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4 O TEMPO INTEGRAL NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE ENSINO

4.2 A VISÃO DAS GESTORAS

4.2.5 Formação dos professores e monitores

A sociedade vive constantes mudanças, o mundo sofre transformações e os alunos estão convivendo com essas mudanças. Por isso a escola precisa se adaptar para atender a essas novas demandas e acompanhar a diversidade de informações que são culturais, sociais, políticas e tecnológicas.

Nesse sentido, a proposta de uma educação integral demanda que nas escolas sejam vivenciados diferentes saberes, culturas, valores e a construção do conhecimento. O desafio do educador é acompanhar essas vivências e a transformação dos educandos. Tão importante quanto a ampliação da quantidade de tempo, urge a luta por uma formação docente que privilegie o aproveitamento qualitativo do tempo educativo.

Para saber sobre a formação dos professores perguntou-se às gestoras se os professores tiveram alguma formação continuada em educação integral:

Gestora Escola A - "Então, desde 2009 quando veio a proposta, nós sentamos sim junto com a Secretaria Municipal de Educação pra ter uma leitura mais próxima do que seria o programa, como é que a gente ia implantar, dialogamos bastante, a partir de então a gente sempre tem encontros mensal, as profes comunitárias têm formação continuada dada pela Secretaria Municipal de Educação [...]. Mas nós temos sim uma formação continuada, inclusive a Secretaria tem uma parceria com as instituições de ensino superior, onde a Universidade Federal Fronteira Sul também tem desenvolvido vários cursos né, em relação a formação de professores na educação integral, [...], então a gente realiza formação continuada sendo oferecida pela Secretaria e também pela escola."

Profe comunitária Escola B - "Os monitores tiveram, ahãm. não foi ano... é, foi o outro ano, foi 2014 eu acho, que a gente teve com, com a Universidade Federal, todos os monitores, eu coordenadora, o pessoal da direção, equipe diretiva, lembro que, e daí, foi colocado [...] porque os profes não estão aqui, e daí foi colocado... porque a gente fazia essa formação continuada no dia do planejamento do Mais Educação, entende, e os professores estavam em sala de aula. Então foi colocado que um dos pontos negativos da formação foi que o restante da escola não pode participar."

Gestora da Escola B - "É, em 2014 né, no ano passado também não e nesse ano até agora também não."

Gestora Escola C - "Não. Teve alguma palestra, assim, mas não uma formação específica. Não, tivemos alguma coisa de palestra, os professores de..de AEE que acabam falando como é que vai trabalhar com os estudantes nos dois períodos, nos dois turnos, mas assim uma formação específica não."

Gestora Escola D - "Sim, em vários momentos. Os professores do ensino comum, regular, pra também nos auxiliar no que o Mais Educação podia ampliar a aprendizagem. Eles tiveram formação sim. A escola e a secretaria de educação ofereceram."

Gestora Escola E- "Sim, os professores eles tiveram. Foi pela Secreta... a Secretaria proporcionou junto com a Universidade Federal. Mas não foi 100%, foi por adesão e nem todos fizeram."

Gestora Escola F - "Foi oferecido mas não foi todos que participaram. É quem tinha interesse."

Gestora Escola G - "Especificamente não, aqui na escola durante os planejamentos, as atividades de formação que a gente faz aqui, conversou aqui na escola, e desde que começou o projeto, a gente procura sempre direcionar, pra estudos voltados pra essa área também, pra embasar o trabalho, porque é complicado tu adaptar uma rotina, um currículo à educação integral de uma hora pra outra. Tem que ter um

embasamento por mais simples que seja, a gente tenta fazer na maioria das vezes no planejamento."

As respostas para esse questionamento geraram divergências. Duas gestoras (A e D) confirmaram ter acontecido essa formação, através de parcerias com universidades. Duas gestoras (E, F) afirmaram que foi oferecida uma formação, porém apenas para quem tivesse interesse, e por isso, a adesão não foi de 100% dos professores. E duas gestoras (B e C) afirmaram que os professores não tiveram formação específica sobre educação integral, apenas os monitores. Os professores da escola G fazem discussões e reflexões acerca do tema durante os planejamentos e formações na escola, mas também não tiveram formação oferecida pela mantenedora.

Como já citado em outros momentos desta análise, a questão formação continuada apresentou-se como uma forte e grande lacuna existente no sistema municipal de Erechim. As controvérsias, as discordâncias, as rejeições e resistências perpassam por essa falha. O desconhecido gera incertezas do que é certo ou errado, negativo ou positivo, bom ou ruim. A falta de informação e formação acarreta no mau funcionamento do programa e na avaliação negativa deste por parte dos professores.

