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CAPÍTULO 2 – EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: AS POSSIBILIDADES DE PARTICIPAÇÃO DO CIDADÃO

3.2 A Formação de Educadores e Tutores

Os professores e tutores em ensino a distância, máxime nas universidades de educação a distância, precisam de se preparar, não só com formação inicial em novas tecnologias e metodologias de educação a distância, mas também com formação continuada, sendo eles mesmos, no seu trabalho, exemplos de pessoas com formação ao longo da vida. É também suposto, como parte do seu trabalho, que reflitam e produzam trabalho sobre as metodologias de educação a distância. Ultimamente, tem-se observado, a nível mundial, uma melhoria na formação dos professores de ensino superior a distância, a qual se repercute na sua produção científica e nas capacitações que oferecem através das instituições onde trabalham. CARMO (1997), um dos mais profundos conhecedores do modelo de educação a distância português protagonizado há 25 anos pela UAb, sugere uma redefinição das finalidades da educação superior a distância numa perspectiva de interculturalidade, voltada para o desenvolvimento social e para a construção da cidadania, destacando o papel importante dos professores – o que nos permite pensar no papel dos professores de ensino superior a distância – como grupo estratégico. Nas suas palavras,

“Objetivos tão ambiciosos, apesar de serem justos, confrontam-se com a complexidade dos grupos a educar: crianças, jovens, adultos, velhos e minorias. Uma vez que nenhum país tem recursos para criar em simultâneo programas para toda a população, a questão politica que se põe é a de selecionar grupos – alvo prioritário, em que se possam concentrar os recursos educacionais ”(CARMO, 1997 a: p.7).

Eis a questão: qualquer melhoria ou inovação em educação – e a educação a distância não é exceção – passa pelo incremento da formação dos professores e dos outros agentes educativos. Mais: passa pela qualificação dos profissionais do ensino superior a distância com vista a que esta metodologia de educação superior possa chegar, numa perspectiva inclusiva, ao maior número possível de pessoas.

meios, em geral, para a definição de novas competências nos processos de formação dos profissionais da educação. Segundo este autor, é necessário que os profissionais da educação desenvolvam competências em quatro grandes áreas: cultura técnica, consubstanciada no domínio mínimo de técnicas informáticas, o que se torna indispensável nas situações educativas atuais; competências de comunicação, que, no caso da educação superior a distância, são necessárias tanto para a difusão dos suportes mediatizados como para o desenvolvimento de uma adequada comunicação interpessoal e para a realização de trabalho de equipe; capacidade de trabalhar com métodos, ou seja, capacidade para sistematizar e formalizar procedimentos e métodos, o que é indispensável para estabelecer e alcançar objetivos com qualidade; capacidade de capitalizar, ou seja, capacidade para apresentar saberes e experiências, de modo a que outros possam aproveitá-los, assim como capacidade para adequar tais saberes e experiências às necessidades e ao saber dos outros participantes no processo educativo, evitando que se procure “reinventar constantemente a roda” (BLANDIN, 1990:89).

Além da formação dos agentes do processo educativo, outro critério que deve orientar a construção do sistema educativo é a flexibilização. Trata-se de um conceito que possui significados contraditórios, nos âmbitos empresarial e educacional. No campo empresarial, este termo significa amiúde a possibilidade para as empresas de, tendo necessidade de proceder a reestruturações, descartarem facilmente a mão-de-obra, tornando-a desnecessária pela introdução de novos meios tecnológicos. Também na educação a flexibilização tem diferentes significados, conforme aponta BELLONI (2003), mas um especialmente nos interessa e não tem que ver com o significado que o termo assume nos meios empresariais. Referimo-nos à noção de flexibilização do acesso, que significa rever as políticas públicas de modo a tornar possível o acesso por parte de todos ao ensino, especialmente ao ensino superior.

É hoje reconhecido, na maior parte do mundo desenvolvido ou em vias de desenvolvimento, que são necessários esforços na expansão da oferta formativa e na disponibilização, a preços baixos, de materiais pedagógicos. Os sistemas públicos de educação a distância – sendo que o sistema público português de ensino superior a distância é exemplar a esse propósito – apoiam-se na ideia da flexibilização do ensino, que se traduz na oferta de cursos diversificados e modularizados, incentivando as habilidades de autoaprendizagem. Mas também se apoiam na ideia de flexibilização da aprendizagem, no sentido de proporcionar ao aprendente mais autonomia e independência e de lhe permitir uma efetiva capacidade de auto-gestão (de gestão do

que se traduz no oferecimento de programas de estudos em função das demandas sociais, numa perspectiva de “educação ao longo da vida”. Tudo isto implica uma profunda transformação dos sistemas tradicionais de ensino superior.

Os critérios indicados devem ser tidos em conta na oferta de planos de estudos e de unidades curriculares. E devem ser entendidos como fatores orientadores da sustentabilidade do sistema. Estão orientados sobretudo para a promoção da qualidade do sistema, em todas as suas áreas. Neste sentido, podemos dizer que flexibilizar significa, positivamente, apostar num ensino de elevada qualidade. Por exemplo, os critérios de avaliação nos sistemas de educação superior a distância devem ser redobrados para assegurar a sua fiabilidade. Estas mudanças nas estruturas do ensino superior a distância consubstanciam transformações muito profundas não só nos sistemas de ensino mas também no modo de viver em sociedade, dando uma nova dimensão ao aprendente como cidadão.

Neste contexto, a formação de professores e tutores é um dos maiores desafios para a atual oferta em educação superior a distância, visto ser esta uma condição necessária, embora não suficiente, para transformações na educação, em todos os seus níveis. As dificuldades atuais são inúmeras. É conhecido que no ensino superior há profissionais (professores) que, infelizmente, veem com desconfiança e resistência as inovações tecnológicas em suas práticas. Tal é muito usual nas universidades presenciais, mesmo naquelas que, como é hoje o caso, pretendem dedicar-se ao ensino a distância. Ou bem que têm professores abertos à mudança, e naturalmente meios adequados (infraestruturas e metodologias de ensino), ou não é possível oferecerem ensino a distância de qualidade. Mas o perigo também existe nas universidades parcial ou totalmente de educação a distância, porque o grau de adaptação que se exige aos professores é muito elevado.

Como veremos, razões de sustentabilidade exigem que as universidades mudem e se tornem mais flexíveis, por forma a darem resposta às demandas sociais. Ora isto é uma novidade do nosso tempo. Existe uma percepção clara de que os comportamentos dos agentes educativos estão errados e que têm de mudar. Por exemplo, verificamos hoje que muitos professores do ensino superior reagem com negativismo à mudança, nomeadamente porque não estão habituados a partilhar suas responsabilidades com outros colegas, ainda mais se forem de outra área. Ora esta partilha é primordial, e indispensável, à produção de materiais pedagógicos e de serviços de tutoria. Isso é também evidente na formação continuada, cada vez mais necessária nas sociedades

inovadores. Tudo isto é próprio do “programa” de uma universidade que funciona com metodologias de educação a distância e tem a particularidade de poder contribuir fortemente para mudanças no papel e nas mentalidades dos professores nas instituições de ensino superior.

3.3 A Ambivalência dos Novos Tempos - Transformar com o Auxílio da