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1.1 Aspectos gerais da docência universitária

1.1.2 Formação do docente universitário

A existência de cursos superiores implica na necessidade de professores para atuarem neles. A função docente universitário, poucas vezes, é vista como a profissão docente universitário.

No momento em que um indivíduo se prepara para um processo seletivo com o objetivo de adentrar a uma IES e se graduar em alguma área, tem como meta realmente se tornar profissional por meio dela. Não se concebe a ideia de um projeto para construção civil ser elaborado por alguém que não seja um engenheiro. Da mesma forma, não se permitiria ser submetido a cirurgias plásticas ou qualquer outra se elas não fossem realizadas por profissionais da área de saúde preparados e, portanto, formados para tal atividade. Quem tem condições de nos orientar em processos litigiosos, deve ter formação para tal, aí surgem os advogados. Nessa linha de pensamento, para ser professor, seria necessário uma formação para atuar na profissão-professor e, assim, adquirir capacitação para atividades concernentes a essa profissão, tal como acontece com todas as outras atividades consideradas profissionais.

Zabalza (2007, p.145) enfatiza que os professores universitários devem ser formados, no sentido de uma profissionalização, entendendo que a docência universitária é uma atividade profissional complexa que requer formação específica com qualificação científica e pedagógica, o que não é realidade no Brasil. Essa ausência de formação pedagógica sistematizada pode ser explicada pelo fato de que muitos cursos não possuem, em sua grade curricular, espaço para que se discuta temas relacionados à pedagogia ou mesmo momentos formais ou informais onde a possibilidade de atuar na docência seja apresentada e debatida com os acadêmicos.

Mesmo nos cursos onde a licenciatura é uma possibilidade, onde se aventa a possível formação de professores, pairam dúvidas sobre a capacitação dos docentes neles atuantes.

Docentes universitários cuja atividade maior é a orientação para a preparação de novos e futuros professores. Nesse pensamento, Souza (2003, p. 12) nos diz que:

[...] se a formação e a prática pedagógica do professor universitário que tem a incumbência de formar professores é objeto de questionamento, o que não dizer daqueles profissionais cuja formação foi predominantemente técnico- científica, voltada para o exercício específico de uma profissão e que, em um dado momento, se viram diante da situação de ser professor?

Adentrar a carreira docente sem formação, sem saber e bem entender o que é a atividade docência, faz com que se acredite estar preparado para ela, pois não se tem noção da amplitude do que não se sabe. Os desafios da docência aparecem desde o início dela na história, pois de imediato aparece também o fato de se ignorar o que é ser professor.

Azevedo (2008, p. 1) nos apresenta sua experiência quando relata que:

Há doze anos, enfrentei meus primeiros desafios como docente [...]. Meus conhecimentos baseavam-se quase que exclusivamente naqueles advindos da formação universitária, de aluna, e da experiência de profissional liberal, complementada pelo curso de especialização.

Num momento em que as aspirações e necessidades globais ocorrem rápida e continuamente modificadas, as funções do professor também sofrem alterações. O docente, que antes pensava no aluno de forma isolada, hoje deve enxergá-lo como alguém inserido num contexto social. Se antes esse professor atuava olhando para os aprendizes como indivíduos que não eram capacitados por não conseguirem reproduzir textualmente o que lhes era passado, agora devem ser vistos como seres humanos que têm bagagens prévias, que devem ser formados de acordo com as necessidades individuais e da sociedade em que estão inseridos. Além disso, nas IES, o docente assume funções administrativas como diretorias, gerências, reitorias e pró-reitorias pedagógicas como coordenação de curso, colegiados, elaboração e reelaboração de projetos pedagógicos e sociais em várias atividades de extensão.

Segundo Ludke (2001, p. 27):

A questão da profissionalização dos professores vem sendo discutida perante a imposição de número cada vez maior de saberes e atributos, num processo de contínua e vertiginosa complexidade de seu perfil profissional. Dentre as novas habilidades demandadas, podemos citar [...] participar de reformas curriculares [...] entre muitas outras.

