• Nenhum resultado encontrado

Qualificação profissional nos termos do Plano Nacional de Qualificação

4 QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DO TRABALHADOR

4.1 QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL COMO INSTRUMENTO DO TRABALHO

4.1.1 Significado de formação/qualificação profissional

4.1.1.3 Qualificação profissional nos termos do Plano Nacional de Qualificação

Segundo documento sobre o Plano Nacional de Qualificação (PNQ), este foi concebido como uma política pública baseada na inclusão social e no desenvolvimento econômico, com geração de trabalho e distribuição de renda. Assim, norteou-se pela concepção de qualificação “como uma construção social, de maneira a fazer um contraponto àquelas que se fundamentam na aquisição de conhecimentos como processos estritamente individuais e como uma derivação das exigências dos postos de trabalho.”337

Neste sentido, a Resolução n. 333/03 (revogada pela Resolução n. 575/08) do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (CODEFAT), que instituiu o Plano Nacional de Qualificação338, em seu art.1º, §2º, definiu a qualificação social e profissional “como aquela que permite a inserção e atuação cidadã no mundo do trabalho”, com efetivo impacto para a vida e o trabalho das pessoas.339

A Resolução n. 575/08 do CODEFAT340 estabeleceu uma definição de qualificação social e profissional mais detalhada, redação mantida pela Resolução n. 679/11341, que revoga a Resolução n. 575/08, nos seguintes termos:

Art. 3º Define-se como qualificação social e profissional as ações de educação profissional que colaborem para a inserção do trabalhador no mundo do trabalho e que contribuam para:

337

BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Plano Nacional de Qualificação. Bases de uma nova política

pública de qualificação. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/pnq/conheca_base.pdf>. Acesso em: 25

fev. 2011. p. 23.

338

A Resolução n.333/03 do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador institui o Plano Nacional de Qualificação – PNQ e estabelece critérios para transferência de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT ao PNQ implementado sob gestão do Departamento de Qualificação da Secretaria de Políticas Públicas de Emprego – DEQ/SPPE, do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, por meio de Planos Territoriais de Qualificação – PlanTeQs, em convênio com as Secretarias Estaduais de Trabalho ou de Arranjos Institucionais Municipais e de Projetos Especiais de Qualificação – ProEsQs de caráter nacional ou regional com instituições governamentais, não-governamentais ou intergovernamentais, no âmbito do Programa do Seguro-Desemprego.

339

BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Plano Nacional de Qualificação. Bases de uma nova política

pública de qualificação. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/pnq/conheca_base.pdf>. Acesso em: 25

fev. 2011. p. 24.

340

A Resolução n. 575 de 28 de abril de 2008 do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador estabelece diretrizes e critérios para transferências de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT, aos estados, municípios, organizações governamentais, não governamentais ou intergovernamentais, com vistas à execução do Plano Nacional de Qualificação – PNQ, como parte integrada do Sistema Nacional de Emprego – SINE, no âmbito do Programa do Seguro-Desemprego.

341

A Resolução 679 de 29 de setembro de 2011 do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador estabelece diretrizes e critérios para transferências de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT, aos estados, municípios, organizações governamentais, não governamentais ou intergovernamentais, com vistas à execução do Plano Nacional de Qualificação – PNQ, como parte integrada do Sistema Nacional de Emprego – SINE, no âmbito do Programa do Seguro-Desemprego.

I- formação intelectual, técnica e cultural do trabalhador brasileiro;

II- elevação da escolaridade do trabalhador, por meio da articulação com as políticas públicas de educação, em particular com a educação de jovens e adultos e a educação profissional e tecnológica;

III- inclusão social do trabalhador, o combate à discriminação e a vulnerabilidade das populações;

IV- obtenção de emprego e trabalho decente e da participação em processos de geração de oportunidades de trabalho e de renda;

V- permanência no mercado de trabalho, reduzindo os riscos de demissão e as taxas de rotatividade;

VI- êxito do empreendimento individual ou coletivo, na perspectiva da economia popular solidária;

VII- elevação da produtividade, da competitividade e da renda;

VIII- articulação com as ações de caráter macroeconômico e com micro e pequenos empreendimentos, para permitir o aproveitamento, pelos trabalhadores, das oportunidades geradas pelo desenvolvimento local e regional;

IX- articulação com todas as ações do Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda, inclusive com os beneficiários do seguro-desemprego.

