Capítulo 2 Mecanismo de Emissão e Desprendimento de Vórtices
2.5 Forças Fluido-Dinâmicas, VIV, Número de Strouhal e Lock-in
É muito claro que, estando o cilindro imerso em um escoamento fluido, haverá um
campo de pressões aplicado em toda a sua superfície, campo este que basicamente
depende do campo de velocidades gerado no escoamento. A ação desta pressão
resulta em uma força fluida aplicada ao cilindro.
Inicialmente, considere o escoamento ao redor de um cilindro com separação das
camadas cisalhantes, mas sem o desprendimento de vórtices. Nesta situação, o
campo de pressões pode ser observado na Figura 2.12.
Figura 2.12 – Campo de pressões na parede do cilindro; escoamento separado
sem desprendimento de vórtices. Extraído de ÁSSI (2005).
Neste caso, note que o campo de pressões é simétrico com relação ao eixo horizontal,
de modo que a resultante da força fluida aplicada ao cilindro tem a mesma direção do
escoamento incidente (não-perturbado). Esta força, resultado da integral do campo de
pressões na superfície do cilindro é chamada força de arrasto (drag, em inglês)
Existe ainda uma força de arrasto de fricção, resultante do atrito entre o fluido
viscoso e o cilindro, F
Df. A força de arrasto total F
Dé então o resultado da soma
destas duas componentes, segundo mostra a Equação (2.2):
Df Dp
D
F F
F (2.2)
Suponha agora que a o desprendimento alternado de vórtices tenha se iniciado. O
campo de pressões é alterado e varia ao longo do tempo. Em determinado instante,
devido à formação de vórtices, o campo de pressões fica como esquematizado na
Figura 2.13.
Figura 2.13 – Campo de pressões na parede do cilindro; desprendimento de
vórtices iniciado. Extraído de ÁSSI (2005).
Neste caso, o campo de pressões perde a simetria no eixo horizontal, de modo que a
força fluida aplicada ao cilindro, novamente resultado da integral do campo de
pressões na superfície do cilindro, tem uma componente na direção do escoamento
perturbado e uma componente na direção perpendicular ao escoamento
não-perturbado.
Como já visto, a parcela da força que tem a direção do escoamento não-perturbado é
chamada força de arrasto F
D. A outra parcela é chamada força de sustentação (lift,
O interessante é que, à medida que os ciclos de emissão e desprendimento de vórtices
vão transcorrendo, as forças de arrasto (em menor escala) e de sustentação vão
variando; para um cilindro, é de se esperar uma variação muito próxima de
harmônica. Podem-se dividir as forças de arrasto e sustentação totais em suas
parcelas médias e oscilantes, segundo a Equação (2.3):
'
'
L L L D D DF
F
F
F
F
F
(2.3)
onde as parcelas F
De F
Lsão as parcelas médias e F
D' e F
L' são as parcelas
oscilantes. Como será visto a seguir, o valor médio da sustentação é nulo.
Para um cilindro isolado, a força de arrasto total mantém seu sentido (de montante
para jusante) durante todo o processo. Já a força de sustentação inverte seu sentido de
acordo com o local de maior vorticidade, isto é, quando um vórtice está à beira de se
desprender da parte superior do cilindro, a força de sustentação “empurra” o cilindro
para cima e vice-versa.
Desta forma, devido à própria natureza de emissão e desprendimento alternado de
vórtices, a oscilação das forças fluidas, principalmente da força de sustentação, causa
o fenômeno de vibrações induzidas por vórtices (VIV) num cilindro flexível ou
rígido montado em base elástica.
Na prática, a medição que se obtém através de experimentos não é o campo de
pressões, mas sim a força aplicada sobre o cilindro. É possível então
adimensionalizar tais forças utilizando para tal a pressão dinâmica
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1 U e a área
projetada do cilindro exposta ao escoamento LD, sendo L o comprimento do
cilindro e D seu diâmetro. Desta forma, são introduzidos os coeficientes de arrasto
D