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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.3 Formação em TIC durante o curso

Antes de fazer o aprofundamento nos discursos dos professores participantes da pesquisa, sobre como foi sua formação em relação às tecnologias educacionais, considera-se importante contextualizar as características da professora que ministrou a disciplina Mídias Educacionais - a principal da área.

As primeiras informações coletadas foram a respeito da formação e qualificação da professora para atuar nessa área. Com relação à titulação, ela possui graduação em Licenciatura Plena em Pedagogia e Mestrado em Educação. Sobre quanto tempo ministra a disciplina, ela afirmou que iniciou sua atuação docente na área assim que entrou para o IFRN, no ano de 2013, tendo sido sua primeira oportunidade de ministrar uma disciplina voltada para as tecnologias educacionais e que há seis anos trabalha essa temática com licenciandos.

Quanto à capacitação e/ou aperfeiçoamento que a professora fez para melhor atender às demandas propostas pela disciplina, ela declarou que não fez nenhuma capacitação, como pode ser percebido em sua fala:

B1 – “A formação que eu fui tendo depois foi, foi na prática mesmo, que a gente vai conhecendo, a gente vai utilizando, e de certo modo também incorporando né, nos conteúdos e nas metodologias que a gente adota na formação dos alunos né, ministrando a disciplina de mídias educacionais” (sic).

É indiscutível a velocidade com que os recursos tecnológicos estão mudando e chegando ao alcance da população. Devido à rapidez com que a tecnologia se torna mais acessível e ao progresso das tecnologias que podem ser aproveitadas para o ensino, exige-se do professor uma capacitação contínua. Não cabendo entrar no mérito da autonomia do professor quanto a sua capacitação, mas convém acentuar a importância em haver formações específicas e constantes, principalmente para um educador que ministra aulas sobre TIC para formar outros futuros educadores.

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“O que queremos aqui destacar é a necessidade de compreendermos a formação continuada (ou educação continuada, como prefere Marin) de professores como sendo inerente à própria atividade educativa. Atividade essa que assume proporções significativas em função de cada vez mais generalizada a presença das tecnologias digitais de informação e comunicação (TIC) em toda a sociedade, mesmo considerando que elas estão acessíveis de forma diferenciada para as diversas classes sociais” (Pretto & Riccio, 2010, p. 156).

Com o objetivo de compreender as características de atuação desses novos professores frente a sala de aula acerca do uso de tecnologias, as questões norteadoras do grupo focal teviram como finalidade a busca por informações que ajudassem a traçar tais características no que se referente à formação inicial desses professores, apurando a descrição de como foram essas aulas e o que eles estudaram na disciplina Mídias Educacionais.

Na entrevista com a professora que ministra essa disciplina, ela descreveu a metodologia usada nas aulas basicamente em duas etapas, uma mais teórica e outra mais prática, com a ajuda de outro professor da área de Informática.

B1 – “... sempre uma discussão mais teórica, histórica sobre a tecnologia, a tecnologia na sociedade né, o impacto na educação, uma discussão também sobre as mídias.... Uma discussão que a gente faz inclusive sobre imprensa, sobre como é que circula a informação? É democrático mesmo ou, não é? É democrático pra quem? Qual é a abordagem que é colocada? E no segundo momento a gente trabalhava mais a parte que a gente chama de prática, ...né, e aí eu digo, eu contei muito com a colaboração de colegas né, porque essa disciplina já vinha sendo ministrada assim, antes da minha, do meu ingresso no campus, existia uma parceria entre a professora do núcleo didático-pedagógico, que é o meu caso, e o professor de Informática, né” (sic).

Essa forma de atuação e a parceria entre os professores também é percebido na fala dos professores recém-formados.

A1 – “E aqui a gente viu muito essa junção, então acho que tem que aproveitar que aqui ainda é um polo que tem esse diálogo e, trabalhar dessa forma, cara, vai, só tem a melhorar, quando a gente sai daqui a gente só é elogiado” (sic).

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A5 – “...dessa questão da junção, os professores daqui é todo mundo junto é todo mundo unido, é pedagogo segurando na mão do físico...” (sic).

