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Sessão de filmagem nº 5 a solicitação de ajuda de alunos não-leitores à professora

6 A LEITURA EM SALA DE AULA

6.2 Sessão de filmagem nº 1 aula de leitura: desafio ou armadilha?

6.2.4 Sessão de filmagem nº 5 a solicitação de ajuda de alunos não-leitores à professora

Uma dupla formada por Mário e Mauro, alunos não-leitores e sujeitos de nos- sa pesquisa, passou despercebida pela professora, pois geralmente acontecia de estarem agrupados para a realização das atividades alunos leitores e alunos não- leitores. Após a explicação da atividade que consistia em colocar o texto com as fra- ses fatiadas na ordem correta, eles chamaram a professora para tirar dúvidas. Ela olhou como estava a produção dos dois e disse: - “a gente vai lá no texto e olha, aí coloca em ordem”. Um dos dois alunos não-leitores pergunta: “começa com ‘A’ não é?” A professora responde: É. E sai de perto deles. Os dois comemoraram o que já haviam feito e que foi aprovado pela professora. Eles ficaram se entreolhando, cada um com um pedaço do texto na mão, procurando saber qual era o próximo pedaço a ser colado. Mário olhou para o companheiro e, com uma expressão de empolgação, disse: “Faltam só três! Continuaram tentando pela associação dos pedaços com a letra inicial até conseguirem concluir. Então chamaram a professora. Ela retornou até eles, olhou o trabalho concluído e disse: “- Ok. Parabéns, é assim mesmo”! Ao ouvi- rem o elogio e a confirmação de que haviam terminado e estava correto, saíram pela sala de aula dando pulos, sorrindo e gritando que haviam terminado.

Nessa situação, mais uma vez ficam claras a necessidade e a satisfação de obter o reconhecimento da professora. Mesmo em uma dupla homogênea, em que os dois alunos apresentavam problemas de leitura, eles encontraram uma estratégia satisfatória e conseguiram realizar a atividade. Pena que a professora não tenha ex- plorado mais e melhor a atitude dos meninos e a estratégia utilizada, podendo po- tencializar o seu aprendizado! Ainda assim, porém, foi uma atividade que proporcio- nou sucesso aos dois meninos.

Outras situações de interação dos alunos leitores e alunos não-leitores mere- ceram por nós ser destacadas por envolverem vários alunos, em um mesmo contex- to, que julgamos necessário descrever a seguir

- Interação de aluna leitora com aluno não-leitor na lousa.

Ana, que é leitora, vai até a lousa onde estava colocado o texto completo es- crito numa folha de papel-madeira, para identificar qual parte do texto deveria ser escolhida para pô-lo na ordem correta. Um aluno não-leitor, ao vê-la neste local, foi até a lousa e começou também a procurar no papel-madeira a palavra que comple- tava a frase, acompanhando com os dedos as palavras do texto. Ana mostrou-lhe a palavra que ele estava procurando e voltou ao seu lugar. Em seguida, ele saiu gri- tando: “Achei!”. Voltou à carteira caminhando e olhando para o papel que estava em suas mãos.

- A hora da correção da atividade pela professora

A professora iniciou a correção da atividade e Josi respondeu gritando a res- posta correta. Téo, por sua vez, também gritou de onde estava que a professora ha- via escrito errado e, de fato, havia uma letra trocada aparentemente de propósito. A professora consertou o erro após a chamada de Téo, explicando que havia escrito errado para ver se eles realmente estavam prestando atenção. Ela repetiu esta for- ma de agir em muitas situações durante o período de observação. Ela dava aos alu- nos orientações não muito claras, escrevia palavras erradas na lousa ou lia palavras com erros de pronúncia propositadamente, conduzindo deste modo os alunos a errar para em seguida chamar a atenção deles para dizer que isto acontecia por não esta- rem fazendo do modo certo.

Ao longo da correção, a maioria dos alunos não-leitores apenas copiava da lousa as respostas corretas e um deles coçava a cabeça olhando para a professora, como se estivesse impaciente e sem saber o que fazer. Ana, de pé, respondia em voz alta, enquanto Caio ficava deitado em sua carteira, olhando para nós, rindo e acenando para a câmera. Marina também gritava a sua resposta para a professora.

Pudemos observar foi que os alunos leitores participavam com afinco da cor- reção, respondendo e discutindo entre si, enquanto os demais, alunos não-leitores, permaneciam passivos ou copiavam as respostas distraídos. Embora fossem em número menor, todas as atividades de aula ficavam concentradas nos alunos leitores

e em nenhum momento a professora perguntou se alguém da sala não havia enten- dido ou se precisava de algum esclarecimento.

No exercício seguinte sobre separação de sílabas Juliana utiliza um recurso interessante que atrai maior participação. Ela convida a todos para contar com pal- mas o número de sílabas das palavras escritas na lousa. Eles acompanham gritando o número de sílabas. Assim como em outras atividades, alguns participam e outros somente observam.

- Em busca de reconhecimento

Assim que terminou a correção, Henri correu e se posicionou na frente da pro- fessora, mostrando o caderno para ela e dizendo com animação que havia termina- do.

- leitura animada

A professora propôs a seguir uma “leitura animada”, pedindo que todos se le- vantassem e lessem pulando. Esta foi uma das atividades que acompanhamos, na qual houve a maior participação da turma, foi bem leve, com todos os alunos rindo e acompanhando a professora na leitura.

Caio, no início, participava, pulando e repetindo a leitura, mas pouco tempo depois parou, se dispersou, se virou e foi em direção ao final da sala. Em seguida, Juliana mudou as instruções, pedindo que lessem primeiro rindo e depois chorando.

O grupo começou a se dispersar e alguns deixaram de participar como no iní- cio. Ficavam conversando com o colega vizinho, folheavam o livro, mas a atividade continuou assim mesmo, perdendo o sentido, pois a sala tornou-se muito barulhenta e tumultuada. Bia chamou a atenção da professora para o fato de a atividade estar sendo repetitiva, dizendo: “-Está bom Tia, passe para outra coisa! Ninguém agüenta mais.!” Ao ouvir isto, a professora falou: “Pronto, está bom! Voltem aos seus luga- res.”

Nessa atividade, observamos vários pontos positivos, como a participação da maioria ou de quase todos os alunos, porém Juliana não conseguiu ir até o final da tarefa na administração e controle da situação. Ela também não demonstrou ter sensibilidade para interromper a atividade antes que os alunos ficassem dispersos e desatentos. Bia, porém, foi mais atenta do que ela, pois pediu que parasse, deixan- do claro que a atividade já não tinha sentido, porque a situação era repetitiva.