Mas, apesar de se exigir que os professores cumpram novas tarefas, é interessante observar que não houve mudanças significativas na formação deles. Assim, não é de se estranhar que sofram autênticos choques com a realidade, ao passarem, sem a preparação adequada, para a prática de ensinar (NOVOA, 1995, p.15-34). Imbernón (2001, p. 12) também discorre sobre a necessidade de uma redefinição da profissão docente e sugere que os futuros professores assumam novas competências profissionais no quadro de um conhecimento pedagógico, científico e cultural.

Trata-se de buscar a formação de um profissional que vai atuar num mundo dominado pela mudança, incerteza e complexidades crescentes, cujas situações e problemas não são solucionáveis com a simples aplicação de conhecimento técnico-científico disponíveis. (AZEVEDO, 2008, p.3)

Nota-se que a docência excede a atuação técnica embasada em habilidades procedimentais e conhecimentos científicos. Ela requer uma formação profissional com conhecimentos específicos para exercê-la adequadamente ou, no mínimo, a aquisição das habilidades e dos conhecimentos vinculados à atividade docente para melhorar sua qualidade (VEIGA, 2008).

Não só nas áreas onde a formação pedagógica não é almejada, mas essa necessidade dos professores é uma realidade também em toda a docência universitária. Excetuando a área de educação, pesquisas voltadas a temas pedagógicos pouco aparecem. Um exemplo disso foi o trabalho realizado por Pordeus (1999) quando analisou a produção científica dos cursos de pós-graduação stricto sensu em odontologia. Notou que neles, em sua maioria, privilegiam as áreas técnicas. Percebeu ainda que apenas 5% das publicações brasileiras com impacto internacional referem-se ao ensino odontológico.

Nessa mesma direção Sousa (2003, p. 38) diz que:

As investigações relativas à prática docente no ensino superior são poucas se compararmos àquelas relativas a outros níveis do sistema escolar. Às particularidades e contradições do momento de transição somam-se, no caso do ensino superior, todas as dificuldades decorrentes da pouca valorização dos saberes pedagógicos propriamente ditos.

Pouco se investiga sobre pedagogia relacionada ao ensino superior. Pouco se valoriza assuntos relacionados aos cursos da área de humanas quando se pensa na formação do professor do ensino superior. Comumente não se aborda o tema ensino-aprendizagem durante os cursos de graduação onde a licenciatura não aparece como possibilidade. Diante disso,

Cortesão (2000, p. 41) questiona se existe algo de especial no ensino superior que o permita prescindir de formações pedagógicas, tão cobradas e necessárias para os outros níveis de ensino quando interroga:

Será que sua atuação, que tem lugar sem qualquer preparação pedagógica prévia, será aquela que, afinal, se revela mais adequada ao que se espera do papel de regulação a ser desempenhado pelas instituições educativas do ensino superior, expectativas essas que, como se viu, se vão reforçando no contexto socioeconômico atual?

Os cursos existem e docentes são necessários. A percepção da docência enquanto profissão ainda não aconteceu para muitos professores. Devido a isso, nota-se um paradoxo, ou seja, apesar da importância dos docentes no processo educacional, eles ainda permanecem sem conhecimento das atividades que fundamentam a sua profissão (NÓVOA, 2008, p. 227).

A formação de docentes começa a acontecer quando estão na condição de alunos. A maneira como lhes é apresentada a docência, pela própria prática dos docentes com os quais conviveram, inicia sua composição da bagagem individual para, quiçá, um futuro como docente. Mas é certo e notório que é insuficiente para uma formação, seja ela inicial ou continuada, para a atuação na docência.

Cientes dessa necessidade, aqueles que almejam a carreira de professores do ensino superior, ou nela já estão, buscam os cursos de pós-graduação em nível de mestrado e doutorado para se qualificar.