Embora a parceria entre os professores desse curso seja apontada como um dos pontos fortes para a qualidade na formação dos alunos, admite-se que a professora não poderia passar tanto tempo atuando sem uma qualificação específica. O professor tem a maior responsabilidade no processo de ultrapassar o estágio da inclusão digital, que vai além de disponibilizar equipamentos e Internet nas escolas, perpassa o letramento digital e vai até a apropriação crítica e consciente das tecnologias (Marques & Jesus, 2011).

Como pode ser observado nas falas de A2 e A3, a disciplina é vista como norteadora, uma vez que aponta os caminhos dos recursos sem se aprofundar em um especificamente:

A2 – “Basicamente ele servia mais como provocação, assim ele apresentava algumas ferramentas que estavam disponíveis na Internet, aí a gente procurava entender como é que funcionava, mas a aula seria assim, mais como provocação para você procurar, porque tem muito, tem muita ferramenta hoje em dia na Internet que pode ser aplicada ao ensino de física, acho que o intuito maior era esse da aula” (sic).

A3 – “Acho que, além disso, a gente também conseguiu adquirir experiência com a pesquisa de aplicativos de aprendizagem, a gente conheceu portais que a gente não conhecia para achar experimentos virtuais” (sic).

Essa forma de atuação está de acordo com o que é posto na ementa da disciplina, que tem como objetivos: conhecer e incorporar os elementos midiáticos na elaboração e utilização dos meios de comunicação e informação como recursos didáticos; oferecer ao aluno subsídios para a reflexão crítica sobre a mídia; desenvolver análise teórica da relação educação e comunicação; e desenvolver projetos didáticos com o uso das mídias em sala de aula (IFRN, 2012).

Com relação aos conteúdos trabalhados nas aulas se destacam: a apresentação e o uso de simuladores, aplicativos de apresentação, como desenvolver gifs, a produção de mapas conceituais a partir de programas de computador, aplicativos de aprendizagem, portais educacionais e também plataforma de webconferência como recurso para o ensino a distância. Esse recurso de interação, foi apresentado aos alunos como exemplo em potencial desse tipo de plataforma no auxílio ao ensino. Apesar desse tipo de recurso exigir conexão de alta velocidade, se tornando uma limitação em alguns

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casos, despertou bastante interesse nos licenciandos, como pode ser observado na descrição de A2, a respeito dessa plataforma:

A2 – “...basicamente, ele dava aula no computador dele, se filmava com celular, projetava no datashow, a aula bem tradicionalzinha sabe? Mas o que é que ele fazia, ele dava no horário que não tinha nada haver, as aulas dele lá tava sendo de 11 horas da noite, aí basicamente, isso aí é um chat que você entra, aí os meninos olham no celular em casa para os meninos ficar assistindo a aula dele em casa, ao vivo, você fica interagindo com Rodrigo, se você quiser falar, você fala pelo celular e tudo” (sic).

A formação de novos professores com relação às tecnologias educacionais deve ser a mais ampla e completa possível, principalmente com relação aos novos recursos, tendo em vista que, eventualmente, esses professrores precisarão usá-los em sala de aula. Nesse sentido, Moran (2007, p. 36) defende que:

“O professor precisa aprender a trabalhar com tecnologias sofisticadas e tecnologias simples, com Internet de banda larga e com conexão lenta, com videoconferência, multiponto e teleconferência; com softwares de gerenciamento de cursos comerciais e com softwares livres. Ele não pode se acomodar, porque, a todo momento, surgem soluções novas para facilitar o trabalho pedagógico, soluções que não podem ser aplicadas da mesma forma para cursos diferentes”.

Ao falar dos conteúdos trabalhados, a professora destacou que a ementa da disciplina passou por uma reformulação, visto que já estava desatualizada, e que por sua conta já trazia coisas novas que não estavam na antiga ementa.

B1- “então, assim... a essa ementa ela foi elaborada quando a gente não estava falando de aplicativo, não estava falando de simulador né, em objetos de aprendizagem, então, tudo isso a gente vai incorporando, mas, a ementa não traz a gente é que acrescenta, né” (sic).

Essa é uma situção bem comum, quando se trata da ementa de qualquer disciplina que trabalhe com tecnologias educacionais, devido às constantes mudanças nos recursos e nas possibilidades que essas tecnologias podem oferecer em sala de aula. Sobre a postura citada pela

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professora, considera-se essencial a adequação do currículo à realidade. Nota-se, portanto, que “as modificações provocadas pelo avanço da tecnologia exigem uma maior qualidade na formação do docente e, consequentemente, uma maior exigência em sua prática. É exigido do mesmo, muitas atribuições e um novo perfil” (Lobo & Maia, 2015, p. 19).

