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5 ANÁLISE DOS DADOS

5.1 Forma e análise de categorização dos dados

5.1.1 Categoria I: A dialética do eu e do outro: medo e insegurança diante do desafio do cuidado sob o rastro olhar

Os graduandos sentem medo, receio e insegurança por pensarem em não dar conta do desafio do cuidado à criança enferma. Há o medo de errar as técnicas, da família da criança, do fracasso, ou seja, de “ser reduzido a objeto e não contar mais para ele [mundo, pessoas, instituição, faculdade, os outros profissionais] como pessoa”(3:230).

A gente tem que se aprofundar muito no estágio [...] quero ser uma futura enfermeira que não deixa a desejar [...] eu estou com uma expectativa enorme (Acad.09).

É como eu entrasse em estado de choque, eu me limito [...] tenho muito medo e receio. Acho que esse estágio vai ser um desafio novo pra mim, na minha vida está rompendo uma barreira (Acad. 12).

Tenho muito receio e medo porque criança é difícil de lidar, fora que tem os pais que são sempre nervosos. Tem que saber lidar com muita delicadeza e amor pra poder corresponder a todos (Acad. 14).

O olhar dos atores (pais, profissionais de saúde, preceptor) envolvidos no processo de cuidar é percebido como uma vigilância constante. Assim, “parece-lhe que o olhar estranho que percorre seu corpo rouba-o de si mesmo o que, ao contrário, a exposição de seu corpo vai entregar-lhe o outro sem defesa, e agora é o outro que será reduzido à escravidão”(3:230-231).

Primeiro é um sentimento de insegurança, medo, medo de fazer alguma coisa de errado, principalmente quando a questão é criança, né?, e muitas das vezes não falam, não sabem se expressar e aí sempre rola aquele medo de fazer alguma coisa de errado (Acad. 16).

A gente tem muita fragilidade e quando a gente faz, a gente sabe que é tudo dosado, fracionado. A gente tem muito medo de errar, de fazer alguma coisa errada (Acad. 17).

Merleau-Ponty diz(3:230-231):

a dialética do eu e do outro que é a do senhor e do escravo: enquanto tenho um corpo, sob o olhar do outro posso ser reduzido a objeto e não contar mais para ele como pessoa, ou então, ao contrário, pode tornar-me seu senhor e por minha vez olhá-lo, mas esse domínio é um impasse, já que, no momento em que meu valor é reconhecido pelo desejo do outro, o outro não é mais a pessoa por quem eu desejava ser reconhecido, ele é um ser fascinado, sem liberdade, e que a esse título não conta mais para mim.

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Nesta medida, esta é a dialética do eu e do outro, a possibilidade de ser e daqui a pouco deixar de ser, de torna-se como uma “vidraça” e desmanchar-se diante do outro. Deixar de ter o status de pessoa, de gente, pois estar diante do outro é estar dentro de um enquadre que traz a possibilidade de ser senhor, mas também de ser escravo. Pode também lançar-se e apostar na intersubjetividade na relação de imbricação. Vida é possibilidade e “vida reflui sobre si mesma”(3:227). O acadêmico sente este “peso” e em certa medida este peso chama-se “dialética do eu e do outro”; este encontro é regido pela afetação de ambos no espaço do cuidado, no espaço do hospital que coloca também em questão a condição ética do fazer do acadêmico de enfermagem, do ensino e do ensinar.

A dialética do eu e do outro traz como questão a necessidade de uma clínica do sensível e da sensibilidade. Clínica dos afetos onde o olhar que olha também é cortado e entrecortado pelo olhar do outro e tudo isto começa a fazer parte da própria historização do sujeito.

O filósofo afirma que no(3:8):

próprio momento em que experimento minha existência, e até nesse cume extremo da reflexão, eu careço ainda desta densidade absoluta que me faria sair do tempo, e descubro em um tipo de fraqueza interna que me impede de ser absolutamente indivíduo e me expõe ao olhar dos outros como um homem entre os homens, ou pelo menos uma consciência entre as consciências

Estar exposto ao olhar dos outros é a possibilidade de ser ou não ser aceito no campo exogâmico.

