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CAPÍTULO 2 – REVELANDO CARACTERÍSTICAS E TENDÊNCIAS DOS

2.1 Formação de Professores e Diversidade Cultural

A categoria formação de professores e diversidade cultural, no trabalho de Moreira (2001), foi considerada aquela que abarcou os estudos sobre questões referentes à concepção de multiculturalismo, à diversidade cultural, à diferença cultural, à desigualdade socioeconômica, à identidade cultural, às culturas na escola, à tensão universalismo versus relativismo e às condições educacionais de alguns grupos de imigrantes. Aqui em nosso estudo, essa foi a categoria mais focalizada, tendo sido abordada em mais de 50% dos textos selecionados. Além de servirmos-nos das definições de Moreira (2001), acrescentamos que estudos referentes à cidadania cultural, à emancipação e transformação social, aos direitos humanos, às práticas de reflexão sobre a diversidade cultural na escola e à inclusão sociocultural também compuseram o que chamamos de formação de professores e diversidade cultural.

Nos 8 artigos selecionados, verifica-se a seguinte situação: o texto de Canen, Arbache e Franco (2001) adota uma concepção ampla de multiculturalismo, discutindo, inclusive, os conceitos de trabalho explicitamente multicultural e com potencial. A partir de uma pesquisa de revisão de literatura, as autoras procuraram apontar de que maneira o multiculturalismo foi pesquisado nas dissertações e teses defendidas entre os anos de 1981 e 1996. Canen e Andrade (2005) buscaram compreender de que maneira professores formadores, atuantes no nível universitário, constroem seus discursos sobre pesquisa em educação e sua contribuição para a formação inicial de professores.

Para os estudos considerados como pertencentes à categoria “políticas e propostas de formação”, Moreira (2001) firma-se nos conceitos de cultura e diversidade cultural para resgatar a dimensão política da formação de professores. A partir dessa perspectiva, faz alusão ao tipo de professor que se pretende formar e à necessária reflexão sobre o significado de se assumir a formação de professores como um compromisso político. Canen (2001) toma como base os conceitos de universos culturais e representações docentes, para investigar de que maneira a formação pode propiciar o contato com os universos culturais dos alunos, e como se contrapõem a cultura da escola e a cultura do aluno. Para tanto, assume a perspectiva de diálogo entre a formação de professores e o universo e representações culturais dos alunos. Por fim,

Canen e Xavier (2005), em um trabalho de análise documental sobre as Diretrizes Curriculares para a Formação Docente explicitam uma concepção ampla de multiculturalismo, auscultando de que maneira o documento propicia ou não a formação de professores na perspectiva da multiculturalidade.

Dois artigos focalizaram a “formação inicial de professores” e a diversidade cultural. Carvalho (2001) busca refletir sobre as relações entre escola, cultura e sociedade e suas contribuições e influências para a formação de professores nos cursos de Pedagogia e História, utilizando os conceitos de cidadania cultural e cultura escolar. Santos (2004), analisando a formação de professores em nível médio, assume a disciplina de Filosofia da Educação como tendo inspiração multicultural. A partir dessa perspectiva, defende que a formação de futuros professores deve centrar energias no trabalho com representações, estratégias, visões e preconceitos que os alunos tenham, visando à quebra de estereótipos e alertando os futuros professores sobre a diversidade cultural presente na sociedade.

O único artigo sobre a “formação continuada” é o de Canen e Santos (2006). Nele, as autoras analisam a formação continuada de professores coordenadores e gestores na perspectiva do que elas denominam multiculturalismo pós-colonial. A partir dessa perspectiva teórica, as autoras buscaram compreender as formas pelas quais os sujeitos envolvidos constroem e reconstroem suas identidades, posicionando-se no mundo como sujeitos multiculturais, bem como esse reposicionamento leva-os a interferirem na elaboração de materiais didáticos para a equipe com as quais trabalham.

Entre os trabalhos selecionados para apresentação na Reunião Anual da ANPEd, a categoria formação de professores e diversidade cultural foi focalizada em 6 textos. O primeiro, de Canen, Arbache e Franco (2000) foi publicado em periódico no ano seguinte (CANEN, ARBACHE & FRANCO, 2001), constituindo-se como revisão de literatura. Xavier (2002), privilegiando a formação inicial em instituto superior de educação, buscou analisar quais seriam as possibilidades de uma educação sensível à diversidade cultural presente na sociedade. Canen (2005) também focaliza a formação inicial de professores em nível superior, mas no curso de Pedagogia. A autora busca investigar como trabalhar multiculturalmente sobre pesquisa na formação docente, isto é, como ensinar a se fazer pesquisa na perspectiva multicultural, bem como formar professores pesquisadores para a atuação reflexiva a partir dessa perspectiva.

