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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.2 Cultura Ambiental As transformações ocorridas na paisagem do município ao

4.2.2 A forma de trabalho inicial

Para a derrubada da mata, inicialmente, os colonizadores utilizavam de mão de obra familiar e cooperativa, ou seja, as famílias se ajudavam mutuamente para que o trabalho rendesse, uma vez que era muito sofrido e desgastante (Figuras 22 e 23). Todo o trabalho era feito primeiramente com foices, após com machados e em alguns casos utilizava-se a técnica das queimadas.

Figura 22:Descendentes dos colonos alemães fazendo a derrubada das árvores e a retirada das mesmas para adentrar na floresta densa que existia onde é o atual município de Agudo. Por ser uma imagem da década de 40, a mata já havia sofrido alterações, não sendo mais a original que os colonos encontraram

Figura 23: Ferramentas utilizadas para os primeiros cultivos. Na imagem tem-se a presença do machado (seta em branco), uma espécie de compasso utilizado nas construções (seta em azul), uma espécie de martelo utilizado tanto nas construções quanto na derrubada de árvores menores (seta em vermelho) e uma engarrafadora, utilizada para lacrar garrafas com rolha (seta em amarelo). Fonte: acervo do Instituto

Cultural Brasileiro Alemão.

De acordo com o relato dos entrevistados, o trabalho braçal foi a principal força que os primeiros colonos tiveram para conseguir derrubar a mata nativa e se instalarem nas terras do atual município em estudo. Essa força era exercida pelas próprias famílias que chegaram à região. A chegada de maquinários mais modernos para o trabalho agrícola mudou a forma de pensar e de agir dos agricultores, pois cada vez mais se distanciavam as relações entre o homem e a natureza. Os ritmos e os tempos da natureza deixaram de ser orientação para a produção. Com isso, a modernização ocasionou mudanças nas relações das sociedades com a natureza e, por conseguinte, com as formas de produção, transformando o espaço, diferente do anterior, a partir da desconstrução daquilo que existiu (Figura 24).

Figura 24: Barca do rio Jacuí (entre 1910 e 1920). Também com destaque para a vegetação original presente na imagem (seta em branco) e com o transporte de um dos primeiros equipamentos trazidos à

colônia, o equipamento era uma “máquina a vapor” de Heinrich Lanz fabricada em Mannheim na Alemanha em 19116. Fonte: acervo do Instituto Cultural Brasileiro-Alemão.

A agricultura é uma das mais importantes atividades econômicas do mundo. A partir dela, um grande número de pessoas consegue sustentar-se, ou seja, produz alimento para sua família e para abastecer o mercado seja interno ou externo. Porém, a atividade agrícola, nos últimos anos, recebeu forte impacto no que tange às questões social, econômica, tecnológica, cultural e ambiental. Isso é ocasionado principalmente pela modernização e pela tecnificação que chegam ao campo.

Assim, gradualmente, a paisagem perde as suas origens, passando a ser mais homogênea e fragilizada. A forma do trabalho inicial caracterizou a própria descaracterização do espaço, tanto culturalmente quanto ambientalmente, ou seja, “enterrou” as marcas culturais de uma paisagem e “criou-se” novas paisagens.

Destaca-se também a questão ambiental nas extensas áreas desmatadas. Como justifica George (1980), “o ato inicial da agricultura é o desmatamento, que,

objetivamente, consiste numa destruição da vegetação natural de uma terra reconhecida como cultivável ou própria para constituir pastagem” (GEORGE, 1980,

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Estas máquinas a vapor sobre rodas, também chamadas de locomóvel, eram as únicas fontes de produção de energia no início do século XX, com um potencial aproximado de 8HP, movido a vapor. A energia era essencial para o funcionamento de olarias, engenhos e serrarias. Até meados do século XX o uso destas máquinas em municípios do interior era bastante comum.

p.65). Desse modo, há o aumento das áreas cultivadas, ou seja, a abertura das fronteiras agrícolas. Além disso, os solos passaram a sofrer empobrecimento pelo intenso uso de produtos químicos, herbicidas, fungicidas, inseticidas, além da realização de queimadas e, muitas vezes, o emprego impróprio de máquinas para arar e cultivar a terra.

Conforme afirma Werlang (2002),

os proprietários das terras passaram imediatamente a produzir, em função dos conhecimentos técnicos obtidos de suas antigas profissões na Alemanha. Puderam, assim, adquirir bens manufaturados importados e de empreendimentos artesanais locais, como ferramentas, instrumentos e máquinas agrícolas (WERLANG, 2002, p.13).

E ainda Werlang (2002) cita que dentre os colonos encontravam-se mecânicos, agricultores, negociantes, músicos, pintores, padeiros, tintureiros, alfaiates, sapateiros, lapidários, vidreiros, oleiros, ferreiros, pedreiros, carpinteiros, canoeiros e carniceiros.

Figura 25: Colono e seu cavalo em uma estrada aberta (caminho) no meio da mata. Nota-se que este jovem senhor utilizava uma bela roupa e botas de couro, além do cavalo usar uma peiteira de ferro, tais fatos nos remetem que este senhor estava indo a igreja para um culto, pois muitos utilizavam estas roupas

para irem aos cultos, de acordo com fontes de Regina Siegrid Brauer De Nin. Fonte: acervo do Instituto Cultural Brasileiro Alemão.

Mesmo com instrumentos precários, que exigiam esforço e tempo longo de trabalho como o machado, a foice e o serrote, a devastação foi impiedosa. Roche (1969) analisa o ritmo acelerado da perda florestal do Rio Grande do Sul, vítima do machado e do fogo, sob responsabilidade do imigrante e seus descendentes.

Bublitz (2006) analisando os documentos oficiais da Província do Rio Grande do Sul, da época da imigração, percebe que o futuro da Província parecia depender da transformação das até então abundantes “terras incultas” em territórios “civilizados”, onde o caos da floresta sucumbisse à ordem, à racionalidade, à agricultura, considerada um símbolo da presença e da engenhosidade do homem civilizado. A natureza devia ser subserviente ao homem. Mesmo com instrumentos e técnicas mais simples, a devastação da vegetação pelos primeiros imigrantes se desencadeou em ritmo acelerado.

Com isso, até o final da década de 1880 foram distribuídos, aproximadamente 500 lotes coloniais. Desenvolvendo-se na região a agricultura, o comércio colonial, além de pequenas manufaturas. Foi em 1878, que a Colônia Santo Ângelo tornou-se o maior exportador de arroz da Província do Rio Grande do Sul.