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FORMAÇÃO DE PROFESSORES NUMA PERSPECTIVA CRÍTICO COLABORATIVA

No documento mariadarcilenedearagao (páginas 58-61)

GT 16 EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO

3. FORMAÇÃO DO PROFESSOR NA/PARA EDUCAÇÃO INFANTIL

3.2. FORMAÇÃO DE PROFESSORES NUMA PERSPECTIVA CRÍTICO COLABORATIVA

Formação de professores numa perspectiva crítico colaborativa ou formação crítica em contexto de colaboração refere-se a uma concepção de reflexão crítica, de tomada de consciência, de construção criativa de significados, na qual “os participantes arriscam-se emocional e intelectualmente na exposição, negociação e no desenvolvimento de seus pontos de vista” (LIBERALLI, 2008, p.12). Assim, considerando que os sujeitos são capazes de estabelecer mudanças constantes e profundas em seus contextos e na sociedade como um todo, propicia-se a participação de todos os integrantes no processo de construção do conhecimento e de questionamento das ações, suas e de outros, possibilitado a transformação do ser humano e, em consequência disso, do profissional.

Passaremos agora, à busca por um diálogo com algumas categorias teóricas que nos auxiliarão na compreensão do alicerce da concepção da formação aqui investigada.

Para Bakhtin e Vigostki, o sujeito é constituído de fora para dentro, pela linguagem e a partir do diálogo e da interação verbal com o outro, sendo a

palavra o indicador das transformações sociais. Segundo Vigotski (2008), é no

discurso e pelo discurso que se elabora o conhecimento. Nesse sentido, os indivíduos se constituem na alteridade, nas relações dialógicas e valorativas com os sujeitos, opiniões e dizeres. Assim, o sujeito se constitui e se

transforma através das interações, das palavras e dos signos. (BAKHTIN, 2009). Para o autor, ouvir e falar são movimentos de uma mesma atividade. Nesta, nossas respostas são contrapalavras às palavras do outro, na troca de signos alheios por signos próprios: assim é construída a compreensão ativa e responsiva. Pois, “ao mesmo tempo em que sou responsável pelo que faço e digo, também faço e digo em resposta a uma série de elementos presentes em minha vida como signos.”: é o que Bakhtin chama de responsabilidade e responsividade (BAKHTIN, 2009, p. 90).

A contrapalavra ocorre na dialogia, ou seja, na atividade do diálogo, da alternância dos sujeitos do discurso. A dialogia pode ocorrer: entre objetos (coisas, fenômenos físicos, químicos, relações lógicas, linguísticas, matemáticas etc.); entre sujeito e objeto; e entre sujeitos – considerando que o sujeito é produtor de linguagem, de enunciados e discursos, e que toda palavra procede de alguém e se dirige para alguém. Nesse processo, é indispensável que emissor e ouvinte pertençam à mesma comunidade linguística.

Outras categorias importantes para a compreensão desta concepção de formação de professores são: Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), sentido e significado.

Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), formulada por Vigostki,

é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VIGOTSKI, 2007, p. 97).

Desta forma, a ZDP pode ocorrer entre crianças e adultos, crianças e crianças; e adultos e adultos, em que um sujeito mais experiente auxilia o outro na compreensão e ou realização de algo. Isso se dá por meio de uma zona de conflito e tensão – neste caso, entre teoria-prática, numa arena de sentidos e significados. Esta arena permite a participação de todos os envolvidos numa alternância de “mediação”, entre formadores e cursistas, numa cadeia criativa (CC), que “implica parceiros em uma atividade, produzindo significados compartilhados que têm como consequência auxiliar o outro na compreensão teoria e prática de determinada ação” (LIBERALLI, 2004, p. 77).

Sentido e significado, segundo Vigotiski, são dois movimentos indissociáveis.

Sentido é a soma de todos os eventos psicológicos que a palavra desperta em nossa consciência. É um todo complexo, fluido e dinâmico, que tem várias zonas de estabilidade desigual. O significado é apenas uma das zonas do sentido, a mais estável e precisa. Uma palavra adquire o seu sentido no contexto em que surge: em contextos diferentes, altera o sentido. O significado permanece estável ao longo de todas as alterações do sentido. O significado dicionarizado de uma palavra nada mais é do que uma pedra no edifício do sentido, não passa de uma potencialidade que se realiza de formas diversas na fala. (VIGOTISKI, 2008, p.181)

Desse modo, a formação do curso aqui investigado buscou propiciar uma zona de conflito de sentidos e significados que fossem refletidos, produzidos, e negociados entre todos os participantes, cursistas e formadores, na dialogia entre teoria e prática.

A formação crítico colaborativa é marcada pela descrição, contextualização e discussão das teorias que embasam as ações. A formação, nessa perspectiva, é realizada em quatro etapas caracterizadas pelo descrever, informar, confrontar e reconstruir (LIBERALLI, 2008).

Descrever consiste em rever sua própria ação e conhecê-la, no sentido

de tomar consciência do que foi feito, do que aconteceu, buscando entender seu cotidiano. Nessa etapa, é preciso atentar para a apresentação do contexto em que se insere o ocorrido, descrevendo por escrito as ações de forma detalhada.

Informar caracteriza-se pela busca de embasamento, conscientemente

ou não, das ações por meio do registro da metodologia, da dinâmica e dos procedimentos que dão suporte à ação descrita. Isso é feito tendo em vista que tipo de conhecimento as ações de sala de aula estariam privilegiando.

Confrontar consiste em analisar as visões e ações docentes, resultantes

de normas culturais e históricas que foram absorvidas, levando assim ao seu questionamento por meio de pontos de vista sustentados pelo descrever e pelo informar.

Reconstruir visa ao planejamento da construção da transformação da

prática, ao imaginar novas formas de fazer e agir. Nesse momento são sugeridas possibilidades de ação – embasadas em explicações fundamentadas

e coerentes com os objetivos traçados previamente – e sua implementação na prática. Busca-se, portanto, nessa etapa, a definição da reconstrução das ações.

É importante destacar que essas quatro etapas que caracterizam a formação de professores na perspectiva crítico colaborativa não necessariamente ocorrem nesta ordem.

3.3. Formação continuada de professores na perspectiva crítico

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