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Formação Docente

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CAPÍTULO III MIEIB E SUAS HETEROGENEIDADES

3.5 O MIEIB e os governos Lula: interlocução nas políticas para a educação das infâncias (2003-

3.5.3 Formação Docente

Nos discursos e propostas políticas para educação brasileira, a formação docente aparece associada à qualidade. Historicamente a demanda pela formação dos professores de Educação Infantil vem desde aos anos 80 (BARBOSA, 2011). No governo Lula essa temática emerge em programa emergencial denominado de Programa de Formação Inicial para Professores em Exercício na Educação Infantil- Pró-Infantil criado em 2005. O Pró-infantil consistiu no oferecimento de curso em nível médio, semipresencial, na modalidade Normal, destinado aos profissionais que atuavam em sala de aula da educação infantil tanto das instituições públicas como nas sem fins lucrativos, sem, contudo, ter habilitação para o magistério, e estava sob a responsabilidade da COEDI. Em termos gerais, o programa executou uma parceria entre MEC e municípios26 (BRASIL, 2005). O programa foi inspirado nos moldes do Programa de Formação de Professores em Exercício- Proformação27 (1999), que continha a mesma estrutura, mas destinados aos professores sem formação da 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental (Anos Iniciais do Ensino Fundamental-1º ao 5º ano) do governo anterior. Essa ação reflete uma tentativa de sanar uma das problemáticas apontadas no diagnóstico do PNE (2001): a falta de qualificação profissional da Educação Infantil.

A partir de dados documentais do MIEIB, podemos constatar que o programa Pró- Infantil dialogava com o contexto particular de enunciação das discussões do XVI Encontro em Salvador (2003) cujas temáticas centrais foram as Políticas de Qualificação e Valorização Profissional para a Educação, problematizando nesse contexto a presença da mulher na carreira do magistério, que padronizava comportamento. E sua repaginação (versões) durante 2005 a 2011, indica “importância de ações conjuntas no campo da formação, destacando o papel da universidade e das equipes estaduais e municipais” (BARBOSA, 2011), das quais contam com muitos dos participantes do MIEIB. Assim, podemos considerar que em certa medida, o Pró-Infantil representou atendimento às demandas de formação inicial do professor de educação infantil. Dados do INEP, destacado por Lívia Vieira apresenta os avanços nesse aspecto:

“desde 2002, mostra também que houve alteração no quadro da formação, crescendo o número de docentes licenciadas em nível de ensino superior e diminuindo as que possuem apenas o ensino fundamental, completo ou incompleto: nas creches, 14,4% das funções docentes tinham formação superior completa, de acordo com o Censo

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Link da página do Programa http://portal.mec.gov.br/proinfantil

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do Professor de 2003 (INEP, 2003). Este estudo mostrava que, no mesmo ano, 22,5% das funções docentes atuando na pré-escola apresentavam formação superior com licenciatura” (VIEIRA, 2010, p. 822).

Em certo sentido, se a formatação do programa pode representar a continuidade da política que já vinha sendo realizada por FHC, ela se diferencia, porque sua efetivação imprimiu força ao debate da qualificação profissional, desenvolvido através do processo de agonismo (processo dialógico com posturas diversas a fim de significar a política) (MOUFFE, 2005). Nesse sentido, a formação inicial, nas discussões que antecederam a Conferência de Educação-CONAE (2010), pautavam os contextos discursivos do art. 62 da LDB e o art. 206 da Emenda Constitucional nº53/2006 e as adições realizadas pela Lei nº 12.056 (2009).

Enquanto a LDB previa a formação docente (Educação Infantil e primeiras séries do Ensino Fundamental) em cursos de curso de licenciatura e de graduação plena, admitindo uma formação mínima em curso de magistério de nível médio, na modalidade normal (BRASIL, 1996). E a Emenda Constitucional nº53, de 2006, art. 206 que trata da valorização e admissão de profissionais da educação escolar, do piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação básica pública, por suas adições determinou a promoção da formação inicial, a formação continuada, admitindo recursos e tecnologias de educação à distância (BRASIL, 2009).