Dizer que tenho um corpo é então uma maneira de dizer que posso ser visto como um objeto e que procuro ser visto como sujeito que o outro pode ser meu senhor ou meu escravo, de forma que o pudor e o despudor exprimem a dialética da pluralidade das consciências e que ele tem sim uma significação metafísica(3:231)

Dentro dessa perspectiva, o acadêmico de enfermagem se sente observado pelo outro e o mesmo se sente transformado em objeto, mas podendo essa situação se inverter a qualquer momento.

Nos serviços de saúde, um dos aspectos que se destaca é a presença de modelos de gestão centralizados e verticalizados desapropriando o trabalhador de seu próprio processo de trabalho, limitando-o a todas as mudanças relacionadas à saúde, não o deixando falar e não sendo ouvido(1:8).

Nesse cenário, na preceptoria tornar-se imprescindível a parceria entre docentes e alunos, não bastando apenas ajudar. O preceptor deve sair do silêncio em que ele sempre esteve e aproximar-se e abordar

as múltiplas relações das práticas sociais que os enfermeiros vivenciam no dia-a-dia, ao desenvolverem suas atividades. Cada qual com sua maneira de ser, de pensar, com o seu estilo próprio, utilizando de estratégias, táticas e astúcias, para vencer as resistências da vida diária(12)

A preceptoria exige envolvimento com os alunos, funcionários, pacientes, enfim, todos os personagens imbricados no atendimento ao usuário e na busca de uma assistência à saúde integral, que contemple, portanto, ações de promoção, proteção, hospitalar e de recuperação. São por meio de atitudes, gestos, símbolos, e estratégias plurais que o preceptor vai norteando o aluno no meio que ele tanto almejou. O aluno precisa de apoio para desenvolver seus conhecimentos sob vários olhares.

5.1.2 Categoria II: Intersubjetividade como ineinander (envolvimento, imbricação) entre o acadêmico e a criança.

Durante as transcrições das falas dos acadêmicos de enfermagem foi possível observar que o intersubjetivo se fazendo presente e efetuando a mediação do “Para Si” e do “Para Outrem”, da individualidade e da generalidade. A verdadeira reflexão me dá a mim mesmo não como subjetividade ociosa e inacessível, mas como idêntica à minha presença ao mundo e a outrem, tal como eu a realizo agora: sou tudo aquilo que vejo, sou um campo intersubjetivo, não a despeito de meu corpo e de minha situação histórica, mas ao contrário, sendo esse corpo e essa situação e através deles todo o resto(3:606).

Como técnico de enfermagem eu me transformei em criança, outra vez ali eu passei a ser mais criança do que as crianças, mas sempre com meu objetivo de trabalhar para melhorar não só o meu aprendizado, mas no dia a dia do meu trabalho (Acad. 03).

Meu sobrinho mais velho tomava uma vacina, vacina para alergia, aí minha irmã pediu pra aplicar, aí eu chorei com ele, entrei em pânico. Aí ensinei meu cunhado a aplicar, e ele aplica até hoje. Eu sou técnica de enfermagem, nunca aconteceu nada em relação a isso. A visão que tenho é como se pegasse a criança, quebrasse, machucasse, a visão que tenho é que temos que sentir carinho, mas a gente não tem que ter pena, se a gente sentir pena, a gente se limita no cuidado (Acad.12).

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A gente passa pouco tempo no campo. Eu acho que deveria ser bem mais experiente e mais focado. É uma experiência gratificante lidar com a criança (Acad.16).

Ainda mais quem tem filho assim como eu, penso no meu filho, que ele poderia estar naquela situação. É como você deveria agir, tratar com carinho, com cuidado, amor, tanto adulto como criança. Acho que toca bem mais a gente do que um adulto (Acad.22).

O cogito deve revelar-me em situação, e é apenas sob essa condição que a subjetividade transcendental poderá ser uma intersubjetividade(3:9). O modo de pensar, o pensamento não é você se desligar do mundo, seu isolamento, uma clausura existencial, e sim, estando dentro de uma situação, vivenciando-a. O mundo não é uma soma de objetos, tem um significado, ou seja, eu produzo também sentido e cada um produz também sentido. Os acadêmicos de enfermagem já foram capturados por essas crianças, estão sob o olhar delas, da família, da instituição e também do preceptor.

