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Formação do pensamento econômico de Karl Marx

3 MARX E A CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA

3.1 Formação do pensamento econômico de Karl Marx

O jovem que estava em processo de transição quanto à sua adesão inicial à Economia Política passaria a partir dos anos 1840 a se dedicar profundamente aos estudos dessa ciência para que conseguisse anos mais tarde elaborar a sua mais grandiosa e complexa obra, intitulada O Capital. O processo percorrido para chegar a essa obra foi complexo, pois em curtos espaços de tempo, Marx deu diferentes tratos às filosofias e estudos que lidava. Segundo Wellen (2019c), em meados dos anos de 1843-44 Marx realizou uma rejeição com características morais à Economia Política, porque utilizou de categorias externas para criticá- la, e também pelo seu deboche para com os economistas clássicos, que intensamente foram alvos de suas criticas, como por exemplo, Ricardo e Smith. Consideramos, no entanto, que essa rejeição de fato aconteceu como aponta o autor, mas o viés moral ainda não foi totalmente compreendido, porque não há garantias de que realmente a intenção de Marx era tão subjetiva de análise.

Nos manuscritos econômicos e filosóficos de Marx, que datam desse mesmo período, podemos apreender, como explicamos anteriormente, diversas recriminações desse autor referindo-se a um dos principais economistas políticos ingleses do século XIX, que foi David Ricardo. Marx dizia que “para Ricardo, os homens não são nada e o produto é tudo” (MCLELLAN, 2010, p. 256). O que nos demonstra que o movimento de Marx no trato com a economia política seria decisivo para sua relação com ela durante toda sua vida. Nessa relação

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inicial, marcada pela rejeição, Marx critica principalmente os economistas políticos clássicos (WELLEN, 2019c).

No final dos anos 1846, ainda segundo Wellen (2019c), a relação de Marx com a Economia Política se modificou. É importante ressaltarmos que esta relação não foi iniciada nesse período, e sim no início dos anos 1840, e se considerarmos o primeiro contato, aconteceu em sua juventude. Na verdade, Marx aderiu a alguns conceitos de Ricardo após o processo de rejeição. Com essa adesão, Marx não concordou com todos os pressupostos econômicos. No que se relacionava entre os valores dos salários e a ligação direta com as mercadorias defendida por Ricardo. Wellen (2019c) explica que Marx realizou críticas a teoria de Ricardo alegando que este não possuía argumentos suficientes para explicar a relação de mercadoria e salário e também por não tratar a subjetividade do ser humano, tratando este como uma coisa; além disso, Marx criticou a excessiva utilização de abstração e subjetividade de Ricardo no trato à realidade.

Deste modo, (MARX, 2010, p. 121 apud WELLEN, 2019c, p. 6) “se, em 1844, Marx se filiava às críticas de Proudhon contra Ricardo, em 1847, ele fez exatamente o contrário”. Assim, Marx já havia constatado, no início dos anos de 1850, que dentro do modo de produção capitalista, o horizonte vislumbrado para a classe trabalhadora era de pauperização iminente e gradativa, e que anos mais cedo, por não ter utilizado criticamente os elementos da economia política, não conseguiu perceber a contraditoriedade dinâmica das ciências econômicas e do modo de produção capitalista (WELLEN, 2019c).

Wellen (2019c) indicou, em suas análises, que, posteriormente aos anos 1843-44, que marcam o encontro de Marx com a Economia Política, ele adentrou a fase de construir as suas próprias teorias com base nos fundamentos econômicos. No entanto, compreendemos que essa fase também foi marcada pelo autoconhecimento de Marx, do ponto de vista que o período em que ele estudou as ciências econômicas pode não ter sido o suficiente para se identificar com a própria teoria que estudara. Então, em nosso entendimento, esse período compreendeu um aprendizado mútuo, de caráter subjetivo e objetivo para vida, construção e amadurecimento teórico desenvolvido na sua obra O Capital. O material que inicialmente Marx pretendeu utilizar, segundo o autor acima, foram os seus manuscritos feitos nessa época. No entanto, Marx tinha consciência de suas limitações sobre os estudos econômicos e pesquisas na área, o que fez com que decidisse aprofundar seu conhecimento teórico e empírico para realização de sua teoria.

