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De acordo com a terceira regra desenvolvida em nosso trabalho, dada uma base verbal X, formam-se nomes em função de adjetivo ou substantivo com o acréscimo do sufixo -eir. A regra que nós criamos descreve a formação de nomes derivados de uma base verbal, da primeira, segunda ou terceira conjugações, como mostra o esquema:

(3) [x]v→[x-eir] [+n].

Nesta regra, utilizamos como critério o fato dos nomes serem produzidos a partir da forma infinitiva dos verbos que lhes servem de base. Já em relação aos produtos dessa regra, eles expressam ações freqüentes ou intensas desempenhadas pela base verbal, em que “Algo ou alguém é ou faz X em excesso” ou caracterizam “Objetos de uso referentes à base”.

Nossa investigação revelou que a regra na qual as formas verbais servem de base para a derivação com o sufixo -eir é pouco produtiva na língua portuguesa atual. Cerca de 9,8% do total de bases investigadas são verbos. Essa porcentagem equivale a 34 exemplos das palavras derivadas. Como nos exemplos:

(16) Uma gemedeira que me faz arrepiar de tanta emoção e medo.

(17) Sou retardada, mas sou feliz. Este deveria ser o slogan do novo programa da MTV Brasil. As quebradeiras, reality show que mostra o cotidiano de miguxas em férias na praia.

Investigamos também qual das três conjugações verbais apresentava maior recorrência na afixação com o sufixo -eir. Os verbos da primeira conjugação são os mais freqüentes no processo derivacional que estamos estudando, com 29 exemplos de bases dessa

67 conjugação. Já os verbos da segunda e terceira conjugações possuem um número de freqüência muito baixo e semelhante, com 3 e 2 exemplos dessas bases respectivamente. Acreditamos que essas regras são produtivas porque tem a capacidade de explicar a grande e diversificada quantidade de formações complexas produzidas com o sufixo -eir na Língua Portuguesa, tanto palavras já institucionalizadas na língua quanto palavras recém criadas e ainda não dicionarizadas. Na terceira regra derivacional, por exemplo, percebemos a mudança categorial que as palavras sofrem quando os falantes precisam utilizá-las em contextos discursivos diferentes ou como diz Basílio (2006, p.28): “A utilização da idéia de uma palavra em outra classe gramatical.”

A seguir apresentamos a tabela 1, que resume o número total de ocorrências e a porcentagem das bases que participam da derivação com o sufixo -eir.

Número total de ocorrências Porcentagem correspondente Bases derivadas com o sufixo -eir 345 100%

Nomes ou substantivos 296 85,7%

Adjetivos 15 4,3%

Verbos 34 9,8%

Resumo: Neste capítulo apresentamos as regras envolvendo o sufixo -eir. Constatamos que das três regras analisadas em nosso trabalho duas delas mostraram grande produtividade quantitativa e qualitativa, ou seja, além do elevado número de ocorrências encontradas percebemos o surgimento de vários neologismos que podem ser analisados a partir dessas duas regras. Na regra menos produtiva, a qual produz nomes a partir de uma base verbal, não encontramos a produção de novas palavras da língua.

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6 As Regras de Formação de Palavras com o Sufixo -ud

A partir dos trabalhos desenvolvidos pelos diversos autores lidos na fase do levantamento bibliográfico, optamos pela elaboração de duas regras para tentar descrever a derivação de palavras com o sufixo -ud, a nosso ver, também regras de formação de palavras plenamente produtivas em Língua Portuguesa. Primeiramente, na seção 6.1, apresentamos a regra em que nomes em função adjetiva são produzidos a partir da adjunção do sufixo -ud a bases de natureza nominal ou adjetival. Já na seção 6.2, demonstramos nossa segunda regra, na qual nomes exercendo função adjetival são produzidos a partir de bases verbais.

6.1. A Formação de nomes adjetivos a partir de nomes

Em nossa primeira regra, propomos que nomes em função de adjetivos são produzidos a partir de uma base nominal X, por meio da aplicação do sufixo -ud. Esta regra é, respectivamente, um complemento e um aprofundamento das idéias de Monteiro (1987) e Rocha (1998) sobre o sufixo -udo. Estabelecemos como critério principal a base ser um nome concreto, relativo ou não a uma parte do corpo humano ou um adjetivo primitivo, que também pode ou não estar relacionado especificamente a uma parte do corpo humano

.

O seguinte esquema formaliza a regra que propusemos em nosso trabalho: (1) [x] [+n]→[x-ud] [+n].

Com relação aos produtos dessa regra, as palavras são subespecificadas com o traço [+n], que mostra que essas palavras exercem funções diferentes em contextos sintáticos específicos, ora funcionando como substantivos ora como adjetivos. Já em relação à caracterização semântica, esses produtos designam a característica apresentada pela base em excesso, como “Algo ou alguém que tem X em abundância ou algo ou alguém que é muito X”, podendo ou não estar relacionados uma parte do corpo humano.

A análise de nossos corpora revelou que a primeira regra derivacional relativa ao sufixo - ud é muito produtiva. Obtivemos um total de 96 exemplos que obedecem aos critérios estabelecidos por nós na caracterização dessa regra. Nessa regra investigamos também qual base seria a mais freqüente, a nominal ou adjetival. Do número total de bases analisadas, as bases nominais ou substantivas demonstraram ser as mais produtivas, com o número de 70 exemplos, o que equivale a 65,4% do total. Já as bases adjetivas só correspondem a 26 exemplos e 15,2% do total de bases investigadas.

69 Também avaliamos a característica semântica dos produtos produzidos por essa regra, avaliando qual produto estava relacionado ou não com “uma parte do corpo humano apresentada em excesso.” Surpreendentemente, os nossos exemplos mostraram que 54,6% dos exemplos coletados, uma totalização de 47 ocorrências, têm como base uma palavra que não está relacionada a uma parte do corpo humano.

Por sua vez, a acepção mais freqüente do sufixo -ud, a de “parte do corpo humano apresentada em abundância”, apresentou apenas um total de 39 exemplos, o que é equivalente a 45,4% das ocorrências analisadas. Esse fato mostra que o sufixo -ud não possui apenas a acepção de “parte do corpo em excesso”, mas também estabelece a noção de “provimento ou relação de parte e todo”, mostrando a ampliação de seu campo semântico. Os seguintes exemplos confirmam esse fato:

(18) Se faço administração me formo, viro gerente executivo, fico careca e barrigudo, estressado e impotente sexual, mas se faço jornalismo o que acontece?

(19) Não foram as modelos belezudas que deixaram a platéia do desfile da Blue Man com água na boca.

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