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Perspectivas do Cidadão do Futuro resgate da cidadania, da autonomia, do autoconhecimento e da aprendizagem ao longo da vida

CAPÍTULO 7 –ASPECTOS INSTITUCIONAIS EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

7.4 Perspectivas do Cidadão do Futuro resgate da cidadania, da autonomia, do autoconhecimento e da aprendizagem ao longo da vida

As características que movem a sociedade contemporânea exercem grande impacto sobre a educação, promovendo um trabalho mais responsabilizador, ao mesmo tempo que se exige do trabalhador maior mobilidade, qualificação, capacidade de gerir situações de grupo, em suma, aponta-se para a necessidade de formação de um trabalhador mais informado e autônomo. Devido à sua peculiaridade intrínseca, e à sua própria natureza, a educação a distância contribui para a formação inicial e continuada destes estudantes autônomos (em especial trabalhadores), pois a autoaprendizagem é um dos fatores básicos de sua realização. Entende-se como aprendizagem autônoma aquela em que o processo de ensino e aprendizagem é centrado no aprendente, cujas experiências são aproveitadas como recurso e no qual o professor deve assumir-se como recurso do aprendente. Por isso este é considerado como um ser autônomo, gestor de seu processo de aprendizagem, capaz de autodirigir e autorregular este processo. O referido modelo é apropriado a adultos com maturidade e motivação, condições necessárias à auto aprendizagem, e que devem possuir um mínimo de habilidades de estudo (TRINDADE,1992:32;CARMO, 1997: 300; KNOWLES, 1990, apud BELLONI, 2003: 39-40).

conhecer as necessidades dos potenciais estudantes e suas expectativas, para que as metodologias e estratégias se integrem efetivamente. Buscam-se então na educação superior transformações que deem condições às pessoas para uma aprendizagem autônoma que promova a construção partilhada do conhecimento, isto é, que considere o “conhecimento como processo e não como mercadoria” (PAUL, 1990: 32, apud BELLONI, 2003: 41).

A aprendizagem efetiva é necessariamente ativa. Para além de toda a retórica, os professores devem considerar que, embora sejam eles que realizam o “trabalho observável” na definição e distribuição do currículo, quem realiza a aprendizagem é o estudante. (Idem et ibidem). O perfil do estudante da chamada educação aberta e a distância é adulto. São geralmente adultos que trabalham, mas que necessitam de estudar pelo menos a tempo parcial. Desta forma, fala-se em aprendizagem ao longo da vida, como caminho para alcançar e manter a competitividade nos atuais mercados de trabalho, assegurando a igualdade de oportunidades entre todos os agentes e promovendo a sua qualificação.

A formação continuada passa então a ser não só um direito do indivíduo, mas também um dever da sociedade e do Estado, oferecendo a todas as pessoas oportunidades para desenvolverem suas competências como trabalhadores e cidadãos, por forma a que a vida em sociedade seja melhor. Nesta senda, LJOSÄ (1992) considera que as políticas públicas estão sujeitas a três necessidades fundamentais: necessidade de garantir um nível geral de qualidade da educação, não apenas em quantidade de estudantes, mas também em termos de melhoria da qualidade das atividades de aprendizagem contínua e ao longo da vida; necessidade de atualização e retreinamento, promovendo a adaptabilidade e o domínio das novas tecnologias por parte das pessoas; necessidade de promoção de competências e carreiras múltiplas, as quais representam a tendência do mercado de trabalho atual decorrente do avanço acelerado da ciência e da tecnologia e provocam a obsolência do conhecimento e das técnicas em face de novas regras que, muitas vezes, ao flexibilizarem, precarizam o fator trabalho (LJOSÄ, 1992: 26, apud BELLONI, 2003).

