• Nenhum resultado encontrado

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1 Fontes de Dados

Devido à complexidade e especificidade de se trabalhar com diferentes tipos de hortaliças9 (in natura, processada, congelada, etc), foi eleito um grupo delas, relevante e representativo no mercado nacional, para nortear a pesquisa. Este grupo é formado pelas hortaliças tipo: haste ou broto (couve, aspargo, etc); folha (acelga, agrião, cebolinha, alface, etc); flores (couve-flor, alcachofra, brócolos); frutos (tomate, abóbora, berinjela, chuchu, pimenta, pepino, etc); raízes (batata-doce, beterraba, cenoura, rabanete, etc); tubérculo (batata); bulbo (alho e cebola) e sementes (ervilha e vagem), comercializadas in natura.

Sobre o assunto (canais de distribuição) e os setores-alvo da pesquisa (produtores familiares, empresas varejistas, atacadistas e o ramo das refeições coletivas) buscou-se dados primários e secundários. Segundo BRYMAN (1989), os dados secundários são baseados em pesquisa de arquivos que podem ser históricos ou recentes, estatísticas e estudos previamente realizados. Já os dados primários são aqueles que o pesquisador elabora no estudo, ou seja, com interação entre o pesquisador e o objeto de pesquisa.

• Dados secundários

Os dados secundários foram utilizados na elaboração de um diagnóstico preliminar dos canais de distribuição de hortaliças, serviram como base para a descrição do ambiente onde os produtores familiares de hortaliças estão inseridos e para

9

O cultivo de hortaliças é chamado de olericultura, as mesmas são caracterizadas segundo a quantidade de sais minerais e vitaminas Em relação ao tempo de ciclo de vida produtiva, ou ciclo de cultura, as hortaliças obedecem à delimitação de cultura temporária, ou seja, o ciclo é de no máximo um ano e se caracteriza somente por uma colheita.

identificação dos agentes-chaves da cadeia da qual fazem parte. A partir da identificação pode-se direcionar as etapas seguintes, ou seja, escolher os agentes sobre os quais foram coletados os dados primários. Entre os itens pesquisados têm-se livros acadêmicos (GUANZIROLI et al., 2001; COUGHLAN et al. 2002; ROSENBLOOM, 1999; STERN & EL-ANSARY, 1992) e publicações de entidades especializadas (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES, Ministério de Desenvolvimento Agrário - MDA e Secretaria da Agricultura Familiar - SAF), periódicos e anais de congressos realizados no Brasil (Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural - SOBER e Congresso Internacional de Economia e Gestão de Redes Agroalimentares - EGNA) e no exterior (International Food and Agribusiness Management Association - IAMA), banco de dados de bibliotecas de diversas universidades (dissertações de mestrado, teses de doutorado e artigos), instituições ligadas ao setor como ABIA (Associação Brasileira da Indústrias de Alimentos), ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados), ABAD (Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores), ABERC (Associação Brasileira de Refeições Coletivas), Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP), Prefeituras Municipais de São Carlos e Araraquara, entre outros.

• Dados primários

Os dados primários foram obtidos mediante pesquisa de campo. Os questionários utilizados foram de caráter semi-estruturado e aplicado in loco pela pesquisadora. Os mesmos foram previamente submetidos a teste piloto para sanar falhas e problemas de entendimento. A versão final dos questionários está disponível no apêndice A.

A pesquisa de campo foi realizada com produtores familiares de hortaliças, empresas varejistas, atacadistas, do ramo de refeições coletivas e especialistas da área/setor. Também foram entrevistadas gerências de CEASAs, alguns agentes considerados potenciais para a distribuição de hortaliças da agricultura familiar e produtores patronais. Cabe ressaltar, no último caso, que esses produtores não são o alvo da pesquisa, tendo sido realizadas as entrevistas apenas para auxiliar no levantamento de alternativas para os produtores familiares. As entrevistas foram realizadas em duas etapas. A primeira etapa foi realizada entre setembro e dezembro de

2002. Foram entrevistados vinte e quatro produtores familiares, nas cidades de São Carlos e Araraquara e seis especialistas da área. A segunda etapa foi realizada entre os meses de fevereiro e julho de 2003. Nesta etapa foram entrevistadas empresas varejistas, atacadistas, empresas de refeições coletivas, gerências de CEASAs, instituições que se mostraram potenciais para distribuição de hortaliças provenientes da agricultura familiar e os produtores patronais.

A escolha dos produtores familiares a serem entrevistados partiu do princípio de serem classificados como familiares, baseado no conceito também adotado pelos projetos de cooperação técnica FAO/INCRA e GUANZIROLI et al. (2001), como supramencionado. Também foi considerada a importância da produção de hortaliças dentro do sistema produtivo adotado. Desta forma, entre os entrevistados, a produção de hortaliças integra as três principais atividades desenvolvidas. Decidiu-se, em Araraquara, pela divisão da amostra em produtores assentados e tradicionais (não assentados). Desta forma, foram escolhidos pela pesquisadora, na feira da Produção Familiar, quatro produtores. Para completar a amostra, foram selecionados oito produtores com base em indicações de técnicos de campo da Fundação ITESP, no caso dos produtores assentados e, indicações da técnica de campo do programa Sistema Agroindustrial Integrado (SAI) do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE), para produtores tradicionais. Em São Carlos, a Prefeitura Municipal repassou uma lista dos produtores familiares de hortaliças com os respectivos telefones e endereços. Os mesmos foram contatados via telefone ou diretamente na propriedade para agendamento das entrevistas.

