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4 QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DO TRABALHADOR

4.1 QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL COMO INSTRUMENTO DO TRABALHO

4.1.2 Formação profissional como direito fundamental

O reconhecimento da formação profissional como direito humano fundamental pode ser evidenciado nas normas internacionais universais e regionais sobre direitos humanos como em normas internacionais do trabalho, quais sejam:

a) Constituição da OIT (Preâmbulo, 1919 e Declaração de Filadélfia, 1944); b) Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948);

c) Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem (OEA, 1948); d) Carta da OEA (1948);

e) Carta Social Européia (Conselho da Europa, 1961);

f) Pacto Internacional de Direitos econômicos, sociais e culturais (ONU, 1966);

g) Convenção Americana sobre Direitos Humanos (OEA, 1978);

h) Protocolo adicional à Convenção Americana sobre Direitos humanos ou “Protocolo de São Salvador” (OEA, 1988);

i) Carta Comunitária de Direitos Sociais Fundamentais dos Trabalhadores (União Européia, 1989);

j) Declaração Sociolaboral do MERCOSUL (1998);

k) Carta dos Direitos Fundamentais da União Européia (2000); l) Tratado da União Européia.345

O Preâmbulo da Constituição da OIT dispõe nos “considerandos”:

Considerando que existem condições de trabalho que penetram tal grau de injustiça, miséria e privações para grande número de seres humanos, que o descontentamento causado constitui uma ameaça para a paz e harmonia universais; e considerando que é urgente melhorar tais condições, por exemplo, no concernente à regulamentação das horas de trabalho, fixação da duração máxima da jornada e da semana de trabalho, contratação de mão-de- obra, luta contra o desemprego, garantia de um salário vital adequado, proteção do trabalhador contra as enfermidades, sejam ou não profissionais, e contra os acidentes de trabalho, proteção das crianças, dos adolescentes e das mulheres, aposentadorias por idade e de invalidez, proteção dos interesses dos trabalhadores empregados no exterior, reconhecimento do princípio do salário igual por um trabalho de igual valor e do princípio de liberdade sindical,

organização da formação profissional e técnica e outras medidas análogas.

(grifo nosso).

A Declaração da Filadélfia, em seu parágrafo terceiro, estabelece a obrigação da OIT de auxiliar “as Nações do Mundo na execução de programas que visem:”

a) proporcionar emprego integral para todos e elevar os níveis de vida;

b) dar a cada trabalhador uma ocupação na qual ele tenha a satisfação de utilizar, plenamente, sua habilidade e seus conhecimentos e de contribuir para o bem geral; c) favorecer, para atingir o fim mencionado no parágrafo precedente, as

possibilidades de formação profissional e facilitar as transferências e migrações

de trabalhadores e de colonos, dando as devidas garantias a todos os interessados; d) adotar normas referentes aos salários e às remunerações, ao horário e às outras condições de trabalho, a fim de permitir que todos usufruam do progresso e, também, que todos os assalariados, que ainda não o tenham, percebam, no mínimo, um salário vital;

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URIARTE, Oscar Ermida. Trabajo decente y formación profesional. Boletín Cinterfor, n. 151, 2001. Disponível em: <http://www.ilo.org/public//spanish/region/ampro/cinterfor/publ/boletin/151/index.htm>. Acesso em: 05 out. 2010. p.16.

e) assegurar o direito de ajustes coletivos, incentivar a cooperação entre empregadores e trabalhadores para melhoria contínua da organização da produção e a colaboração de uns e outros na elaboração e na aplicação da política social e econômica;

f) ampliar as medidas de segurança social, a fim de assegurar tanto uma renda mínima e essencial a todos a quem tal proteção é necessária, como assistência médica completa;

g) assegurar uma proteção adequada da vida e da saúde dos trabalhadores em todas as ocupações;

h) garantir a proteção da infância e da maternidade;

i) obter um nível adequado de alimentação, de alojamento, de recreação e de cultura;

j) assegurar as mesmas oportunidades para todos em matéria educativa e profissional. (grifo nosso)

A Declaração Universal dos Direitos dos Homens trata do tema no art. XXVI, nos seguintes termos:

1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A

instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução

superior, esta baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. [...]. (grifo nosso)

A Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem trata, no art. XII, do direito à educação, não menciona especificamente o direito à formação profissional, mas, estabelece que, por meio da educação, seja proporcionado o preparo para uma subsistência digna, um nível de vida melhor e, assim, seja útil à sociedade.