Com esta discussão o movimento reivindica do MEC apoio e financiamento de cursos presenciais de formação inicial e continuada, bem como, a criação de cursos de Especialização em Educação Infantil em seus encontros de 2008 e 2009. Particularmente a formação inicial, representou um tópico sem consenso para o movimento, havia os que reconhecendo o Pró-infantil, sugerindo que este se tornasse formação continuada, e aqueles que em prol de uma maior qualidade defendiam a formação em nível superior. No entanto, MIEIB só se posiciona sobre este assunto durante a CONAE (2010) em forma de prática articulatória, junto a outros sujeitos políticos como a Campanha, ANFOPE e ANPED defendendo a exigência do nível superior para o exercício da Docência na Educação Infantil. Ao optar por essa defesa o MIEIB na Carta de Belém (2010) reivindica a UNCME, Conselhos Nacionais (estaduais e municipais) de Educação que exijam o curso de Pedagogia como critério dos editais de concursos públicos para o provimento de vagas para a Educação Infantil, bem como, indeferiram os que não atendam a legislação.

Essas discussões subsidiam o lançamento do Plano Nacional de Formação de Professores, consolidando a Política Nacional de Formação de Professores- Decreto 6755/2009 componente do PDE. Nele o governo reuniu uma série de programas nos níveis de

formação (inicial e continuada): Pro-Infantil, Pró-Letramento, Gestar, Plataforma Freire, o Piso, os Cursos de Mestrados Profissionais, o PIBID e o Prodocência. Dados do MEC apontam que de 2009 a 2012 o PARFOR tinha atendido 54,8 mil professores, cuja predominância ocorreu nas regiões norte e nordestes com 28.073 mil e 20.781 mil respectivamente (BRASIL, 2019). No ano de 2010, são criadas as Especializações em Educação Infantil em cooperação com a Undime, e as universidades que dispõem de centros e pesquisas em Educação Infantil, esses cursos serão problematizados mais adiante no governo Dilma.

Outro elemento de formação docente dos profissionais da educação, foram os blocos de sentidos condições de trabalho e remuneração condigna, destacamos a ação governamental da instituição do Piso Salarial Profissional Nacional – Lei nº 11.738/2008. A aprovação dessa Lei preponderantemente veio robustecer a Educação Infantil como campo político, e materializa uma demanda pela qual o MIEIB vinha defendendo no decorrer de 2007/2008 e, dialoga com melhoria do atendimento educacional das crianças de 0 a 6 anos:

“Que seja efetivada uma política nacional de valorização (com plano de cargos e salários, condições de trabalho e níveis salariais adequados, bem como, possibilidade de formação) dos professores da educação infantil, tendo em vista, que os mesmos também são docentes e devem ser tratados com igualdade em relação aos docentes das demais etapas da educação básica” (CARTA DE BALNEÁRIO CAMBURIÚ, 2009).

Portanto, na medida em que a Lei do Piso constitui-se um marco na legislação brasileira, uma demanda em pauta desde o governo Itamar Franco. Do outro, rompe com uma prática e pensamento de remunerar menos quem trabalhar com crianças menores, mesmo mediante comprovação de qualificação profissional. Essa ambiguidade girou por muito tempo em torno da divisão da Educação Infantil (creches e pré-escolas), a primeira percebida ao cuidado, “atividade meramente ligada ao corpo e destinada às crianças mais pobres” (BRASIL, 2010, p.81) que impulsiona ao assistencialismo filantrópico. Não sendo necessária qualificação, apenas aptidões maternas.

Em contraposição, a segunda encontrava-se a pré-escola, “experiência de promoção intelectual reservada aos filhos dos grupos socialmente privilegiados” (BRASIL, 2010, p.81). Com vistas à antecipação e preparação para o Ensino Fundamental (muito embora, seja esse um pensamento “cíclico” no discurso educacional). Entendemos essa fragmentação como de um processo histórico de desvalorização. Esse contraditório dualismo é desmistificado quando se compreende que a nomenclatura estrutural da Educação Infantil comporta uma divisão

político-administrativa, e não uma fragmentação da plenitude da infância, como salienta Dourado (2017).

Neste enquadramento, a Formação docente na medida em que é implementada busca qualificar a educação básica e consequentemente a Educação Infantil, respondendo a reivindicações específicas do MIEIB.

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