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Conforme Wellen (2019c), no final dos anos 1850, Marx realizou uma crítica à Economia Política, partindo de suas contradições internas. Nesta época, ele tanto incrementou a análise da produção de valor econômico, como apresentou um avanço no exame dos salários de Ricardo. Para isso, baseou sua análise do valor na esfera da produção e, assim, passou a diferenciar o preço de mercado do preço natural e, essencialmente, valor e preço. Por conseguinte, apresentou, a partir da utilização de categorias usuais da economia política, uma diferenciação entre o trabalho e a força de trabalho. Nessa análise para determinar a fonte do valor econômico, ocorreu um trânsito da esfera da produção para a esfera da circulação, considerados dois grandes avanços feitos por Marx. Como foi mencionado anteriormente, Marx teve diferentes tratos com a EP ao longo da sua vida e, processualmente, percebeu a importância dessa ciência para a compreensão do desenvolvimento das relações sociais no modo de produção que predominava na Europa – o capitalista.

Segundo Mclellan (1990), a crise econômica que Marx pressupôs acontecer na Inglaterra, quando se encontrava em Paris (em 1844), aconteceu naquela em Julho do final dos anos 1850, fazendo com que ele se entusiasmasse numa tentativa de concluir seus estudos econômicos. Marx pretendia construir uma síntese destes, antes que a crise viesse a abalar sua situação de escrita. Mas embora fosse cauteloso quanto aos efeitos da crise, não deixou de pausar seus estudos econômicos, como aconteceu nos anos anteriores, por situações financeiras desfavoráveis. Realmente este período da vida de Marx foi muito importante para que ele desenvolvesse seus estudos econômicos e também para formular sua Crítica à Economia Política. Por isso, esse período é intenso e traz como resultado, em seu amadurecimento crítico e teórico, sua mais famosa obra intitulada de O Capital.

Datando ainda do final dos anos 1850, encontramos “a primeira elaboração da teoria madura de Marx” (MCLELLAN, 1990, p. 281). Este material, conhecido como Grundrisse, possui duas modificações centrais em relação às ideias analisadas por Marx, anteriormente. Primeiro, ao invés de analisar os mecanismos de troca do Mercado, como fizera em 1844, Marx partiu da esfera da produção e não da circulação. Segundo, Marx defendia que o trabalhador não vendia seu trabalho, e sim a sua força de trabalho, o que apesar de possuir relação com o trabalho, não significa o mesmo. Com a preparação dos Grundrisse, Marx analisou e avançou no estudo de outras categorias discutidas pela economia política, como por exemplo, a taxa de lucro e a concorrência entre os capitais. Partindo desses aprofundamentos, ele problematizou novos pressupostos econômicos e construiu algumas concepções. Uma de suas assertivas mais conhecidas é a que trata da pobreza dos trabalhadores. Marx afirma que

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embora o capitalismo enquanto modo de produção cresça em escalas gigantes, o trabalhador vai continuar pobre, porque o objetivo é a obtenção de lucro e não a benfeitoria dos trabalhadores. De toda forma, ressaltamos aqui que a adesão seletiva de Marx à teoria Ricardiana não foi o bastante para que suas críticas fossem cessadas. Marx compreendia que a economia política comportava diferentes perspectivas, análises e teorias, e, assim, acabou por transitar de um estudioso curioso das ciências econômicas para um pesquisador incansável da economia política (WELLEN, 2019c).

Incididas essas considerações sobre as fases de rejeição e adesão à economia política, ressaltamos algumas críticas que Marx também realizou a essa ciência. A principal crítica de Marx à economia clássica foi direcionada a visão dos economistas clássicos para com as leis da natureza, porque eles consideravam as leis econômicas imutáveis, isto é, incapazes de sofrer mudanças. Marx apontava que essa compreensão estava totalmente equivocada, na medida em que desconsiderava a permutabilidade dos fatos. A economia política defendia a propriedade privada como algo que sempre existiu, e Marx contra argumentava, evidenciando que essa propriedade privada é fato histórico, isto é, possibilitado por uma organização deliberada de trabalho que determinou donos às propriedades, e não uma lei eterna, pois as propriedades nem sempre tiveram proprietários tampouco foram apropriadas individualmente. Tratavam-se, na maioria das vezes, para uso coletivo. O fio condutor do trabalho de Marx era a necessidade de revelar e confrontar a maior mistificação da economia política: a ideia de que as suas categorias eram válidas em todos os tempos e em todos os lugares. Marx estava profundamente amargurado pela cegueira e falta de noção histórica por parte dos economistas políticos, que tentavam ocultar e justificar a desumanidade das condições econômicas do seu tempo, apresentando-as como um fato natural (MCLELLAN, 1990).