Toda pessoa tem direito à educação, que deve inspirar-se nos princípios da

liberdade, moralidade e solidariedade humana.

Tem, outrossim, direito a que, por meio dessa educação, lhe seja proporcionado o preparo para subsistir de uma maneira digna, para melhorar o seu nível de vida e para poder ser útil à sociedade.

O direito à educação compreende o de igualdade de oportunidade em todos os casos, de acordo com os dons naturais, os méritos e o desejo de aproveitar os recursos que possam proporcionar a coletividade e o Estado.

Toda pessoa tem o direito de que lhe seja ministrada gratuitamente, pelo menos, a instrução primária. (grifo nosso)

O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, por sua vez, estabelece, no art. 6º, que os Estados Membros deverão incluir a orientação e a formação técnica e profissional como medida para assegurar o pleno exercício do direito ao trabalho.

1. Os Estados Partes do Presente Pacto reconhecem o direito ao trabalho, que compreende o direito de toda pessoa de ter a possibilidade de ganhar a vida mediante um trabalho livremente escolhido ou aceito, e tomarão medidas

2. As medidas, que cada Estado parte do presente pacto tomará a fim de

assegurar o pleno exercício desse direito, deverão incluir a orientação e a formação técnica e profissional, a elaboração de programas, normas e técnicas

apropriadas para assegurar um desenvolvimento econômico, social e cultural constante e o pleno emprego produtivo em condições que salvaguardem aos indivíduos o gozo das liberdades políticas e econômicas fundamentais. (grifo nosso)

A Recomendação da OIT n. 195 (2004), já analisada, orienta, no parágrafo 4, alínea a, aos países membros “reconhecer que a educação e a formação são um direito

de todos e, em colaboração com os interlocutores sociais, esforçar-se para assegurar o

acesso de todos à aprendizagem permanente”. (grifo nosso)

Héctor-Hugo Barbagelata assinala que a consagração internacional do direito à formação profissional geram consequências, tais como:

a) A proclamação do direito a FP [Formação Profissional] em quanto condição para o gozo do direito ao trabalho, obriga os Estados a prover os meios jurídicos e os serviços correspondentes, para assegurar a todas as pessoas, sem nenhuma discriminação, o máximo de oportunidades de acesso a uma capacitação de acordo com suas expectativas;

b) As oportunidades de formação que a legislação e a prática de cada país tem a obrigação de prover, devem existir ao longo da vida das pessoas, para habilitar a formação permanente (...)

c) Para que a igualdade de oportunidade seja efetiva, devem arbitrar-se medidas especiais, de modo a possibilitar, de maneira mais ampla, a FP das pessoas pertencentes a grupos com características particulares o que, por diversas circunstâncias, pode considerar-se que estejam em inferioridade de condições a esse respeito (mulheres, migrantes, indígenas, menores, pessoas de idade avançada, deficientes, etc);

d) Na formulação e execução dos planos e programas da FP deve reconhecer-se que, à margem de qualquer outra consideração, trata-se de um direito dos trabalhadores ou dos potenciais trabalhadores, o que representa suficiente título para justificar sua ampla participação neles, através de suas organizações representativas;

e) Por conseguinte, a negociação coletiva é um meio idôneo, aos distintos níveis, para tratar sobre FP e esta matéria pode integrar o conteúdo das convenções coletivas, (...);

f) O direito à formação supõe o direito de quem esteja em uma relação de trabalho a dispor de tempo necessário para aproveitar, sem nenhuma discriminação, as oportunidades de formação que se apresentam e para gozar das facilidades correspondentes, inclusive a licença de estudos;

g) Por sua vez, os empregadores assumem as obrigações correlativas de modo que o direito à formação seja efetivo.346

Salienta Oscar Ermida Uriarte que, “além da formação profissional ser um direito humano básico, tem estreitas relações com outros direitos trabalhistas fundamentais, chegando a condicionar a efetividade de alguns deles”, como o direito ao trabalho que “depende, cada dia mais, da formação profissional”; o direito a condições de trabalho

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BARBAGELATA, Héctor-Hugo. Formación y legislación del trabajo. 2.ed. Montevideo: Cinterfor/OIT,

2003. Disponível em:

<http://www.ilo.org/public//spanish/region/ampro/cinterfor/publ/barbagel/pdf/barbag.pdf>. Acesso: 02 abr. 2012. p. 40-1

dignas e uma remuneração justa; o direito a não ser discriminado no emprego, pois “tem melhores possibilidades de ser alcançado por trabalhadores que contam com adequada formação profissional”; e o diálogo social e a negociação coletiva.347