico de drogas, era comumente apresentado durante a década de 1970, com o antetítulo28―Tóxicos‖, apresentada junto aos temas da sessão ―Brasil‖ ou mesmo em outras sessões. Com o passar do tempo as notícias passaram a vincular-se ao antetítulo ―Drogas‖, e em seguida, passaram a não mais ter coluna específica para o tema, estando as matérias de nosso corpus de pesquisa vinculado a variadas sessões. O cenário de mudanças de formato de Veja parece encontrar estabilidade quando esta passa a enfatizar a pauta política, assim, a revista parece encontrar seu estilo de publicação (Almeida, 2009).

Veja surge com a intenção de integração nacional, um princípio defendido por militares e empresários, mas durante os primeiros anos de sua publicação a revista se mantém independente do governo, denunciando condições sociais da população, além de abusos e torturas ocorridos durante o regime militar brasileiro (Mira, 1997). O estilo de contestação política, muitas vezes associado a seu diretor de redação, Mino Carta, leva a ―saída‖ do mesmo do editorial, em circunstâncias relacionadas à pressão vinda dos censores da ditadura militar (França, 2011; Mira, 1997, Almeida, 2009).

A diminuição da censura, após a saída de Mino Carta, e a mudança da posição do semanário no cenário político da época, foram determinantes para sua expansão e difusão pelo território nacional. As idéias de modernização e industrialização, associados a um estilo

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O nome da revista inicialmente era Veja e Leia, onde a segunda palavra aparecia em fonte bem menor que a primeira. Este foi um recurso editorial usado intencionalmente, para evitar o plágio do nome da revista americana Look. Quando a americana parou de ser publicada em 1972, a segunda parte do nome foi suprimida, consagrando o semanário apenas como Veja (Almeida, 2009).

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sintético de reprodução das notícias, e a possibilidade de venda de assinaturas, fazem a publicação ampliar seu número de leitores em todo o país e garantiu seu lugar entre os leitores de classe média (Almeida, 2009).

Conhecer o perfil do público leitor de Veja se faz essencial para este estudo, uma vez que ―Um jornal representa até certo ponto o mundo para um grupo de pessoas, caso contrário elas não o comprariam.(...) o jornal se torna um indicador desta visão de mundo (Bauer, Gaskell & Allum, 2008, p.22). Esta afirmação dos autores sobre os jornais pode ser facilmente ampliada para as revistas.

Historicamente, a revista demorou a definir seu público leitor, passando por crises nas vendas e reformulações estruturais. Atualmente, seus leitores são representantes de um grupo social com características bastante específicas. O perfil atual dos leitores da revista Veja é o seguinte (Grupo Abril, 2011):

Gráfico 1. Perfil dos leitores de Veja, distribuição por sexo.

Gráfico 3. Perfil dos leitores de Veja, distribuição por faixa etária.

Além disso, a maior parte dos leitores de Veja (58%) reside na região sudeste do Brasil, a mais rica do país. Compilando as informações do perfil de leitores da revista, verificamos que a maioria dos leitores se situa nas classes A e B, e situa-se em faixas etárias economicamente ativas (de 20 a 49 anos). Trata-se de um grupo social que atinge maiores graus de instrução e renda, sendo considerado socialmente como formador de opinião, produtor e detentor de conhecimento. Investigar as representações sociais elaboradas em meio a este grupo social parece, portanto, via de acesso a idéias largamente difundidas e fortemente valorizadas por estarem atreladas a posicionamentos de uma classe dominante.

O fato de ser uma revista de circulação nacional, suas características de produção com foco na variedade de assuntos e a quantidade de leitores acessados, foram os principais fatores que levaram a escolha do semanário como fonte de dados para esta pesquisa. Além disso, o modo de acesso aos exemplares requisitados, disponíveis para consulta na rede mundial de computadores, representou um facilitador do processo de coleta dos dados.