No momento da crítica à economia política, compreendemos que Marx analisou o capitalismo como o modo de produção responsável pela criação e destruição, marcado pela sua contrariedade, isto é, na medida em que possibilita o avanço das tecnologias, a expansão de empregos, a diversidade de mercadorias, simultaneamente, exclui, fragiliza e destrói a capacidade de emancipação política e humana dos homens. Mas nesse sentido, precisamos considerar as limitações metodológicas do tempo histórico em questão, porque a acepção do capitalismo enquanto modo de produção não foi uma escolha dos homens, mas sim uma imposição a eles, na medida em que foram expropriados de suas terras e obrigados a inserir-se nos grandes centros urbanos tornando seus produtos de trabalho nas relações de troca. Assim, ao explorar diariamente a força de trabalho dos homens, ou seja, as suas fontes de energia

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física e mental, o modo de produção capitalista insere os homens na condição de produtores e reprodutores do sistema do capital. E analisando o que Marx evidenciava sobre os equívocos dos economistas clássicos, acreditamos que as contradições formadoras do modo de produção capitalista demonstram e explica o quanto os economistas estavam errados (HUNT; MARK, 1968; MCLELLAN, 1990).

A relação de Marx com pensadores da EP foi estabelecida de diferentes formas. E, além disso, suas análises mais emblemáticas envolviam os principais economistas políticos da Europa. Isso pode ser percebido pela influência e relação de Marx com a teoria do valor e dos lucros, estudadas por Smith e Ricardo. Quando construiu sua teoria social crítica, em O Capital, economistas ingleses menos conhecidos a consideraram uma continuidade do que Smith e Ricardo tinham estudado, porque, afinal, Marx partiu desses autores para formular sua própria teoria. Apesar das críticas de Marx terem sido mais bem difundidas sobre Smith e Ricardo, ele também criticou Thompson, Hodgskin, Mill, Malthus, Bentham, Senior, Say e Bastiat, segundo Hunt e Mark (2013). A diferença é que Marx considerou algumas teorias irrelevantes para serem estudadas, não dando a esses outros autores a importância que deu às teorias de Smith e Ricardo (HUNT; MARK, 2013). Nesse contexto, para Marx, a grande deficiência dos economistas políticos ingleses era que eles não possuíam

perspectiva histórica (embora essa crítica se dirigisse menos a Smith). Se tivessem estudado História com mais cuidado – insistia ele –, teriam descoberto que a produção é uma atividade social, que pode assumir muitas formas ou modos, dependendo das formas vigentes de organização social e das correspondentes técnicas de produção. A sociedade europeia tinha passado por várias épocas históricas distintas, ou modos de produção, inclusive a sociedade escravista e a sociedade feudal, e estava, naquele momento, organizada de uma forma histórica específica – o modo capitalista (HUNT; MARK, 2013, p. 297).

Então, para Marx, se todos os economistas citados anteriormente tivessem realizado estudos mais complexos e completos sobre os diversos modos de produção existentes, eles teriam conseguido analisar que em todas as sociedades e modos de produção existem características comuns. Não significa reduzir todos os modos de produção a um só, mas reconhecer as particularidades e traços semelhantes de cada um deles. Hunt e Mark (2013, p. 297) evidenciam ainda, que:

Os elementos que não são gerais nem comuns têm de ser separados da… (gama de características comuns a toda) produção como tal, de modo que em sua unidade – que já surge da identidade do sujeito – a humanidade – e do objeto – a natureza – sua diferença essencial não seja esquecida. Toda a profundidade dos economistas modernos que demonstram a eternidade e a harmonia das relações sociais existentes repousa nesse esquecimento.