A importância da preceptoria é primordial no momento em que o aluno solicita sua atenção, seja através de atitudes, verbalizando, demonstrando sentimentos, esclarecimento de alguma dúvida em relação ao cuidado e procedimentos. O preceptor se destaca como figura importante na vida do aluno, sendo seu alicerce, seu guia, não somente no momento do estágio, mas, às vezes, também em um envolvimento pessoal, de amizade, de desabafo, de alegrias e até de tristezas. Não tem como não se envolver, por mais que se tenha a imparcialidade, o preceptor convive um tempo relativamente longo com o aluno.

Ter o contato com a criança é diferente, ver como eu espero vivenciar diante daquilo e ver como a gente vai colocar em prática o que a gente aprendeu (Acad.18).

Eu tive uma experiência não muito agradável: eu perdi um filho de um ano e um mês. Fiquei com ele em uma UTI/Neonatal por 3 dias, [ele] em coma induzido. Deus me tocou pra que eu estivesse nesse lugar... É uma área muito carente de enfermagem, foi quando eu notei com minhas amigas, técnicas de enfermagem, que trabalham lá há anos e que foram visitar meu filho. Agora só falta a experiência da prática. Quero cuidar daquelas crianças, quero sentir tudo que meu filho sentiu, ele foi muito bem cuidado, apesar de ele não estar mais aqui. Mas foi da vontade de Deus (Acad. 07).

O mundo fenomenológico é entender não o ser puro, mas o sentido que minhas experiências representam na interseção de minhas experiências com aquelas do outro, pela engrenagem de uma nas outras; ele é, portanto inseparável da subjetividade que formam sua unidade pela retomada de minhas experiências

passadas em minhas experiências presentes, da experiência do outro na minha(3:18), há um ponto de cruzamento.

Então, o que é importante, é inseparável a subjetividade da intersubjetividade, como por exemplo: a experiência do passado que foi colocada no presente. O passado estava fundido, retomada de minhas experiências com as do outro.

Eu não sei como é que vai ser, né?, porque na verdade eu sou muito sensível, não sei como chegar lá, encontrar a criança doente. Na verdade trabalho na área de hospital e evito criança ao máximo porque não aguento a situação de ver a criança sofrendo, criança chorando, as mães também, o que [elas] passam, entendeu? Descobre a doença da criança que às vezes tem não tem cura, você sabe, que vai perder a criança e aí a gente fica muito sensibilizado com a situação, entendeu? E eu não sei como vai ser (Acad. 30).

Eu já tive uma breve experiência e foi muito agradável, porque a criança no começo já tinha uma certa insegurança, mas eu consegui contornar isso, consegui, de alguma maneira, trazendo ela, conquistando a confiança dela. Aí, a partir deste momento, com a confiança dela eu pude tá fazendo o que eu tinha já pré determinado, [...] e foi muito agradável. M me senti muito útil (Acad.25).

A experiência com a criança vai oportunizar essa construção de sentido que se dará na convivência com a criança, propiciando essa intersubjetividade entre acadêmico e criança e, consequentemente, com o mundo infantil. Trata-se, pois, de considerar que a intersubjetividade é em certa medida uma intercorporeidade, pois não somos um eu inalienável, mas corpo verbal e como tal, trocamos esses corpos verbais. E o acadêmico faz trocas corporais com as crianças e com o mundo infantil.

O mundo do adulto está imbricado com o mundo infantil e o infantil no do adulto, estabelecendo-se aí uma verdadeira intraontologia ou endo-ontologia, uma relação com o ser que o pensa no seu interior e ao pensar o seu interior, também pensa o nada como sua estrutura. Nessa medida, o próprio acadêmico, por mais que estude e por mais que tente compreender o mundo infantil ele verá que "uma reflexão que se quer radical não deveria ignorar o ponto cego do espírito"(35:55).

Corroborando com esta ideia de imbricação, e de acordo com a PHN, humanização se entende como a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de saúde: usuários, trabalhadores e gestores, valorizando a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a corresponsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos e a participação coletiva no processo de gestão(1:8).

