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Com relação a outros trabalhos sobre morfologia derivacional, nós podemos nos referir a Rocha (1998), o qual estabelece um esboço de uma regra de formação de palavras com a utilização do sufixo -eiro. Em sua tentativa de estabelecer uma regra que represente a formação de palavras com esse sufixo, o autor trabalha com duas grandes perspectivas de análise: as condições de produção e as condições de produtividade dessa regra. As condições de produção se referem às restrições de vários tipos que impedem a produção efetiva de itens lexicais a partir de determinada regra. Já as condições de produtividade dizem respeito às possibilidades que determinada regra tem para que possa produzir novas palavras na língua. Rocha utiliza como exemplos para sua regra apenas as formações em que o sufixo -eiro desempenha o papel semântico de agentivo, como exemplos do autor temos: caseiro, sapateiro e bermudeiro. A partir daí, o autor demonstra que tipo de restrições se aplicam a sua regra, restrições fonológicas como dinheireiro; e restrições paradigmáticas como denteiro que é barrado pela existência de dentista, e sambeiro4

que tem existência bloqueada em função de já existir na língua a palavra sambista.

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4. Estes exemplos são considerados inexistentes por Rocha (1998).

O autor define em relação às condições de produtividade que uma regra de formação de palavras deve trabalhar com a categorização e a subcategorização da base à qual o sufixo irá se anexar.

Na descrição de sua regra, Rocha aponta ainda para a importância da caracterização tanto da base como do produto de uma regra. Assim, a RFP que transforma substantivos em substantivos através do sufixo -eiro deve caracterizar uma base como: [-abstrata], [- agente/indivíduo] e [-formação composta], só assim puderam ser formados substantivos recentes no português brasileiro como doleiro, chineleiro e cambalacheiro, produtos que têm valor de agentivo humano. Porém, Rocha não desenvolve em seu trabalho toda a gama de possibilidades que o sufixo -eiro pode ter quando analisado a partir das regras de formação de palavras. Foi baseado nessa lacuna que descrevemos as regras que analisamos em nosso estudo. Nossa intuição de falante/ouvinte nativo nos serviu de base para formular a hipótese de que apenas uma regra de formação de palavras com o sufixo -eiro não bastaria. Acreditamos que são necessárias três regras para que o fenômeno da derivação sufixal em -eir seja satisfatoriamente explicado.

Primeiramente, entendemos que a RFP que forma substantivos a partir de substantivos poderia e deveria ser descrita, porém optamos pela modificação na constituição do corpus de análise e passamos a investigar essas formações em textos jornalísticos, esportivos e do vestuário/moda, diferentemente do que Rocha fez (quando utilizou como referência os alunos da Faculdade de Letras de Minas Gerais).

Segundo, o autor procurou descrever apenas uma regra com o sufixo -eiro, no sentido de “formador de agentivos”, já as regras que propomos em nosso trabalho buscam descrever todos os sentidos em que o sufixo -eir é empregado: (Agentivos profissionais; árvore ou arbusto; campo ou recipiente; coletivo; gentílico; formador de adjetivos e objetos). O diferencial de nossa análise, em relação à de Rocha, se pauta também no tipo de descrição lingüística que adotamos em nossa pesquisa. Não consideramos o sufixo -eiro como um morfema derivacional completo, utilizaremos o critério de que o núcleo do morfema sufixal é -eir e que este vem seguido de uma desinência de gênero ou vogal temática. Esse mesmo critério de análise foi estendido também ao sufixo -ud, contrapondo-se ao sufixo -udo, dessa forma, esse afixo possui em sua seqüência final uma vogal temática ou uma desinência de gênero.

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Com a utilização desse critério, nos contrapomos à idéia de Rocha de que o sufixo - eira constitui uma alomorfia do sufixo -eiro. Em nosso trabalho, consideramos casos de alomorfia do sufixo -eir as formas -deira; -leira e -teira, presente nos respectivos exemplos: faladeira, chaleira e cafeteira.

Nosso objetivo foi aprofundar a idéia lançada por Rocha para a caracterização de uma RFP e torná-la satisfatória para a descrição das inúmeras formas com o sufixo -eir. Outra diferença em relação ao trabalho de Rocha é que adotaremos um conjunto de traços para caracterizar nomes (substantivos e adjetivos) e verbos. Sendo os nomes e os verbos vistos como classes lexicais e substantivos e adjetivos como funções desempenhadas pelos nomes

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Ainda em relação a Rocha (1998), o autor também faz considerações sobre a produtividade do sufixo -udo, porém, o autor só considera que esse sufixo é produtivo quando está ligado a base substantiva ou nominal. Rocha não atenta para o fato de que o sufixo -ud também pode se adjungir a bases adjetivas e verbais e trata essas formações como ‘transgressões sufixais’ a uma RFP, ou seja, formações que não respeitam a categoria da base. Rocha (1998, p.97) afirma que o sistema sufixal da língua portuguesa só aceita a combinação de bases substantivas anexadas ao sufixo -udo. Para o autor, o fato desse afixo se adjungir a bases adjetivas, verbais a até pronominais significa uma transgressão a esse sistema sufixal da língua. Segundo Rocha, somente em criações literárias pode-se encontrar esse tipo de burlamento a essa regra, uma vez que o autor só encontra fenômenos desse tipo na obra do escritor Guimaraens Rosa, como nos exemplos abaixo coletados por Rocha:

● Pequeno, mas duro, grossudo. (Adj.)

● Aqueles eram mais de cento e meio, sofreúdos. (V) ● Seu, cujudo, legitimo, era o ginete. (Pron.)

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