Já, em relação à formação dos monitores, todas as escolas realizam um planejamento e formação mensal (com exceção da escola G que não realiza mensalmente), no qual os estudantes são dispensados no turno da tarde para que seja realizado esse encontro entre monitores, professora comunitária e direção, conforme relato de algumas gestoras:

Gestora Escola A -" [...] Pros monitores e estagiários e professores do Proeti a gente faz mensalmente uma reunião, aonde a gente procura tá debatendo a questão da educação integral, refletindo sobre o processo educativo, entendendo um pouquinho desse processo ora também ir se reafirmando então, transformando os tempos e espaços."

Gestora Escola D: "[...] Eles recebem formação pela escola, durante o ano letivo, uma vez por mês tem uma parada, em que os alunos são dispensados em que eles recebem formação, pra adequar as atividades, pra melhorar a aprendizagem."

Gestora Escola G - "Aqui na escola a gente tem duas monitoras e elas vêm dois dias por semana. E a gente repassa orientações, sempre o necessário e elas participam também de momentos de formação. Não é uma vez por mês né, a profe comunitária conversa com elas no período de formação. Às vezes, tem parada para os professores e elas se reúnem com os monitores também e estagiários, enfim, pra repassar as orientações, então acontece esses momentos, só que não com tanta frequência né."

Ainda sobre a formação dos monitores, foi levantado pelas gestoras a questão da formação inicial que cada um tem ao entrar na escola, bem como, a pouca ou nula experiência em sala de aula, que abrange a maioria dos educadores monitores:

Gestora Escola A - "As atividades desenvolvidas (pausa na fala), elas (pausa na fala), pelo programa Mais Educação, as pessoas não têm uma formação específica pra isso, a gente sempre tenta buscar um profissional que atenda o mais perto possível do que tem um tipo de experiência, mas enfim, o programa dá liberdade pra que a gente contrate pessoas não formadas especificamente na área né. Então essas atividades no início a gente teve alguns problemas, porque a gente tinha profissionais oriundos de diversas áreas que não tem, não tem uma formação específica, não tem a questão da didática, nunca tiveram no espaço escolar, mas hoje a gente conseguiu ir adaptando através da formação continuada que a escola dá, através das reflexões, através das análises e das leituras, de vários momentos de estudo, a gente foi aos poucos qualificando. Claro que não é o ideal perto do que a gente quer pensando em escola de tempo integral, pensando em educação integral, mas a gente tem avançado bastante."

Gestora Escola D - "[...] Devido à questão de formação, porque todos estão cursando alguma licenciatura, sem experiência, então foi essa adaptação que a gente sentiu mais. Primeiro contato deles em sala de aula foi uma aprendizagem total pra nós, pra eles, o projeto novo, eles sem experiência na sala de aula, foi uma (pausa na fala), um desafio.

A formação inicial dos monitores gera uma série de polêmicas nas escolas, especialmente em relação aos professores. É claro que deve haver essa integração da escola com a universidade e essa parceria muitas vezes tem sido proveitosa tanto para os acadêmicos como para a escola. São saberes diferentes, pessoas aprendendo, diferentes vivências e culturas. A vivência desses acadêmicos, no âmbito escolar, oportuniza que esses aprendam e vivenciem o cotidiano de uma escola, de uma sala de aula, e isso, com certeza, qualificará a sua formação como futuro professor.

No entanto, algumas escolas (em especial as de educação em tempo integral) já pensam em trabalhar com professores de 40 horas para desenvolver as atividades complementares. Estariam durante todo o dia acompanhando a rotina dos estudantes, podendo acompanhar também o desempenho de cada um e, assim, contribuindo para que sejam planejadas atividades de acordo com as defasagens existentes entre os estudantes, qualificando o processo ensino e aprendizagem.

A partir da análise desta questão, é notória a extrema importância de que o professor esteja sempre em constante aperfeiçoamento, refletindo sobre a sua prática e construindo novos saberes pedagógicos. A formação continuada pode possibilitar a reflexão e a mudança nas práticas docentes, ajudando os professores a tomarem consciência do que é educar integralmente.

Para atuar na educação em tempo integral, o professor precisa contar com uma formação continuada diferenciada, proporcionada pelos sistemas educacionais (tanto Secretarias de educação como das próprias escolas), que contribua para a busca e a compreensão dos saberes sobre educação integral, para construção de novos conhecimentos e para a reflexão coletiva entre seus pares, sobre suas práticas, sobre os estudantes, sobre o currículo e as atividades, na busca por uma educação integral de qualidade.