• Nenhum resultado encontrado

Formação das Redes Nacionais de Televisão e seus impactos para a produção de conteúdo

No documento Modelos de negócios de televisão (páginas 51-54)

3. A TELEVISÃO COMO NEGÓCIO

3.2. Formação das Redes Nacionais de Televisão e seus impactos para a produção de conteúdo

Antes da televisão, imagens em movimento sonorizadas apenas existiam no cinema. As pessoas precisavam deslocar-se às salas onde os filmes eram exibidos. Era lá que se divertiam com diversos tipos de estórias, onde sabiam as notícias, onde visitavam outros lugares. Em casa a opção ficava por conta das ondas do rádio que, desde a virada para o século XX, podia levar às residências os sons das músicas, estórias e informação. A televisão proporcionou a junção dessas coisas, assistir imagens em movimento, no conforto do lar, inclusive ao vivo. No começo era preciso empreender para viabilizar todas as etapas da cadeia: produzir os programas, captá los em estúdios, transmiti-los e viabilizar os televisores para que as pessoas pudessem assistir o que estava sendo transmitido. Logo o encanto tomou conta da população e os mais abastados puderam comprar seus próprios aparelhos, receber amigos e parentes para assistirem juntos aos seus programas favoritos. A esta altura já não havia apenas um canal de televisão, mas vários, disputando a atenção dos poucos telespectadores e disputando as verbas da publicidade interessada em vender seus produtos para esta parcela da sociedade. A programação, ao vivo, limitava-se a alguns horários, em geral no começo da noite, quando as famílias podiam reunir-se em torno da telinha. Os sinais tinham pouca cobertura e não existiam redes.

Logo havia a disponibilidade de programas filmados e depois gravados30, feitos na própria emissora, ou adquiridos de emissoras estrangeiras. No mercado norte- americano, os estúdios de cinema produziam para as emissoras de televisão e ambos licenciavam suas produções para emissoras de todas as partes. No Brasil chamávamos esses programas de enlatados , j| que chegavam aqui em latas de filmes, para serem dublados e exibidos. Como já estavam pagos e prontos, eram muito mais baratos que qualquer produção original e logo passaram a ocupar grandes parcelas das programações de emissoras por todo o país. As emissoras nacionais não contavam com estúdios com qualidade e quantidade de produção capaz de abastecer suas grades, então compravam programas prontos. Mas também forneciam suas produções originais para outras emissoras, de outras localidades, permitindo que um programa feito em determinado local, pudesse ser posteriormente assistido em outro. As expressões

regionais – ao menos as das capitais e grandes cidades que contavam com emissoras de

televisão – corriam o país. Empresários com emissoras em diferentes cidades tinham-

nas como negócios quase independentes: quando cheguei ao Brasil, os Di|rios

Associados, cujo dono era Assis Chateaubriand, estavam espalhados pelo país, com estações de televisão em 16 cidades. (...) No entanto os diretores das cidades importantes dirigiam suas emissoras como se fossem centros independentes de produção. (WALLACH, 2011, p. 88). Cada operação era única, podiam compartilhar programas, roteiros, profissionais, mas eram cada qual uma emissora. Concorrentes em determinada cidade poderiam ser parceiros de negócios (fornecedor e comprador de programas) em outra, onde apenas um deles possuísse emissora. Não havia esse tipo de exclusividade, o importante era preencher as grades ao menor custo, trazendo a maior audiência e viabilizando os maiores faturamentos publicitários.

De setembro de 1950, quando se inaugurou a TV Tupi de São Paulo – primeira emissora do país e do hemisfério Sul do planeta -, até abril de 1960, quando foi introduzida aqui a tecnologia do videoteipe, a televisão só existiu onde estavam erguidas as antenas de transmissão. Os telespectadores podiam captá-la num raio máximo de

30 Aqui a distinção entre filmados e gravados faz-se pelas diferentes tecnologias de registro de som e imagem: filme ou

52

100 quilômetros em torno do transmissor que gerava as imagens. E, posto que não havia fitas de vídeo para copiar os programas e transportá-los entre as regiões, cada estação de TV tinha que prover a sua própria programação. Parte, é claro, era constituída de filmes, em

geral norteamericanos. Mas a maioria dos programas –

musicais, teleteatros, telenovelas, humorísticos, jogos, noticiários, infantis – era produzida na própria emissora. A televisão brasileira, portanto, nasceu local e assim permaneceu por uma década, antes que a evolução técnica a projetasse para além das fronteiras municipais. (PRIOLLI, in BUCCI, 2003)

Aos poucos se estabeleceram rotas terrestres de retransmissão e repetição de

sinal31, permitindo que a programação de determinada emissora chegasse

simultaneamente a diversas localidades, conectadas por estas torres. Não era mais possível compartilhar programas com emissoras concorrentes, sob pena de competir com o próprio negócio. As identidades das emissoras começaram a ser reforçadas em

toda a sua cobertura. Para afiliar-se a uma rede, as estações regionais firmaram o

compromisso de só exibir programas adquiridos da geradora da programação, a chamada cabeça de rede . E isso reduziu o número de provedores de programação a

pouquíssimas empresas: Tupi, Globo, Bandeirantes, Record PRIOLLI, in BUCCI, 2003).

Vieram as comunicações via satélite – em 1985 com os satélites Brasilsat - e os

sinais podiam chegar a qualquer lugar do país, sem que fosse necessária uma linha contínua de cobertura formada por torres terrestres. Não era mais necessário produzir todo o próprio conteúdo, poder-se-ia preencher a programação filiando-se a uma rede, retransmitindo seu conteúdo. Algumas regiões passam a concentrar a força produtiva, tornando-se fornecedores para os parceiros da rede em todo o território nacional. Aumentam as verbas publicitárias, conforme avançam as audiências e o tempo da

31Em o Ministério das Comunicações, através da Embratel, inaugurou a Rede B|sica de Microondas,

interligando as diversas regiões do país por sistemas confiáveis de telefonia e transmissão de TV, rádio e dados. As microondas permitiam a transmissão de programas ao vivo, em tempo real, para muitas cidades, tornando desnecessário o envio das fitas por avião ou outros meios. (PRIOLLI, in BUCCI 2003)

programação. As produções locais, com menos recursos devido aos seus mercados publicitários menos desenvolvidos, tornam-se menos interessantes e não conseguem entregar a mesma qualidade e sofisticação daquelas produzidas nos dois principais centros: São Paulo e Rio de Janeiro. Não conseguem mais acompanhar os salários

oferecidos aos principais artistas e profissionais pelas emissoras do Sudeste: como São

Paulo e Rio concentravam o melhor do talento artístico e técnico disponível na TV brasileira da época, evidentemente qualificaram-se melhor para a conquista desse novo mercado PRIOLLI, in BUCCI, 2003). Há um esvaziamento da produção local, pouco a pouco limitada aos mínimos legalmente exigidos. Se no início os telespectadores podiam ver o que acontecia no mundo e na sua cidade, passaram a ter cada vez menos espaços para os assuntos de sua região, em favor daqueles de interesse nacional. Maior exemplo

disto é o Jornal Nacional. ... lançado para competir com o Repórter Esso, da TV Tupi (...)

era parte estratégica de um ambicioso projeto de Walter Clark e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, Boni, para transformar a Globo na primeira rede de televisão do Brasil. O objetivo era gerar uma programação uniforme para todo o pais, diluindo assim,

os custos de produção dos programas MEMÓRIA GLOBO, . O que no início fora

uma verticalização local tornou-se uma verticalização em rede, nacional.

No documento Modelos de negócios de televisão (páginas 51-54)