Ainda segundo este autor, as mudanças no campo do trabalho e as tendências demográficas (envelhecimento da população) tendem a provocar nos países europeus uma perda de competitividade pela falta de mão-de-obra qualificada, podendo este

qualificação é premente em todos os níveis sociais sendo necessário um grande esforço dos poderes públicos em formação continuada por mor das mudanças econômicas e tecnológicas. Neste sentido, os poderes públicos não podem esquecer-se de elevar o nível de educação básica dos trabalhadores. Atendendo a estas necessidades mencionadas, será preciso desenvolver o conhecimento dos “sistemas aprendentes”. Segundo Hermano Carmo (Carmo, 1992), o aumento do número de aprendentes e a sua crescente diversidade dá-se por causa de três fatores: aumento demográfico (da população jovem); aumento das necessidades de formação contínua da população adulta; crescente consciência social e política da importância dos níveis de educação da população para o desenvolvimento econômico e social, exigindo-se, consequentemente, “políticas de adaptação ao choque cultural e de condução do processo de mudança ”, bem como estratégias com o objetivo de promover o desenvolvimento e a solidariedade (devido às desigualdades sociais oriundas da globalização), assim como a promoção da autonomia das pessoas em vista de uma democracia efetiva e eficaz.

II – METODOLOGIA

A metodologia desta pesquisa teve como função mostrar o “caminho das pedras”, em vista de um “norte” e, consequentemente, de parâmetros em matéria de educação superior a distância, particularmente em Portugal e no Brasil. Faz pois sentido que seja esclarecida e fundamentada. Pretendemos realizar um estudo descritivo da realidade que é a educação a distância mas que, simultaneamente, seja uma averiguação crítica, inves- tigativa e criativa. Falamos de uma realidade enraizada na vida de pessoas concretas que têm necessidades específicas de formação. Que percepções podemos ter dessa realida- de? Como afloram tais percepções à nossa consciência? Os sistemas – ou, precisamente, subsistemas – português e brasileiro de educação superior a distância foram e são fruto, por diferentes caminhos, de um planejamento relativamente cuidadoso, mas não imune a falhas. Muitos dos estudos existentes e que nos servem de orientação nesta pesquisa são reflexões conceituais sólidas sobre o caminho que se fez e que tenderá a ser feito visando a inclusão das pessoas na sociedade pela via da sua capacitação nos mercados de trabalho. Mais do que nunca, para este efeito, o intercâmbio entre as comunidades científicas brasileira e portuguesa torna-se possível e desejável. Estas são algumas das intuições e percepções que tivemos ao iniciar este trabalho.

o seu quê de novidade, e é ele mesmo fruto de uma opção metodológica. Adotar uma metodologia significa escolher um caminho, um percurso global dotado de sentido. Percurso esse que precisa, muitas vezes, de ser recriado para ser melhorado e adequar-se às necessidades das pessoas. Precisa esse caminho não somente de regras mas também de criatividade e de espírito crítico. Numa palavra, quem pesquisa precisa de ter liber- dade. Esta pesquisa procura respostas para as indagações propostas e sugere soluções viáveis para a sua execução. Baseamo-nos em abundantes fontes escritas, assumindo este trabalho uma natureza essencialmente qualitativa. Essa mesma natureza sai refor- çada pela abordagem crítica e pela circunstância de ligarmos, numa perspectiva polito- lógica, materiais de estudo que são normalmente objeto das ciências da educação. Claro está que esta não é uma pesquisa em educação, e, se dúvidas houvesse, a metodologia é reveladora disso.

MINAYO (1993: 23), vendo a realidade por um prisma filosófico, considera a pes- quisa científica como uma

“atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realida- de. É uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsicamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados”.

DEMO (1996: 34), por seu lado, considera a pesquisa científica como uma ativida- de cotidiana, uma atitude, um “questionamento sistemático crítico e criativo, mais a intervenção competente na realidade, ou o diálogo crítico permanente com a realidade em sentido teórico e prático”. Para GIL (1999: 42), a pesquisa científica tem um caráter pragmático: é um “processo formal e sistemático de desenvolvimento do método cientí- fico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”.

