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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.4 Fontes de Informação

A escolha dos sujeitos desta pesquisa aconteceu da seguinte forma: no primeiro contato que obtivemos com a professora, ela nos deixou a par da situação de leitura em sua sala de aula. De trinta e oito alunos, somente dez liam. Diante dessa situação, solicitamos que ela nos explicasse como havia chegado a estes re- sultados.

Juliana então nos apresentou a lista dos alunos e o registro das avaliações de todas as crianças. Para chegar a este resultado, inicialmente, elas eram avaliadas por uma coordenadora pedagógica que as retirava da sala e as levava para outro ambiente onde apresentava textos, solicitava que escrevessem e lessem e verificava o nível de leitura. Em seguida, com a professora, ponderava sobre a situação de ca- da um nas atividades de leitura e escrita no dia-a-dia e chegavam a um resultado consensual. Esta forma de avaliação era uma proposta formulada no Curso de Ca- pacitação sobre a leitura e escrita, promovido pela Secretaria de Educação, já men- cionado anteriormente.

Resolvemos, então, nos basear nos níveis de leitura registrados nesta ficha de avaliação e, com base deles, localizamos os alunos que estavam mais freqüen- temente presentes em sala de aula e tomamos aleatoriamente cinco alunos leitores e cinco alunos não-leitores.

Contatamos as famílias por telefone cujo número foi fornecido pela escola e marcamos uma reunião para explicar os objetivos da pesquisa e solicitar sua autori- zação. Todos os pais compareceram. Fizemos breve explicação do que iria ser reali- zado e, ao final, apresentamos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. To-

dos concordaram e assinaram. Então iniciamos os procedimentos de observação, a aplicação dos desenhos e as entrevistas.

Durante a aplicação dos desenhos e das entrevistas todos os estudantes cita- ram como um colega que era danado e incomodava, o Caio. Estas revelações jun- tamente com seus comportamentos em sala de aula nos chamaram atenção, pen- samos que conhecer sua perspectiva enriqueceria nosso trabalho. Decidimos então convidá-lo a participar da pesquisa, Caio aceitou prontamente. Fizemos o contato com a sua família, que autorizou. Ficaram, então, onze sujeitos no total, seis não- leitores e cinco leitores e ainda a professora Juliana, a responsável pela sala.

3.5 Procedimentos

Os procedimentos utilizados neste estudo foram escolhidos em função dos objetivos da pesquisa. Buscamos, por meio deles, uma aproximação do universo das crianças, ações, sentimentos e emoções, buscando descobrir pormenores cheios de significados com vistas à compreensão de suas subjetividades. Para o estudo empí- rico, recorremos à observação-participante, às entrevistas semi-estruturadas e apli- cação e análise dos desenhos. Além dos desenhos, realizamos também uma entre- vista semi-estruturada, uma observação das atividades de leitura e das interações em sala de aula e ainda fizemos muitas horas de filmagem dessas atividades e inte- rações das crianças durante as aulas de leitura, para tentar identificar possíveis comportamentos relacionados a autoconceito.

Com o intuito de viabilizar nossa pesquisa, pelo fato de a investigação envol- ver crianças, obtivemos o cuidado de submetê-la ao Conselho de Ética da Universi- dade Federal do Ceará, visando à aprovação dos métodos para o desenvolvimento do trabalho de campo. Cadastramos a pesquisa no Conselho Nacional de Saúde/ Comissão Nacional de Ética em Pesquisa.

Para aprovação no Conselho de Ética da Universidade Federal do Ceará, fo- ram entregues: documento de encaminhamento de pesquisa à Comissão de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará, uma cópia resumida do Projeto de Pesquisa, incluindo a área do conhecimento a ser desenvolvido,introdução ao objeto de investigação, os objetivos gerais e específicos, a metodologia proposta para a realização da pesquisa de campo, local a ser observado e pesquisado, procedimen- tos de coleta de dados, roteiro das entrevistas a serem aplicadas junto às crianças e

à professora, formas de registro, cronograma de execução, as fontes bibliográficas e o documento de Cadastro Nacional de Saúde/Comissão de Ética em Pesquisa – CONEP( ver anexo01).

Foram entregues, ainda, a declaração do gestor da escola escolhida, autori- zando a realização da pesquisa nas dependências da escola, uma declaração nossa responsabilizando-nos por todos os trabalhos desenvolvidos referentes ao período da pesquisa de campo, os modelos das cartas destinadas aos pais dos alunos, ex- plicando a pesquisa e solicitando autorização para entrevistar, observar e filmar seus filhos. Todo esse procedimento originou uma aprovação do projeto pelo COMEPE (ver anexo02).

