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1.5. A Análise do Discurso e a Linguística Aplicada

2.1.4. Representação

discursivas se circunscrevem as práticas discursivas presentes em seus dizeres, quando enunciam sobre essa oralidade.

Uma vez pontuada a importância do conceito de Formação Discursiva para este estudo, tencionamos, agora, circunstanciar o conceito de Representação, bem como sua importância para a dissertação ora apresentada.

2.1.4. Representação

Concebemos as representações delineadas neste estudo como plurivocais, ou seja, trata-se de vozes sobre a oralidade que são trazidas pelos sujeitos quando enunciam sobre sua oralidade em língua inglesa. Essas vozes, por sua vez, se inscrevem em formações discursivas e revelam as práticas discursivas dessas inscrições discursivas.

Nesse sentido, delinear a relevância do conceito de representação, para este trabalho, se fez fundamental, uma vez que toda vez que o sujeito de um discurso toma a palavra, ele mobiliza um funcionamento discursivo que remete a formações imaginárias. Pêcheux (1990) postula que as diversas formações resultam de processos discursivos anteriores (provenientes de outras condições de produção), que já não mais funcionam, mas deram origem a “tomadas de posição” implícitas que assegurarão a possibilidade do processo discursivo em foco.

Ao afirmar que há processos discursivos anteriores que já não mais funcionam, mas que deram origem a “tomadas de posição” implícitas, pode-se ratificar a noção de que o que, de fato, atribui sentido a um discurso é a constituição do sujeito.

É ainda do mesmo autor o postulado de que o discurso produzido por um sujeito pressupõe um destinatário que se encontra num lugar determinado na estrutura de uma formação social. Tal lugar aparece representado no discurso por formações imaginárias, que designam o lugar que o sujeito e o destinatário se atribuem mutuamente, ou seja, a imagem que fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro. Isso implica afirmar que, num dado estado das condições de produção de um discurso, os elementos que compõem as relações entre um

Oralidade em língua estrangeira (inglês) – representações discursivas 44

sujeito A e um sujeito B não estão simplesmente justapostos, mas, podem sofrer variações segundo a natureza dos elementos colocados em jogo.

Pêcheux demonstra que há uma formação social em que se encontram esse sujeito A e seu destinatário B e, ainda, que esses dois sujeitos são transformados pelos processos discursivos presentes.

Assim, não há uma simples troca de informações e de dizeres. E, pois, não haveria um sentido imanente à fala de A que seria recebida por B, mas, os sentidos que dessa surgem serão produzidos por um imaginário social e resultante das relações de sentido e de poder.

Cabe à ideologia um papel relevante: produzir um desconhecimento dos sentidos por meio de processos discursivos observáveis na materialidade linguística. Toda a prática discursiva trabalha, então, para que o efeito de sentido constituído produza a ilusão de um sentido único. Por isso, tem-se a ilusão de que os sujeitos são a fonte do sentido (esquecimento número 1) e de que têm domínio do que dizem (esquecimento número 2).

Esse efeito de sentido constituído – equivocadamente comparado ao sentido único – é da ordem do individual, singular, único e está sujeito a cada processo em que ele é constituído mediante um crivo de uma determinada forma de percepção da exterioridade. Isso nos faz perceber que, quando, em esquecimento número 1, afirmamos ser a fonte do sentido, somos, na verdade, a fonte da clivagem única, individual feita, e ela, sim, é irrepetível.

Isso posto, vemos funcionar, nos processos discursivos, uma série de formações imaginárias que designam os lugares “que A e B se atribuem cada um a si e ao outro, a imagem que eles se fazem do próprio lugar e do lugar do outro.” (PÊCHEUX, op. cit., p. 82) Segundo Pêcheux (op. cit., p. 83), todo processo discursivo supõe a existência das seguintes formações imaginárias:

IA(A): Imagem do lugar de A para o sujeito colocado em A - Quem sou eu para lhe falar assim?

IA(B): Imagem do lugar de B para o sujeito colocado em A - Quem é ele para eu lhe falar assim?

IB(B): Imagem do lugar de B para o sujeito colocado em B - Quem sou eu para que ele me fale assim?

IB(A): Imagem do lugar de A para o sujeito colocado em B - Quem é ele para que me fale assim?

As relações imaginárias são a maneira pela qual a posição dos participantes do discurso intervém nas condições de produção de discurso.

Sempre há uma relação de antecipação de A em relação a B. A, o destinador, antecipa as representações de B, destinatário, sobre o qual se funda a estratégia do discurso. A somente profere o que profere por já imaginar as eventuais respostas de B, que serão sancionadas. Essas antecipações são, entretanto, sempre atravessadas pelo já ouvido e pelo já dito, que constituem a substância das formações imaginárias. Essas formações imaginárias, entendidas por Pêcheux como representações, são construtos advindos da percepção que o sujeito possui não apenas de si mesmo, mas também dos que os cercam.

Ao tentar desvelar as formações imaginárias (as representações) de um sujeito, faz-se emergir o interdiscurso que traspassa seus dizeres. Isso significa, também, ser possível mostrar/deixar ouvir a polifonia que o constitui.

O conceito de representação é central para este estudo, uma vez que serão as Representações dos sujeitos participantes que serão levadas em consideração na análise, a fim de delinear quais vozes sobre a oralidade são trazidas, de forma plurivocal, para este estudo. Da mesma forma, que pautamos o conceito de Representação em bases pecheutianas, e, conforme já delineado neste texto, elas têm inscrições discursivas em formações discursivas e revelam as práticas discursivas dessas inscrições discursivas.

Tendo explicitado o conceito de representação neste trabalho e discorrido sobre a ADF, iremos dissertar sobre a ADD, parte da arquitetura teórica construída para este estudo.

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