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Assim, uma das principais críticas de Marx para com a EP foi a alegação dos economistas aos direitos das propriedades capitalistas como eternos e universais, enxergando o capital como comum a toda produção. Marx percebeu assim que todas as outras formas de produção foram desconsideradas, fazendo com que eles definissem a Economia Política à troca de mercadorias. Nesse sentido, “todos os fenômenos econômicos eram reduzidos a atos de troca e venda de mercadorias” (HUNT; MARK, 2013, p. 299).

Destarte, McLellan (1990) demonstra que a EP apresentava categorias que foram aprofundadas por Marx, após seus estudos econômicos, o que dialoga com o que evidenciamos anteriormente nas análises de Hunt e Mark (2013). Porque Marx teve diferentes tratos com a economia política, e com isso foi muito influenciado por ela. Como exemplo disso, o valor de uso e valor de troca; o preço de mercado e preço de custo. Segundo o autor, Marx selecionou algumas categorias da EP e passou a reformulá-las. Sendo este o sentido da crítica à economia política. Por exemplo, em relação à teoria que defendia David Ricardo, o maior economista do século XIX. Ricardo defendia a teoria valor-trabalho, que define o valor de qualquer mercadoria como determinado pela quantidade de trabalho dispendido na sua produção, o que, segundo Mandel (1968), Marx rejeitara explicitamente ao se deparar inicialmente com essa teoria. Mas quando realizou seus estudos históricos e filosóficos acabou por reformular de maneira particular essa teoria, passando a utilizá-la, pois tratou da produção de mercadorias pelo trabalho abstrato (o único capaz de constituir mutuamente diferentes produtos de trabalho dos indivíduos). Marx também refutou a análise de Ricardo no que diz respeito à fonte de valor, quando Ricardo utilizou a categoria força de trabalho. Categoria esta que Marx reformulou, agregando a ela um significado distinto. Mas alertou que a categoria força de trabalho era utilizada pela economia política em dois sentidos. Um sentido usual, que empregava à força de trabalho a definição de capacidade do trabalhador em realizar o processo produtivo, e outro que definia pela quantidade de trabalhadores aptos e disponíveis para integrar este processo de produção.

Durante muitos anos, Marx e Engels utilizaram essas definições da EP para tratar a força de trabalho, mas avançaram nas análises e atribuíram a ela um novo sentido. Nesse novo sentido, a força de trabalho é definida como sendo a disponibilidade temporária física e mental dos homens que os fazem produzirem para os capitalistas. Essa definição foi dada em meados dos anos de 1860, quando já estava escrevendo O Capital. De fato, a forma como compreendemos as definições da força de trabalho pelo sentido da economia política nos indicam a naturalidade do processo, como Marx reafirma em suas passagens. Os economistas

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políticos apresentam os processos do capitalismo como algo sistemático e funcional, sem que haja indícios de contradições. Mas as contradições, só foram evidenciadas pelas análises de Marx, quando ele demonstra, por exemplo, o processo de compra e venda da força de trabalho dos homens. Marx evidencia que ao vender sua força de trabalho e receber em troca um salário, os homens só recebem um mínimo necessário para sua subsistência, não sendo o seu salário condizente com toda a riqueza social que o homem em conjunto com demais homens no processo de produção cria. Afinal, a análise geral de Marx sobre as definições das categorias econômicas era de insatisfação, porque para ele não havia explicação baseada na realidade, mas sim definições que partiam majoritariamente do plano ideológico (MCLELLAN, 1990).

No entanto, os estudos econômicos de Marx, segundo McLellan (1990), ainda tiveram continuidade em agosto de 1857, quando numa Introdução geral Marx discutiu o problema do método utilizado pela economia política para abordar a realidade. O momento de Marx, nos anos 1850, foi considerado o mais produtivo de sua vida, porque nesse período ele escreveu muitas obras importantes. Este autor ainda afirma que:

Esta introdução, umas trinta páginas cheias, a título de ensaio e incompletas, [...] tentava justificar a ordem não histórica das seções na obra que havia de seguir. A Introdução não foi publicada porque, como Marx disse dois anos mais tarde, ‘numa maior reflexão qualquer antecipação de resultados ainda a serem provados parece- me perturbador, e o leitor que geralmente deseja seguir-me deve estar decidido a ir do particular ao geral’ (MCLELLAN, 1990, p. 311).

