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Durante a década de 80, o sistema educacional francês passou por algumas transformações e, depois de vários anos e muita discussão, assistiu-se a um movimento de desconcentração, ou seja, da transferência de certas decisões para a administração regional e de descentralização, proporcionada pelas leis de 1982 e 1985, que confiou novas responsabilidades para as coletividades territoriais.53 Apesar desse duplo movimento, o Estado exerce ainda um papel central, conservando suas atribuições fundamentais:

51 GEHIN, J. P. & VERDIER, E. La Formación Continua en Francia. Calificaciones & Empleo. Marseille:

CEREQ, 1987.

52 Tópico baseado principalmente no textos do CEDEFOP/EURYDICE. Structures of the Education and

Initial Training Systems in the European Union. Luxembourg: Comissão Européia, fev.1995 e

CEDEFOP (1993).

53 Cada coletividade (comunidades, departamentos, regiões) fica responsável por um nível educacional. As

comunidades são responsáveis pela criação das escolas maternais e primárias como também pela sua gestão orçamentária. Os departamentos são responsáveis pela manutenção e construção dos colégios e também pelo planejamento escolar (plano regional de formação, programas de previsão de investimentos, etc.).

recrutamento e remuneração dos professores; definição das atividades de política educacional, dos programas nacionais de educação e monopólio na concessão da estrutura curricular.

A responsabilidade no que diz respeito às políticas educacionais, e logo, da formação profissional inicial na França, é do Ministério da Educação Nacional, sendo que a responsabilidade da educação superior é do Ministério da Educação e Pesquisa. O Ministério do Trabalho se encarrega da supervisão da formação profissional contínua juntamente com as regiões.54

A educação obrigatória na França dura nove anos e corresponde à uma fase de educação elementar e uma de educação colegial. A primeira tem uma duração de 5 anos e a segunda de 4 anos. Em média, os alunos terminam a segunda fase nos colégios aos 15 anos de idade. O atendimento à escola elementar é compulsório para todas as crianças com 6 anos, idade de início, estendendo-se até os 11 anos.

A educação secundária começa nos colégios. Os primeiros quatro anos de educação secundária nos colégios fornecem uma educação de natureza geral dentro da estrutura da educação obrigatória. Isto ocorre mesmo para os alunos que após os dois primeiros anos do colégio optam pela educação profissional de nível médio. Após dois anos nos colégios, os alunos direcionam-se para escolas especializadas, para os liceus de formação geral ou para os liceus de formação profissional. Tanto as escolas especializadas quanto os liceus de formação profissional fornecem, ao final de dois anos, em torno da idade de 16/17 anos, um diploma que qualifica o estudante para exercer uma atividade específica no mercado de trabalho.

Até o final da obrigatoriedade escolar, observa-se na França uma escola tendencialmente unificada como mostra o esquema 04. Concluídos os anos obrigatórios, a estrutura educacional se diversifica em um leque de cursos que varia de acordo com o tipo de escola ou via de formação e pelos níveis de saída, regulamentados por mais de 600 diplomas (MORAES, 1995: 331). Pode-se definir três vias diferentes na estrutura escolar francesa: a

54 As regiões têm status de autoridades territoriais. Elas são administradas por um conselho regional e são

responsáveis pela construção e manutenção dos liceus e têm um importante poder na área de formação profissional contínua. Foi a partir de longos debates que culminaram nas leis de 2 de março de 1982 e 7 de janeiro de 1983, que a descentralização foi introduzida. Desse modo, uma parte das competências do Estado no que diz respeito à educação e à formação profissional foram transferidas para os conselhos regionais.

via geral, que prepara e possibilita o aluno seguir para os estudos superiores longos; a via tecnológica ou formação profissional longa, que possibilita a entrada na vida produtiva ou o prosseguimento nos estudos superiores (BTS), BAC (Baccalaurèat) tecnológico e BAC profissional; a via profissional curta, que prepara os alunos para diplomas destinados à entrada na vida ativa, em diversificados níveis de qualificação: CAP (Certificat d’Aptitude Professionnelle) e BEP (Brevet d’Études Professionnelles). Inclui-se ainda a CPA (Classe Préparatoire à l’Apprentissage) e a CPPN (Classe Préprofessionnelle de Niveau).

Então, ao final do colégio, que coincide com o fim da educação obrigatória e com a idade em torno de 14/15 anos, os alunos que seguiram as escolas especializadas ou os liceus profissionais poderão obter, após dois anos, um diploma técnico de nível médio que os qualificam para a inserção no mercado de trabalho. A emissão do diploma nacional (diplôme national du brevet) que os alunos recebem ao final do colégio leva em conta o resultado destes em um exame realizado no final desta fase.

Os liceus geral e tecnológico são escolas secundárias que preparam os alunos em três anos para os certificados do BAC geral e tecnológico. Após o BAC geral e tecnológico, existem classes preparatórias para as Grandes Escolas e para as STS’s. Estudos completos nos liceus de educação tecnológica e/ou geral levam ao exame BAC. O BAC é o equivalente ao primeiro ano da universidade e é a chave para a admissão na educação superior. Os exames estão relacionados ao currículo oficial da classe terminal dos liceus.

Ao fim de dois anos de formação geral e tecnológica, os alunos podem escolher entre três tipos de BAC’s geral, quatro tipos de BAC’s tecnológicos, BAC’s específicos ou o BTS, que fornece uma qualificação como técnico em área específica. Os estudantes que receberem o certificado técnico podem entrar para o mercado de trabalho para uma posição correspondente a sua especialização ou continuar seus estudos nas STS ou nos IUT’s. O BAC tecnológico foi criado no fim dos anos 60 com a dupla missão de fornecer profissionais para o mercado de trabalho e preparar estudantes para as STS. Entretanto, os BAC’s tecnológicos estão cumprindo parcialmente os seus objetivos pois somente ¼ dos egressos entraram para a vida ativa e os outros dirigiram-se para a educação superior (CEDEFOP, 1993: 39).