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Enquanto as coisas forem mero objeto, a posição será sempre de universalização e generalização. O mundo é uma obra inacabada, Husserl diz que o corpo nunca está constituído.

Eu já tenho um pouco de experiência na enfermagem com adulto. Eu tenho até um episódio que aconteceu, porque eu já trabalho como técnico de enfermagem: a urgência de adulto e pediatria, eram separadas, mas a gente tinha que revezar com o colega da pediatria, sempre tinha muito receio de cuidar da criança porque eu tinha medo de machucar, de puncionar uma veia, muito receio. Ah, ela vai mexer muito, criança é impaciente, inquieto, vai machucar, vai furar mais. [...] esse é meu receio. Espero agora, na vida acadêmica, que eu tenha uma outra visão em relação a isso (Acad. 20).

Os tipos de reações são completamente diferentes, você não sabe, você fica assustada você tem medo de por a mão, tem medo de errar porque é um ser muito menor, precisa muito mais de sua atenção do que os adultos, você tem medo de qualquer milímetro, você pode errar e causar sequelas para o resto da vida (Acad. 19).

É preciso que a minha vida tenha um sentido que eu não constitua que a rigor exista uma intersubjetividade, que cada um de nós seja simultaneamente um anônimo no sentido da individualidade absoluta e um anônimo no sentido da generalidade absoluta. Ou seja, eu tenho que caminhar em dois sentidos, eu tenho que permitir o outro lado, querer retirar isso é retirar o próprio sentido da vida. Posições absolutizadas são perigosas, é preciso que a minha vida tenha um sentido que eu não construa e que permita que seja uma surpresa; tenha o efeito surpresa, nós estamos em uma intersubjetividade, precisamos deixar lugar para o inesperado.

Na preceptoria também devemos saber lidar com o inesperado, em relação aos procedimentos realizados, os efeitos, as improvisações e as possibilidades, mostrando situações concretas, sentimentos e emoções que emanam da preceptoria(12).

5.1.3 Categoria III: Dualismo psicofísico como herança do modelo cartesiano- biomédico no ensino

Analisando as falas dos acadêmicos de enfermagem percebeu-se a preocupação destes em relação à teoria e à prática, o medo de não conseguir colocar em prática o que se aprendeu na teoria. Notou-se que a percepção é de que a teoria e prática são campos, completamente, distintos. Destaco alguns depoentes que exercem função de técnicos de enfermagem simultaneamente a de acadêmicos,

e relatam suas vivências como profissionais e suas expectativas no estágio como acadêmicos de enfermagem.

No teórico, o ensino foi bastante proveitoso, eu aprendi de que forma tratar uma criança no leito e tratar a família dela nos cuidados preventivos, e na prática, vivenciar eu nunca vivenciei, mas presenciei bastante situações de crianças internadas, familiares passando por dificuldades (Acad. 23).

Espero aprender tudo aquilo, por em prática tudo aquilo que eu aprendi em sala de aula apesar da minha aula não ter sido tão boa, foi um pouco defasada. Eu aprendi muito mais como técnica de enfermagem, sempre coloquei em prática no meu estágio de técnico de enfermagem. Eu tive pediatria em dois hospitais, então lá eu pude colocar em prática e aprender muito mais (Acad. 19).

Se pudermos compreender a diplopia tanto quanto o objeto único da visão normal, não será pela visão normal, não será pela disposição anatômica do aparelho visual, mas por seu funcionamento e pelo uso que dele faz o sujeito psicofísico(3:310-311).

A dicotomia “teoria-prática” trata-se, pois, de uma herança do cartesianismo amplamente corporificada no modelo dito biomédico que reforça esta “diplopia” que pensa a teoria desarticulada da prática, como se a prática não fosse uma práxis na medida em que carrega em seu bojo uma espécie de vetor ontológico prenhe de teorizações e também a teoria imbrica-se com a práxis.

Vale ainda ressaltar que a operacionalização da humanização no SUS se dá através da troca e construção de saberes; o trabalho com equipes multiprofissionais; a identificação das necessidades; desejos e interesses dos diferentes sujeitos do campo da saúde; o pacto entre as diferentes esferas entre as diferentes instâncias de efetuação das políticas de saúde (gestão e da atenção)(1:14). Dá-se ainda entre gestores, trabalhadores e usuários, como sujeitos ativos e protagonistas das ações de saúde; construção de redes solidárias e interativas, participativas e protagonistas do SUS.