Do ponto de vista da sua natureza, esta pesquisa é fundamental no sentido de que procura gerar novos conhecimentos úteis envolvendo interesses universais, que são o que justifica o governo como categoria também universal, muito mais do que a ideia de Estado (CAETANO, 2007). E também por isso esta pesquisa vai para além do Estado nacional, quando advogamos, por exemplo, uma cooperação estreita entre Portugal e o Brasil. Sendo esta uma abordagem de caráter qualitativo, ela justifica-se porque há uma

entre o mundo objetivo e a subjetividade, como coisa própria do sujeito, que, em grande parte, não pode traduzir-se em números. Esta pesquisa apoia-se numa coleta de dados que, na sua objetividade, apontam para uma realidade complexa que exige uma interpre- tação. A educação superior a distância é, na nossa perspectiva, parte de um ecossistema social, ou seja, é parte de um sistema tecido por um conjunto de interrelações entre a comunidade política e a sua área geográfica de atuação. Nas atuais circunstâncias da vida, moldada pelas ligações em rede, esse espaço-tempo é o mundo.

Quanto aos seus objetivos, esta pesquisa é exploratória, visando proporcionar uma maior familiaridade aos leitores com o problema suscitado, com vista a torná-lo explíci- to e a construir novas hipóteses de trabalho sobre o modo de fazer educação a distância. Ao envolver um levantamento bibliográfico e a análise de exemplos que estimulam a compreensão sobre o objeto de estudo, esta pesquisa constrói-se a partir de material já publicado, principalmente livros, artigos de periódicos e material disponibilizado na internet, mas vai além dele, no sentido da produção do referido conhecimento útil que é o que justifica a atividade científica (CAETANO, 2007).

Utilizamos o método dialético, inspirado na proposta homônima de Hegel, segundo a qual, no processo de indagação da realidade, as contradições se transcendem dando origem a novas contradições que passam a requerer uma nova solução. É um método de interpretação dinâmica e totalizante da realidade. Consideramos que os fatos não podem ser considerados fora de um contexto social, político, econômico (GIL, 1999; LAKATOS; MARCONI, 1993). E que a política é o contexto no qual se produzem as políticas (CAETANO, 2007). Empregamos também o método fenomenológico. Tal como preconizado por Husserl, o método fenomenológico não é dedutivo nem indutivo; preocupa-se, sim, com a descrição direta da experiência tal como ela é oferecida à cons- ciência humana. A realidade é construída socialmente e assumida como o compreendi- do, o interpretado, o comunicado. Então, a realidade não é única mas múltipla e com- plexa: existem tantas realidades, ou formas de realidade, quantas as suas interpretações e comunicações. O sujeito/ator, com o seu background científico e cultural, é reconhe- cidamente importante no processo de construção do conhecimento (GIL, 1999; TRIVIÑOS, 1992). Nesta linha, CAETANO (2007) sustenta que a política é não só o contexto mas a realidade do múltiplo, do diverso. Os problemas da educação superior a distância contemporânea, por referência aos contextos concretos em que ocorre, são

muito claro. E isso é inovador, desde logo no plano metodológico

Ao procurarmos representar a dimensão qualitativa de ações humanas significati- vas, no sentido fenomenológico do termo, não utilizaremos, embora o pudéssemos fazer, amostras e dados estatísticos. Utilizamos, de modo metodologicamente pertinen- te, uma bibliografia relativamente vasta (e reconhecidamente heterogênea) como expli- cação do referencial teórico do tema proposto, assim como exemplos de experiências humanas contextualizadas. Trata-se, deste modo, de uma pesquisa qualitativa em que lançamos mão de bibliografia e de exemplos.

Uma última nota para referir que procedemos a uma recolha de dados através de uma observação assistemática (sem planejamento e controle previamente elaborados) da realidade, mas em todo o caso coerententemente e metodologicamente orientada.