Logo, os esforços teóricos de Marx se voltaram, nesse período para escrever essa Introdução, que possui muito rigor teórico e muitos elementos para compreender suas obras posteriores. A primeira seção da Introdução intitulada como “Produção em geral”. Nela, Marx definia o objeto de sua investigação como “a produção socialmente determinada de indivíduos” (McLellan, 1990, p. 311). Inicialmente, ele rejeitou o ponto de partida de Adam Smith, David Ricardo e Rosseau que principiavam suas análises econômicas falando de indivíduos isolados fora da sociedade, o que, para Marx, era uma análise totalmente sem sentido além de ser um gigantesco absurdo. Realizou sua crítica atentando aos indivíduos a importância de isolarmos os fatores gerais comuns a toda produção, sem desconsiderar as diferenças essenciais entre as épocas. Já os economistas modernos, para Marx, eram ignorantes quando descreviam as modernas relações burguesas como sendo fundantes e eternas, retomando assim o aspecto de lei imutável como já mencionamos anteriormente. Marx achava incompreensível a constatação de que o modo de produção capitalista era um sistema indestrutível, assim como a propriedade privada. Afirmava que a história mostrava

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que a propriedade básica que era comum, e que a propriedade privada é uma apropriação privada característica de um modo de produção específico (MCLELLAN, 1990).

Na segunda seção da Introdução, definida como “A relação geral da produção com a distribuição, a troca e o consumo” (McLellan, 1990, p. 312), Marx explica como a produção, distribuição, troca e consumo são atividades que se correlacionam e ocasionam a existência uma da outra, porque embora não sejam atividades idênticas, são aspectos diferentes de uma unidade – qual seja – o processo do capital.

A terceira seção da Introdução denominada de “O método de economia política” (MCLELLAN, 1990, p. 312). Nesta, Marx estabeleceu o método correto de discussão da economia ao partir de conceitos simples como valor e trabalho. Depois, partiu para analisar as entidades mais complexas, no entanto, observáveis, como população e classes. Iniciou sua análise pelo dinheiro e pelo trabalho, como exemplos de conceitos mais simples e abstratos. Nesse movimento, Marx contrapôs a abordagem característica de Hegel e de jovens hegelianos, os quais manteve bastante contato em sua juventude, pois diferentemente deles, Marx partia do concreto para o abstrato, assim justificando-o. Por isso, utilizou o dinheiro e o trabalho para iniciar sua análise, uma vez que considerava que ambos só alcançavam sua complexidade plena na sociedade burguesa, e somente nesse contexto seria possível compreender plenamente a economia pré-capitalista. Nesse sentido, ao elaborar O Capital, Marx conseguiu desenvolver melhor como a especificidade da sociedade burguesa impôs ao desenvolvimento das relações sociais processos alienantes e mercantilistas da vida social. Afinal, Marx também considerou impraticável e equivocado colocar as categorias econômicas numa ordem em que elas foram determinantes no curso da história, porque antes essas categorias se determinavam nas relações que possuíam entre si, do que do seu impacto na história (MCLELLAN, 1990).

Ressalvado isso, ele esboçou em cinco seções um plano provisório para escrever uma longa obra sobre economia política, e finalizou com uma discussão sobre uma aparente dificuldade que possuía na abordagem materialista da história. Em suma, Marx finalizou a Introdução com questões referentes às suas inquietações sobre a abordagem materialista. O esboço realizado para a construção de O Capital foi organizado e apresentado no fim da introdução, da seguinte forma:

1. As caracterizações abstratas gerais que podem mais ou menos ser aplicadas a todos os tipos de sociedade;

2. As categorias que constituem a estrutura interna da sociedade burguesa e que servem de base para as classes fundamentais. Capital, trabalho assalariado,

42 propriedade da terra. Suas relações entre si. Cidade e campo. As três grandes classes sociais. As relações entre elas. Circulação, crédito (privado).

3. Síntese da sociedade burguesa na forma do estado. O estado considerado em

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