Entre os especialistas entrevistados na primeira etapa, têm-se técnicos de campo que prestam atendimento a produtores familiares de Araraquara, responsáveis pela Coordenadoria da Secretaria de Agricultura e Abastecimento Municipal e pela Coordenadoria de Atividades Agroindustriais, em São Carlos e Araraquara respectivamente.

A escolha das empresas varejistas, atacadistas e do ramo de refeições coletivas, teve como base a primeira etapa da pesquisa onde os produtores familiares indicaram os arranjos distributivos utilizados. Desta forma, as empresas atacadistas, varejistas e algumas do ramo de refeições coletivas entrevistadas, foram indicadas pelos produtores familiares como agentes na distribuição de hortaliças. No caso das empresas

de refeições coletivas, que podem ser empresas que terceirizam o serviço de alimentação ou de autogestão, os produtores que atendem esses agentes citaram as unidades atendidas. Desta forma, no caso das empresas que terceirizam o serviço de alimentação, optou-se por entrevistar as centrais de suprimento, que foram identificadas em um segundo contato com um dos produtores que atende estes clientes. Nesta ocasião, o produtor indicou as empresas atuantes na região de São Carlos e Araraquara, assim como os contatos com as centrais de suprimento. Quanto às empresas de autogestão, considerou-se pertinente a aplicação da pesquisa também com empresas não citadas pelos produtores como: restaurantes de indústrias/empresas e restaurantes institucionais (escolas, universidade, presídios, hospitais, entre outros). Cabe ressaltar que na primeira etapa da pesquisa foram citados apenas restaurantes de venda a quilo. Desta forma, outras oito empresas sugeridas pelo produtor e pelas empresas que terceirizam o serviço de alimentação, foram contatadas. Entretanto, apenas uma realizava compra de hortaliças de produtores familiares e fez parte da amostra: o restaurante de um hospital. Entre as demais empresas, duas compram por meio de licitações e não existem casos em que produtores familiares fizeram parte dos processos. Outra empresa compra apenas de sacolões, não considerando a possibilidade de comprar de produtores familiares devido à satisfação com o atual fornecedor. A última empresa não compra de produtores porque seu sistema de lançamento de notas fiscais não aceita a nota de produtores. A referida empresa não considera viável o investimento necessário para alterar o software de lançamento de notas fiscais para então comprar diretamente de produtores.

Foram entrevistadas as gerências das CEASAs de Araraquara e Campinas. A primeira foi escolhida por estar localizada na cidade onde parte da amostra de produtores foi selecionada e a segunda, por constituir uma central de referência para diversos agentes entrevistados. Sobre os clientes potenciais, buscou-se dados sobre a compra de hortaliças pela Prefeitura Municipal de São Carlos e com coordenadores de projetos vinculados a produtores familiares de hortaliças. O objetivo da entrevista com esses agentes foi a identificação de alternativas para a distribuição de produtos provenientes da agricultura familiar.

A escolha dos produtores patronais também foi baseada na listagem repassada pela Prefeitura Municipal de São Carlos. Como foram entrevistados poucos

produtores, a escolha dos mesmos foi baseada na conveniência, ou seja, entre os produtores contatados, as entrevistas foram realizadas com aqueles localizados próximos à cidade de São Carlos e com os que se mostraram mais dispostos a cooperar com o trabalho.

A escolha dos municípios de São Carlos e Araraquara, deu-se por diversos fatores. Entre eles, o fato de outros projetos correlatos estarem sendo desenvolvidos pela instituição de ensino que a pesquisadora faz parte, como o projeto entitulado: "Sistema de gestão integrada para a agricultura familiar " - GIAF. Também foi considerada a limitação de tempo, facilidade de acesso e as diferenças existentes entre as duas cidades no que diz respeito aos produtores e canais de distribuição. Neste último caso, foi considerado que São Carlos possui produtores familiares tradicionais (não provenientes de assentamentos) e como canais de distribuição empresas varejistas, empresas do ramo de refeições coletivas e feiras tradicionais. Em Araraquara, além de produtores tradicionais, existem produtores familiares provenientes de programas de reforma agrária e outros agentes no canal de distribuição de hortaliças como: atacadistas permissionários da CEASA local, atacadistas independentes e feiras específicas para a distribuição de produtos provenientes da agricultura familiar. Considerando a heterogeneidade da agricultura familiar e os diferentes arranjos distributivos existentes, a escolha de cidades com características diferentes pôde auxiliar na identificação de pontos relevantes para o estudo.

Documentos relacionados