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Fontes teóricas que convergem para o uso do Portfolio

Parte 1 – Fundamentação Teórico-Concetual

1.6. Fontes teóricas que convergem para o uso do Portfolio

Os portfolios são uma expressão do Construtivismo, e o Construtivismo reflecte uma forma de pensar acerca da aprendizagem e do desenvolvimento humano.. Jones e Shelton (2006: 1)

Os princípios do Construtivismo no âmbito do ensino e da aprendizagem continuam a ser considerados uma visão epistemológica fundamental para a compreensão dos processos de construção do conhecimento e, como tal, bastante útil no domínio educativo. (Bickhard, 1998; John Staver, 1998; Novak, Minstzes e Wandersee, 2000; Gowing e Alvarez, 2005, cit. por Valadares e Moreira, 2009).

A teoria da aprendizagem significativa (parte integrante de uma visão da construção do conhecimento), designada por Joseph Novack (1990, cit. por Valadares e Moreira, 2009: 12- 15) de Construtivismo Humano, é aquela que, do nosso ponto de vista, pelos princípios que lhes estão subjacentes, melhor se coaduna com os princípios inerentes à conceção e desenvolvimento do portfolio:

(i) todo o ser humano é um captador de significados (...) a aprendizagem só é enriquecedora se conduzir a significados acerca daquilo que se aprende e a uma mudança na experiência de quem aprende;

(ii) a estrutura cognitiva complexa de cada ser humano tem uma importância decisiva na construção do seu próprio conhecimento (...) o factor singular mais importante que influencia a aprendizagem é o que o aluno já sabe.

aprendizagens significativas16 na medida em que estas decorrem do conhecimento prévio e, como tal, representam uma janela para a aprendizagem autêntica enquanto ferramenta que reflete o processo de aprendizagem.

Segundo Novak (2000, cit. por Valadares e Moreira, 2009: 16) o ser humano tem pensamentos, sentimentos e acções que juntos formam significados de experiências. Então, a interpretação que faz se da realidade estará sempre imbuída de um certo subjectivismo e intersubjetivismo. Neste sentido, podemos dizer que a concepção do portfolio docente está associada uma visão construtivista da aprendizagem.

Tal como já foi referido, a teoria construtivista é referência nas políticas seguidas pela educação. Por conseguinte, é suposto que o professor conheça as teorias educacionais ou as teorias que estão na base das metodologias e estratégias que empreende, para se atingirem os objectivos inerentes às reformas educacionais. A prática educativa pressupõe, deste modo, uma base filosófica e a sua sistemática implementação para se atingirem os objectivos educacionais. Portanto, os professores devem ter perspetivas claras acerca dos princípios filosóficos e teorias que regem a sua ação educativa.

De acordo com os princípios da aprendizagem construtivista, todo o conhecimento é pessoal e idiossincrático. A aprendizagem é um processo que visa dar significado ao mundo. As experiências e os conhecimentos prévios são fatores da aprendizagem e o princípio do portfolio docente centra-se na auto-avaliação, parte integrante do seu processo de construção. Sendo a aprendizagem um processo individual, construído com base nos conhecimentos prévios, a estratégia do portfolio desenvolve e promove competências reflexivas que, além de atribuírem autenticidade à auto-avaliação, por poderem ser verificadas pelos professores, proporcionam feedback construtivos conferindo ao processo de avaliação uma dimensão construtiva de significados (Atienza, 2009).

A abordagem construtivista na educação é largamente aceite e proeminente no processo de ensino e de aprendizagem. A sua base conceptual e teórica assenta nos trabalhos desenvolvidos nas últimas décadas por Dewey, Kelly, Montessory, Piaget, Bruner e Vogotsky. Ao contrário da educação tradicional, que perspetiva o aluno como um ouvinte passivo,                                                                                                                

16  Aprendizagem significativa é um conceito compatível com várias teorias, neste sentido é um conceito suprateórico.

proporcionando-lhe um conjunto predeterminado de objetivos, trabalhados através de abordagens centradas no professor e em processos avaliativos, também eles, centrados no professor, no Construtivismo, aspectos como as caraterísticas individuais dos alunos e as suas preferências e escolhas constituem factores importantes no processo de ensino e de aprendizagem – a individualidade e a subjectividade destacam-se como componentes deste novo paradigma (Kottalil, 2009).