Andrade (2003), abarcando o trabalho docente no ensino fundamental, busca refletir sobre as relações entre cidadania, educação e cultura, bem como as relações entre a escola e a convivência social. Tal texto recorre a uma investigação sobre as representações que os professores, atuantes nesse nível de ensino, fazem sobre a educação para a cidadania e como desenvolvem sua prática tendo em vista a diversidade cultural presente na sala de aula.

Frangella (2005), em estudo sobre as políticas curriculares para a formação docente, recorre ao conceito de identidade e suas relações com o currículo, buscando discutir a construção de uma identidade docente. Para tanto, a autora assume a existência de uma identidade cultural, tentando investigar como o currículo interage em sua construção. Finalmente, Moita e Andrade (2006) privilegiam o subtema propostas e políticas de formação com ênfase na formação continuada, destacando a importância das oficinas pedagógicas, tomadas como recurso metodológico, um dispositivo pedagógico para a formação de docentes e educadores populares.

Os trabalhos apresentados no ENDIPE e que foram considerados como preocupados com a categoria formação de professores e diversidade cultural, podem ser organizados da forma exposta a seguir. No subtema identidade e profissionalização docente, somente o trabalho de Novikoff (2002) foi considerado como concernente a esta categoria. Nele, a autora discute a identidade a partir do conceito de alteridade e como ele pode contribuir na compreensão dos princípios de igualdade. Na categoria revisão de literatura, Frangella e Pontes (2002) investigam quais seriam os desafios que estão postos para se pensar a formação de professores em uma perspectiva multicultural, a partir de resultados de trabalhos apresentados no ENDIPE e em artigos publicados em periódicos, entre os anos de 1995 e 2000.

A formação inicial de professores foi focalizada em 4 trabalhos (NARDI 2002, MACHADO, 2004; LIMA, 2006; MOREIRA, 2006). Nardi (2002) debruça-se sobre a formação inicial de professores em cursos de licenciatura, neste caso, a licenciatura em Física. Para tanto, busca estabelecer uma proposta para a formação inicial de professores, tomando como alicerce a perspectiva emancipatória de Paulo Freire. Já Machado (2004) e Lima (2006), tentando compreender a concepção do professor como intelectual reflexivo, questiona se o curso de Pedagogia pode ser considerado um espaço para a formação desse profissional. Moreira (2006) realiza uma investigação sobre a

maneira pela qual a identidade cultural é abordada no curso de Pedagogia, defendendo que tal temática deve estar mais presente nesse momento de preparação do professorado.

O subtema “trabalho docente” também foi contemplado nos estudos sobre formação de professores e diversidade cultural. No que se refere a isso, Xavier (2002) focalizou os caminhos que pudessem conduzir a repensar e a revalorizar o papel do professor como ator social. Para tanto, investiga discursos de sujeitos atuantes no ensino superior e como esses discursos influenciam a construção de uma identidade multicultural. Couto e Fonseca (2004) focalizam a formação de professores de História. Nesse estudo, as autoras discutem a construção dos saberes dos professores formadores no curso de História, e de que maneira esses saberes atuam na busca por uma educação multicultural. Por fim, o texto de Costa (2006) focaliza o compartilhamento de saberes acerca das concepções de prática e de competência de estudos sobre a formação de educadores musicais. Nele, busca-se discutir de que maneira a perspectiva intercultural influencia a definição de um Projeto Político Pedagógico.

Um último subtema para a categoria formação de professores e diversidade cultural diz respeito às “propostas e políticas de formação”. Neste sentido, Sá e Canha (2003) estabelecem análises sobre o conceito de competência intercultural, analisando as suas implicações didáticas, visando à formação de professores de línguas no contexto do projeto europeu ILTE – Intercomprehension in Language Teacher Education. O texto de Costa (2002) traz reflexões sobre as discussões contemporâneas acerca da cultura, destacando os Estudos Culturais, e como tal campo pode contribuir para integrar as pautas dos cursos de formação de professores, sobretudo, por meio das discussões sobre identidade e diferença. Araújo e Senna (2004) refletem sobre o conceito de interdisciplinaridade, tendo em vista a construção de uma educação inclusiva, e como isso reverbera no currículo da formação de professores. No trabalho de Teófilo (2004) o foco foi a formação de professores na perspectiva inclusiva, tendo em vista a preparação para lidar com os alunos de diferentes estratos sociais e culturais.

Tomazzetti (2006) analisa as contribuições da educação multicultural para a formação de professores com vistas à educação da primeira infância. Melo (2006), ao focalizar as políticas e propostas de formação, analisa o Movimento de Educadores em Direitos Humanos e suas contribuições para a formação de professores, podendo ser

considerado um estudo sobre o subtema novos loci para a formação docente. Glat et al. (2006) focalizam a formação de professores para a educação inclusiva, tendo como referência a legislação nacional específica do MEC e os resultados de pesquisas realizadas em âmbito nacional. Por fim, Silva e Santiago (2006) discutem as questões políticas e pedagógicas que são inerentes à construção de um modelo emancipador para a formação de professores.