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1.5. A Análise do Discurso e a Linguística Aplicada

2.1.3. Formação Discursiva

Oriundo das reflexões de Foucault, o termo formação discursiva (FD) designa um conjunto de enunciados relacionados a um mesmo sistema de regras (MAINGUENEAU, 1996).

Com a ideia de FD iniciada por Foucault, que, da mesma forma que Althusser, se opunha à noção clássica de um sujeito autônomo, passou-se a defender a concepção de sujeito como uma posição ocupada por um indivíduo em um enunciado (SARFATI, 1997).

Ademais, passou-se a entender que a relação de sentido de um dado objeto linguístico (frase, proposição, etc) só pode ser considerada, levando-se em consideração as diferentes formações discursivas que circundam aquele discurso. Isso ratifica a noção de relação constante entre o linguístico e o social.

Para este estudo, o conceito de formação discursiva é relevante, visto que pretendemos delinear as formações discursivas nas quais se inscrevem as práticas discursivas presentes nos dizeres dos participantes, quando enunciam a partir do roteiro AREDA.

Para Pêcheux (1997),

uma palavra, uma expressão ou uma proposição não tem um sentido que lhe seria “próprio” vinculado a sua literalidade. Ao contrário, seu sentido se constitui em cada formação discursiva, nas relações que tais palavras, expressões ou proposições mantêm com outras palavras, expressões ou proposições da mesma formação discursiva(p.160) Esse caráter interativo, não excludente e relacional, existente entre o linguístico e o social, pode ser mais bem evidenciado quando se lança mão da noção de que as formações que um sujeito possui são compostas por formações imaginárias, ideológicas e discursivas e, inclusive, que há uma formação social que permeia essas outras três, dotando o discurso de sentido. De forma consonante, as teorias do Círculo de Bakhtin parecem apontar para um olhar sobre o social, fazendo desse olhar uma variável contrastante com as demais teorias e que a concebe como algo que estrutura as relações interpessoais.

É devido, ainda, à teoria de formações discursivas, a percepção de que as palavras não possuem sentidos diferentes, pelo simples fato de serem literalmente

diferentes, mas, por estarem em formações discursivas diferentes. Isso significa que as mesmas palavras não possuem, necessariamente, o mesmo sentido. A atribuição de sentido está vinculada a saber em quais formações discursivas se circunscrevem as práticas discursivas dos sujeitos-enunciadores.

Ao proceder a análise de depoimentos de estudantes de Inglês Instrumental do curso de Sistemas de Informação, observamos que seus dizeres podem se circunscrever em diferentes formações discursivas. Ressaltamos, também, que, como realizamos a análise discursiva a partir da materialidade linguística coletada, Authier Revuz (2004) torna-se relevante nas análises, por trabalhar com as heterogeneidades enunciativas, as quais se tornaram importantes ferramentas nesta pesquisa.

Entender que a AD de Linha Francesa concebe que os discursos se constituam para além do que é dito e que, portanto, não haveria neles um começo, um meio ou um fim, mas, uma lacuna preenchida, de forma não consciente, por outras vozes, é que se justifica a utilização dos pressupostos da autora francesa Authier-Revuz em nosso estudo.

Para Authier-Revuz (2004), as heterogeneidades podem ser divididas em dois tipos: a mostrada e a constitutiva. A primeira inscreve o outro no fio discursivo, fazendo com que a voz do outro, explicitamente se apresente no discurso do sujeito e possa ser identificada na materialidade linguística. Essa heterogeneidade representa a ilusão do sujeito em sua fala e pode ser observada em que os outros discursos se manifestam, ou seja, na própria materialidade linguística.

A segunda (constitutiva) refere-se a um encobertar do outro, no nível do inconsciente e do interdiscurso, resultante do entrelaçamento de diferentes discursos dispersos no meio social e servindo como inscrição para a história e para a exterioridade. É tida como a condição de existência dos sujeitos e discursos, já que o imbricamento de diferentes discursos dispersos no meio social dá origem ao discurso.

Nesse sentido, a análise das heterogeneidades enunciativas na constituição das formações discursivas configura-se como mais uma possibilidade de delinear as representações sobre a oralidade em língua inglesa construídas pelos participantes da pesquisa.

