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ESTADO DE PERNAMBUCO

2.3 Governo Jarbas Vasconcelos (1999-2006): início da modernização gerencial na educação pública estadual pernambucana

2.3.1 Formação de professores no contexto da Reforma da Educação em Pernambuco (1999-2006)

De acordo com o Governo de Pernambuco, a necessidade da elaboração de políticas para a formação de professores no Estado surgiu diante do diagnóstico, apresentado pelo Plano Estadual de Educação (2000-2009), do reduzido número de professores com a certificação mínima exigida pela LDB (1996) (PERNAMBUCO, 2011a). Segundo a LDB (1996), em seu artigo 62º, a formação de docentes para atuar na educação básica deverá ser realizada em nível superior, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na Educação Infantil e nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental; a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.

De acordo com o PEE de Pernambuco (2000-2009), o número de docentes que lecionavam nos primeiros anos do Ensino Fundamental exercendo suas atividades com titulação inferior ao Ensino Médio era de aproximadamente 70%, e os que atuavam nos anos finais desse mesmo nível sem o ensino superior chegavam a 10% (PERNAMBUCO, 2002a).

Outro aspecto negativo apresentado pelo PEE (2000-2009) se refere aos baixos índices educacionais obtidos pelos estudantes das escolas públicas no estado, resultados abaixo da média nacional nos no Ensino Fundamental e Médio (PERNAMBUCO, 2002a). Para superação desse cenário, a Secretaria de Educação de Pernambuco, por meio do PEE (2000-2009), considerou os docentes como fundamentais para a melhoria da qualidade de educação, advogando que a certificação docente teria relação direta com a melhoria dos resultados educacionais (PERNAMBUCO, 2002a).

Para mudar o quadro da baixa qualificação docente, o governo do estado, segundo relatório de gestão da Secretaria de Educação (1999-2006), empreendeu diversas ações. Essas ações buscaram promover a certificação de professores por meio de cursos de graduação ou pós-graduação, implantar as reformas educacionais a partir do estudo dos documentos norteadores da educação em nível federal, estimular a participação de empresas privadas no financiamento e na condução dos programas de formação de

professores e utilizar mecanismos de avaliação como referência para o planejamento de políticas de formação docente (PERNAMBUCO, 2002a).

Dentre os principais projetos e programas de formação de professores realizados pela Secretaria de Educação de Pernambuco no período de 1999 a 2006, destacamos os seguintes:

QUADRO 2. PROGRAMAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES (1999-2006)

Programa/ projeto Objetivo Público alvo Financ. nº prof.

atendidos 1. Cursos de especialização para professores escolares (1999/2006)

Elevar a escolaridade, levando os docentes a refletirem sua prática pedagógica, repensar conteúdos mais relevantes e metodológicos

de formação, compreender

atividades que favoreçam a construção de uma nova prática interdisciplinar e contextualizada.

Professores da rede pública estadual de ensino dos níveis fundamental

(História/Geografia) e médio

(Histórica, Geografia,

Sociologia, Filosofia,

Matemática, Química, Física e Biologia) Secretaria de Educação e Projeto Alvorada 14 998 2. Projeto Professor Ricardo Ferreira (2005/2006)

Preparar professores formadores da rede pública estadual para acompanhar e apoiar mudanças nos modelos de ensino dos

professores participantes do

projeto.

Professores da área de Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias. Secretaria de Educação 221 3. Projeto Graciliano Ramos (2005)

Contribuir para aprimorar a

prática pedagógica dos

professores promovendo o

intercâmbio entre escolas do ensino médio.

Professores do ensino médio.

Secretaria de Educação e Projeto Alvorada 1596 4. Programa Qualiescola (1999/2006) Promover a melhoria do

desempenho escolar em língua portuguesa e matemática dos alunos de 1ª a 4ª séries tomando

como referência os

conteúdos/habilidades das séries

previstas nos Parâmetros

Curriculares Nacionais.

Professores, educadores de apoio, diretores que atuam nos quatro primeiros anos do ensino fundamental. Recurso do Tesouro/ Salário Educação e Instituto Qualidade da Educação (IQE) 25.336 5. Programa Especial de Graduação em Pedagogia (PROGRAPE) (2003-2006) Desenvolver o perfil de

profissional necessário para fazer com que o patamar da qualidade da Educação do Estado seja elevado e sintonizado com as novas orientações curriculares para a educação básica

Professores da educação infantil e do ensino fundamental (1ª a 4ª séries). Secretaria de Educação e Projeto Alvorada 4.188 6. Programa Qualidade no Ensino (PQE) (1999)

Melhorar o desempenho dos alunos de 1ª a 4ª séries nas

avaliações de português e

matemática realizadas pelos

sistemas de avaliação estadual e federal. Professores do ensino fundamental (1ª a 4ª séries) Secretaria de Educação e Aliança empresa- rial Pró- Educação 150

TOTAL DE DOCENTES ATENDIDOS 32.489

FONTE: Quadro elaborado a partir de informações contidas no PEE (2000-2009) e pelo Relatório de Gestão da Secretaria de Educação (1999-2006).

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Projeto Alvorada foi criado em 2000 como uma ação coordenada de vários ministérios e órgãos públicos federais, utilizando recursos exclusivos do Tesouro Nacional, tendo como missão reforçar e intensificar o gerenciamento de ações para reduzir as desigualdades regionais por meio da melhoria das condições de vida da população dos estados que apresentavam Índice de Desenvolvimento Humano – IDH inferior a 0,5. Foram beneficiados os estados do Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rondônia, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins. O projeto previu investimentos em construção, reforma e ampliação de escolas de Ensino Médio, aquisição de equipamentos, mobiliários e material didático, além da capacitação de docentes, cujas metas compreendem o atendimento a 1,5 milhão de alunos de escolas públicas dos estados participantes (BRASIL, 2012).

