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Formação dos conglomerados e indicadores de desempenho sustentável

X X X 645 fazendas produtoras de leite na Bélgica Base de dados

8 RESULTADOS E DISCUSSÃO

C. Indicadores de desempenho social: i) 6,1% de áreas de preservação de mata

8.3 Conglomeração (Clusters) das fazendas de leite do EDUCAMPO

8.3.1 Formação dos conglomerados e indicadores de desempenho sustentável

A partir da análise de conglomerados, foi possível encontrar três Clusters relevantes dentro da amostra de fazendas do banco de dados do EDUCAMPO, conforme apresentado na Figura 25. Esta conglomeração tomou por base os indicadores de sustentabilidade (econômico, ambiental e social) calculados para cada uma das fazendas. O Cluster 1, Cluster 2 e Cluster 3 foram compostos por 6, 38 e 6 fazendas, respectivamente, e uma vez que analisados os indicadores de sustentabilidade de cada um desses agrupamentos foi possível nomeá-los, como: “Sustentabilidade +”, para o Cluster 1; “Médio”, para o Cluster 2 e; como “Sustentabilidade -”, quando relacionado com o Cluster 3.

Figura 25 – Conglomerados e suas respectivas fazendas (EDUCAMPO).

Fazendas de leite (EDUCAMPO)

25; 112; 252; 268; 337; 343 6; 11; 17; 24; 46; 52; 56; 70; 95; 102; 176; 181; 182; 198; 200; 216; 248; 263; 264; 266; 267; 305; 307; 322; 323; 331; 333; 336; 339; 345; 346; 500; 501; 502; 503; 504; 505; 306; 15; 33; 35; 94; 117; 258 Cluster 1 Sustentabilidade + (6 fazendas) Cluster 2 Médio (38 fazendas) Cluster 3 Sustentabilidade - (6 fazendas)

Utilizando o teste estatístico ANOVA como base, verificou-se que os cluster formados apresentaram diferenças estatísticas na maioria dos indicadores de sustentabilidade que também foram usados como base da conglomeração. Para os 12 indicadores de sustentabilidade considerados na análise, 2 de desempenho econômico, 7 de desempenho ambiental e outros 3 de desempenho social, apenas 5 deles foram iguais estatisticamente. Os indicadores estatisticamente semelhantes entre os grupos formados foram o UENR, o PA por hectare e o PE por hectare, para os indicadores de desempenho ambiental, e “bonificação no preço recebido pelo leite” e “dias de folga dos funcionários”, para os indicadores de desempenho social. Portanto, conclui-se com esta análise que esses cinco indicadores não foram significativos estatisticamente para explicar as diferenças entre os centroides dos clusters que foram formados.

Por final, destacam-se os indicadores de desempenho econômico, pois apresentaram diferença estatística entre eles para cada um dos clusters formados.

Tabela 13 – Clusters, valores médios dos indicadores de sustentabilidade e resultados do teste

ANOVA para cada uma das verificações.

Características Cluster ANOVA

1 2 3 F Sig.

Desempenho econômica

Renda da fazenda (R$/uta fam) 287212,8 4052,7 -250597,3 84,308 0,000 *** Retorno pelo investimento (R$/R$ 100 de custos) 125,9 105,8 72,6 20,209 0,000 ***

Desempenho ambiental (ACV)

Ocupação da área (m2.ano/kg FPCM) 1,7 2,3 2,7 2,523 0,091 *

Uso de energia não-renovável (MJ/kg FPCM) 6,9 7,3 9,0 2,346 0,107 ns Pot. de aquecimento global (kg CO2eq/kg FPCM) 1,6 1,7 2,0 4,077 0,023 **

Pot. de acidificação (g CO2eq/kg FPCM) 18,6 19,8 27,2 4,515 0,016 **

Pot. de acidificação (kg CO2eq/ha) 110,5 94,2 101,2 0,634 0,535 ns

Pot. de eutrofização (g NO3eq/kg FPCM) 101,8 118,2 164,8 5,411 0,008 ***

Pot. de acidificação (kg NO3eq/ha) 595,5 560,7 609,6 0,216 0,807 ns

Desempenho social

Áreas de preservação de mata nativa (%) 13,5 5,7 0,9 4,759 0,013 ** Bonificação no preço recebido pelo leite (%) 1,2 1,7 1,8 0,097 0,908 ns Dias de folga dos funcionários (#) 3,8 3,1 3,2 0,778 0,465 ns

*: P< 0,10; **: P<0,05; ***: P<0,01.

FPCM: valor bruto de leite corrigido pelo teor de gordura e proteína. ns: não significativo

uta fam: unidade de trabalho ano familiar

Verifica-se que o grupo “Sustentabilidade +” *ou (Cluster 1) foi aquele que apresentou o melhor desempenho nos indicadores econômicos dentre os demais conglomerados. A Figura 26 mostra que o grupo “Sustentabilidade +” possui uma mediana e média superior

aos demais conglomerados no indicador “Retorno pelo Investimento (R$/R$ 100 de custos)”, ficando em segundo lugar o “ Cluster Médio” e em terceiro o “ Cluster Sustentabilidade –“.

O Cluster 1 destaca-se no desempenho econômico também no indicador “renda da fazenda por mão de obra familiar”. A diferença da renda entre o Cluster 1 e o Cluster 3 foi superior a R$ 500.000,00/uta fam e isto destaca fortemente a primeira posição deste conglomerado no quesito desempenho econômico. Vale notar que a diferença também foi expressiva quando comparado com o cluster 2 que teve esse indicador médio calculado em R$ 4.072,00/uta fam no ano, conforme apresentado na Tabela 13.