Oralidade em língua estrangeira (inglês) – representações discursivas 42

Percebe-se, no entanto, que, nos dias atuais, em estudos de AD, o termo Formação Discursiva está mais ligado aos posicionamentos ideológicos marcados, no sentido de,

a partir de uma posição dada numa conjuntura dada, determinada pelo estado da luta de classes, determina o que pode e deve ser dito (articulado sob a forma de uma arenga, de um sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um programa, etc.) (PÊCHEUX 1997, p.160). O status de Matriz do sentido tem sido atribuído a FD por ser esta a responsável pela determinação do discurso proferido. Na Análise do Discurso, a ideia de imanência de sentido é, portanto, completamente refutada. Não se pode conceber significados inerentes à palavra, pois a linguagem da qual o signo linguístico faz parte é, naturalmente, polissêmica, heterogênea e pode sofrer constantes “movências”. Um signo não pode ser tido como preso ou alienado a outros signos que com ele coexistem em determinado discurso. O que ocorre, de fato, é uma espécie de jogo de sentidos que individualizam a coexistência dos enunciados proferidos.

A linguagem, sobretudo o sentido, está na confluência entre a história e a ideologia. Devido a isso, percebe-se a ilusão em Saussure, quando menciona um sentido primeiro da palavra. Afirmar isso seria refutar a teoria de Formações Discursivas e passar a postular que as palavras tem significados primeiros, o que não se sustenta. Logo, busca-se, assim, ratificar uma das premissas básicas da ADF – a da incompletude do signo. A esse respeito, esclarece Orlandi que

A incompletude é constitutiva de qualquer signo - qualquer ato de nomeação é um ato falho, um mero efeito discursivo. O discurso diz muito mais do que seu enunciador pretendia. A multiplicidade de sentido é inerente à linguagem (ORLANDI, 1988, p. 20).

A autora pontua, ainda, que “O sujeito de linguagem é descentrado, pois é afetado pelo real da língua e também pelo real da história, não tendo o controle sobre o modo como elas o afetam” (ORLANDI, 2005, p. 20).

Como neste estudo trabalhamos com sujeitos-participantes que enunciam a respeito da oralidade em língua inglesa, em contexto de aulas de inglês instrumental, o conceito de formação discursiva foi considerado

fundamental, na medida que buscamos delinear em quais formações discursivas se circunscrevem as práticas discursivas presentes em seus dizeres, quando enunciam sobre essa oralidade.

Uma vez pontuada a importância do conceito de Formação Discursiva para este estudo, tencionamos, agora, circunstanciar o conceito de Representação, bem como sua importância para a dissertação ora apresentada.

2.1.4. Representação

Concebemos as representações delineadas neste estudo como plurivocais, ou seja, trata-se de vozes sobre a oralidade que são trazidas pelos sujeitos quando enunciam sobre sua oralidade em língua inglesa. Essas vozes, por sua vez, se inscrevem em formações discursivas e revelam as práticas discursivas dessas inscrições discursivas.

Nesse sentido, delinear a relevância do conceito de representação, para este trabalho, se fez fundamental, uma vez que toda vez que o sujeito de um discurso toma a palavra, ele mobiliza um funcionamento discursivo que remete a formações imaginárias. Pêcheux (1990) postula que as diversas formações resultam de processos discursivos anteriores (provenientes de outras condições de produção), que já não mais funcionam, mas deram origem a “tomadas de posição” implícitas que assegurarão a possibilidade do processo discursivo em foco.

Ao afirmar que há processos discursivos anteriores que já não mais funcionam, mas que deram origem a “tomadas de posição” implícitas, pode-se ratificar a noção de que o que, de fato, atribui sentido a um discurso é a constituição do sujeito.

É ainda do mesmo autor o postulado de que o discurso produzido por um sujeito pressupõe um destinatário que se encontra num lugar determinado na estrutura de uma formação social. Tal lugar aparece representado no discurso por formações imaginárias, que designam o lugar que o sujeito e o destinatário se atribuem mutuamente, ou seja, a imagem que fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro. Isso implica afirmar que, num dado estado das condições de produção de um discurso, os elementos que compõem as relações entre um

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