Ainda em relação a revisão feita na disciplina de mídias educacionais, a professora ponderou que com a reformulação, após o entendimento de que as tecnologias educacionais estão inclusas inevitavelmente em outras disciplinas do curso, acabou perdendo carga horária, conforme sua narrativa:

B1 – “Como eu disse, na revisão a disciplina de mídias (tá sim) a disciplina de mídias foi diminuída a carga horária né, não porque não se reconhece sua importância absolutamente, tanto é que ela foi mantida, ela não foi retirada. Mas justamente porque se entende que as tecnologias, elas perpassam as demais disciplinas né, é um conflito. Precisa de uma disciplina específica para isso? Tá diluída em todas as disciplinas? Realmente foi algo muito difícil, foi uma situação complicada alí de a gente resolver, mas, ficou dessa maneira, ela foi diminuída porque a gente entende que em didática ela está contemplada, que em metodologia do ensino de Física ela está contemplada. Por quê? Porque há esse incentivo, essa clareza da necessidade de ter na prática, ter no planejamento, ter nas estratégias de ensino a presença das tecnologias” (sic).

Concorda-se com a ideia de que a formação de novos professores para o uso das TIC perpasse por todas as disciplinas do curso, pois isso só tem a enriquecer sua formação. Contudo, isso precisa ser bem aceito por todos os envolvidos. Acredita-se que uma boa formação pode mudar a perspectiva dos futuros professores, em relação ao uso das TIC. Fundamentalmente, tal formação pode instigar professores recém-licenciados a usar as TIC com proveito pedagógico, de forma que, senão hoje, amanhã se faça uma escola de futuro (Santos, Morais, & Paiva, 2004).

Seguindo com a análise, indagou-se aos professores recém-formados no IFRN Campus Caicó como descreveriam o sentimento relacionado à preparação para a prática docente, quanto às tecnologias educacionais. O resultado está graficamente representado a seguir:

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20%

60%

20%

Não Prepara Prepara Parcialmente Prepara

Percepção de qualidade na formação para

uso das TICs.

Percepção de qualidade na formação relacionada as TICs.

Gráfico 2. Percepção de qualidade na formação para uso das TIC

Fonte: Pesquisa do autor (2019)

Como pode ser observado no Gráfico 2, a maioria dos professores entrevistados considera que a formação proposta pela licenciatura que cursaram prepara parcialmente os professores, pois, durante o curso são apresentadas apenas possibilidades, e só com a vivência prática de utilização desses recursos é possível uma preparação completa. Esse sentimento pode ser percebido na fala dos seguintes entrevistados:

A3 – “Eu acho que ela dá um primeiro passo, por exemplo, as mídias ela dá um primeiro passo, depois a gente vai desenvolvendo com a prática, com congressos, baixando outros tipos, eu acho que ela prepara tanto quanto ela poderia preparar” (sic).

A4 – “Eu acho que preparar mesmo, você vai se sentir preparado quando começar a utilizar, que nem você falou, várias tentativas pra ver como é que realmente ela deve ser aplicada, acho que o objetivo da disciplina seria mais isso, mostrar aquelas ferramentas, mostrar que existe além também daquelas ferramentas que a gente aprendeu, que a gente não vai, não vai conseguir absorver todas as ferramentas em uma disciplina só, mas, mostrar que existe e quais são os caminhos que a gente pode seguir, e ai vai de cada um né, se acha viável ou não, mas eu acho que é nesse sentido ai, é o primeiro passo” (sic).

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A1 – “Eu acho que viabiliza, eu sou da mesma opinião de A3, que viabiliza e permite esse primeiro contato... Acho que é o principal momento em que a gente se sente mesmo mais próximo da prática que a gente vive hoje, são nos estágios e no PIBID... Ter levado é, novas tecnologias, levado experimentos, ter levado essas coisas naqueles momentos ali já deu uma, uma, esse primeiro contato inicial muito maior, entendeu? Viabilizou você conhecer novas, novas ferramentas e permitiu esse primeiro contato, só que o preparo, o preparo mesmo você vai adquirindo com a prática profissional” (sic).

