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3. DESIGN E O EFEITO NA PERCEPÇÃO DO CONSUMIDOR

3.2. PERCEPÇÃO

3.2.3 FORMA

Para além das influência sociais, da cor e dos materiais, foi de- monstrado que a exploração da forma pode ter influência na percep- ção do sujeito. Mirabito, et al. (2017) ao apresentar aos participantes do estudo, a mesma bebida em dois copos ambos transparentes, com diferenças mínimas de peso, mas diferentes na sua forma (um com lados curvados e outros lados retos), tentou minimizar o impacto e influência dos restantes fatores anteriormente referidos como a cor ou materiais e centrar-se em apenas no elemento forma. O estudo concluiu que a forma influenciou a avaliação dos participantes do pro- duto. Estes percecionaram a bebida no copo curvado como mais fru- tada. No outro copo, de laterais retas, a bebida foi percecionada com sabor mais intenso. Ainda sobre a influência da forma de um produto na percepção deste, um estudo (Berkowitz 1987) que avalia dois pro- dutos teste: espigas de milho congeladas, uma de pontas quadradas e outra com forma mais semelhante à forma da espiga fresca; com o objetivo de desenvolver uma solução de forma de produto que fosse

consistente com o estilo de vida do consumidor, enquadrando as mo- das de preocupação nutritiva e fitness; concluiu percepção de maior valor pela forma devido ao ligeiro aumento de tamanho e à maior semelhança do produto com a sua forma real. Pelas razões referidas anteriormente, o produto – espiga - sem corte foi preferido. É possível compreender que através do olhar os consumidores podem retirar conclusões que podem nem sempre se confirmar. No presente exem- plo através da percepção de forma e tamanho mais próximo do real, o produto preferido revelou associações a preocupações nutritivas, o que demonstra que com pequenas modificações podem ser criadas categorias de produto. Outro estudo (Michel, Velasco e Spence 2015) semelhante, num ambiente de restauração, tenta compreender como a forma da cutelaria poderia influenciar a percepção da comida. Foram usados dois tipos de talheres, que embora fossem do mesmo material, diferenciavam na forma um era de catering e outro de cantina. Os resultados demonstraram que os consumidores estavam dispostos a pagar mais quando utilizavam os talheres de banquete comparativa- mente ao grupo que usou os talheres de cantina., demonstrando que a aparência e forma foram variáveis essenciais na percepção da comi- da. No entanto é necessário referir a diferença no toque e no peso entre ambos como fator participante na avaliação. É possível discutir a transferência da avaliação de propriedades sensoriais da cutelaria para a avaliação da comida. Para além de determinante na avaliação a forma pode ser utilizada como indicador de quantidade de produto retirar, no estudo de (Raghoebar, et al. 2019), especificamente a quantidade normal de comida a retirar.

Também outro estudo relativamente ao impacto de fatores na alte- ração da percepção de um design (Lidwell, Holden e Butler 2010) aponta para o que denominam de princípio de contorno. Existem me- canismos subconscientes que reagem a objetos que apresentem ângu- los afiados e pontiagudos. Estes reagem de forma a detetar potenciais ameaças o que pode influenciar a afetividade e a percepção da estéti- ca de determinado objeto. Concluem que objetos aguçados, embora menos atrativos provocavam maior e mais profundo processamento do que objetos mais arredondados. Objetos mais angulares provaram ser mais efetivos em chamar a atenção e envolver o pensamento. Por outro lado, objetos mais arredondados são mais eficientes em marcar uma impressão emocional positiva e estética.

Como elemento integrante do produto a forma é um elemento crucial na compreensão do objeto e do seu funcionamento. Este fenómeno é passível de ser estudado assim como a forma como compreendemos um objeto, ou seja, como organizamos e interpretamos a informação sensorial que nos permite atribuir significado a objetos ou eventos. Es- tamos a falar da percepção. Como observado pelos estudos analisados anteriormente as perceções são um conjunto de fatores psicológicos

Figura 48. Exemplo produtos com formas antropomórficas. Fonte: (Lidwell, Holden e Butler 2010)

Figura 49. Viés de contorno. Fonte: (Lidwell, Holden e Butler 2010)

como respostas a diferentes estímulos como o contexto, cultura e educação, mas também às influências do produto sejam estas a cor, os materiais ou a forma. A percepção dá-se por relações e não por elementos, ou seja, percebemos a relação ou relações existente entre elementos e não estes isoladamente (Holanda 2009).

Fazendo uma análise mais profunda ao conceito de forma no contex- to da percepção e da psicologia, vemos que se refere às estruturas de consciência e dos seus fenómenos: atos psíquicos e conteúdos vi- vidos ou pensados. A teoria da forma tem como objetivo delimitar a compreensão do ordenamento dos eventos psíquicos, fundada em relações objetivas, ou seja, há “todos” e a intenção é determinar a natureza desses todos. A qualidade do todo determina as caracte- rísticas das partes e uma parte é determinada pelo seu lugar, papel e função dentro do todo. Este conceito está inteiramente ligado à lei da pregnância que diz que a organização de qualquer todo será tão boa quanto as condições vigentes. O todo é, portanto, diferente da somas das partes e quando num primeiro impacto com alguma coisa perce- bemos primeiramente o todo e posteriormente esse todo em partes. Esta tendência é inconsciente e automática que indica a preferência nata pela simplicidade e padronização face ao complexo e aleatório (Lidwell, Holden e Butler 2010). A primeira sensação já é a da forma – global e unificada. Desta forma é possível dizer que o todo é anterior às partes e o processo de decomposição deste nas suas partes altera o seu significado. Aquelas que são organizadas num todo são percebi- dos com melhor clareza e denominam-se figuras. As figuras formam-se mais claramente que o fundo. Esta possui uma estrutura mais perfeita e é mais resistente à mudança (Holanda 2009).