Os programas de formação mais abrangentes em número de atendidos envolveram os professores das séries iniciais do Ensino Fundamental, especialmente por meio dos programas Qualiescola e PROGRAPE. A ênfase no atendimento a esses professores pode ser justificada, por um lado, pelos baixos índices no desempenho dos alunos dessa etapa no SAEB desde 1997, comparado com a média do Brasil e do Nordeste. Por outro, para contribuir com a superação da baixa qualificação docente no estado, tomando como referência a titulação mínima para atuar nesse nível de ensino pela LDB (1996).

Com o objetivo de superar os baixos índices obtidos pelos estudantes nas avaliações de desempenho, os programas estiveram direcionados para a adequação dos docentes ao processo de reforma da educação da década de 1990, representados pelos parâmetros e diretrizes curriculares nacionais, em especial nos componentes de português e matemática, avaliados nos sistemas de avaliação nacional e estadual.

As iniciativas destinadas à formação em nível superior dos professores que atuavam na docência de 1ª a 4ª séries tiveram como meta o cumprimento das políticas de formação docente estabelecidas pelo PEE (2000-2009), no sentido de assegurar que, no prazo de cinco anos, todos os docentes em exercício na Educação Infantil e no Ensino Fundamental tivessem a titulação mínima estabelecida pela LDB (1996) (PERNAMBUCO, 2002a).

Os programas de formação de professores destinados aos docentes que atuam no Ensino Médio, pelo menos na etapa inicial da reforma da educação no estado de Pernambuco (1999-2006), não tiveram orientações diretas para a adequação aos documentos federais norteadores desse nível de ensino. Entretanto, nos cursos de especialização ofertados aos professores do Ensino Médio da rede pública estadual, pode ser identificada uma orientação geral para o estímulo à perspectiva da interdisciplinaridade e da contextualização, em conformidade com os parâmetros curriculares nacionais.

A incorporação dos princípios da reforma educacional no país foi apresentada como necessária para mudar o cenário da baixa qualidade do ensino no estado. Segundo o PEE (2000-2009), para melhorar essa qualidade, era necessário criar uma rede de formação que assegurasse, a médio e a longo prazo a implantação das reformas curriculares propostas para a educação básica nacional.

Em praticamente todos os programas de formação docente desenvolvidos em Pernambuco observa-se a articulação da Secretaria de Educação com empresas de

assessoria, como o Instituto Qualidade da Educação (IQE) e a Aliança Empresarial Pró- Educação15. A partir da década de 1990, sobretudo no Governo Vasconcelos (1999- 2006), como consequência do processo de reforma do estado, essas empresas começaram atuar como intelectuais orgânicos na definição das políticas públicas educacionais no estado de Pernambuco, assumindo a bandeira da responsabilidade social, passaram a propor, coordenar e avaliar as políticas educacionais no estado, com destaque para a formação docente.

Segundo Martins (2008), as iniciativas que visam incentivar as práticas de “voluntariado” e legitimar as empresas como organismos “socialmente responsáveis” são exemplos da atuação das forças do capital para produzir e consolidar um novo padrão de sociabilidade, pautado na colaboração entre o aparelho de estado e a sociedade civil. É importante destacar, que nessa perspectiva, o conceito de sociedade civil é reduzido à noção de terceiro setor. Essas iniciativas acabaram permitindo o surgimento de uma direita para o social, ou seja, num amplo agrupamento de empresários que passa a atuar na ampliação dos horizontes de luta política por meio de intervenções sistemáticas nas “questões sociais”.

A reforma educacional de Pernambuco, desde o início dos anos 2000, contou com a participação efetiva desses grupos empresariais e seus institutos na definição das políticas públicas, com destaque para o setor social e educacional. Foi intensificada no Governo Eduardo Campos (2007-2010), que contribuiu para a consolidação do modelo gerencial da educação, reforçando os princípios de racionalidade, eficiência e produtividade como discutido na sequência.

15A Aliança Empresarial Pró-educação de Pernambuco desenvolve, desde 1999, o Programa Qualidade

no Ensino. É formada por 36 empresas, entre elas: Celpe- Grupo Neoenergia, Chesf - Companhia Hidroelétrica do São Francisco, Colégio Fazer Crescer, Construtora Queiroz Galvão, Faculdade Santa Helena, Gerdau S/A, Maximagem Diagnóstico por Imagem, Philips do Brasil, Tim Nordeste S/A,Wal- Mart Brasil, White Martins Gases Industriais do Nordeste S/A, Centro Diagnóstico Boris Berenstein, Clínica Radiológica e Ultrassonografia, Imax- Diagnósticos Médicos, Maximagem Diagnóstico por Imagem, Acripel Pharma, entre outras. As empresas contribuem com uma taxa mensal de R$ 800,00 (valor referente ao ano 2000), aplicada na capacitação e apoio dos professores das escolas. O objetivo da aliança é contribuir para o desenvolvimento da qualidade do ensino no estado. O Programa é desenvolvido pelo Instituto Qualidade no Ensino (ICE) e atua nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática, consideradas fundamentais para a aprendizagem de outras disciplinas. Sua meta pedagógica é fazer com que 75% dos alunos dominem, nessas duas áreas do conhecimento, pelo menos 70% dos conteúdos e habilidades contidos nos parâmetros curriculares nacionais elaborados pelo MEC (ANDRADE, 2000).

2.4 Aprofundamento da modernização gerencial na educação pública estadual de