O Construtivismo tem implicações nas teorias pedagógicas, assim como na investigação, encoraja os profissionais a construírem o seu próprio conhecimento a partir das suas experiências enquanto profissionais que refletem sobre as suas prática. Esta assunção foi enriquecida pelas ideias de John Dewey e William James; pelos trabalhos de Jean Piaget, de Lev Vigotsky, de Jerome Bruner e Ernest von Glasersfeld, e a sua génese remonta aos filósofos Vico e Kante (Kottalil, 2009).

O construtivismo, reiteramos, enfatiza um tipo de conhecimento que é construído pelos indivíduos a partir das suas experiências, por isso, pressupõe que estas tenham qualidade e sejam reais. A aprendizagem em contextos, através actividades significativas, promove aprendizagens mais sólidas e duradouras. Isto porque o conhecimento não é passivamente recebido, mas construído individualmente ou em grupos a partir dos significados que se vão atribuindo a essas mesmas experiências. Assim, o conhecimento é temporário, não-objetivo, internamente construído, desenvolvido socialmente e culturalmente mediatizado. Não é por isso independente do conhecimento prévio, das crenças, dos valores e da experiências dos indivíduos (Valadares e Moreira, 2009).

Por conseguinte, cada indivíduo constrói as suas ideias de acordo com um modelo de pensamento próprio, deslocando para esse processo os resultados de experiências passadas e convicções, a par da sua história cultural e conceções. O ensino, a partir de uma abordagem construtivista, proporciona aos alunos e professores experiências concretas nas quais os professores podem procurar modelos e construir as suas próprias teorias.

Schön (1983, cit, por Atienza, 2009), na sua teoria prática-reflexiva, simboliza o professor que reflete permanentemente sobre a sua prática de ensino com o intuito de melhorá- la, considerando que a investigação está ao serviço da docência.

Esta premissa é, talvez, a chave pela qual devemos encarar o atual apogeu do portfolio enquanto instrumento de formação e aprendizagem. Como tal, espera-se que o professor seja

reflexivo, que questione as teorias existentes, perspectivando-as através das situações observadas, de forma a que essas mesmas teorias se tornem necessariamente aplicáveis. Constata-se, assim, uma reviravolta: é a partir das práticas docentes que se procuram as respostas para as teorias. Logo, o professor assume o protagonismo da criação do conhecimento e o portfolio, nesse âmbito, converte-se numa ferramenta que promove e canaliza essa observação e reflexão sobre as práticas.

Lewin (1943, cit. por Atienza, 2009) introduziu o termo investigaçã-acção, com a qual quis descrever um sistema de investigação que liga o enfoque experimental da ciência social a programas de ação social que respondam a problemas concretos. Desde esta perspetiva social, o conceito foi transferido ao âmbito da educação por Stenhouse (1975, cit. por Atienza, 2009). A investigação na ação aplicada à educação propunha que o docente podia fazer uma investigação sistemática sobre a sua própria ação educativa com o objetivo de melhorá-la.

Nesta ótica, o professor é também um investigador e observador, em que a resolução de problemas (por ele delimitados) se processa através de uma metodologia consistente com os procedimentos inerentes à estratégia do portfolio – coleta, sistematização e confrontação de informação. Estes dados podem ser recolhidos a partir que podem ser os diários do professor, registos de aulas, planificações, revisões, avaliações, vídeos, etc. (Atienza, 2009). Por conseguinte, o portfolio vai fortalecer esta abordagem epistemológica e metodológica, mas também se “alimenta” dos pressupostos teóricos da prática reflexiva, enquanto herdeiro das abordagens metodológicas da investigação-ação.

De acordo com os princípios da aprendizagem construtivista, todas as aprendizagens são culturalmente construídas e a interação social desempenha um papel importante no processo de aprendizagem, constituindo um dos princípios do portfolio, uma vez que este proporciona uma nova perspectiva da aprendizagem, tanto para os alunos como para professores.