Por sua vez a experiência percetiva é marcada por relações de sentido e valor e não é apenas aleatória ou cumulativa. A experiência perceti- va em certa medida estruturada, tem no seu carácter estrutural uma estrutura particular única. No caso da experiência ser estruturada de algum outro modo esta será então inteiramente diferente (Ho- landa 2009), e por isso é necessário compreender o efeito que terá no restantes elemento, ou seja, não devem ser analisados elementos individuais, mas sim o design como um todo e a relação deste com os elementos e o ambiente (Lidwell, Holden e Butler 2010).

Ao contrário da cor, a teoria da forma é objetiva e independente da educação (Holanda 2009). A teoria de Gestalt, ou forma, trata-se da teoria que compreende a maneira de acordo com a qual as coisas são percebidas. Esta definiu os princípios de organização da percepção: •Proximidade: os elementos próximos no tempo e espaço tendem a ser percebidos juntos.

•Similaridade: elementos semelhantes tendem a ser percebidos como pertencentes à mesma estrutura (Holanda 2009). Este agrupamento

reduz a complexidade e reforça a relação entre os elementos de de- sign (Lidwell, Holden e Butler 2010).

•Direção: tendência a ver as figuras de maneira que a direção continue de modo fluido. Toda a unidade linear tende, psicologicamente a se prolongar na mesma direção com o mesmo movimento; é a impressão de que as partes sucessivas se seguem às outras (Holanda 2009) crian- do uma coesão contribuindo para a estética do design, mas também para a estabilidade percecionada (Lidwell, Holden e Butler 2010). •Disposição objetiva: quando se vê um determinado tipo de organi- zação continua-se a vê-la mesmo quando os estímulos originais estão ausentes.

•Destino comum: elementos deslocados de maneira semelhante de um grupo maior tendem a ser agrupado.

•Pregnância: princípio do fechamento ou equilíbrio. As figuras são vis- tas de um modo tão bom quanto possível as condições do estímulo. Esta categorização envolve propriedades como regularidade e sime- tria. (Lidwell, Holden e Butler 2010) sumarizam esta definição e indi- cam a tendência do observador humano face a um conjunto ambíguo de elementos a interpretação feita é a mais simples possível.

À semelhança do princípio da similaridade da teoria de Gestalt (Li- dwell, Holden e Butler 2010) abordam o princípio da consistência. A consistência pode ser: estética que permite o reconhecimento, defi- ne expectativas e comunica associações; funcional onde existe uma consistência de significado e ação permitindo melhorar a usabilidade e capacidade de aprendizagem permitindo que os utilizadores façam uso de ensinamentos adquiridos para compreender o design; de ele- mentos do mesmo sistema; e consistência externa de elementos com o ambiente.

Sobre a simetria existe um prazer na ordem natural o que poderá re- fletir a preocupação do Homem com os padrões que tentam atribuir significado e compreender um sistema complexo e mutável (Papanek 1973), e esta é associada à beleza (Lidwell, Holden e Butler 2010). Existem três tipos básicos de simetria: a de reflexão que se trata da reprodução espelho em torno de um eixo; a simetria de rotação re- ferente à rotação de elementos equivalentes em torno de um eixo central comum; e a simetria de translação que se refere à localização de elementos equivalentes no espaço (Lidwell, Holden e Butler 2010). O sistema simétrico é um dos favoritos em certos grupos, como as crianças, pela sua facilidade de compreensão (Papanek 1973), e a si- metria e respetivas formas são também mais rapidamente percebidas como figuras e não fundo. Como consequência recebe maior atenção relativamente a outros elementos (Lidwell, Holden e Butler 2010). Contrariamente aos fatores sociais e a percepção da cor, os fatores

Figura 50. Princípio de Encerra- mento Fonte: (Lidwell, Holden e Butler 2010)

Figura 51. Princípio da continua- ção. Fonte: (Lidwell, Holden e Butler 2010)

Figura 52. Principio da proximi- dade. Fonte: (Lidwell, Holden e Butler 2010)

Figura 53. Sensibilidade de orien- tação. Fonte: (Lidwell, Holden e Butler 2010)

forma e materiais são de avaliação mais objetiva. É possível compreen- der princípios que definem a forma como percecionamos algo no primeiro impacto e considerar características como a simetria e a similaridade que permitem compreender melhor o objeto e agrupar um conjunto de elementos, aplicando-as ao design para que este possa ser mais rapidamente compreendido e agrupado. Compreendendo es- tes conceitos o trabalho de desenvolvimento pode ser analisado para além da vertente estética, mas também psicológica.

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