Antônio Almerico Biondi Lima e Fernando Augusto Moreira, em texto elaborado para a Coleção Qualificação Social e Profissional do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), apresentam uma síntese do significado de qualificação adotado pelo referido Ministério, qual seja:

a) parte indissolúvel das Políticas de Trabalho, Emprego e Renda, sejam elas urbanas ou rurais; públicas ou privadas; resultem em relações assalariadas, empreendedoras individuais ou solidárias;

b) uma forma de educação profissional (formação inicial e continuada), devendo estar articulada com a educação de jovens e adultos, a educação do campo e a educação profissional de nível técnico e tecnológico;

c) um processo de construção de políticas afirmativas de gênero, etnia e geração, ao reconhecer a diversidade do trabalho e demonstrar as múltiplas capacidades individuais e coletivas;

d) uma forma de reconhecimento social do conhecimento do trabalhador, ou seja, de certificação profissional e ocupacional, que deve estar articulada com classificações de ocupações, profissões, carreiras e competências; uma necessidade para o jovem e o adulto, em termos de orientação profissional para sua inserção no mundo do trabalho; um objeto de disputa de hegemonia, com a negociação coletiva da qualificação e certificação profissionais devendo integrar um sistema democrático de relações de trabalho.342

Salienta-se que os autores acima citados entendem que para um sistema democrático de formação profissional, devem ser observados os seguintes princípios:

I- O desemprego é uma questão político-econômica, fruto dos modelos de desenvolvimento excludentes, e não um problema individual ou de falta de qualificação/educação do trabalhador;

II- É dever do Estado garantir a todos educação pública, gratuita e de qualidade, incluindo aqui a educação profissional;

342

LIMA, Antonio Almerico Biondi; LOPES, Fernando Augusto Moreira. Diálogo social e qualificação

profissional: experiências e propostas. Brasília: MTE, SSPE, DEQ, 2005. (Coleção Qualificação Social e

Profissional) Disponível em: <http://www.mte.gov.br/pnq/dialogos_sociais.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2011. p. 29-30.

III- Qualificação é um campo onde interagem agentes e políticas de trabalho emprego e renda, educação e desenvolvimento, que devem ser garantidos o diálogo social, a concertação tripartite, a negociação e a contratação coletiva; IV- A articulação entre formação/ação/construção da cidadania contribui para o desenvolvimento da sociedade, nos aspectos social e econômico, democratizando o Estado, tornando as empresas competitivas e fortalecendo os movimentos sociais e a sociedade civil.

V- Os recursos públicos, além de serem utilizados de forma ética, devem ser direcionados para ações que, prioritariamente, venham ao encontro dos interesses dos trabalhadores desempregados e da população vulnerável;

VI- As ações de qualificação social e profissional devem estar integradas com ações de desenvolvimento, inclusão social e educação e devem incluir certificação e orientação profissional;

VII- A articulação entre a qualificação social e profissional com a elevação de escolaridade, ao estabelecer a complementaridade entre formas alternativas e a oficial de ensino, contribui para o resgate de um aspecto fundamental da dívida social – o direito à educação;

VIII- Trabalhador educando deve ser entendido como um ser integral, respeitando e considerando as suas dimensões subjetiva, social e política;

IX- O processo de construção de saberes deve recorrer sistematicamente ao resgate e a valorização do saber do trabalhador, adquirido na sua experiência de vida, trabalho e lutas, bem como deve observar respeito à diversidade sociocultural, implicando também o resgate das experiências populares de qualificação e educação profissional;

X- A qualificação profissional não pode ficar restrita ao domínio das técnicas, devendo estar articulada com os conhecimentos gerais, a cultura e a formação cidadã, na perspectiva da formação integral do trabalhador;

XI- Os processos educativos devem ser desenvolvidos de maneira inter e transdisciplinar, articulados por um eixo/fio condutor, vinculado ao contexto sociocultural e às demandas do mundo do trabalho e da sociedade;

XII- Observados os princípios anteriores, devem ser respeitadas a pluralidade e a criatividade dos agentes educacionais, sejam eles orientados pelo Estado, pelos empresários ou pelos sindicatos e outros movimentos sociais;

XIII- As ações de qualificação e educação profissional deverão, quando financiados por recursos públicos, ser gratuitas, amplamente divulgadas e submetidas a planejamento e avaliação permanentes, pelos mecanismos de controle social.343

Em síntese, a formação profissional com vistas à qualificação social e profissional, “é um eixo formativo da pessoa humana, instrumento de enriquecimento, de realização e de desenvolvimento do indivíduo e através dele, da sociedade toda”, por consequência, trata-se de um requisito de cidadania e de gozo de direitos.344 Neste sentido, a formação profissional tem sido considerada como um direito fundamental do trabalhador.

343

LIMA, Antonio Almerico Biondi; LOPES, Fernando Augusto Moreira. Diálogo social e qualificação

profissional: experiências e propostas. Brasília: MTE, SSPE, DEQ, 2005. (Coleção Qualificação Social e

Profissional) Disponível em: <http://www.mte.gov.br/pnq/dialogos_sociais.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2011. p. 35-6.

344

URIARTE, Oscar Ermida. Trabajo decente y formación profesional. Boletín Cinterfor, n. 151, 2001. Disponível em: <http://www.ilo.org/public//spanish/region/ampro/cinterfor/publ/boletin/151/index.htm>. Acesso em: 05 out. 2010. p.17.