Figura 26 – Apresentação em Box-Plot do indicador de desempenho econômico, “Renda pelo

Investimento (R$/R$ 100 de custos)” entre os conglomerados, “Sustentabilidade +”, “Médio” e “Sustentabilidade -” das fazendas de leite do EDUCAMPO (2014/2015).

Do ponto de vista ambiental, verifica-se que os indicadores UENR (MJ/kg FPCM), PE (kg NO3eq/ha) e PA (kg SO2/ha) não apresentaram diferenças entre os clusters. Mas, por

outro lado, vale destacar que a PE e PA com base na produção de leite tiveram diferenças estatísticas significativas entre os clusters, conforme apresentado na Tabela 13. Da mesma forma que o Cluster 1 (Sustentabilidade +) teve destaque dentre os indicadores de desempenho econômico, este também foi o agrupamento que apresentou os menores impactos ambientais quando comparado com os demais.

Ao comparar os valores médios das categorias de impacto ambiental de cada um dos agrupamentos, foi possível verificar uma redução significativa nos impactos ambientais

causados desse primeiro conglomerado, a diferença média entre o cluster de menor impacto para o cluster de maior impacto é de 34% para a OA, de 21% no PAG, de 32% no PA e de 38% no PE. Comportamento semelhante também foi observado nas medianas apresentadas nos Box-Plot de cada um desses indicadores apresentados nas Figuras 27 e 28.

Como comentado, as categorias de impacto ambiental de PA e PE apresentaram comportamentos diferentes quando colocadas em unidades funcionais diferentes, kg de FPCM e hectares. Estes indicadores quando expressos em kg de FPCM tiveram diferenças estatísticas significativas entre os Clusters, mas quando calculados em unidade de área são iguais estatisticamente. Autores como Haas; Wetterich; Geier (2000), Thomassen e de Boer (2005) e Thomassen et al. (2009), apontam que a utilização desses indicadores é mais relevante em unidade de área em razão do potencial de impacto que ambos possuem inerentes a eles nesse mesmo aspecto. Estas categorias de impacto quando contabilizadas por kg FPCM deixam o seu caráter específico e passa a ser um impacto abrangente como o PAG que tem efeitos gerais na atmosfera. Portanto, torna-se relevante uma análise mais aprofundada sobre a categorização do Cluster 1 como o agrupamento com menores impactos ambientais na produção de leite nas categorias de PA e PE.

Figuras 27 e 28 – Apresentação em Box-Plot dos indicadores de desempenho ambiental de OA

(m2.ano/kg FPCM), UENR (Mj/kg FPCM), PAG (kg CO

2eq/kg FPCM), PA (g SO2eq/kg FPCM) e PE (g NO3eq/kg FPCM), entre os conglomerados, “Sustentabilidade +”, “Médio” e “Sustentabilidade -” das fazendas de leite do EDUCAMPO (2014/2015).

Por fim, não forma verificadas diferenças estatísticas nos indicadores de desempenho social de “bonificação no preço recebido pelo leite” e “dias de folga dos funcionários”. Como comentado no capítulo de metodologia, estes indicadores foram desenvolvidos como uma proxy dos indicadores considerados por Dolman et al. (2014) e também pelo atributo de sustentabilidade interna que não havia sido contemplado por esses autores. Portanto, esta análise sugere que estes indicadores foram testados e, a partir destes resultados, pode-se concluir que não possuem interferência na formação dos clusters, mais ainda assim é sugerível que se façam estudos mais detalhados em bancos de dados

que possuem informações relevante e ajudem a desenvolver um embasamento mais preciso sobre o uso destes indicadores para o cálculo do desempenho social (interno+externo) nas fazendas produtoras de leite (LEBACQ; BARET; STILMANT, 2013; VAN CALKER et al., 2005).

Ainda no quesito de desempenho social, como um proxy para o atributo “qualidade da paisagem” que foi considerado por Dolman et al. (2014), tomou-se por base a proporção de áreas de mata nativa em relação a área total das fazendas do EDUCAMPO. Este indicador em cada um dos agrupamentos formados apresentou diferenças estatisticamente significativas entre eles, o que ressalta a importância deste indicador como um parâmetro de medição do desenvolvimento sustentável na produção de leite. Este resultado é de grande relevância, uma vez que não foi encontrado na revisão de literatura uma abordagem semelhante para a utilização das áreas de mata nativa como indicadores de desempenho sustentável na produção de leite.

As diferenças estatisticamente significativas deste indicador entre os clusters formados conformam com a proposta de Haas; Wetterich e Geier (2000) de considerar a qualidade da paisagem e a biodiversidade dentro de um sistema de produção agropecuário, como um benefício no ponto de vista do desempenho social externo (LEBACQ; BARET; STILMANT, 2013; VAN CALKER et al., 2005), mas mesmo assim deve-se atentar nos benefícios ambientais e econômicos que estas áreas possuem (SANTOS et al., 2011; SIQUEIRA; DURU, 2015).

A Figura 29 apresenta o comportamento do indicador “área de preservação de mata nativa” nos diferentes conglomerados que foram formados, no conglomerado “sustentabilidade -”, o valor da mediana foi nulo, enquanto que o cluster “sustentabilidade +” apresenta a mediana pouco superior aos 10%.

Figura 29 – Apresentação em Box-Plot do indicadores de desempenho social externo, “área de

preservação de mata nativa (%)”, entre os conglomerados, “Sustentabilidade +”, “Médio” e “Sustentabilidade -” das fazendas de leite do EDUCAMPO (2014/2015).