Quer se trate de perceber palavras ou, mais geralmente, objetos,

há uma certa atitude corporal, um modo específico de tensão dinâmica que é necessária para estruturar a imagem; o homem enquanto totalidade dinâmica deve informar-se a si mesmo para traçar uma figura em seu campo visual enquanto parte do organismo psicofísico(3:311).

Isto porque há tensão dinâmica na própria existência, a teoria e prática caminham juntas. A prática se apresenta no momento em que a teoria se coloca, porém a dificuldade que o mundo da “ciência” nos coloca é o de perceber esta

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relação quiasmática que carrega a identidade na diferença. Há sentido de ser na realização da teoria na prática e na prática da teoria.

Eu gostei muito da disciplina. O professor que ministrou a disciplina passou [os conteúdos] de uma forma bem legal, bem ampla. No estágio vamos colocar isso em prática. (Acad. 10).

Na realidade, ainda não tive a matéria em si, porém gostaria muito de saber lidar como abordar uma criança, como a criança se sente, né?, conversando, interagindo com ela, na prática. (Acad. 26).

A função do organismo na recepção dos estímulos é, por assim dizer, a de “conceber” certa forma de excitação. Portanto, o “acontecimento psicofísico” não é mais do tipo da causalidade “mundana”, o cérebro torna-se o lugar de uma “enformação” que intervém antes mesmo da etapa cortical, e que embaralha, desde a entrada do sistema nervoso, as relações entre o estímulo e o organismo(3:114).

Assim, muitas são as dimensões com as quais estamos comprometidos em prevenir, cuidar, proteger, recuperar, tratar, promover, enfim, produzir saúde(1:7).

Me sinto um pouco incapacitada, é que não consigo ver a minha teoria na minha prática, a gente tem toda teoria, a gente busca capacitar, mas chegando na hora é muito complicado (Acad. 15).

Eu acho que o ensino teórico [...] proporcionou bastante conhecimento, onde os nossos professores, muito bons, nos ensinaram, nos proporcionaram um conhecimento amplo nessa área, no cuidado da criança, nos explicaram sobre o medo de tratar com a criança. [...] se ela chora acha que ela está com dor, se ela não chora acha que está tudo normal. Na teoria, os nossos professores ensinaram que não. É mais tato, mais entendimento, não é só o choro e o não choro, entendeu? Eu espero que nessa prática eu consiga saber reconhecer o medo, a dor (Acad. 11).

Enquanto tenho funções sensoriais, um campo visual auditivo, tátil, já me comunica com os outros, considerados também como sujeitos psicofísicos. Logo o compreendemos se o mundo é o campo de nossa experiência, e se do mundo, pois agora a mais secreta vibração de nosso ser psicofísico já anuncia o mundo, a qualidade, é o esboço de uma coisa, e a coisa é o esboço do mundo(3:544).

Se faz mister compreender que, para os acadêmicos, o conhecimento da prática é aquele que fará o asseguramento do domínio da situação no campo clínico. A herança cartesiana e biomédica situa os campos teórico e prático distintamente, dando-nos a falsa ilusão de que as instâncias da vida estão separadas, polarizadas, separadas.

A preceptoria para muitos é somente acompanhar o estágio, existe um desconhecimento muito grande quanto ao significado da função do preceptor. A conexão da prática e a teoria tem que estar visível, no sentido em que o preceptor vai utilizar estratégias de ensino que articule a teoria à prática em várias situações, nas quais os personagens (paciente, aluno e preceptor) vão interagir.

A fragmentação da existência atende a um projeto de controle que tem a ver com o projeto cartesiano de matematização da existência, mas a vida está toda ela em rede, em ressonância. O efeito da fragmentação se vê não só na saúde, mas também no ensino, pois a fala dos acadêmicos acena para esta situação, em que a prática está situada de forma descolada da teoria, promovendo momentos estanques. Em certo sentido isto é reconhecer a facticidade da própria vida,

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