ESQUEMA 04:

ESTRUTURA DO SISTEMA EDUCACIONAL FRANCÊS

18 Grandes Escolas Escolas Especia- lizadas Universi- dades IUT STS

BAC Geral e Tecnológico e BT BAC Profissional Diplomas de Escolas Especia- lizadas BEP ou CAP Adaptação Término do BEP ou CAP 15/16

Escolas Especia- lizadas

Liceus Liceus Profissionais

Brevet Brevet Brevet Brevet

3? Geral 3? Inserção 3a Tecnológica Tecnológica LP 10/11

Colégios

6

Escolas Elementares

? Idade Inicial

O BAC profissional é preparado durante os dois anos que constituem o final do ciclo da trajetória profissional. Diferente do BAC tecnológico/geral, o BAC profissional é primeiramente um certificado de integração profissional direcionado para o exercício de uma ocupação, embora ele também dê direito ao titular de entrar nos estudos superiores. A

CITE 5-7

CITE 3

CITE 2

CITE 1

criação do diploma do BAC profissional nos anos 80, em estreita colaboração com empregadores, teve um objetivo dual: responder à crescente demanda por maiores requisitos de qualificação da força de trabalho e ao desenvolvimento de novas técnicas de manutenção de equipamentos eletrônico pessoais, de novas tecnologias na produção de bens e serviços, de técnicas de produção automatizadas, entre outros.

A educação superior inclui as seguintes instituições: universidades, que são instituições públicas que admitem os candidatos que conseguiram o BAC (ou outra qualificação julgada equivalente) e pretendem matricular-se em cursos longos (3 ou mais anos após o BAC) ou curtos (2 anos após o BAC); colégios e institutos públicos e privados que fornecem educação superior sob a supervisão de vários ministérios. Essas instituições selecionam estudantes entre os candidatos que conseguiram o BAC ou através de avaliação de dossiers por um quadro de examinadores.55

O Ministério da Educação e Pesquisa tem se esforçado não só para aumentar o número de estudantes na educação superior, como também tem procurado renovar as sequências de ensino, reorganizar seus conteúdos e lutar contra o fracasso dos primeiros ciclos universitários (CEDEFOP, 1993: 40). Foi anunciado em junho de 1991, um plano de reorganização da educação superior, que estava relacionado a três áreas: aumento do número de vagas disponíveis, especialmente para cursos tecnológicos, estabelecimento de agências para coordenar uma maior colaboração entre universidades e empresas e introdução de novos cursos universitários profissionais. Nesse sentido foram criados os IUP’s (Institut Universitaire Professionnalisé) em 1991, novos cursos universitários para engenheiros e um aumento do número de estudantes nas Grandes Escolas.56 No quadro 06, pode-se observar os cursos universitários profissionais da França para os quais todos requerem o BAC.

55A partir de um decreto de 1985, os candidatos podem ser admitidos também para vários níveis de formação

pós-BAC nas instituições ligadas ao Ministério de Educação Superior (universidades, institutos e colégios públicos) com base na avaliação de estudos anteriores, na experiência de trabalho e habilidades pessoais.

56 LAMOURE, J. & RONTOPOULOU, J. L. The Vocationalization of Higher Education in France:

QUADRO 06:

CURSOS UNIVERSITÁRIOS PROFISSIONAIS NA FRANÇA BA

C

Curso Instituição Início

DUT IUT 1966 +2 ano s DEUST Universidades 1984 MSG Universidades 1970 MIAGE Universidade 1970 MST Universidades 1971 + 4 ano s Ingénieur-maître IUP 1991

Diplôme d’Ingénieur ENSI (École Nationale Supérieure

d’Ingénieurs)

1950

Diplôme d’Ingénieur Universidades 1969

DESS Universidades 1974

Magistère Universidades 1985

+ 5 ano s

Diplôme d’Ingénieur Universidades (novas formações para

engenheiros)

1989

Fonte: LAMOURE & RONTOPOULOU (1992: 46).

MST (Maîtrise en Sciences et Techniques), MIAGE (Maîtrise d’Informatique Appliquée à la Gestion) e MSG (Maîtrise en Sciences de Gestion) são carreiras de excelência, caracterizadas por uma seleção muito rigorosa. A criação dos DESS (Diplôme d’Études Supérieures Spécialisées) reforçou a profissionalização do terceiro ciclo e a criação dos DEUST (Diplôme d’Études Universitaires Scientifiques et Techniques) concretizou a profissionalização do ciclo universitário. Já as formações mais especializadas estão entre os IUT’s e os BTS’s (Ibid., 1993: 42).

Além da crescente profissionalização das sequências na educação superior, em 1989, novos cursos de engenharia foram criados com o objetivo de formar 10 mil engenheiros ou mais por ano, procurando responder as necessidades das empresas (LAMOURE & RONTOPOULOU, 1992: 50). Outra reforma em julho de 1992 tratou dos procedimentos de reconhecimento e validação de todos os cursos de educação superior. Buscou-se nas reformas multiplicar as possibilidades dos estudantes voltarem aos estudos, incentivar os jovens a se engajarem nos cursos profissionais através da validação das experiências profissionais e lutar contra o fracasso dos estudantes inscritos no primeiro ciclo das universidades.