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2 EDUCAÇÃO E TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E

2.2 Novas tecnologias em sala de aula: discutindo os limites e as

2.2.2 Formação de professores na era digital

A presença das tecnologias em sala de aula ainda depende fortemente das concepções, interesses e domínio técnico do professor. A decisão sobre qual tecnologia utilizar e de que forma ocorrerá esse uso, está centrada quase que exclusivamente na figura docente. Nesse sentido, é necessário que o professor tenha não apenas o domínio técnico, como também uma concepção pedagógica que dê subsídios para utilização das tecnologias.

A UNESCO (2013, p. 18) propõe que se reforce uma alfabetização midiática e informacional para todos os professores, capaz de dotá-los de competências que ―enfatizem o desenvolvimento de habilidades a partir de investigações e a capacidade de engajamento significativo junto às mídias e aos canais de informação independentemente das tecnologias usadas.‖ Lima (2001) evidenciou que o trabalho em informática educativa ainda é pouco consistente nos cursos de licenciatura. Dos setenta e seis cursos de formação de professores, analisados no estado de Santa Catarina, apenas trinta possuem a disciplina de informática em seus currículos. Os resultados apontaram que ―a inexistência da disciplina de informática ou de um currículo adequado para os cursos de licenciatura, está dificultando a apropriação dos conhecimentos sobre as novas tecnologias‖. Kenski (2010, p. 57) afirma que um dos maiores problemas para o fracasso no uso de tecnologias na escola ―é a falta de conhecimento dos professores para o melhor uso pedagógico da tecnologia, seja ela nova ou velha‖. Para ela os professores não são formados para esse uso.

Com o intuito de proporcionar condições aos professores da educação básica para utilizarem as tecnologias, foram implantados a mais de duas décadas, programas de formação de professores para uso das TIC‘s em sala de aula. Um dos programas pioneiros do Governo Federal, para esse tipo de capacitação foi o ProInfo - Programa Nacional de Tecnologia Educacional criado pela Portaria MEC nº 522/97 e regulamentado pelo Decreto 6.300/2007- que visa promover o uso pedagógico de tecnologias na rede pública de ensino fundamental e médio. Outros modelos de formação de professores surgiram a exemplo dos Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE‘s) – estruturas ligadas ao ProInfo, compostos por uma equipe interdisciplinar capaz de oferecer formação continuada aos professores e assessorar escolas da rede pública no uso pedagógico e na formação técnica.

Segundo Valente (1999), a respeito de uma visão geral das formações de professores, no país, apresenta quatro formatos básicos. Na primeira abordagem, está a formação caracterizada como mentorial, utilizada no projeto EDUCOM e que também está acontecendo na capacitação de professores multiplicadores dos Núcleos de Tecnologia Educacional (NTEs). Nesse formato, um professor com mais experiência dissemina seus conhecimentos para um grupo de outros professores, por meio da leitura de textos e da realização de algumas atividades no computador. Embora confiável em termos de qualidade, o autor considera ineficiente quando se trata da quantidade de pessoas atingidas.

A segunda abordagem é aquela caracterizada como a massificação da formação, que aconteceu nos cursos FORMAR. Valente alerta que embora o foco fosse a capacitação de um grande número de pessoas, a quantidade atingida foi insuficiente. A terceira abordagem refere-se à formação que acontece nas escolas onde os professores atuam, criando condições para que eles apliquem seus conhecimentos e envolvam seus alunos, como parte do processo de formação. A desvantagem seria a necessidade de um formador que desse suporte pedagógico, e que fosse capaz de ―viver a escola‖, o que em termos práticos é basicamente inviável. O quarto formato descrito pelo autor, refere-se aquele em que haveria um acompanhamento à distância pelos formadores. Esse modelo seria uma alternativa ao anterior e visava à interação entre professor e formador, buscando sanar algumas lacunas no processo de capacitação. O autor destaca esses modelos de formação, mas ressalta que formar professores não é o único meio capaz de provocar as mudanças necessárias ao cenário educacional.

Alguns anos após essa publicação de Valente, Abranches (2003) em sua tese de doutorado, analisou as práticas dos multiplicadores nos NTEs, na formação de professores, e apontou elementos de destaque, que caracterizam a proposta: a formação de professores é parte essencial no desenvolvimento do programa ProInfo; preza por uma aprendizagem autônoma e cooperativa; visa promover uma transformação da prática docente; por fim, busca uma preparação dos professores para lidar com a incerteza e a complexidade, na tomada de decisões.

