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3. MÉTODO

3.2 Procedimentos de coleta de dados

A seleção e coleta das matérias jornalísticas foram realizadas no site do acervo digital da revista Veja29. Utilizou-se uma ferramenta presente no site, para buscas avançadas ―com a

expressão exata‖30

, a partir dos termos: tráfico, traficante e narcotráfico. Outras palavras e expressões foram testadas31, mas não apresentaram valores expressivos de ocorrências do assunto tráfico de drogas, ou ainda, apresentaram matérias já contempladas pelas três expressões citadas acima. Pensou-se, inicialmente, na utilização da expressão-chave ―tráfico de drogas‖, mas a utilização desta única expressão para a busca em múltiplos cenários histórico-sociais, distribuídos em quatro décadas, excluía muitas matérias sobre a temática, que por alguma variação terminológica característica do período não utilizava esta expressão- chave.

O uso da ferramenta de busca disponível no site, em substituição a seleção manual do material, a partir da leitura na íntegra das edições (Pedrosa, 2012; Menandro, Trindade & Almeida, 2010), foi uma escolha metodológica que exigiu alguns cuidados da pesquisadora. Uma análise preliminar do material revelou, por exemplo, que entre as décadas de 1970 e 1980 eram comuns os termos entorpecentes e tóxicos, fatos já corroborados na revisão bibliográfica. Estes termos caem em desuso na década seguinte. Em contrapartida, os anos 2000 apresentam diversas matérias que não utilizam mais o qualificador ―de drogas‖ para nomear o fenômeno, mas se referem ao mesmo, apenas como ―tráfico‖. As mudanças de nomenclatura foram a primeira dificuldade enfrentada na seleção dos dados, uma vez que apenas após sucessivas tentativas foi possível definir as expressões mais adequadas para a busca.

Ainda que a escolha dos termos-chave (tráfico, traficante e narcotráfico), tenha sido eficaz, o conjunto das matérias selecionadas eletronicamente foi depurado, a partir de uma leitura na íntegra das matérias, de maneira a separar aquelas que realmente tratavam do tema em questão. Foram desconsideradas ocorrências que se referiam a outros tipos de tráfico, tais como: tráfico de influência, de prestígio, de crianças, de mulheres, de negros, de animais, de pessoas, de obras sacras, de divisas, de propinas, de órgãos humanos, dentre outros. Também foram desconsideradas as ocorrências em que a palavra tráfico ou traficante era usada sem um qualificador (―de drogas‖, ―de heroína‖ etc.) e seu sentido, não ficava explícito por informações contextuais. Matérias que apenas citavam o tráfico de drogas (por exemplo, em uma lista de outros crimes) sem desenvolver nenhuma idéia vinculada ao termo, foram descartadas.

30 Esta ferramenta não indicou matérias no período entre setembro de 2005 e julho de 2006. As revistas deste período foram pesquisadas utilizando a busca geral em cada edição, ou ainda, leitura integral das edições, selecionando-se as matérias a partir da leitura exploratória.

O levantamento bibliográfico revelou a mudança da organização, estrutura e atuação tráfico de drogas no Brasil e em outros países do globo, durante o período investigado. Durante a década de 1970, muda o panorama brasileiro do tráfico de drogas, alterando-se a função do país no âmbito internacional do comércio ilegal de drogas, uma rota tradicional de transporte (Rodrigues, 2003), e mudando, também, a dinâmica interna de atuação dos traficantes em nosso território. Nas décadas de 1980 e 1990 o envolvimento intenso da juventude, em especial, nas classes pobres com a venda e uso de drogas passa a configurar um complexo problema social (Zaluar, 2004; Feffermann, 2006). Esta intensificação da dinâmica de atuação do tráfico de drogas em território brasileiro, também parece ser acompanhada pelo aumento gradativo do número de publicações jornalísticas sobre o tema.

Para controlar as diferenças na distribuição do material entre os anos que compõem o estudo, foram adotados os seguintes critérios de escolha do material:

a) A amostra incluiu um exemplar por mês do semanário Veja, mediante a existência de referência ao assunto tráfico de drogas. Nos meses com mais de um exemplar citando o tema, aquele publicado primeiro foi mantido no corpus. Desta forma, estimou-se o máximo de doze exemplares por ano ou cento e vinte por década, o que totalizaria aproximadamente quatrocentos e oitenta reportagens compondo o corpus geral;

b) Tal qual no estudo de Menandro, Trindade e Almeida (2010), durante a seleção das matérias, passaram a compor o corpus definitivo, apenas os trechos das matérias que se refiram ao objeto investigado, naquelas reportagens que incluam outros elementos temáticos;

c) No caso dos exemplares com mais de uma matéria que incluía o tema, a matéria com menor número de página foi considerada, ou seja, aquela apresentada primeiramente pela revista;

d) Mensagens publicitárias e cartas de leitores não foram incluídas, devido a suas características de produção diferenciadas.

O controle do material selecionado se deu a partir do registro em uma ficha de organização, composta das seguintes informações: Edição (trata-se no número identificador da edição da revista e da reportagem dentro do corpus, não apresenta repetições); Ano; Década; Data; Termo-chave (palavra utilizada na busca); Observações da leitura preliminar; Antetítulo32 (palavra anterior ao título da matéria, referente ao tema tratado); Conteúdo

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Neste trabalho, a variável Antetítulo refere-se a palavra anterior ao título das matérias, como indicação temática, podendo representar um nome de sessão, coluna ou editorial da revista, indiscriminadamente.

(utilização de trecho ou íntegra da matéria); Sexo do envolvido; Ator (caracterização da pessoa envolvida com o trafico de drogas); Situação (ambiente em que ocorreu o tráfico de drogas, instituição, cidade, estado etc.); Local (classificação dos locais em que o tráfico teria ocorrido), Capa (ênfase dada ao assunto nas edições).

Estas informações foram transformadas em um banco de dados de controle em formato Excel. No banco de dados as respostas das variáveis foram categorizadas, simplificando as informações brutas e facilitando a verificação de possíveis concentrações de dados, o que foi essencial para as análises preliminares do corpus. Cada matéria selecionada foi salva em formato PDF (Portable Document Format), este tipo de documento não pode receber edições, protegendo os conteúdos originais. Mesmo as matérias em que apenas trechos foram selecionados para o corpus, a íntegra do conteúdo foi salva.

Após a definição do corpus, o material foi processado e transformado em arquivos de texto editáveis33, para que o desenvolvimento da análise de dados. Em alguns casos foi necessário efetuar correções no texto resultante do processo de conversão dos formatos, pois o programa que efetua esta operação, não foi preciso na leitura óptica de alguns caracteres.