Certamente, em nenhum curso de formação inicial um professor sai totalmente preparado, mas pelo discusso dos professores entrevistados, percebeu-se que eles enxergam a importância e se sentem motivados a usar recursos tecnológicos, mesmo tendo consciência que precisam de muito mais experiências.

A integração entre os alunos e as TIC, no contexto educativo, depende diretamente da capacidade dos professores, do seu fazer em sala de aula e de como estimulam o manuseio. E isso dependerá não apenas de fatores de ordem pessoal, como a motivação, por exemplo, mas, fundamentalmente, da preparação que os professores possuem, dos conhecimentos e competências sobre os modos de integração e exploração das TIC, nos contextos específicos de ensino e de aprendizagem em que intervêm (Costa & Viseu, 2008).

Um dos professores recém-formados defendeu que o curso prepara muito bem seus alunos para o uso dos recursos tecnológicos e argumentou que o papel do curso deve ser esse mesmo, de mostrar os caminhos. Com o avanço tecnológico, a cada dia surgem novos programas ou atualizações, e o professor tem que se adeguar a essa nova realidade.

A2 – “Eu já acho assim, prepara. Por quê? Só por um motivo, porque quando a gente tá trabalhando com nova tecnologia surge um programa praticamente a cada 15 dias, que dá para trabalhar com isso. Então, o que eles fazem é apresentar a você algumas ferramentas já existentes. Você tem que botar na cabeça que você tem que tá se atualizando, é a formação continuada né, você tem que tá se atualizando porque informática não espera por ninguém” (sic).

Também houve quem discordasse que o curso preparasse tão bem os professores para o uso desses recursos tecnológicos no sentido de auxiliaar o ensino, e refletiu, justamente, o fato de os

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conteúdos serem tratados de forma muito introdutória, sem aprofundamento, como pode ser observado na fala de A5:

A5 – “A gente vê muita coisa básica, assim, tinha que ver todos os programas, basicamente, e cada um levou um pouco de tempo. Então assim, eu acho que não prepara, porque pra preparar a gente teria que aprofundar naquele, teria que ter um estudo mais detalhado daquele programa” (sic).

Com relação a esse pensamento, os demais entrevistados fizeram um contraponto acerca da nescessidade desse aprofundamento, em cada recurso estudado. E, por fim, a professora concordou com as colocações, como pode ser observado nas seguintes falas:

A5 – “Sem falar que se fosse expandir tudo a gente ia ter 10 anos de graduação pra poder terminar’’ (sic).

A2 – “E quando saísse estava desatualizado” (sic).

A1 – “Certeza, porque toda semana ia ser algo novo, alguma coisa nova’ (sic).

Também se buscou a opinião da professora que vêm ministrando a disciplina Mídias Educacionais quanto à sua percepção no tocante à qualidade na formação desses professores, especificamente sobre o uso de tecnologias educacionais como ferramentas de auxílio no ensino. Nesse sentido, ela destacou que, eles saem preparados para atuarem, apoiados por recursos tecnológicos, e uma das coisas que enriquece essa formação, no IFRN, é o fato dos professores formadores atuarem no mesmo nível de ensino que esses futuros professores irão atuar.

B1 – “Eu acho que eles estão muito mais preparados do que eu, eu acho que a preparação é muito melhor do que a que eu tive... Acho que tem uma preparação sim. Aaa, tá totalmente preparado, né? Quem está totalmente preparado, né? Mas, eu acho que o aluno, o licenciando do nosso curso, do nosso campus, ele sai com um bom, é... um bom... (poxa me fugiu a palavra agora), assim, ele sai com muitas vivências, ele sai com repertório” (sic).

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B1 – “O professor do IFRN está formando, como eu disse, formando esse aluno para ser professor e ele está atuando também alí no ensino médio, então ele, ele tem elementos. Não sei, eu acho que é o diferencial” (sic).

Por tudo isso, concorda-se que as características do curso realmente têm a contribuir com a formação dos professores, visto esse contato cotidiano da licenciatura com o nível de ensino para o qual estão se formando. Isso pode proporcionar novas experiências aos estudantes de modo que essas situações venham a ajudar também na sua preparação. Para Reis e Mendes (2008), o fator principal que impulsiona as práticas desses professores é a aproximação que eles tiveram com a área na licenciatura e um aprofundamento na temática via curso extracurricular, formação continuada e pós- graduação.

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