Outro programa de formação de professores, para uso de tecnologias na educação é o Programa Nacional de Formação Continuada em Tecnologia - ProInfo Integrado, que articulado à distribuição dos equipamentos tecnológicos nas escolas,

oferece capacitação didático-pedagógico das Tecnologias da Informação e Comunicação no cotidiano escolar. São oferecidos cursos à distancia, que vão desde o manejo de computadores, até a compreensão do papel da escola frente à cultura digital.

Algumas ações de fortalecimento dos cursos superiores para formação docente, como o Prodocência, que visa também ―ao desenvolvimento e a consolidação de novas metodologias articuladas aos conteúdos curriculares, com destaque para atividades apoiadas nas TIC‘s‖ (BASTOS, 2010), constituem-se como iniciativas no âmbito do ensino superior, capazes de possibilitar o fechamento de algumas lacunas na formação inicial de professores, para uso das tecnologias.

Silva (2014), em recente pesquisa com professores da Rede Municipal do Recife, buscou compreender as suas concepções sobre formação continuada para uso das tecnologias digitais. Os resultados apontaram que as formações no âmbito do Programa Professor@com apresentam diversos olhares sobre às possibilidades de aprendizagem com uso das TDIC, numa perspectiva construcionista, entretanto é difícil para os professores integrarem as tecnologias na sua prática docente sem mudança da cultura escolar. Nesse sentido, vale destacar que alterar a prática do professor por meio de formações para uso das tecnologias passa pelo plano individual, em que o próprio professor é agente de sua transformação, como também pelo plano coletivo, em que a cultura da escola precisa ser modificada para que os resultados se vejam na prática de sala de aula. Araújo e Silva (2009, p. 329) apontam ―[...] que uma formação continuada eficaz será aquela que possibilitará uma aprendizagem que conduza a uma mudança na prática educativa‖.

Na rede estadual de ensino de Pernambuco, algumas iniciativas pontuais podem ser citadas como, por exemplo, as oficinas5 para "Uso de Tecnologias Educacionais (TED) na Aprendizagem de Ciências." Essas ações tem o objetivo de estimular a criação de um programa de capacitação de professores na utilização de tecnologias educacionais. São ações conjuntas que envolvem duas universidades públicas (uma federal e outra estadual) além de outros órgãos de fomento a pesquisa e a tecnologia.

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Fonte: http://www.pe.gov.br/blog/2014/08/01/oficina-debate-uso-de-tecnologias-na-educacao-e-na- formacao-de-professores/

Existe uma série de outros programas em nível nacional, estadual, municipal, local, escolar, gratuitos e privados, presenciais e à distância, dentro e fora do horário de trabalho do professor, que de algum modo não conseguiríamos esgotá-los aqui. Optamos por apresentar algumas das ações que trazem como base uma formação empenhada em gerar uma mudança significativa nas práticas pedagógicas atuais. Não pretendemos pontuar ou analisar quais delas estão verdadeiramente gerando impactos na sala de aula, todavia, julgamos necessário apresentar o modo como as formações veem existindo no cenário educacional.

Com base no contexto exposto das formações docentes, entendemos que é necessário que essas capacitações proporcionem muito mais do que um mero domínio técnico da ferramenta ou software, é preciso dotá-los de condições e autonomia para definir percursos e conteúdos a serem trabalhados por meio das tecnologias. Sob esse ponto, é importante ressaltar que os assuntos desenvolvidos durante as formações devem ser escolhidos pelos professores, com base no currículo e nas práticas pedagógicas adotadas em sala de aula. É do ambiente escolar que devem emergir as necessidades de formação, uma vez que lá será o lugar onde os conhecimentos aprendidos serão colocados em prática. Além do mais, os saberes docentes e os estilos de aprendizagem dos alunos serão elementos essenciais na escolha de uma tecnologia.

É notório que não somente a formação de professores constituirá a mudança necessária para a educação na era digital. Na maioria das vezes a utilização de TIC‘s encontra barreiras físicas (estrutura insuficiente de utilização – banda larga, número de equipamentos), econômicas (baixo poder aquisitivo da comunidade escolar), político (o envio de equipamentos de informática pelo poder público e/ou a promoção do uso pela gestão escolar), culturais (não se acredita no potencial da tecnologia) dentre outras.

O primeiro passo a ser dado é não considerar o uso de tecnologias em sala de aula como de responsabilidade única do professor. É necessário, nesse ponto também, uma visão sistêmica do fenômeno das tecnologias em sala de aula. Considerar-se-á a formação de professores como um dos elementos para que esse uso seja significativo e inovador, mas não seria determinante sob nenhuma forma.