Após a aprovação, iniciamos o trabalho de campo, em princípio, com a obser- vação participante, mediante a qual foi possível uma aproximação com a professora e as crianças sujeitos da pesquisa. No decorrer da observação-participante, foram estabelecidos os contatos com as crianças em um clima amigável, que facilitou a realização dos desenhos e as entrevistas, procedimentos realizados na seqüência.

3.5.1 Observação-participante

A observação-participante foi direcionada ao conjunto da escola (professores, alunos selecionados e os demais da turma). Com este procedimento, compreende- mos que acontece um envolvimento do pesquisador com o universo da pesquisa, Nesta relação, tanto ele se modifica como é modificado. Optamos por fazê-lo acredi- tando na sua potencialidade em aproximar a visão do pesquisador à dos sujeitos que pretende pesquisar. Sendo assim, buscamos observar o cotidiano da sala de aula, durante as atividades de leitura, e, ainda, uma atividade narração de história, realizada na biblioteca, tendo por objetivo captar com olhar atento o comportamento das crianças selecionadas em interações com os seus colegas e professores, ne- cessárias para uma análise mais abrangente do autoconceito.

Durante o período da observação-participante em sala de aula, centramos o foco nas atividades de leitura propostas pela professora e observamos as interações dela com os alunos-leitores e os alunos não-leitores. Tentamos conhecer a forma como os alunos não-leitores participavam das atividades, se havia diferença entre os seus comportamentos e o comportamento dos alunos leitores. Fizemos ainda uma

análise das interações entre as crianças com dificuldades para ler e as consideradas bons leitores e os demais colegas.

3.5.2 Entrevistas semi-estruturadas

Estas foram direcionadas à professora e aos estudantes. Essa técnica nos permitiu abordar livremente o tema proposto. Inicialmente entrevistamos a professo- ra da sala de aula, tanto com o objetivo de identificar quais os alunos com dificulda- des de leitura e os leitores quanto para conhecer suas idéias a respeito de educa- ção, suas concepções sobre leitura, seu método de ensino, enfim um pouco de sua história, pois acreditamos que todas essas informações seriam importantes para a nossa investigação, como de fato nos proporcionaram o acesso a muitas situações importantes presentes em nossa análise.

Aos alunos expressamos questões sobre o aprendizado da leitura, as per- cepções sobre leitores e não-leitores e a repercussão da leitura na vida de cada um. Partimos de perguntas já formuladas e, à medida que fomos realizando as entrevis- tas, acrescentamos outras questões, quando houve necessidade de aprofundar ou complementar informações.

3.5.3 Técnicas de Desenho

Foi direcionada aos alunos a utilização de técnicas de desenho, em primeiro lugar pela possibilidade de que, em sua realização, as crianças pudessem se ex- pressar mais espontaneamente e por meio de suas idéias, concepções e percep- ções sobre si em relação á sua sala de aula. Propomos ao grupo de crianças sele- cionadas, seis não-leitores e cinco leitores, que realizassem dois desenhos diferen- tes:

· desenho da figura humana; e · desenho da sua sala de aula.

Após a realização dos desenhos, fizemos perguntas sobre a produção de ca- da um, utilizando para a figura humana perguntas retiradas do questionário que a- companha o Teste de Figura Humana, de Machover(1949), e sobre o desenho da sala de aula, solicitamos que eles se localizassem no ambiente e o descrevessem.

A escolha do desenho como um dos instrumentos teve como base a sua impor- tância como técnica projetiva e por ser um comunicador de conteúdos, por vezes implícitos ou incomunicáveis no discurso, especialmente no infantil. Outra vantagem é que, em sua realização, acionaram-se mecanismos conscientes e ou inconscientes explícitos e podem ser analisados de formas diferentes e por diferentes teorias, co- mo a Psicanálise e outras, como nos dizem significativamente Sylvie Delacours/Lins (2006) em título de artigo: “o que não dá para falar dá para desenhar”...

Sua utilização também como técnica projetiva reforça a idéia da valiosa contri- buição que pode fornecer sobre conteúdos internalizados ao longo da formação da personalidade. Esta prática baseia-se em diferentes estudos realizados que forne- cem evidências acerca da existência de projeções e identificações sobre si mesmo nas expressões do desenho da figura humana.

Neste sentido, julgamos que foi possível identificar características no desenho capazes de inferir sobre o autoconceito das crianças. Utilizamos para análise o teste da figura humana, de Machover (1949), e os trabalhos envolvendo os desenhos de Greig (2004),Di Leo (1991.), Abraham (1987). Os desenhos temáticos sobre a sala de aula e a escola complementaram as análises, na medida em que buscaremos perceber como a criança se posta ante a aprendizagem e o ambiente escolar.

4 OS DESENHOS DAS CRIANÇAS: REPRESENTAÇÕES DE SI MESMO E DA